Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 7
Reconhecendo o terreno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/562780/chapter/7

Aquela foi uma das melhores noites de sono de toda a minha vida. Acordei totalmente relaxada e até continuaria ali, se não fosse o imenso calor que fazia naquela manhã. Provavelmente esta maravilhosa sensação foi uma combinação das roupas macias que me emprestaram e daquela cama absurdamente aconchegante. Enfim, levantei-me e fui até o banheiro. Lavei meu rosto e depois voltei para o quarto, onde vesti novamente minhas roupas. O quarto ficava no segundo andar, então desci para a cozinha. Jim e Ruby estavam sentados à mesa enquanto comiam. Ruby sorriu ao me avistar e acenou para que eu me aproximasse. Sentei-me ao seu lado a apenas a observei enquanto comia.

– Bom dia, tia Tsuya!

– Bom dia, jovens.

– Dormiu bem?

– Sim. Aliás, bem até demais.

– Sério? Deve ser porque está na mesma casa que eu. Minha presença relaxa os outros.

– Oh... É verdade? – disse com um leve tom de deboche.

– Eu diria que é o contrário. – disse Jim. – Você agita todo mundo.

– Meh. Não acha que está muito cedo para você ser chato, irmão idiota?

– Não. Te perturbar é divertido.

– Meh... Enfim... Tia Tsuya coma alguma coisa.

– Não, obrigada. Eu falei que eu não como.

– Oh... É verdade! Desculpa.

– Não se preocupe com isso.

– Bem... Pronta para conhecer a cidade?

– Sim, eu acho... Ah... Onde estão seus pais?

– Eles foram fazer compras. Não devem demorar muito. Mas vamos sair assim que eu acabar de comer!

– Vai nos acompanhar, Jim?

– Meh... Sim. Não tenho nada para fazer mesmo.

– Mentira! Você quer acompanhar a gente e só está dando desculpas!

– Na verdade não... Eu realmente não tenho porra nenhuma para fazer hoje. Então vou com vocês para não morrer de tédio.

– Bem, tanto faz. Termine de comer logo então!

Fiquei apenas observando enquanto os dois discutiam e tentavam comer. Demorou um pouquinho, mas eles finalmente acabaram e estávamos prontos para partir. Quando estávamos prestes a sair, Ruby parou em frente à porta, virou-se e subiu as escadas correndo. Eu e Jim nos entreolhamos confusos e demos de ombros. Depois de algum tempo, a pequena retornou com algumas roupas nas mãos e as estendeu para mim:

– Aqui!

– Anh?

– Vista essas roupas. São da minha mãe, mas devem servir em você.

– Por quê?

– Você já vai chamar bastante atenção por causa dos seus olhos, então é melhor disfarçar suas roupas.

– Tem algo de errado com as minhas?

– Bem... Elas são bem... Diferentes. Não se usa mais saias desse tamanho nessa época do ano.

– Oh... Entendo... Eu realmente notei que as vestes de todos eram bem... Diferentes quando vínhamos para cá.

Peguei as roupas e fui até o banheiro para me trocar. Era uma saia que mal chegava no meu joelho e uma camiseta sem mangas. Confesso que me senti muito mais... “Livre” com aquelas roupas, mas ainda assim era um pouco... Constrangedor usá-las. Voltei até a porta e estava pronta para sair.

– Heh! Você ficou bonita, tia Tsuya.

– O-obrigada. Achei essa saia meio curta, mas tudo bem.

– Curta? Ela é até grande.

– Sério?

– Hoje em dia tem garotas que usam saias que mal tampam a calcinha. – disse Jim. – Então essa saia aí é de um bom tamanho.

– Meu Deus... O que houve com o mundo?

– Várias coisas. – disse Jim. – Mas quase nenhuma boa. Enfim, vamos logo porque aqui já está ficando chato.

– Chato é você, irmão idiota! Enfim... Vamos!

