Enquanto ia sendo guiada por Daniel até meu quarto, como de costume, fomos o caminho todo calados. Eram duas mentes confusas e cheias, quando chegamos só damos um abraço de boa noite e fomos para nossos respectivos quartos. Eu fui logo tomar um banho para ver se conseguia relaxar um pouco depois desse dia cheio. Parecia que minha estadia aqui no castelo teria essa rotina corrida quase sempre. Fiquei de molho na banheira, mergulhada em meus pensamentos, não sei quanto tempo fiquei assim. Saí do banho e fui para a cama. Pensei em pegar o livro que Daniel havia me deixado, mas como ele já havia me dito sobre o que era eu já não estava mais tão curiosa, resolvi deixar para outra hora. Fiquei deitada por um bom tempo até que vi que não conseguiria mesmo dormir e resolvi levantar. Fui descalça mesmo até o corredor, onde tinha uma grande janela de vidro que mais parecia uma porta de tão grande e larga. Iria observar a paisagem noturna dali já que não conseguia dormir.

Logo que cheguei encostei-me à parede e fiquei a olhar para fora daquela janela, tão distraída que nem vi que não estava sozinha ali, só percebi com o susto que levei ao ouvir sua voz.

– Também sem sono?

– Sam? Que susto você me deu! – era Samuel, nossos quartos eram no mesmo andar, eu nem me lembrava disso.

– Desculpe, não queria te assustar. É uma vista linda esta, não?

– É sim. Nunca tinha reparado.

– Sempre que fico sem sono eu venho aqui ou dou uma caminhada no jardim, isso me acalma – ele me diz.

– Não sabia que sofria de insônia – eu digo a Sam.

– Há muita coisa sobre mim que não sabe. Nos separamos e passamos a ser estranhos um para o outro. Depois que você terminou comigo se afastou completamente.

– Eu acho que nós éramos estranhos quando ainda estávamos juntos. Você sempre pareceu cheio de segredos, enquanto eu era um livro aberto para você. Minha confiança em você se esgotou juntamente com o que sentia por você.

– Eu... eu nem sei o que dizer Johanna. Eu sei que eu agi errado, mas não posso voltar no tempo para corrigir esses erros. Só o que posso fazer é te pedir desculpas.

– Tudo bem, isso foi há muito tempo.

– Será que podemos ser amigos novamente? Sinto falta das conversas e risadas jogadas fora. Nós, antes de namorados, fomos muito amigos. O que aconteceu para que aquilo acabasse? – ele me pergunta.

– Quer mesmo que eu te responda?

– Não, não. Eu sei que foi culpa minha. Novamente me desculpe.

– Desculpas aceitas – digo-lhe e logo ele abre um sorriso. Não me lembrava mais do sorriso dele, pois passei a odiá-lo depois do nosso término. Samuel tinha cabelos cacheados e olhos verdes, o que deixava seu sorriso ainda mais adorável. - Ah, como eu senti falta do meu amigo, o antigo Sam. Será que ele ainda existe em algum lugar aí dentro hein? – pergunto-lhe pondo meu dedo indicador em seu peito.

– Talvez ele esteja adormecido. Precisando que alguém o desperte – ele me diz, pondo sua mão sobre a minha em seu peito. Eu fiquei constrangida com aquilo.

– Ah, Sam. Eu acho que meu sono finalmente voltou, preciso ir – nem esperei sua resposta e fui para meu quarto. Saí sem olhar para trás, entrei e fechei a porta, parei encostada atrás da mesma completamente nervosa. – minha nossa, o que você está acontecendo com você Johanna? – eu me perguntava. Me joguei na cama e tentei a todo custo dormir.

• • •

Eu consegui dormir um pouco na última noite, mas não foi o suficiente. Eu devo ter dormido umas três horas, acordei às 05 h: 30 min da manhã. Eu tinha que treinar às 07h, resolvi que só comeria algo depois dos treinos. Então dormi mais meia hora, depois fui me arrumar para o treino. Daniel foi me buscar como havíamos combinado. Todos os dias ele viria até que eu pudesse andar pelo castelo sem me perder. Ele notou que eu estava quieta e estranha, pois logo que saímos do meu quarto ele começou a questionar.

– Por que está assim hoje, Johanna? Não dormiu essa noite?

– Até dormi, mas 3h de sono não são suficientes. Estou com a cabeça tão cheia que não consigo dormir.

– E você está assim por que não dormiu bem, ou aconteceu algo?

– De tudo um pouco. Ainda estou pensando nessa história dos meus pais. Isso é estranho, eles nunca me disseram a verdade e agora parecem continuar escondendo mais coisas.

– Sinto muito. Espero que possamos descobrir logo – Daniel me diz enquanto empurra as duas grandes portas da sala de treinamento. Quando entramos, logo Randall vem até nós.

– Bom dia príncipe Daniel, bom dia Johanna. É bom ver você, não a via desde que... você e Sam... – ele fica sem jeito ao pensar no término de meu namoro com seu filho.

– Desde que terminamos, pois é. É bom ver o senhor também sr. Randall – eu concluo a frase dele e o cumprimento.

