Espinhos, Veneno e Hogwarts escrita por Yukii


Capítulo 5
A serpente adormecida


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora gigantesca³ para escrever. O_O Anyway, estou de férias, o que significa que poderei atualizar a fic mais frequentemente. Have fun! :3



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Quando Rose deu por si, estava no meio de um corredor qualquer, ouvindo os passos apressados de Neville ao seu lado e os gemidos que Malfoy soltava ao ser precariamente carregado e amparado por Albus e o professor de Herbologia. Estavam se direcionando a uma área especialmente clara do castelo, na qual Rose não se lembrava de ter estado. Suas mãos estavam geladas, e ela arriscou olhar para o lado. O choque e o medo presentes nas faces de Albus e Scorpius - e na dela própria - pareciam ter sido condensados e intensificados na face de Neville, que estava mais pálido que o normal. Ele quase foi de encontro a uma porta esbranquiçada e larga, que o grupo encontrou ao fim de um imenso e cansativo corredor deserto. Rose imaginou que todos ainda deveriam estar assistindo os testes de quadribol, e sua mente girou ao lembrar-se que havia prometido a James que o assistiria.

- Rose, você fica aqui. Com ele. - Neville indicou Scorpius com uma mão trêmula, usando a mesma para bater três vezes na porta. - Vou chamar Madame Pomfrey. Ela irá cuidar de vocês dois. Não se preocupe, tudo ficará bem.

- E Albus? - questionou Rose, relanceando o primo com um olhar preocupado.

Estranhamente, o professor não respondeu. Talvez seu nervosismo o impedisse de escutar qualquer coisa além da própria voz. Rose estava prestes a repetir a pergunta, quando a porta defronte ao grupo se afastou, revelando uma bruxa de cabelos muito brancos, ligeiramente magra, com olhos miúdos e atenciosos.

- O que... - ela começou, em tom sério, e parou bruscamente ao ver o estado de Scorpius: - Céus! O que atacou essa pobre criança? O que andam fazendo nesta escola?

- Pomfrey, cuide dele, por favor. E de Rose também. - Neville apertou o ombro da Weasley, enquanto Pomfrey puxava Malfoy agilmente, libertando-o do abraço de urso que Albus estava usando para carregá-lo.

- Mas o que aconteceu? Esse garoto está horrível!

- Obrigado - Rose ouviu Scorpius resmungar baixinho.

- Nem mesmo eu tenho certeza. - Neville torceu as mãos nervosamente. - Posso apostar que não é nada de bom. Principalmente... hã, preciso ver a diretora. Voltarei mais tarde.

Ele girou nos calcanhares, arrastando Albus consigo pelo ombro. Rose gritou:

- Por que está levando Albus para a diretoria? Ele não fez nada de errado! Ele não-

Neville se virou para ela com um olhar piedoso, mas antes que pudesse dizer o que quer que fosse, Madame Pomfrey a arrastou para dentro da enfermaria junto com Scorpius.

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Albus tinha dificuldade para acompanhar os passos de Neville, ainda mais com o professor puxando-o pelo ombro, o que tornava tudo dez vezes mais desconfortável. Ele nunca estivera na sala da diretora antes, e o caminho pelo qual seguiam era totalmente novo para ele, assim como o caminho da Ala Hospitalar fora. Estavam numa área tão afastada e elevada do castelo que os gritos do campo de quadribol se tornavam completamente inaudíveis, e todos os quadros nas paredes dormiam preguiçosamente.

- Hã, professor... - começou o Potter, hesitante.

- Me chame de Neville, Al. Está tudo bem.

A última frase parecia ter sido dita muito mais para ele próprio do que para Albus, como se Neville duvidasse que estivesse tudo bem. Mesmo assim, o garoto continuou:

- Por que estou sendo levado para a Diretora? Não fui eu quem bati em Scorpius! Ele é meu amigo! Aqueles garotos, Rawells, Foster e os outros, eles quem fizeram isso. Rose e Scorpius podem provar a você, eu não...

- Já pedi que outro professor levasse Rawells para a Ala Hospitalar, e o restante terá uma conversinha com Slughorn, o diretor da Sonserina. Seu professor de Poções. - Neville deu um sorrisinho tremido para Albus. - Não fique nervoso. Sei que você não machucaria ninguém. - a voz dele vacilou por uns segundos. - Em todo caso, visitas à direção não significam o pior, Al. Seu pai teve muitas delas, e posso lhe garantir que a maioria foi bastante agradável.