Enfim saímos da casa e começamos a andar pela cidade. Aquela visão acinzentada ainda me incomodava muito e até chegou a me deixar com leves dores de cabeça. De qualquer jeito, continuamos mesmo assim e rondamos praticamente todo o lugar. A pequena vila de Olgden Share que um dia conheci havia se transformado num imenso conjunto urbano conhecido como Olgden Ville. O fato de eles terem preservado pelo menos parte do nome do local me deixou um pouco aliviada. Talvez isso diminuísse a “estranheza” que eu sentia em relação à cidade por dar uma ligeira impressão de que eu conhecia algo dali. É claro que essa impressão não passava de algo no meu imaginário, pois a caminhada pelo local me fez confirmar o que já suspeitava: tudo era estranho para mim. Aquelas construções verticais que escondiam o céu, aquelas imensas fábricas que emitiam um som altamente desagradável o tempo todo, aqueles veículos (fui instruída sobre isso por Ruby) que ajudavam a complementar o conjunto de sons caóticos presentes ali e emanavam uma fumaça desagradável que entupia lentamente meus pulmões, aquelas placas com luzes multicoloridas que embaralhavam minha visão, os parques cujas poucas árvores estavam “posicionadas estrategicamente” para gerar uma ilusão de que a natureza estava presente no meio de todo aquele cinza... Enfim, tudo era estranho demais.

O mais engraçado é que eu podia ver que a animação de Ruby ao falar sobre a cidade era verdadeiras, mas o mesmo não podia ser visto nos moradores que passavam por nós. Todos possuíam um rosto triste, preocupado, desmotivado e “se arrastavam” pelas ruas enquanto seus corpos claramente queriam ficar em casa. Tenho que admitir que, por mais estranho que possa parecer, aquele lugar ao todo possuía uma beleza própria. Mas era uma beleza vazia. Algo superficial, pois todos os cartazes colados nas paredes dos edifícios tentavam transmitir a ideia de que morar ali era um motivo para ser feliz. O que era claramente uma mera ilusão.

Bem, tirando toda essa minha impressão negativa de todo o passeio, chegamos até um lugar que me chamou muito a atenção. Era uma construção diferente de todas as outras. Apresentava uma porta gigantesca e arqueada que dava para uma construção quadrada com uma cúpula do meio que podia ser vista por fora. Nas suas extremidades, havia quatro torres com telhados em forma de cone com pontas muito altas. Era enorme e muitas pessoas entravam e saíam de lá. Quando ficamos exatamente em frente às escadarias que davam para a porta, pude ver o interior do local: várias fileiras de cadeiras com muitas pessoas sentadas e colunas decoradas que sustentavam a estrutura e serviam como enfeite ao mesmo tempo. No fundo, havia uma sacada onde um homem com um manto e um grande chapéu pontudo gesticulava enquanto falava algumas frases inaudíveis para mim. Bem atrás desse homem, pude ver um grande estandarte com um símbolo um pouco familiar, onde uma silhueta caída erguia suas mãos para os céus de onde saíam raios de luz em sua direção, mas fora de seu alcance. A curiosidade foi maior do que minha educação e acabei parando ali mesmo:

– Ruby... Não quero atrapalhar o passeio, mas...

– Diga. É o trabalho de uma guia explicar as coisas para os turistas.

– Bem... O que é esse lugar? – disse apontando para a construção.

– Oh... Essa é a Igreja Central dos Fallen Ones.

– Fallen Ones?

– Sim, uma organização religiosa muito famosa nesse país.

– Não só famosa, como influente. – complementou Jim. – O que eles decidem é quase como se fosse uma lei.

– Entendo... Mas esse nome... E esse símbolo...

– Algo errado, tia Tsuya?

– Não, é que... Isso me lembra muito aquela organização que eu falei para vocês com os sacerdotes remanescentes da Reforma Cética.

– Sério? Por quê?

– Tanto o nome quanto o símbolo são os mesmos. Eu... Importam-se se eu der uma olhada no lugar?

– Não, de boa. O Jim não pode entrar ali porque ele é cético e tal. Então a gente te espera aqui.

– Tudo bem.