– Bem, se nos dá licença, Randall, precisamos tratar da mágica dessa moça. Mais tarde veremos se ela vai poder treinar luta – Daniel diz, cortando Randall.

– Tudo bem. Até mais tarde Johanna. Príncipe Daniel – ele acena com sua cabeça e se retira.

– Venha aqui comigo. Quero te contar uma coisa – Daniel me diz sentando-se ao chão. Eu o acompanho, sento-me a sua frente.

– Pode falar – eu digo-lhe quando já estamos sentados.

– Eu falei com meu pai sobre os treinos e como vai ficar tudo por aqui enquanto Loki e Addie estiverem fora e... ele me deixou te treinar no lugar de Randall – Daniel me diz empolgado.

– Por que você não quer que eu treine com Randall? E por que toda essa alegria? – pergunto-lhe.

– Ah, a alegria é porque meu pai aceitou minha proposta. E não é que não queira que você seja treinada por Randall, é que eu acho os métodos dele não muito eficientes.

– Ui, convencido. Você está se achando melhor que Randall? Ele é bom, todos os soldados do exército passaram por ele.

– Eu não disse que ele é ruim. Só não gosto do jeito que ele treina os alunos, não tendo o mesmo método para todos, mas isso você vai ver por si mesma com o tempo. Agora, vamos tratar de seus poderes garota em chamas?

– Mas é claro. Preciso aprender a controlar isso logo.

– Tudo bem. Vamos fazer como em sua aula com Loki. Concentre-se, respire fundo, esqueça tudo, até a mim, pense na sua energia, na mágica que há dentro de você, concentre-se nela, e somente nela - Eu faço o que Daniel me disse, no início estava difícil me concentrar, mas logo eu comecei a sentir aquela energia de novo. Parecia que havia algo mais além de sangue correndo por todo meu organismo, não sentia aquilo quando não estava concentrada.

– Por que isso é tão difícil? Vocês são sempre tão centrados assim que conseguem usar os poderes quando querem? – pergunto a Daniel ainda com meus olhos fechados.

– Não. É difícil no início, quando nossa mente precisa aceitar o que nosso corpo já está a aceitar. Quando conseguimos isso, conseguimos o controle – ele me diz.

– Bem, eu não sei se vou conseguir tão cedo. Minha mente está uma bagunça ultimamente – digo abrindo meus olhos.

– Eu imagino. Mas você não quer nem tentar?

– Tudo bem, vou tentar de novo – eu tento lembrar das vezes em que meus poderes foram liberados, era toda vez que eu ficava muito emocionada ou... quando pensava em ser Jotun... - É isso! – eu digo, dando um susto em Daniel, que dá um pulo com minha reação.

– É isso o que Johanna? Que descoberta você fez agora?

– Espere – eu digoe começo a pensar. Eu sou uma Jotun, eu sou uma Jotun... tento pensar na mágica que sinto em mim, como liberá-la. Eu afasto minhas mãos de meu colo e me concentro nelas, especificamente em meus dedos. Sinto a energia sendo direcionada até eles e os sinto aquecer. Quando olho para Daniel, sua expressão é de surpresa.

– Como você fez isso? – ele me pergunta pasmo.

– Bem, como você me disse outro dia, eu precisava aceitar o que eu era. E foi o que eu fiz. Aceitei quem realmente sou. Eu sou uma Jotun.

– Isso é incrível. Olhe para suas mãos – ele me diz e eu olho. Somente as pontas de meus dedos estavam queimando, exatamente como eu queria que acontecesse.

– Foi isso o que eu imaginei. E deu certo! Deu certo Daniel – naquele momento não se sabia quem estava mais surpreso, se eu ou ele.

– Johanna, nunca vi alguém conseguir controlar a mágica tão rápido assim. Agora que descobriu como liberá-la, temos que praticar seu domínio sobre ela.

– Pensei que nunca fosse conseguir – eu digo-lhe enquanto tento agora apagar o fogo, e dessa vez eu consigo - O segredo está no pensamento. Mente domina o corpo – eu explico quando minhas chamas se apagam.

– Isso mesmo. Você foi muito bem hoje. Espero que nas próximas aulas seja assim também. Se continuar assim, logo estará dominando sua mágica – Daniel me diz. Ali terminamos e fomos para a aula de luta. Combate com as mãos.

Daniel pegou o que parecia ser um par de luvas, munhequeiras, sei lá. Acho que ele as usava para lutar. Ele me deu um par para que eu usasse também. Depois que estávamos prontos ele começou a me falar um pouco sobre lutar. Demonstrou alguns golpes e me mostrou como me proteger dos mesmos.

– Bem Johanna, seu oponente nunca vai avisar quando te atacar, então você precisa estar concentrada nos sinais de seu corpo, e isso é muito rápido, requer concentração – enquanto ele dizia aquilo ele me abraçou por trás, prendendo-me fortemente entre seus braços.

– Então esse é seu método? É o que faz diferente de Randall? Ataca seus alunos na primeira aula? – pergunto-lhe ainda sendo segurada por ele.

