Os Últimos escrita por CalouraNerd
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem!
– Não lute.
Disse em um sussurro, ao lado do ouvido do homem. Ele resistia à morte, respirando ofegante. Eu podia ouvir os batimentos dele se findando, lutar apenas faria o processo mais doloroso. Manti-me sentada em seu tórax, dificultando sua respiração. O sangue dele escorria pelos meus lábios e pingavam em meu vestido. Abaixe-me novamente sobre ele e voltei a rasgar a pele de seu pescoço. Engolia o sangue com prazer, me deliciando com a bebida férrica e quente. Logo seu corpo parou de estremecer. Os olhos manteram se abertos, presos naquele semblante assustado.
Levantei-me limpando os lábios. Sentia-me forte e novamente poderosa. Meus olhos escarlates continuaram juntamente aos meus caninos, precisava caçar mais, matar mais. Deixei o corpo do homem ali mesmo, jogado no meio do vilarejo, que estava completamente deserto. Todos haviam fugido para as florestas aos redores ou até para a capital, Andorah. Não me importava de andar abertamente mostrando o que eu realmente era. Nunca havia me parado e aquela não seria a primeira. Os que ficaram para tentar me capturaram, já estavam mutilados e mortos.
Caminhei para fora do vilarejo, seguindo uma pequena trilha. O cheiro doce dos humanos estava espalhado por todo canto. Segui um especifico que me chamou atenção. Era doce, mais muito envolvente e exótico que o dos humanos. Caminhei entre as arvores, atrás do dono do odor.
Era envolvente demais para não ir atrás.
Já tinha me afastado o suficiente do vilarejo até que vi uma sombra em uma pequena clareira entre as arvores. A escuridão da noite estava o cobrindo, mas não por muito tempo. Minha visão aguçada logo me mostrou que era um homem de estatura média, sendo mais alto que eu. Tinha o cabelo de um loiro bonito, quase branco. A pele era levemente bronzeada e escondida por baixo de uma armadura.
Era um oficial.
Aproximei devagar, até que ele virou-se para mim, sentindo minha presença. Observei seu rosto. Era fino e os olhos... Os olhos impressionantes. Um da cor azul e outro caramelo. Sorri maldosamente. Ia ser interessante e até excitante provar o sangue dele. Parei a poucos metros dele.
– Olá. – Sorri, deixando os caninos afiados e longos a mostra.
Ele observou meu vestido cheio de sangue, me olhando dos pés a cabeça. A expressão dele se tornou dura. A mão foi direto para bainha da arma dele.
– Você entende minha língua, humano? – Perguntei com um sotaque pesado, caçoando ele.
– Eu que estou impressionado de entender a minha língua, animal. – Ele respondeu retrucando.
Meu sorriso quase se desfez com a provocação.
– Tsc. – Me aproximei mais alguns passos. – Por que não terminamos logo isso não?
– Sim, como quiser dama. – Ele disse puxando a espata da bainha e se colocando em posição.
Investi contra ele. Levei apenas alguns segundos para segura-lo por seu colete de proteção e joga-lo contra a árvore mais próxima. Ele bateu as costas e caiu sentado. Olhou-me com um semblante surpreso.
– O que diabos você é?! – Ele disse se pondo de pé.
– Bem, em alguns lugares me chamam de diabo mesmo. Mas por essas terras sou conhecida apenas como um vampiro. – Dei de ombros me aproximando.
Aproximar-me foi o maior erro. Ele levantou-se com uma rapidez que eu não esperava de um humano e esticou o braço que segurava a espata. Desviei para o lado, mas a lâmina rasgou ao lado da minha cintura. Arfei, surpresa de como ele havia me acertado.
– Achei que você fosse mais forte. – Ele disse sorrindo meio vitorioso.
– Hum, quem sabe não sou? – Disse observando a ferida. O corte fechou-se em poucos segundos, a pele pálida parecia nunca ter sido machucada. O sorriso do homem sumiu.
Ele voltou a atacar, mais rápido que a ultima vez. Porém já estava em alerta. Segurei a lâmina e sentir a mesma cortar as palmas da minha mão. Empurrei de volta para ele, o cabo atingindo o estomago dele. Recuei alguns passos e observei os cortes nas mãos fechando.
Ele não era um humano.
Ele voltou a investir e dessa vez, sua velocidade estava quase igual a minha. Senti o cabo de sua espata bater em meu rosto e algo acertou meus joelhos. Caiu sentada na lama e levantei os olhos para ele, abismada.
Realmente ele não era humano.
– Não parece tão confiante agora, não? – Ele disse chegando perto, a ponta de sua espata parou a centímetros do meu rosto. Engoli em seco.
– Estúpido. – Respondi entre dentes. A ponta da espata passou em minha bochecha, provocando um corte. O corte se fechou e voltei a encara-lo sem medo.