Aquilo não serviu para tranquilizar Albus. Por mais que confiasse em Neville, percebia que havia algo claramente errado. Ninguém fora levado a Diretoria - nem mesmo os sonserinos arruaceiros que ainda estavam de pé, o que não incluía Rawells -, só ele.

Olhando ao redor, o Potter percebeu que o professor havia o guiado para uma torre cujas paredes recindiam em tons claros de dourado. Ali, os quadros eram mais trabalhados, suas molduras se desenrolando como ramos e laços. No fim de um corredor no topo da torre, havia uma estátua enorme de gárgula, seu rosto impassível e duro parecendo seguir o movimento dos visitantes.

- Dentes de quimera - disse Neville em voz baixa em frente à estátua. Albus ficou confuso com aquilo, mas quando viu a gárgula saltar para o lado e revelar uma escada escondida por paredes que se afastavam rapidamente, o garoto percebeu que aquilo deveria ser uma senha, como a senha da Torre da Grifinória.

- É uma sorte que eu tenha lembrado a senha certa. - murmurou Neville, guiando Albus para a escada em espiral.

- O quê?

- Eu, hã, costumo esquecê-las. Muito facilmente.

A escada girava em ritmo lento, elevando ambos sem que precisassem galgar os degraus. Ao fim do percuso, havia uma imponente porta lustrada de carvalho. Neville apanhou a aldrava em forma de grifo e bateu-a três vezes levemente, sua mão finalmente libertando o ombro dolorido de Albus.

- Pode entrar - uma voz firme que soou familiar ao Potter falou, além da porta.

Hesitante, Albus observou o professor empurrar as portas e passar rapidamente. O garoto seguiu-o sem muito entusiasmo.

A sala era incrivelmente acolhedora. Uma mesa pequena de pernas curvas instalava-se contra a parede, abrigando uma série de instrumentos e papeis. Atrás dela, uma parede repleta de quadros de velhos bruxos e bruxas adormecidos emoldurava a silhueta séria de Minerva McGonagall, a atual diretora de Hogwarts. Albus lembrou-se de que ela estivera presente na Seleção de Casas, e que ela fizera os discursos sobre normas da escola. Seus olhos verdes e sérios, rodeados por rugas e escondidos atrás de um diminuto par de óculos, intimidavam Albus.

Ela deixou-se dar um pequeno sorriso, porém.

- Ora, Longbottom. Seria uma tradição de nossa escola que todo Potter frequente o escritório do Diretor?

Neville sorriu, nervoso.

- Bom, o Albus aqui tem assuntos para tratar. Algumas coisas... aconteceram.

O rosto de Minerva tornou-se sério e impassível. Albus se encolheu.

- O que pode Potter ter feito de tão grave para ser trazido a mim? - ela franziu a sobrancelha, mirando Albus.

- Bem, na verdade... - Neville torcia as mãos. Sua expressão era um misto de seriedade e nervosismo. - É sobre aquele assunto.

O rosto de McGonagall empalideceu, tornando suas rugas quase invisíveis.

- Mas Potter... ele não... não pode ser verdade, Longbottom.

Albus estava confuso. Ele não fazia a menor ideia do que era "aquele assunto". Não sabia porque estava ali, nem que tipo de punição receberia, seja lá o que diabos tivesse feito com Rawells. Queria se defender de alguma forma, mas a aura imponente da Diretora o impedia de interromper a conversa dos adultos. O garoto estava concentrado em mirar a figura do Chapéu Seletor, enfiado numa das estantes como se fosse um pertence comum, enquanto Neville cochichava algo para a Diretora. Ela se empertigou, e pediu em voz baixa:

- Traga Harvey aqui.

O professor de Herbologia assentiu, virando-se e saindo em direção à escada em espiral. Albus ouviu a porta bater, e ficou estático, mirando a superfície de mogno da mesa.

- Sente-se, Potter.

O garoto obedeceu, puxando a cadeira que Neville usara para apoiar as mãos há pouco tempo.

Ele levantou o rosto para a Diretora, que o olhava com certa preocupação.