– Eu não dou moleza para as garotas como ele. Elas precisam mais do que ninguém saber se defender. Agora, o que vai fazer para se soltar? – ele me disse e eu imediatamente comecei a pensar. Pus minha perna direita entre as dele fazendo-o desequilibrar-se e o joguei ao chão. - Muito bem! Você pensou bem. Geralmente o pessoal morde meu braço – Daniel me diz enquanto levanta-se do chão.

– Por isso a munhequeira? – pergunto-lhe rindo.

– É, ela protege das mordidas também. Mas não é exatamente por isso que uso – enquanto ele me explica, mais uma vez sou golpeada por ele, que dessa vez me empurra pelas costas com um chute em minha perna. Eu me equilibro e volto-me para ele que me dirige um soco e eu felizmente consigo bloqueá-lo, mas logo levo outro chute na lateral de minha perna e perco a concentração, sendo assim derrubada por Daniel que agora está com seus quadris sobre mim. - E agora, como se livrar do oponente? – ele me perguntou. Ele estava sobre mim e eu não podia virar-me ou levantar. Tentei inúmeras vezes derrubá-lo para o lado, mas ele era forte, não consegui. De repente ele se inclinou para me provocar e aí eu tive a ideia. Pus minha perna sobre sua nunca e levei uma mão até meu pé prendendo-o diagonalmente, seu ombro estava agora sob minha perna. Puxei meu pé até que Daniel ficou sem ar e me soltou. Rapidamente me levantei, ele estendeu a mão para que eu o ajudasse a levantar também. - Bem, Johanna, vejo que você leva jeito para se desvencilhar de seu oponente mais do que para bloquear socos e chutes, isso é o que vamos tentar melhorar em nossos treinos – Daniel me diz sua conclusão a respeito de minha habilidade com luta.

– Você não dá moleza mesmo para as meninas. Caramba! É nosso primeiro treino – eu digo.

– Bem, acho que já deu para ver onde você é mais hábil. Podemos terminar por aqui. Tenho mais aulas a dar pela manhã. Vai querer treinar com Jasper?

– Não tenho ainda aula de combate com armas? - pergunto-lhe.

– Eu não imaginei que fosse ficar tão ocupado, não posso te treinar hoje. Só se você quiser treinar com Randall e Sam – Daniel me diz, ele parecia triste por não poder me treinar como ele havia planejado.

– Tudo bem. Vou treinar com Randall então.

– Ok. Nos vemos no almoço – ele me diz. Me despeço dele e vou para a sala ao lado onde estava Randall.

– Ora, veja quem veio treinar conosco. Como está Johanna? Conseguiu dormir? – Samuel me pergunta quando chego próximo a ele e Randall.

– Bom dia para você também Sam. Eu dormi sim. Te disse que meu sono havia voltado e foi o que aconteceu, logo que me deitei eu dormi – lhe respondo diretamente. Não queria falar sobre o que aconteceu na última noite.

– Daniel me falou que quer te treinar enquanto Loki estiver fora. Mas creio que hoje não vai dar, não é? – Randall me pergunta.

– É, acho que ele se precipitou um pouco. É muita coisa para ele conciliar – respondo.

– Ok, vamos ao treino então. Sam ajude Johanna a se preparar enquanto termino com Jordin – Randall diz e volta ao seu treino com a moça. Sou levada por Sam até o extremo canto da sala, onde tinha muita coisa, eram espadas, bastões, escudos, diversos tipos de arma, incluindo arcos e flechas, não pude deixar de reparar.

– Então, Johanna, escolha o que te parecer melhor. Sei que é excelente com arco, então sugiro que tente aprender a usar uma arma diferente – Sam me aconselha.

– Tudo bem, só me dê um tempo para escolher – digo-lhe e passo a observar as armas que tinham ali. Vi uma Katana, era o tipo de espada que minha mãe usava, peguei-a.

– Ótima escolha. Você sabe algo sobre Katanas?

– Na verdade não, só sei que se as segura com ambas as mãos e que elas são muito resistentes. Agora como usar uma, não sei não – respondo-lhe ainda com a Katana em mãos.

– Meu pai é ótimo com isso. Ele vai te ensinar. Acho que ele e Jordin já devem estar terminando, vamos? – ele me pergunta.

– Vamos – respondo. Ele então pega outra Katana e me acompanha até Randall, entrega a espada a seu pai e vai para o fim da sala.

– Interessante escolha de arma Johanna. Sabia que sua mãe possuía uma? – Randall me pergunta.

– Sabia sim. Acho até que isso me ajudou na escolha.

– Deve ser. Bem, vou te explicar um pouco sobre a arma em si, depois como usá-la, tudo bem?

– Tudo bem – respondo. Então Randall passou o restante do tempo somente a me falar sobre Katanas e me explicando teoricamente como usá-las. Foi uma aula entediante, sem prática. Depois que terminamos fui encontrar Jasper para o treino de montaria.

Logo que cheguei aos estábulos, encontrei somente Shawn, um dos tratadores e mais alguns rapazes que o auxiliavam. Perguntei-lhes por Jasper, eles me disseram que ele estava na arena a treinar. Fui então até lá.