A cena de mim e o Austin acordando podia ser extremamente fofinha, quer dizer, quando você pensa em um casal de amigos de dezesseis anos dormindo juntos, provavelmente vem a cabeça eles abraçados, ou dormindo de conchinha, ela com a cabeça no peito dele ou sei lá, mas aqui, com certeza não é o caso. As pernas de Austin estão na minha cintura, meus braços no pescoço dele e ele é quem está com a cabeça no meu peito, pode? Sorriu com a cena.

Olho para o relógio no criado mudo e vejo que já são quase 14:00 horas, eu poderia me assustar, mas já que estamos de férias, não ligo. Tento sair de fininho pra não acorda-lo mas ele me puxa de novo pra junto de si. Fico assim por mais dois minutos e não consigo mais, saio da cama de uma vez fazendo ele acordar assustado.

–O quê? -diz se sentando rápido e eu caio na gargalhada.

–Bom dia, sua boca está toda suja de baba. -ele olha para o espelho da penteadeira e me pega na mentira. Revira os olhos e fala:

–Engraçadinha, por que me acordou assim?

–Eu tentei sair e você me puxou de volta, tava cansada de esperar o belo adormecido acordar e perdi a paciência. -ele me olha incrédulo. -O que? Eu não tenho muita paciência pela manhã- me defendo.

–E nem em nenhuma hora do dia -fala se deitando de bruços e puxando o edredom para cobrir sua cabeça.

–Levanta daí ou vou jogar água em você.

–Não, olha como você me acordou. vou passar o resto do dia na cama -fala mimado e eu reviro os olhos. Pulo na cama e monto nele.

–Ah qual é Austin, nem foi tão ruim assim vai, você virou um marica ou o que? Eu já te acordei com aguá quente e foi divertido.

–Você é louca.

–Vamos pra praia vai, por favor, vaaaaamos.

–Não.

–Nem porfavorzinho?

–Nem porfavorzinho.

–Nem se eu fizer panquecas? -ele não fala mais nada e eu sorriu, sabendo que a luta está ganha.-De chocolate -acrescento.

Ele muda de posição em um segundo de uma forma que ele está montado em mim agora. Desde quando ele é tão ágil?

–Com chantilly? -fala infantilmente e eu caio na gargalhada.

–Tudo bem.

–E depois praia.

–Ok. Agora sai de cima de mim seu gordo.

–Falou a pessoa que come mais que eu no almoço.

–Você é um marica, eu já disse.

–Como é? -fala com um ar de ameaça e eu começo a me contorcer sabendo o que vem por aí.

–Não Austin, para. Se você fizer... hahahaha para Austin hahahaha por haha favor hahaha -O filho da mãe sabe meu ponto fraco e usa contra mim. cócegas...

–Quais são as palavrinhas mágicas?

–Austin é uma hahahaha pessoa mui hahah to haha legal!

–Não, é "Austin é um gostoso" -ele para depois de um tempo mas eu continuo rindo.

–Isso não vai ficar por isso mesmo seu idiota.

–Tanto faz -fala se levantando e indo para o banheiro.

Que saudades eu tava de tudo isso. Agora finalmente minha rotina vai voltar a ser como antes.

Pego o celular dele no criado-mudo e vou mexer, como nos velhos tempos.

Olho tudo, conversas, e faço um lembrete mental de bater nele depois, ele continua o mesmo, iludindo e ficando com meninas nada vê. O Austin é e sempre será meu melhor amigos, mas jamais confiaria nele pra ''algo a mais'', ele é o que eu costumo classificar como muito galinha, segundo ele, ele não ilude ninguém, ele sempre deixa bem claro o que quer e as meninas lê-se vadias, aceitam. O fato é que ele já "comeu" metade de Miami e todas elas...hum... querem de novo. O pior é que eu, como melhor amiga, sei de praticamente todas elas, o que é bem chato. Olho também as fotos, redes sociais e tenho uma ideia.

