E Se fosse verdade? 2 escrita por PerseuJackson
Depois daquela recepção calorosa da tia Rachel, entramos na casa, receosos. Parte do telhado estava destruído, então a luz do sol entrava num feixe que iluminava toda a casa.
Apesar de a tia ficar apontando a espingarda para nós a cada movimento que fazíamos, fui me sentindo a vontade dentro da casa.
A sala era espaçosa, com um tapete vermelho redondo no chão e dois sofás grandes que, do jeito que estavam postos, formavam a letra L. Uma TV de tela plana estava em cima de uma estante com um DVD ao lado. Nas paredes, havia vários retratos antigos. O maior era de um homem idoso com uma bengala na mão e um chapéu de palha. E em outros, várias pessoas sorrindo abraçadas.
— Nossa. — sussurrei.
Meus amigos observavam tudo. Annabeth colocou os olhos em um retrato onde, pela minha dedução, estava minha tia e o homem idoso de bengala, que eu vira na foto anterior. Os dois estavam sorrindo, enquanto ao fundo deles havia uma construção antiga com várias colunas. Parecia grega.
— Ah, deuses! — a voz de Annabeth ficou estridente. Ela andou, pegou o retrato e ficou olhando para ele como se fosse ouro puro. — É o Parthenon!
— Cuidado com isso! — exclamou tia Rachel. — Não toque em nada! Não mexa em nada! Deixe isso no lugar dele!
O sorriso de Annabeth se apagou.
— Okay. Eu só queria ver.
— Vamos. — tia Rachel apontou com a espingarda para a cozinha.
Percy chegou perto de mim e murmurou:
— Sua tia parece que não está muito contente em revê-lo.
— Eu acho que ela nem se lembra de mim. — disse eu. — Pensei que ela me abraçaria ou ficaria pelo menos feliz, mas acho que estava enganado.
— Ei. — Ashley pôs a mão em meu ombro. — Não fale assim. Ela pode estar bem estressada por viver aqui nesse calor infernal. Ou por estar sozinha, ou talvez ela possa estar assim devido ao... — sua voz falhou.
Eu a encarei.
— O quê? Devido a quê?
Ela olhou para baixo.
— Nada.
— Eu acho que ela queria dizer devido ao vírus. — disse Annabeth, com as mãos nos bolsos e olhando para cima.
— Acha que minha tia está com o vírus? — perguntei, meio zangado. — Acha que ela está ficando louca?
— Não! — contrariou Ashley. — Eu nem disse isso. Foi essa vagabunda que falou.
— Quem você chamou de vagabunda? — perguntou Annabeth, cerrando os punhos.
— Você.
Annabeth já ia partir para cima de Ashley, quando a tia Rachel exclamou da cozinha:
— O que estão esperando para virem pra cá? Se estiverem roubando alguma coisa, juro por Deus que vai ser a ultima vez que veem a luz do sol.
Kayro, que estava vendo os retratos nas paredes, olhou para nós e disse:
— Ela é muito convincente, não é?
Percy pegou Annabeth pelo o braço e a afastou de Ashley. Fomos à cozinha e nos sentamos á mesa. O calor enchia a casa, mas não era nada comparado ao que senti lá fora.
Tia Rachel trouxe para gente pães frescos, limonada, queijo, presunto e um pouco de ketchup. Pedimos antes de tudo, água, para pelo menos matar a nossa sede. Após isso, atacamos a comida.
— Cara — falei. — Isso está...
— Delicioso. — completou Kayro. — Muito delicioso.
Tia Rachel nos olhava fixamente. Pude notar que a pele de seu rosto era ressecada e cheia de rugas. Seus cabelos eram grisalhos, e havia alguns fios brancos.
— De onde vocês vieram? — perguntou ela.
Mastiguei um pedaço de pão e respondi:
— Nova Yorque.
— Como chegaram até aqui?
Não estava com saco para responder perguntas. Queria finalmente tomar um banho antes de dormir um pouco. Mas Annabeth respondeu:
— De trem. Pegamos um e chegamos até aqui.
Olhei para a tia.
— Hã... como a senhora consegue viver aqui?
Seus olhos ficaram vazios.
— Nem eu sei. — admitiu. — Mas não posso sair daqui.