- Você se importaria, Potter, em me descrever tudo o que aconteceu antes do prof. Longbottom lhe trazer aqui?

- Eu não sei o que foi aquilo que eu fiz, professora, eu juro! - disse o menino nervosamente. - Eu apenas... apenas fiquei nervoso... Rose estava caída... Scorpius ferido...

- Por favor, Potter, se acalme. Aqui, tome chá. - Minerva acenou com a varinha, fazendo uma xícara aparecer do nada e pousar na frente do garoto, cheia de chá quente e aromático. - Agora, quero me conte tudo. Devagar. Apenas conte.

Albus obedeceu, suas mãos apertando o pires da xícara, o chá intocado balançando suavemente.

- Eu estava... estava no campo de quadribol, assistindo o treino. Passei a manhã lá, esperando a hora de James... do meu irmão fazer o teste. James quer ser artilheiro. - ele deu um sorriso tremido. - Depois do almoço, eu voltei para lá, e ainda no começo do treino, Rose apareceu, estava nervosa, estava tremendo... Rose é minha prima. Rose Weasley.

Ele se arriscou a fazer uma pequena pausa e bebericar o chá.

- Ela me disse que tinha visto garotos atacarem Scorpius. Scorpius Malfoy, da Sonserina, um amigo meu. - ele engoliu em seco. A Diretora o olhava atentamente. - Corremos para o castelo, e num corredor perto do Salão Principal, tinha uma sala entreaberta. Scorpius estava lá. Completamente machucado.

Albus interrompeu a narrativa novamente, apertando a xícara que começava a esfriar entre os dedos.

- Quando os garotos voltaram a bater nele, corri para lá, e Rose me seguiu. Eles debocharam de nós, e disseram coisas idiotas, que Scorpius merecia apanhar por causa do pai dele, que ele manchava a honra da Sonserina... eu não entendi. Depois, um deles quis me atacar, mas... mas Rose foi atingida. - os dedos de Albus tremiam levemente. - Eu a vi caída, vi Scorpius machucado no chão, com um monte de garotos batendo nele... e não sei o que fiz.

McGonagall piscou por detrás dos óculos redondos.

- Explique essa parte melhor, por favor, Sr. Potter.

- Eu... não sei. - Albus se encolheu na cadeira. - Me lembro que eu estava assustado. Irritado. Nervoso. Eu não sabia o que fazer. Quando dei por mim, o garoto que acertara Rose e estava batendo em Scorpius estava se contorcendo no ar, e eu apontava a varinha para ele. E de repente, ele caiu. Ficou imóvel no chão. Rose estava ao meu lado, sacudindo meus ombros, como se tentasse me despertar de algo. Os outros garotos estavam olhando horrorizados para mim, e eu não entendi... não entendi o porquê. Eu sinto que fiz algo, mas não consigo me lembrar.

- Maldição Cruciatus - disse uma voz em tom sarcástico por detrás dele.

Albus se virou, assustado, deparando-se com as figuras contrastantes de Neville e Harvey, o último olhando com feroz atenção para Albus. Os dois bruxos haviam chegado há alguns minutos, e o garoto não percebera a presença de ambos, entretido em relatar o acontecido para a Diretora.

- Não pode ter sido isso - protestou Neville. - Albus não conhece esse feitiço. Tenho certeza que Harry e Ginny jamais permitiriam que ele tomasse conhecimento de algo assim tão jovem.

A menção do nome de seus pais fez Albus prestar mais atenção.

- Nós já discutimos isso, Longbottom. - Harvey pronunciou-se no tom modorrento de sempre. - Ninguém precisa ter ensinado a Potter... se ele já souber por si mesmo.

- Saber o quê? - interveio Albus, confuso. - Eu não entendo de feitiços. Ainda estou aprendendo a fazer objetos levitarem. Rose é muito melhor que eu nisso.

Harvey sorriu.

- Se a minha hipótese estiver certa, Potter, você sabe fazer muitas coisas das quais jamais ouviu falar.

- É o bastante, Harvey - disse McGonagall com firmeza de sua mesa, mirando o professor com seriedade. - Não confunda Potter. Ele é uma criança.

Era inútil dizer para não confundir Albus quando ele próprio já estava confuso.