Adentrei a igreja em busca de respostas. As paredes internas eram decoradas com imagens muito parecidas com as que enfeitavam os antigos templos, o que reforçou minhas suspeitas. Estava concentrada observando o local, quando uma voz masculina me assustou. Virei-me rapidamente para ver do que se tratava:

– Seja bem vinda ao nosso templo sagrado!

– O quê?

A voz vinha de um homem de aparentemente quarenta e poucos anos com cabelos levemente grisalhos, vestindo uma túnica preta e com um sorriso cativante.

– Seja bem vinda!

– Oh... Obrigada.

– Parece meio perdida, posso ajudar?

– Sim... Eu sou nova por aqui e gostaria de saber mais sobre este local.

– Oh! Então eu sou a pessoa certa para o caso! Eu sou o padre Ronmanoth e sou o responsável por acolher novatos. O que gostaria de saber?

– Bem... Antes de tudo, meu nome é Tsuya e... Eu queria saber mais sobre a fé de vocês.

– Oh! Nós somos da Ordem Sagrada dos Fallen Ones e cultuamos todos os grandes Deuses dos tempos antigos, seguindo sua filosofia de paz interior, auto aceitação e amor ao próximo acima de tudo.

– Eu... Entendo... Então... Deuses... No plural?

– Sim... Há algo de errado com isso?

– Não... Tudo bem. Então... Amor ao próximo, certo?

– Sim! Isso é extremamente importante!

– Concordo, mas... Bem... O que vocês acham dos céticos?

O sorriso em seu rosto desapareceu e ele pareceu ficar preocupado com algo. Ele, então, olhou para os lados e me puxou para um canto mais afastado da multidão.

– Os céticos... Esse é um assunto muito complicado.

– Por quê? Se existe amor ao próximo isso não deveria ser um problema.

– Sim, mas... Os fiéis não os veem com bons olhos. É algo realmente complicado de se conversar aqui. Mas eu acho que...

Antes que ele terminasse de falar, uma música levemente dramática começou a tocar e a multidão começou a se agitar. O homem de chapéu pontudo foi substituído por outro com um chapéu ainda maior e vestimentas mais “pesadas”. Este pegou um pequeno objeto preto com uma das mãos, o posicionou em frente à sua boca e começou a falar num volume muito alto.

– Fiéis que estão aqui presentes! Gostaria de fazer um comunicado!

Sua voz parecia sair de toda a parte, provavelmente graças àquele objeto. Olhei para o padre, que agora olhava atentamente para o homem de chapéu pontudo.

– Outra hora nós terminamos essa conversa.

– Tudo bem.

– Hoje! – exclamou o homem de chapéu pontudo. – Alguns infiéis ousaram difamar nossa fé!

Suas palavras foram seguidas por um coro de vaias.

– Um casal ousou dizer que nossos Deuses não existem e que nossa Ordem é cruel!

Mais uma vez a multidão se agitou e começou a vaiar.

– Mas isso não ficará assim! Com a cooperação de alguns de nossos irmãos, esses dois hereges foram presos e sentenciados à pena de morte!

Desta vez, a multidão gritou de felicidade e alguns até aplaudiram aquelas palavras. Aquilo foi um choque tão grande que nem sequer ouvi o resto do discurso. Apenas saí do local desnorteada sem nem prestar a atenção no que acontecia ao meu redor. Foi aí que eu cheguei a uma conclusão: estava tudo errado! Endeusaram os espíritos... Pregavam falsos valores que eram contrariados por eles mesmos... Aquela “fé” não continha nada de bom... E meu espírito de sacerdotisa gritava com todas as suas forças a seguinte frase: “isso não pode ficar assim!”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem... queria me desculpar por não ter postado ontem. É que... Bem... Acontece que quando eu cheguei em casa o jogo ainda não tinha terminado de baixar, o que me deixou muito puto e acabou com minha vontade de escrever. No outro dia fiquei jogando aquela bagaça a tarde inteira... *caham* Mas! Hoje eu consegui escapar do vício e aqui está mais um capítulo~
Agora a bagaça vai ficar séria~
Enfim, agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Paz Temporária - Chama Imortal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.