— Por quê?
— É muito perigoso lá fora. Muito perigoso. Há Cranks por toda a parte. Eles se escodem, e ficam a espreita para ver se há alguém para devorar. Esses... são os que já estão no estágio mais avançado da doença.
— Okay, okay, tempo. — Annabeth parecia confusa. — Só para complementar... o calor lá fora também é muito perigoso. Corremos o risco de ficarmos desidratados ou de pegar uma insolação. Agora me diga... Por que não pode sair daqui?
— Eu já disse a vocês. É muito perigoso.
— Mas... — Kayro franziu a testa. — Nós estávamos lá fora e... não vimos nada. Nenhum sinal de gente. Bem... somente duas pessoas.
Tia Rachel trincou os dentes.
— É o que estou falando para vocês. Eles se escondem!
Annabeth pediu a Kayro seu boné dos Yankees. Ele o tirou de dentro da mochila e a entregou. Eu nem sequer havia me perguntado onde estava aquele boné dela.
— Certo. — disse Annabeth se abanando com seu boné. — Então... sair é muito perigoso.
— Isso. — disse a tia.
— Por que há... como se chamam?
— Cranks.
— Certo. Por que há Cranks lá fora.
— Sim.
— E se nós sairmos eles nos devoram.
— Exato.
Eu fiquei assistindo a conversa sem falar nada. Minha cabeça já estava lotada de problemas. Não precisávamos mais de um na lista. O objetivo central na missão era somente resgatar Grover e Igor, e entregar a Máscara para... NÃO! Quer dizer... e lutar contra os dois deuses menores.
— Tia, se não se importa, posso usar o banheiro? Vou tomar banho.
— Aqui não tem roupas para vocês. — falou ela.
Eu gemi.
— Vou ter que vestir essa roupa fedida mesmo?
— Sim. Vá logo tomar banho!
— Depois sou eu. — disse Percy.
***
Após a gente ter comido, tomado banho (vestindo a mesma roupa, eca!), e conversado com a tia, fomos descansar.
— Tem três quartos aqui. — disse a tia Rachel. — Escolham dois, porque o outro é meu.
Nós assentimos, e fomos cada um para seu quarto. Annabeth e Ashley iam ficar em um, mesmo odiando isso. Nós, meninos, em outro.
O quarto era grande, e havia janelas que davam para a linda vista do asfalto escaldante lá fora. O abafado entrava, por isso fechamos duas janelas e deixamos outras duas abertas. Kayro deitou na cama junto com Percy (não pensem besteira.). Já eu, sentei na beirada e fiquei pensando.
— Vamos Raphael. — chamou Percy. — Temos somente alguns minutos para dormirmos. Hoje é dia 20 de junho. Temos que chegar lá em São Francisco até pelo menos o dia 23, antes do prazo marcado.
— Eu sei. — falei, olhando para um ponto distante no ar. — Mas é que... parece que em nossa vida só tem desgraça.
Kayro rolou os olhos.
— Ah, cara, não venha ser emotivo agora. Que graça teria se só acontecesse coisa boa?
Olhei para ele.
— Teria muita graça. É que... — de repente, notei algo passando rapidamente pela a nossa janela. Parecia um vulto. — Vocês viram?
Os dois olharam para a janela.
— Viram o quê? — perguntou Percy.
Me aproximei da janela e olhei para fora. Não havia nada.
— Você está bem? — quis saber Kayro.
— Algo passou por aqui. — disse eu. Virei-me para meus amigos, que me olhavam como se eu estivesse louco. — Okay, certo. — respirei fundo. — Vou me acalmar e descansar. Só estou um pouco...
Kayro e Percy pularam da cama e recuaram para a parede, pasmados.
— Olha! — Kayro apontava para a janela atrás de mim, com os olhos cheios de medo. — Olha pra trás!
Assim que eu me virei para a janela, meu coração pareceu entrar em um freezer. Por que do lado de fora, um rosto me olhava atentamente, com os olhos injetados de sangue e cheios de insanidade. Mas a coisa mais terrível era que ele estava sem nariz. Isso mesmo. Sem nariz. Havia somente um buraco nojento e sanguinolento no meio da cara.
— Ahhhh! — gritei e recuei bruscamente.
