Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 20
Frenesi




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Depois de finalmente me conformar com o fato de que aquele rapaz era mesmo o Jim, continuei com a operação de resgate. Todos ficaram em silêncio até sairmos do acampamento. Eu queria perguntar várias coisas ao jovem, mas as palavras simplesmente não saíam de minha boca e esta nem sequer tentava se abrir. Depois de caminharmos um pouco, Jim olhou em seu relógio e virou-se para a direção oposta da nossa base. Aquilo foi muito estranho e seu rosto dizia que algo estava errado. Só então consegui buscar forças e, movida por um mau pressentimento, me aproximei dele e coloquei minha mão direita em seu ombro:

– O que houve?

O rapaz se assustou e virou rapidamente para mim. Ele tentou com todas as suas forças (digo isso porque era visível) disfarçar sua angústia e disse com uma voz trêmula:

– N-nada de mais. É que meu grupo estava indo impedir um ataque dos Fallen Ones a uma das vilas de refugiados quando encontramos com seu pessoal. Aliás... Íamos pedir ajuda a vocês e tal...

Era óbvio que ele estava tentando esconder alguma coisa. Então coloquei minhas duas mãos em seus ombros e olhei diretamente em seus olhos com minha seriedade normal:

– E qual é a parte que você não está me contando?

– Então... É que... Minha família está nessa vila.

Os rostos dos pais de Jim e as memórias que eu tinha de Ruby passaram rapidamente pela minha cabeça e eu quase caí para trás. Firmei minhas pernas e consegui continuar de pé. Saber que justo aquelas pessoas que eu mais queria proteger poderiam morrer a qualquer momento foi um grande choque e eu não estava nem um pouco preparada para isso.

Passado o espanto, meu sangue começou a ferver chegando a um ponto onde eu queria simplesmente arrancar uma árvore do solo com os dentes ou despedaçar todos os Fallen Ones (na verdade estava mais para o segundo). Segurei-me com todas as minhas forças para não gritar de raiva e manter minha sanidade e simplesmente prossegui com a conversa:

– Onde fica esse local?

– Então... A vila está localizada logo após a floresta. Estamos usando as ruínas de uma cidade destruída na guerra contra a ditadura como abrigo.

– Como sabe que a Igreja pretende atacar vocês?

– Capturamos dois deles numa ronda rotineira e os interrogamos. Demorou um pouco, mas eles acabaram revelando que eles planejavam nos atacar ao entardecer de hoje. Então deixamos alguns homens lá e saímos para tentar impedi-los. O resto você já sabe.

– Entendo... Tem alguma ideia de quantos soldados virão?

– Então... Eles disseram que era algo em torno de cinquenta homens...

– Entendi...

Virei-me para os meus homens, limpei o sangue de meu rosto e segui em direção à vila. Parei depois de alguns passos e disse sem nem ao menos me virar (eu estava muito furiosa, então queria simplesmente sumir dali e aparecer no meio dos inimigos):

– Quero que vocês peguem o caminho mais curto e sigam até a vila o mais rápido possível. Aguardem lá até que eu retorne.

– Mas... E quanto a você, comandante? – perguntou um dos soldados.

– Eu tenho uns assuntos para resolver com uns cinquenta Fallen Ones.

Senti que alguns de meus companheiros queriam dizer algo, mas acabaram desistindo e apenas ficaram em silêncio. Logo em seguida, comecei a andar rumo à batalha e apenas dois passos depois fui interrompida por Jim:

– Você está louca? Eu sei que você é imortal e que sabe lutar bem, mas... Os números não são nem um pouco favoráveis e...

– Eu não me importo com isso! Cada segundo a mais que perco aqui é um passo a mais que a tropa deles dá em direção ao extermínio de seu grupo.

– Eu sei, mas...

– Se sua preocupação é comigo, então ela é infundada. Não cairei facilmente e se cair, bem... Eu já vivi tempo demais mesmo. Apesar de que esse número pode não ser o suficiente para abalar minha fúria...

Olhei levemente para trás e percebi que o jovem ainda estava relutante quanto à minha partida, mas pelo menos estava se contendo. O restante dos homens parecia assustado, mas não era de se espantar. Fazia séculos desde que eu não ficava irritada daquele jeito e eu naquele estado eu não deixaria nada me impedir de “desabafar”.

Com isso em mente, apenas segui meu caminho, confiante de que meus aliados obedeceriam minhas ordens e protegeriam a vila de qualquer inimigo que escapasse de mim. Pode parecer que eu estava muito confiante por tomar uma atitude dessas ou que eu possuía algum plano elaborado. Mas a verdade é que eu nem sequer estava pensando. Agia apenas baseada em meus instintos e meu ódio.