- Longbottom viu, certo? - continou o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas calmamente, mirando Neville. - Você viu Potter executar uma Maldição Cruciatus. E o relato dele comprova tudo.

Albus resolveu se defender.

- Eu não sei se fiz algo. Apenas lembro de pensar em pegar a minha varinha. Quando vi, ele já estava no ar, se contorcendo e caindo rapidamente.

- Sim, claro - disse Harvey suavemente. - Inconsciência. Ação involuntária.

- Uma ação involuntária não explica uma Maldição Cruciatus. Albus jamais aprendeu algo assim. - murmurou Neville.

- Albus não aprendeu, mas Tom Riddle o fez.

Fez-se um silêncio gelado na sala. Albus sentiu sua cabeça girar em confusão.

- Você está novamente insinuando... - começou McGonagall, olhando ferozmente para Harvey.

- Sim, estou, Diretora. Não seria incomum. Não seria a primeira vez que um bruxo renasce.

- Tom Riddle foi apenas um dos milhares que sabiam executar uma Maldição Cruciatus! O que lhe leva a crer que ele possa... possa estar em Albus?! - Neville quase gritou.

- O que está em mim? Quem... - começou Albus, mas McGonagall o interrompeu:

- Já chega. Harvey, não o chamei para expôr suas teorias macabras a respeito do Sr. Potter. Quero que o ajude, sim, mas sem envolver isso. Lembre-se que Potter é uma criança.

Albus quis gritar que ele não era uma criança, mas os adultos não lhe cediam a vez.

- O Chapéu sabe - disse Harvey calmamente. - Pergunte a ele, Diretora.

McGonagall mirou-o com desconfiança, virando-se em seguida para o chapéu. Como se estivesse sentindo todos os olhos dos presentes nele, o Chapéu abriu os olhos lentamente, olhando para Albus.

- Eu lhe disse, meu jovem, não lhe disse? - questionou o chapéu, mirando Albus. O garoto se retraiu. - Cobras pertecem às tocas de cobras. Se você enfiá-las num lugar diferente... alguém pode sair ferido.

McGonagall empalideceu.

- O que... Potter, isso foi dito à você no dia da sua Seleção?

- Sim. - Albus murmurou em resposta. - Mas não entendi o que quer dizer. Eu apenas pensei em ir para a Grifinória... e ele falou isso. Agora estou entendendo menos ainda.

McGonagall, Neville e Harvey trocaram um olhar enigmático. Albus abriu a boca para perguntar alguma das milhões de dúvidas que pipocavam confusamente na sua cabeça, mas Minerva anunciou:

- Pode se retirar, Sr. Potter. Volte ao seu dormitório, por favor.

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O silêncio e a calmaria da Ala Hospitalar impressionaram Rose. Ali, tudo era calmo e organizado, e o silêncio era interrompido apenas pelos passos rápidos de Madame Pomfrey se direcionando de um leito a outro, e, ocasionalmente, pelos gemidos de dor de Scorpius. Depois de já ter aplicado nele uma série de remédios, Madame Pomfrey voltou com uma nova braçada de frascos coloridos e vidros gigantes, e vários tufos de algodão. Scorpius fez uma careta, e Rose sentou-se na cama ao lado para assistir a bruxa tratar do colega.

- Ainda acho que você deveria ser examinada, minha querida - disse Pomfrey com firmeza, enquanto limpava os ferimentos no queixo de Scorpius. - Por precaução. Não é porque você não sente nada de errado que significa que não haja nada de errado.

- Eu estou bem, eu garanto - disse Rose prontamente. O feitiço atirado por Rawells a atingira em cheio, atirando-a contra a parede, mas sua única sequela fora um pequeno hematoma arroxeado no ombro direito. Madame Pomfrey chegava a ventilar a possiblidade de ossos quebrados no braço de Rose, mas ela tinha certeza de que estava tudo bem. Não sentia dor alguma.

- Oh, o que acontece nessa escola hoje em dia?! Eu gostaria de saber! - Pomfrey esfregou o algodão com mais vontade no rosto inchado de Scorpius, fazendo-o ganir. - Veja bem o estado desse menino! Como podem fazer isso com uma criança?