— Vamos sair daqui! — exclamou Percy.
Saímos do quarto correndo, só para descobrir que o caos estava apenas começando. Annabeth e Ashley saíram do quarto gritando de medo.
— Tem um monstro horrível lá fora! — gritou Ashley.
— Devem ser aquelas pessoas contaminadas com o vírus. — disse Annabeth respirando rapidamente.
— Venham! — chamei. — Vamos procurar a minha tia.
Fomos para o quarto dela, mas não estava lá. Ouvimos o som de um tiro vindo da sala, e corremos para lá.
— Tia Rachel!
Ela estava postada no meio da sala, atirando em uma dúzia de pessoas que estavam do lado de fora da casa, esmurrando a porta e tentando entrar pelas janelas.
— Eles querem entrar! — gritou a tia.
— Ah, jura? — resmungou Annabeth.
Nos juntamos a ela.
Vários rostos de pessoas horríveis estavam do lado de fora olhando para nós, e arranhando os vidros das janelas. Elas gritavam e apontavam para a gente.
— Acabem com eles! — gritavam. — Não merecem viver. Malditos imunes.
— Hã... imunes? — perguntei.
Tia Rachel recarregou a arma e disparou contra um cara que estava com o rosto colado no vidro. Ele imediatamente cambaleou para trás, o rosto deformado e cheio de sangue, e caiu.
— Maldita! — gritavam.
Com uma parte do vidro quebrado, eles enfiavam a mão dentro tentando nos pegar.
— Eles querem vocês. — explicou minha tia. — Vão para a cozinha. Eu vou enganá-los, dizendo que manterei vocês no quarto. Assim que eles forem para lá, saiam pela a porta! Fujam! Saiam daqui!
— Não! — gritei. — Nem pensar. Não vou deixar você tia.
— Vamos lutar! — disse Percy.
— Mas... — Annabeth olhou para a gente. — Eles são mortais comuns. Como vamos usar nossas armas contra eles?
— Que droga é essa que vocês estão falando? — resmungou tia Rachel.
Tinha que haver outra forma. Eu não ia perder minha tia nem a pau. Todos nós conseguiríamos sair dali.
Olhei para Annabeth.
— Você é a estrategista aqui. — Ashley pigarreou. — Hã... vocês duas. Bolem um plano. Qualquer coisa!
— Isso! — sorriu Kayro. Ele pegou de dentro de sua mochila uma bola de metal preta com vários botõezinhos nela. — Eu vou ajudar.
— Uma granada? — perguntou Percy.
Kayro deu um sorriso maléfico.
— Melhor que isso.
— Certo. — Annabeth colocou as mãos na cabeça. — Vamos para o fundo da casa.
O vidro quebrou-se. Dezenas de braços se enfiaram para dentro.
— Hã... para o fundo da casa. — Continuou. — Lá, pegaremos qualquer coisa. Facas, gafos, panelas, tudo o que dê para usar como arma.
— Ou poderemos sair pelas portas dos fundos. — sugeriu Ashley.
Nós pensamos.
— Mas eles podem nos perseguir. — disse eu.
— Não saiam ainda. — disse Annabeth. — Vamos deixá-los entrar. Assim que chegarem ao fundo da casa... — Ela olhou para Kayro. — O que essa sua bola faz?
— Tantas coisas. Explode, paralisa, cega, faz dormir, faz que gargalhem sem parar...
— Ótimo!
— Faz com que requebrem até o chão.
— Está bem! Quando eles chegarem ao fundo da casa, faça com que fiquem paralisados ou cegos. Tanto faz!
— Ou que requebrem até o chão. — riu Ashley.
Tia Rachel nos olhava, perplexa.
— Quem são vocês?
— Ótimo! — Percy aplaudiu. — Essa é minha garota. — ele a puxou para um beijo.
Nesse momento, pensei no beijo que Ashley me dera, e corei. Acho que ela também estava pensando, pois olhou para baixo e sorriu.
— Argh! Por favor! — Tia Rachel separou Percy e Annabeth. — Parem com essa baboseira. Vão fazer o que disseram ou não?
— Hã... sim. — disse Annabeth.
— Pois venham! — Tia Rachel sorriu, pela primeira vez. — Vamos brincar um pouco com esses malditos Cranks.
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