Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 17
Execução pública


Notas iniciais do capítulo

Eu ainda não morri!



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Passamos a noite inteira explicando para os membros como seria a operação do dia seguinte. Não foi uma tarefa fácil, pois por mais que eles estivessem mais preparados fisicamente, ainda não tinham a “mente de um soldado”. Meus pais diziam que existiam apenas dois jeitos de se tornar um assassino de verdade: recebendo um treinamento rigoroso desde criança ou nascendo talentoso. Na época eu utilizei essas palavras como um amplificador da minha motivação, mas só parei para realmente analisa-las depois de uma conversa com T’eemu. Depois de refletir, acabei notando que elas realmente são verdadeiras. Afinal, isso explica porque muitos soldados entram em desespero no meio da batalha mesmo depois de alguns anos de treinamento e outros se a encaram de forma esplêndida. Isso aguçou profundamente minha preocupação para com os nossos homens e nada conseguia tirá-la da minha mente. Roward havia conseguido vários novos membros desde que mudamos a base para o templo, mas ainda assim nosso número não se comparava ao de fiéis. É claro que essa conta inclui os civis, mas conhecendo organizações como aquela não seria uma surpresa se eles simplesmente resolvessem forçar todos os simpatizantes a ingressar em sua campanha de ódio e não apenas agregar voluntários.

Enfim, acreditando ter conseguido passar todas as informações necessárias para nossos companheiros, fomos dormir cedo para poupar as energias. Não dormi aquela noite e tampouco estava cansada quando todos levantaram. Passei a madrugada inteira refletindo sobre o resgate e cheguei à conclusão de que eu não deveria confiar totalmente em nossos soldados. Com isso em mente, decidi que faria de tudo para concentrar a atenção dos inimigos em mim. Assim eu pouparia nossos companheiros e, talvez, o nosso anonimato. Tal atitude estrava de acordo com o conceito de “a segurança de todos é a prioridade”, estabelecido por Sayumi. Ou seja, eu não tinha um motivo sequer para agir de outra forma.

O dia amanheceu extremamente quente e o Sol parecia estar irritado, pois emitia seus raios com força. Essa situação concedia pontos positivos e negativos para nós. O lado bom era que nossos inimigos se cansariam mais depressa e, provavelmente, estariam mais distraídos por causa do calor. O ruim era que nossos aliados também se cansariam mais depressa e seria mais difícil manter o disfarce caso uma fuga fosse necessária, uma vez que os civis estariam usando roupas mais curtas, diferente de nós que precisaríamos esconder as armas. Mas como nada disso se aplicava a uma imortal como eu, teria apenas que executar meu papel de isca de forma impecável, para evitar quaisquer complicações.

Saímos do templo cedo e chegamos à cidade quatro horas antes da execução. Havia vários cartazes espalhados pelo local informando a data, o horário, o local e o motivo do “evento de purificação”, como estava escrito. Isso facilitou nosso trabalho, pois encontramos a praça rapidamente. Cerca de seis homens com as mesmas vestes daqueles que assassinaram minha “plateia” circulavam por lá. Depois de analisar bem a situação e encontrar um prédio em uma boa localização para que Roward pudesse nos monitorar, estávamos praticamente prontos. Não sei dizer quanto tempo levamos, mas acredito que tenha sido mais do que uma hora. Eu e Sayumi fomos de encontro com Ronmanoth para acertar os últimos detalhes. Encontramo-nos em uma lanchonete próxima ao local, porém não o suficiente para levantarmos suspeitas.

– Bom dia padre. – disse. – Então... Como vão as coisas?

– Ah... Bom dia. – respondeu Ronmanoth. – Vão bem. Hoje vou participar de uma execução de um grupo de hereges.

– Sério? – perguntou Sayumi aparentemente surpresa. – O que eles fizeram?

– Resolveram se revoltar contra a Igreja. Era um grupo de vinte e cinco pessoas, mas dez foram mortos em sua captura. Eles estão sendo mantidos presos dentro da Igreja da Paz e Harmonia e serão levados pelas ruas até a praça para que as pessoas possam atirar pedras neles ou coisa do tipo.