Pouco tempo depois (ou talvez não tão pouco assim... não há como dizer, pois minha falta de noção de tempo atingiu seu ápice naquela ocasião) cheguei até uma estrada de terra que servia de acesso às ruínas. O local era cercado por uma floresta não muito densa, porém o bastante para impossibilitar a passagem de um grande grupo de pessoas. Isso significava que os Fallen Ones teriam que passar por onde eu estava para chegar até seu destino.

Lá eu fiquei esperando até que pude ouvir o som de vários passos em minha direção. Pouquíssimo tempo depois já era possível avistar a primeira fileira de soldados surgindo no horizonte. O ideal para uma situação dessas seria esperar em uma posição estratégica e ataca-los de surpresa para desestabilizar a formação. Porém eu quis usar outra estratégia: intimidação.

Antes mesmo que eles pensassem em me atacar, saquei minha espada e avancei rapidamente contra eles. Isso os assustou e fez com que todos começassem a atirar em mim. Desviei de todos os disparos que pude e ignorei os que me atingiram. Tudo para causar a impressão de que eu não poderia ser parada. Isso funcionou, pois à medida que eu me aproximava a precisão dos atiradores diminuía. Assim que cheguei a uma distância decente, saltei o mais alto eu pude e caí em cima da formação, decepando um dos soldados. Neste momento, olhei ao meu redor e percebi claramente o desespero nos olhos da tropa, então sorri e apenas aproveitei a brecha que eu havia criado.

Comecei “limpando” uma área ao meu redor para que pudesse me movimentar melhor e cortei tudo aquilo que tentou se aproximar. O líder deles (que estava mais ao meio da formação) demorou, mas finalmente ordenou que todos me matassem. A essa altura eu já havia eliminado a primeira fileira e estava retirando minha espada do peito de um inimigo caído. Todos avançaram contra mim e aproveitei o caos do momento para cortar o maior número de pessoas possível de uma só vez. Repeti o processo, saltei, rolei, bati, apanhei e etc, etc...

Não sei ao certo (e nunca saberei) quanto tempo aquela batalha demorou, mas no final de tudo eu estava acabada. Meu braço esquerdo estava perdido em meio aos cadáveres e meu pé esquerdo possuía uma fratura exposta que já estava começando a cicatrizar. Agradeci ao fato de não poder sentir dor e observei o por do Sol enquanto me recuperava em cima de uma pilha de corpos mutilados.

Depois que eu já conseguia me mover, comecei a andar até a vila para avisar aos meus homens que havia acabado. Caminhei com um pouco de dificuldade e notei algo que já deveria ser óbvio, mas que deve ter sido ocultado pela minha raiva: eu estava coberta de sangue dos pés à cabeça. Chegar até um grupo de refugiados que não queria se envolver com os terrores da guerra neste estado seria um erro fatal e uma possível causa de traumas nos pobres coitados. Por sorte, existia uma ponte no meio do caminho e por debaixo dela corria um estreito riacho. Desci, ou melhor, caí na água e apena fiquei deitada nas pedras enquanto a água percorria meu corpo e seguia seu fluxo normal. Fiquei ali até meu braço estar totalmente recuperado e eu poder me lavar direito.

Continuei meu trajeto assim que estava apresentável (minhas roupas ainda estavam rasgadas, mas isso não podia ser consertado ali). Confesso que me senti mal por tingir aquele pequeno curso de água de vermelho, mas ele com certeza se recuperaria mais rápido do que as mentes dos civis. Pouco tempo depois, finalmente cheguei até a vila e encontrei meus soldados exalando ansiedade. Ergui minha espada embainhada em sinal de vitória e fui recebida com gritos de alegria. Pensei em perguntar sobre Jim e sua família, mas eu me sentia estranhamente desconfortável com essa ideia. Algo estava errado dentro de mim e era como se eu tivesse medo de vê-los. Então apenas ordenei a meus homens para que levassem aquelas pessoas até o templo de T’eemu, onde estariam mais seguros (aquela área era território “oficial” da Organização). Logo depois, segui meu caminho de volta para a base de onde havia saído para verificar se minha presença era necessária de alguma forma. E apesar de eu realmente tentar pensar daquela forma, no fundo eu só queria sair dali o mais rápido possível.


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Notas finais do capítulo

Não sei bem o que aconteceu, mas eu deveria ter postado esse capítulo semana passada...
Bem... Vou apenas corrigir esse coiso e postar o próximo...



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