– Tsc, tsc. Você é impulsiva demais, agora vamos ter uma breve conversa. – Ele disse friamente, um pequeno sorriso cruel em seu rosto.
– Não mesmo. – Disse começando a recuar, me arrastando para longe dele.
Arrependi-me logo em seguida.
O homem soltou um suspiro e cravou a espata rapidamente em minha coxa direita. Travei o maxilar engolindo o grito. Ele continuou com aquele sorriso.
– Pois bem vampira, onde estão seus irmãozinhos? – Ele disse puxando a espada vagarosamente. Observei o corte fechar-se um pouco mais lento que os outros.
– Sou sozinha. – Respondi desviando o olhar.
– Mentirosa. – Ele disse voltando a cravar a espata onde acabara de se regenerar. Dessa vez apoiou as mãos no cabo da espata, colocando o corpo de seu peso ali. Arfei de dor. – Vamos lá, conte-me. De quem é esse sangue?
– De um animal. – Respondi apertando os dedos na lama. Minhas unhas estavam sujas pela força que eu exercia ali, contendo-me para não gritar.
– E ela continua a mentir. – Ele disse girando lentamente a lamina em minha carne. Grunhi e fechei os olhos.
– Por favor... – Sussurrei, a cor vermelha sumindo dos olhos, dando lugar a um verde que implorava. Os caninos voltaram ao tamanho normal. Tentaria convencê-lo que “realmente” estava com medo. – Eu não aguento mais... Por favor.
Ele pareceu acreditar por alguns segundos. Então seu semblante se tornou ainda mais cruel. Ele puxou a espata e fincou novamente, dessa vez não esperando a ferida regenerar. A força usada naquele golpe, não era de um humano. Gritei, meu corpo estremecendo de agonia. Eu não era acostumada a sentir dor, havia séculos que ninguém conseguia encostar em mim.
– Não tente usar seu charme contra mim. – Ele disse me fuzilando com os olhos. – De quem é esse sangue?
– De um homem, de um vilarejo há alguns quilômetros atrás. – Eu respondi baixinho, ofegante.
– Então você foi a fera que alavancou todos os cidadãos dali para Andorah. – Ele disse. Me manti calada. - Afinal, qual seu nome? Sem mentiras.
– Violet... Violet Williams. – Respondi não muito contente. – Posso saber o seu?
– Comandante Joe Sailune. – Ele respondeu simplesmente.
Puxou a espata da minha coxa, a retirando. Enfiou a mão dentro de sua armadura e puxou uma adaga. Sem explicações, investiu contra mim, porém apenas a enficou no meu braço e me obrigou a deitar. A lâmina da adaga atravessou meu braço fino e ele a prendeu dentro da terra, consequentemente me prendendo temporariamente ali.
O encarei sem entender. Ele puxou outra adaga e jogou na escuridão da floresta. Ouvi que acertara alguma coisa, talvez um animal. O comandante saiu andando em direção aonde havia lançado a adaga. Aquela era minha chance de fugir. Porém outra surpresa. Quando toquei a adaga para tira-la, ele já estava de volta, com um coelho em mãos.
– O que vai fazer? –Ergui uma sobrancelha.
Ele não respondeu. Apenas sorriu e seus caninos cresceram. Os olhos ficaram escarlates e ele rasgou a pele do coelho já morto. Olhei boquiaberta.
– Quem diria não? O comandante de Andorah, a cidade dos caçadores de feras, ser uma das feras. – Ele sorriu, a boca suja de sangue.
Logo após se deliciar com o animal e limpar o rosto, ele abaixou-se me libertando. Uma fúria crescia dentro de mim. Como alguém da minha própria raça, podia ter me atacado daquela forma. Investi contra ele, apontando o dedo em seu rosto.
– Você é como mim, como pode me atacar dessa forma?! – Aumentei a voz, enfurecida. – Seu traidor!
– Acalme-se Senhorita Violet, dessa forma é melhor, sem que ninguém saiba. E você também me pegou de surpresa, pois fazia anos que não via um da nossa raça. Eu sendo o comandante é um disfarce perfeito. – Joe retrucou sério. – Agora terá que se retirar dos domínios de Andorah, ou os caçadores a pegaram. E não irei impedi-los.
– Que se ferrem os caçadores. Não me importo. Ninguém ira me tirar daqui. São as terras da minha família que vocês, cretinos, tomaram. – Respondi ainda enfurecida. – E você não teria coragem de me entregar assim.
– Bem, você fez sua escolha. – Ele disse se afastando de mim. Então levando os dedos aos lábios, ele deu um assobio alto. – Em alguns minutos as tropas de Andorah estarão aqui. É bom correr.
Ele sorriu se afastando e um cavalo negro surgiu das sombras. Ele montou e se retirou rapidamente. Ao redor, eu podia ouvir as tropas se aproximando entre as arvores.
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