– Entendo... – disse. – Que horas, mais ou menos, eles devem sair da igreja?

– O previsto é para onze e vinte, quarenta minutos antes da execução. Os lugares são próximos, mas eles querem andar bem devagar para que o povo “aproveite”.

– Entendo... Bem, temos que ir agora. – disse Sayumi. – Se não nos apressarmos acabaremos perdendo a oportunidade de apedrejar os hereges.

– Heh, fiquem com os Deuses.

Saímos do local calmamente para não levantar suspeitas. Estávamos com roupas casuais, o que nos permitia misturar-se à multidão e utilizei óculos com lentes negras o tempo todo para esconder a cor peculiar dos meus olhos. Algo extremamente necessário, pois o padre falara que a Igreja havia colocado um prêmio pela minha cabeça e eu não poderia deixar que minha fama estragasse a operação. Nós duas portávamos apenas armas pequenas, pois nossos postos exigiam que ficássemos o mais perto possível dos “hereges”. Nosso suporte rondava a área com roupas mais pesadas, escondendo armas mais letais e com um alcance maior do que as facas e pistolas que faziam parte do nosso arsenal. Porém era mais do que o suficiente para mim, uma vez que Sayumi me ensinara a atirar. Aliás, apenas uma faca já seria o suficiente, mas armas de longo alcance são úteis nesse tipo de situação.

O “corredor” por onde os prisioneiros iriam passar já estava interditado quando chegamos e havia um número considerável de pessoas esperando e comentando sobre o assunto. Tivemos certa dificuldade para chegar à primeira “fileira” de pessoas, mas conseguimos e lá ficamos aguardando o momento certo. O tempo passou e quando as portas da igreja se abriram era como se toda a cidade estivesse presente. Havia alguns guardas armados com metralhadoras espalhados pelo caminho e outros quatro cercavam o grupo enquanto eram guiados por um membro do clero e todos foram recebidos por vários gritos de ódio e vaias. Não era nada além do que eu havia previsto, então apenas acompanhei a multidão em seus atos ridículos enquanto analisava a situação.

Assim que as pedras começaram a ser atiradas (o que ocorreu depois de o grupo avançar apenas alguns metros), recebemos informações de que somente os guardas daquela igreja estavam presentes e eram os únicos responsáveis pela segurança do evento (no total eram cerca de dez pessoas). Isso demonstrava o quanto a Igreja superestimava seu controle e subestimava a revolta de seu povo. É claro que isso não era motivo para reclamações, uma vez que facilitaria bastante nosso trabalho. Mas saber que iríamos salvar os prisioneiros e estremecer os pilares que sustentavam a confiança da Igreja de uma só vez fez com que um sorriso brotasse em meu rosto.

Com essas informações em mãos, eu já não precisava me preocupar em encontrar um momento certo para agir porque este seria quando eu quisesse. Então pulei as correntes que delimitavam o corredor, ficando entre o grupo e a praça. Os guardas logo se mobilizaram e todos (oito pessoas) me cercaram apontando suas armas para minha cabeça. Levantei meus braços em sinal de rendição e guia dos prisioneiros veio até mim aparentemente furioso.

– O que pena que está fazendo? Atrapalhar um evento realizado pelos Fallen Ones é um ato de traição à Igreja!

– Oh, me desculpe! Não sabia que impedir a morte de quinze pessoas era contra os princípios da sua fé.

Neste momento tive que conter meu riso com todas as minhas forças, pois todos que atiravam pedras pararam e os gritos cessaram. Isso gerou alguns segundos de silêncio que só foram rompidos depois do homem à minha frente se recompor e me encarar com muito ódio no olhar.

– Como ousa falar assim com um membro do clero?

– Estranho, eu não me exaltei nem um pouco. Por acaso os Fallen Ones tem repulsa à verdade?

– Calada! Sua herege, como ousa... Um desrespeito desse nível deve ser punido com a morte!

– Então é assim que vocês funcionam? Matam todos aqueles que se recusam a obedecê-los como cães adestrados?

– Cale-se! Guardas! Matem essa herege maldita!