Rose espiava Scorpius por cima do ombro da bruxa. Seu rosto estava desinchando, graças aos produtos que Pomfrey espalhara pela sua face com panos limpos e tufos de algodão. Os lábios ainda estavam levemente inchados, e os dois ferimentos no queixo pareciam incapazes de parar de sangrar.

- Isso foi feito com mágica. Claro. - Pomfrey concluiu, apontando acusadoramente para os machucados que se abriam no queixo do Malfoy. - Loção de vísceras dragoninas não vai bastar. Talvez algum remédio de via oral faça efeito... você - ela apontou um dedo em riste para Rose -, não ouse chegar perto desse menino enquanto eu for pegar o remédio. Não sei o que fizeram com ele. Nem Merlin sabe o que está assolando essa criança...

Ela levantou-se do banquinho, murmurando consigo enquanto levava alguns remédios de volta e buscava outros num armário no canto da parede oposta. Rose olhou furtivamente para os lados, antes de espiar Scorpius mais uma vez. Ele parecia levemente melhor, embora as várias medicações aplicadas nele lhe dessem um cheiro estranho. Seus cabelos loiros estavam afastados para trás, revelando sua testa pontilhada por machucados e arranhões. Rose não pôde deixar de sentir pena dele.

- Eu nunca vou entender o que acontece nessa escola. Nunca. - Pomfrey retornava ao banquinho, carregando um vidro transparente e largo, cheio de um líquido azulado. - Agora, vou precisar que você abra a boca e engula isso. Sem cara feia. Sem vomitar.

Rose observou Madame Pomfrey encher uma colher funda, semelhante a uma concha, com o líquido do vidro em sua mão. A substância fez um barulho estranho ao tocar a colher, e Rose virou a cara quando Scorpius tentou engolir o remédio, tossindo e resmungando. A bruxa de cabelos brancos suspirou.

- Agora, não há mais nada que eu possa fazer. Repouso é o segredo. É o que eu sempre digo. - ela lançou um olhar severo a Scorpius. - Você irá ficar aqui por uns belos dias. Acostume-se a isso.

Madame Pomfrey saiu de perto do dossel da cama, carregando uma bandeja cheia de algodão e gaze, e se dirigindo a um outro leito da Ala Hospitalar. Rose aproveitou a ausência da bruxa para pular da cama que estava sentando e ir sentar no banco que a outra deixara vago.

- Está doendo muito? - perguntou ela em tom assustado.

- Não. - mentiu Scorpius.

Passaram alguns minutos em silêncio. Rose estava ocupada em assistir suas pernas balançando no banco que era alto demais para ela, quando ouviu a voz de Scorpius perguntar:

- Acha que Potter está encrencado?

Rose suspirou.

- Espero que não. Al não tem culpa de nada. Fui eu que o chamei para ajudar.

Scorpius franziu a testa - ao menos tentou fazer isso, já que sua cara inchada e dolorida não permitia.

- É estranho que você quisesse me ajudar, Weasley.

Rose não respondeu. Ela não achava estranho. Sentia-se culpada por ter julgado Scorpius sem conhecê-lo, e saber que ele apanhara de garotos três vezes maiores por algo que ele não tinha culpa a deixava horrorizada. E, afinal de contas, ela não tinha motivos para não gostar dele. Por mais que ele cismasse em irritá-la.

- Você viu aquilo que Potter fez?

A Weasley piscou, confusa.

- Aquele feitiço estranho? Eu vi. O que era aquilo?

- Não faço ideia. Como Potter sabe fazer uma coisa daquelas?

- Ele não sabe, tenho certeza. - Rose franziu a testa, pensativa. - Ele mal conseguiu fazer a pena que recebemos do Prof. Flitwick levitar... e aquilo parecia magia avançada.

- Maldição Cruciatus - murmurou Malfoy.

- O quê?

- É o nome daquele feitiço. Eu já li sobre ele, tenho um livro na minha casa que fala sobre isso. Não me lembro o que faz, mas é poderoso. É proibido pelo Ministério.

Rose empalideceu. Por mais inteligente que fosse, ela não sabia nada sobre Maldições Imperdoáveis - um conhecimento que Hermione achava desnecessário para sua filha, numa idade tão tenra.

- Será que Al vai ser preso?

- Claro que não. Ninguém pode prender um bruxo de onze anos... eu acho.