Entro no facebook dele e atualizo o status: ''Eu sei que isso é uma coisa que vai decepcionar muitos, mas eu sempre quis assumir, e acho que aqui, onde me comunico com quase todos os meus amigos seria um ótimo lugar para dizer... Me desculpem, mas eu não aguento mais guardar isso só pra mim. EU SOU GAY" clico em publicar e começo a rir desesperadamente. O Austin é muito conhecido aqui onde moramos e a notícia com toda certeza do mundo vai se espalhar muito rápido, assim como vai ser a minha morte quando ele descobrir, rápida.

Ele grita da porta do banheiro o que me faz pular da cama.

–Ally, toalha.

–Usa a minha, tá aí no banheiro. -Enquanto ele termina, eu ponho a minha foto no papel de parede do seu celular, por que sim.

–Tá fazendo o que aí?- fala saindo do banheiro com a toalha na cintura e eu tenho que lembrar de respirar. Meu Deus... Será que eu vou me acostumar com isso alguma hora?

–Mexendo no seu celular, óbvio.

–Era pra está preparando meu café da manhã, panquecas de chocolate.

–Sem tomar banho? claro.

–E tá esperando o que? Vamos minha filha, eu tô com fome. -fala batendo as mãos impaciente e eu olho com cara de "tá maluco moleque? "

–Tá maluco moleque? -Ele rir.

–Vou me arrumar no meu quarto. -com cinco empregadas espalhadas pela casa? não mesmo.

–Eu pego a sua roupa. Você está quase nu aí. -digo depois de pular da cama e me por na sua frente, entre a porta.

–E qual o problema?

–Existem cinco mulheres espalhadas pela casa! Trabalhando... -completo e ele se diverte.

–E você tem ciúmes.

–Óbvio que não, só não quero assustar ninguém né.

–Ally, todas elas me viram crescer, para de frescura.- fala indo em direção a porta.

–Não! tem a Juliana, ela só tem três meses aqui, quer dizer, você nem conhece ela, seria bem estranho. -E ela só tem vinte anos. Acrescento mentalmente.

–Mas qual o problema meu Deus do céu? O quarto é nesse corredor!

–Problema algum - falo desinteressada- é só que...

–Ela vai se interessar pelo bonitão aqui não é? Relaxa Ally, eu só tenho olhos pra você. -diz sarcasticamente saindo do quarto e me deixando com vontade de lhe dar um soco.

Tomo um banho rápido ainda com raiva e me visto mais rápido ainda.

Desço as escadas e vou direto pra cozinha, me deparo com o Austin conversando com quem? JULIANA.

Entro e não digo nada, mas sei que o Austin sabe que por algum motivo eu não gosto deles dois juntos e provoca.

–Então, você tem quantos anos Jú?- JÚ?

–Dezenove, faço vinte mês que vem- dezenove? mas não era vinte?

–A gente devia fazer uma festa, sabe como é. -fala e ela solta um risinho tipico de "quero dá pra você"

–O que ela sabe como é?- digo parecendo desinteressada enquanto pego um suco na geladeira.

–Mês que vem é o aniversário da Jú, Ally. sabia?

–Não, não sabia. -me sento na mesa de frente pra ele e vejo que ele está se divertindo. idiota!

–Pois é. E minhas panquecas?

–Por quê não pede pra Jú fazer? Jú? -falo sem tirar os olhos dele enquanto ele sorri de lado, um sorriso sacana perfeito.

–Claro senhorita Ally.

Ele me encara por mais alguns segundos e quando tem a certeza de que estou falando sério, fala:

–Não, não precisa Jú. Deixa que eu como outra coisa. -fala e ele me olha com um olhar mortal agora. Tudo bem, deixar ele sem as panquecas dele talvez tenha sido pesado demais, são as PANQUECAS dele...

A "Jú" parece que sentiu o clima e sai da cozinha.

–Não vai fazer mesmo as minhas panquecas?

–Não.

–Ok. -Ele se levanta e por um momento eu penso que ele vai sair da cozinha, mas não, ele vai para o fogão o que me assusta. Ele passa uns cinco minutos tentando ligar o fogão e eu não aguento mais me segurar. Caio na gargalhada e ele me olha com raiva.

–Tudo bem, tudo bem, eu faço hahahha

–Graças a Deus, eu nem sei ligar esse negócio.

Tomamos o café da manhã sem tocar no ocorrido mais cedo e depois, iremos ao nosso lugar preferido: Praia!