A multidão ainda estava calada, o que facilitou com que eu ouvisse os gatilhos das armas sendo pressionados. Então apenas me abaixei e deixei os projéteis passarem mor cima de mim, apenas atingindo alguns fios do meu cabelo. Como eles haviam me cercado, minha atitude fez com que dois deles se atingissem e caíssem no chão agonizando. Isso acabou com de vez com o silêncio e gerou um desespero coletivo na população.

Rapidamente peguei a faca que estava escondida na minha cintura e a cravei no pescoço do guarda mais próximo e usei minha mão esquerda para sacar minha pistola e disparar contra os outros. Consegui matar três deles (sem contar com o dono do pescoço que envolvia minha faca) até que fui atingida na cabeça por um dos dois restantes. O impacto foi forte e fez com que eu caísse de joelhos. Virei-me e tentei arremessar a faca contra o atirador, mas esta havia ficado no pescoço do outro guarda, então enquanto erguia minha outra mão para mirar a arma recebi um disparo que pegou de raspão no meu olho esquerdo, despedaçando a lente do óculos. Apenas ignorei o impacto deste e matei meus dois inimigos.

A essa altura quase não havia mais ninguém no local, pois o povo fugiu em caótica e rapidamente. Apenas os prisioneiros e o homem da Igreja me encravam perplexos enquanto eu levantava calmamente. Joguei o óculos fora, pois já não tinha mais motivos para usá-lo e pude notar o medo do homem, juntamente com a alegria dos “hereges”, ao ver a coloração dos meus olhos. Aproximei-me lentamente do grupo enquanto apontava minha arma para o sobrevivente. O pobre coitado caiu de joelhos quando cheguei a dos metros dele e me estendeu suas mãos com um molho de chaves.

– Tome! Essas são as chaves das algemas dos prisioneiros! Faça o que quiser com elas, apenas poupe minha vida!

– É engraçado como a opinião das pessoas pode mudar drasticamente em um período tão curto de tempo.

Peguei as chaves de suas mãos trêmulas e batia minha arma contra sua nuca para que ele desmaiasse. Tudo parecia bem e eu estava prestes a libertar o último deles quando fui atingida nas costas por um disparo. Virei-me rapidamente e atirei contra meus agressores. Eram apenas os dois últimos guardas e foram alvos fáceis, uma vez que já não havia mais aquela multidão. Infelizmente, eu não fui seu único alvo. Eles conseguiram matar três rebeldes antes de eu os parar.

Como não havia tempo para se comover com isso, deixamos seus corpos caídos ali e corremos para fora da cidade. A fuga foi muito mais fácil do que eu imaginava e, no final, voltamos para o templo rapidamente.

A operação foi muito bem sucedida, tirando as baixas dos prisioneiros (isso já era considerado uma possibilidade por nós). Nossa organização continuou no anonimato, abalamos a confiança da Igreja e tudo aquilo foi transmitido pela TV. Ah, e conseguimos novos aliados, claro. Porém, não havia tempo para festejar porque os Fallen Ones aumentariam sua cautela e nossas próximas operações com certeza seriam muito arriscadas. Mas isso não poderia gerar quaisquer reclamações, pois abandonar a batalha não era uma opção.


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Notas finais do capítulo

Bem, primeiramente gostaria de me desculpar por ficar ausente por tanto tempo. É que entrei numa "crise existencial de escritor" e fiquei muito desanimado para escrever. Parece que isso virou rotina, pois algo parecido ocorreu na Cherry Pie e na Cursed Eyes e acabei ficando até uns dois meses longe na última. Aliás, hoje fazem exatamente dois meses desde que postei o último capítulo.
Enfim, chega de falar dessa bagaça e vamos à história. As coisas ficarão cada vez mais "dinâmicas" a partir desse volume e ocorrerão alguns time skips (não se esqueçam de que não falarei o período exato de tempo, já que a pobre Tsuya não tem noção disso xD). E com dinâmicas eu quero dizer: mais batalhas e mais sanguinho xD
Não tenho a mínima ideia de quando postarei de novo, porque estou com altos trabalhos pra fazer e talz. Em último caso escreverei apenas nos finais de semana, então eu espero que entendam.
Bem... Obrigado por lerem até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D (estava com saudades de dizer isso ='D)



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