Os dois ficaram em silêncio, concentrados em suas próprias preocupações sobre Albus. A mente de Rose ia a mil, tentando se lembrar de qualquer coisa que seus pais tivessem falado sobre magias proibidas, prisões, Ministério da Magia...

- Weasley?

- Hum?

Scorpius remexeu-se nos lençóis, fazendo uma careta de dor.

- Eu só... Obrigado. A você e Potter.

Rose ergueu as sobrancelhas. Não imaginava que o orgulho de Malfoy lhe permitisse agradecer quem quer que fosse.

- Não há o que agradecer. - ela tentou sorrir. - Somos seus amigos, Scorpius.

Ele pareceu surpreso, encarando-a por alguns segundos. Enquanto Rose imaginava o que ele iria falar, uma voz irritada interrompeu a cena:

- Eu pensei que tinha mandado você repousar, meu rapaz! Céus! Aqui não é lugar de conversas! E você, querida, tenha algum bom senso! Deixe-o quieto se quiser que ele volte a andar normalmente!

Rose desculpou-se várias vezes, antes de puxar a saia e sair rapidamente da Ala Hospitalar. Madame Pomfrey ainda estava resmungando em seu canto, enquanto Scorpius seguia com os olhos o borrão castanho dos cabelos de Rose, pensando se Albus estaria com muitos problemas.

Do lado de fora, no corredor iluminado pelo sol poente, Rose pensava no mesmo. Ela acelerou o passo até a Sala Comunal da Grifinória, esperando poder encontrar o primo ali.

- Al! - gritou Rose ao ver o primo sentado em uma das poltronas fofas na Sala Comunal.

Albus virou-se para ela com um sorriso maquinal.

- Al, o que aconteceu? Por que o prof. Longbottom lhe levou para a Diretoria?

- Eu não entendi direito. - Albus tinha o mesmo olhar de dúvida dela. - Ele e a Diretora falaram sobre algo que não entendi... sobre alguém dentro de mim...

- Alguém dentro de você? Como isso é possível?

- Eu não sei. Harvey também estava lá. Ele falou sobre Voldemort, acho.

- Voldemort?

- Sim. Voldemort se chamava Tom Riddle, certo?

- Sim.

- Eu estava em dúvida. Queria perguntar a você assim que pudesse. - ele sorriu como se pedisse desculpas. Depois empalideceu, ficando anormalmente sério. - Como está Scorpius?

- Ah, ele vai ficar bem. Madame Pomfrey disse que ele precisa de repouso. - Rose olhou séria para o primo. - Mas você não me contou tudo. E aquele feitiço? Scorpius me falou que era uma maldição... Maldição Cruciatus.

- Harvey também falou isso!

- Você acha que é?

- Eu não sei, Rose. - ele levantou-se e voltou a se sentar, parecendo triste e cansado. - Não sei como fiz aquilo. Não sei o que passou pela minha cabeça.

Rose quis falar sobre Scorpius ter dito algo sobre a Maldição Cruciatus ser proibida pelo Ministério, mas ficou com medo de preocupar o primo à toa. Em vez disso, ela se abaixou na altura da cabeça dele, pousando a mão no ombro do Potter.

- Vá descansar, Al. Hoje foi um dia cheio. James pode lhe acordar na hora do jantar.

- Oh, céus, James - murmurou o garoto. - Ele vai nos matar se souber que não vimos seu teste para o time.

- Não foi nossa culpa. Scorpius estava precisando de nós mais que James.

Albus suspirou.

- Acho que vou seguir seu conselho, Rose. Me sinto cansado feito um velho. Nem sei se vou querer jantar.

Ele se despediu da prima e subiu as escadas curvas para o dormitório masculino, vazio àquela hora da tarde. Da sua janela, ele conseguia ver uma pequena multidão voltando do campo de quadribol, enquanto o sol dava lugar às brumas do céu noturno rapidamente. Somente quando se jogou na cama de cortinas corridas foi que Albus lembrou-se das palavras do Chapéu Seletor, faladas na sua seleção e repetidas naquele dia. Algo sobre uma cobra fora da toca. Quis mencionar isso com Rose, mas mudou de ideia. Não podia ser nada demais.

Ele dormiu, ignorando a parte do seu cérebro que gritava que aquelas palavras soavam péssimas.


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