A maldição dos renascidos escrita por Tsumitsuki


Capítulo 2
Capítulo 2 - Uma nova chance?


Notas iniciais do capítulo

Bom, obrigada a quem comentou, curtiu e pareceu se interessar pelo enredo da história.
Confesso que fiquei bem receosa sobre postar ou não, mas não me arrependo da minha decisão.
E sobre a maldição, muitos não entenderam, ou seja, vocês estão fazendo seu papel corretamente.
Isso mesmo! Não era bem pra entender. . Vou explicar melhor as coisas com o desenrolar da história, não se preocupem :))
Hey, o que acham da Hillary? ( Eu ia gostar de saber o que acham dos personagens até agora :3 )
Obrigada por estarem aqui agora e boa leitura~



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Já não era a primeira vez em que tinha aquele tipo de conversa com meu chefe. Por algum estranho motivo, ele parecia confiar em mim para missões importantes e também para tratar de assuntos confidenciais. Na verdade, mesmo depois daquela sutil declaração, eu sabia que ele tinha outros motivos para me acolher na organização.

O nome dele? Não sei. Alguns o chamam de chefe, outros o tratam formalmente utilizando termos como senhor ou vossa excelência, mesmo não se tratando de um juiz. Preferia tratá-lo de forma relaxada, preocupando apenas em relatar acontecimentos importantes.

Não sei bem se falei sobre mim ou sobre a realidade desse mundo. Pode ser algo meio complicado, então não se preocupe se não entender na primeira vez.

Habito o planeta Terra desde o dia 14/07/2014, início da famosa maldição que tem nos incomodado até hoje. Por nascer justamente no momento em que a luta contra os renascidos começou, sou considerada uma pessoa mal vista por toda a organização, tendo apenas poucas pessoas que confiam em mim de verdade. Não que eu as considere minhas amigas.

Sofro de amnésia. Não lembro meu sobrenome, a cidade onde nasci nem se tenho outros parentes vivos – ao não ser meus pais, que se encontram mortos. Isso também causa cada vez mais suspeita aos olhos dos outros. Luto contra os renascidos desde os dez anos, quando meus pais faleceram. Sinto dor ao saber que não consigo lembrar o nome deles.

No entanto, lembro-me de como eles fizeram o melhor para me proteger, utilizando tábuas de madeira como armas. Infelizmente, nenhum dos dois sabia manusear armas, causando assim extrema desvantagem. Corríamos o mais rápido que podíamos, mas os renascido eram incrivelmente rápidos.

Recordo-me que meus pais conseguiram retardar os movimentos deles por um tempo, não muito, mas o suficiente para que fugíssemos. Eles me conduziram até um alçapão, onde pediram que eu entrasse e ficasse escondida ali por um tempo.

Com relutância, desci e fiquei quieta. Lágrimas caíam de meus olhos, pois eu já sabia o que iria acontecer. Gritos e mais gritos. Barulhos ocorrendo sobre minha cabeça. Alguém ou alguma coisa havia caído. Eu apenas rezava que não fosse nenhum dos dois.

Quando o silêncio cessou, saí do esconderijo com certa dificuldade. Meu coração batia cada vez mais rápido. Ter sobrevivido àquele ataque era uma coisa praticamente impossível, mas eu não queria simplesmente acreditar no pior. Caminhei sutilmente. O medo de que os renascidos ainda podiam estar lá prevalecia.

Meu coração travou por alguns segundos. Encarei o chão pintado de sangue, o vermelho predominando nas paredes e nos móveis. Os corpos deles estavam petrificados na posição mais dolorosa que eu já vira. Estacas de madeira nas palmas das mãos e nos pés, juntamente com uma estaca no abdômen.

Corri e os chacoalhei, tentando acordá-los. Não me contive: gritei. O mais alto e doloroso que um ser de dez anos poderia gritar. Ambos abriram os olhos e me encararam, sorrindo. Afastei-me com rapidez.

O sorriso carregava uma malícia que eu nunca vira. Seus olhos haviam perdido o brilho e passaram para algo avermelhado e sem vida. Eu não entendia. Eu os olhava, mas não os via como meus pais.

Escutei passos atrás de mim. Assustei-me, pensando que fosse um renascido. Era apenas meu chefe que me puxou com força. Os olhos azuis dele me encararam de forma atenciosa, mas ao mesmo tempo, sombrias.

“Eles não são mais seus pais. Agora, eles são renascidos.” As palavras dele me marcaram de modo tão forte que me recordo até hoje. “Desculpe por isso. Mas, temos que deixá-los aqui. Em breve, essas estacas não irão contê-los.”

“Pai! Mãe! Eu vou salvar vocês quando eu voltar. Eu prometo.” Garanti enquanto limpava minhas lágrimas.

“Eles são renascidos agora, são apenas seres mortos. Esquecer vai ser melhor.” Ele me disse, já me puxando pelo braço.

Fomos arremessados contra o lado oposto do cômodo. Levantei-me com dificuldade e tentei observar o que tinha causado aquilo. Meus olhos se arregalaram quando encontrei meus pais já de pé, com sorrisos maléficos decorando o rosto. Enormes asas negras surgiram de suas costas, aumentando ainda mais meu medo.

“Por que eles estão em um estado muito avançado? Droga! Vamos logo, garota!” Meu chefe segurou minha mão com força e partimos.

Com dificuldade, chegamos à base. Meu corpo estava tão cansado que assim que pude relaxar, apaguei por três dias. Quando acordei, todo aquele inferno me foi explicado de forma tão direta que meu pequeno lado sensível e amedrontado de menina desapareceu para sempre.

– Ei, maldita! – O grito me tirou do transe. Um garoto de cabelos esverdeados me encarava com certa repressão. – Por quanto tempo você vai ficar sujando esse lugar? Vai tomar um banho! Ninguém é obrigado a ficar limpando seu sangue impuro!

Olhei para baixo e lembrei que realmente precisava de um bom banho e roupas novas. Por mais que eu tivesse me incomodado com a forma que ele falou comigo, não respondi nem nada. Apenas me afastei em silêncio.

...

Imagine ter várias pessoas que te odeiam. Agora, imagine ter de dividir o lar com essas pessoas. Sim, moro aqui. O mundo está muito perigoso, então o nosso líder pede que fiquemos juntos. Sinceramente, acho que essa conversa é para que os experientes cuidem dos mais fracos.

Fui em direção do meu dormitório. Na verdade, não é bem dormitório e sim, um cômodo gigante e espaçoso em que todos dormem com alguns lençóis e travesseiros. Realmente, não é nada confortável, mas deve ser melhor que ficar na chuva, correndo perigo. Ou talvez não. Como já falei, sou odiada aqui.

Adentrei o dormitório e fui em direção ao meu canto. Peguei as roupas necessárias – roupa íntima, uma bermuda preta, uma camiseta também preta, chinelos e toalha – e fui em direção ao banheiro feminino que também era próximo dali. Sem demorar, entrei em uma pequena cabine, na qual tinha um chuveiro, e tirei toda a roupa que vestia.

Girei o registro do chuveiro, deixando a água fria cair sobre mim e levar todo o sangue que estava em minha pele. Passei sabonete, retirando a sujeira por completo. Fiquei um pouco mais de tempo, sentindo apenas aquele líquido escorrendo sobre meu rosto.

– Hillary, sua idiota! – Ofensas do lado de fora da cabine me atrapalharam. – Nós também queremos tomar banho!

– Tem outras cabines! – Respondi de volta. O banheiro era incrivelmente grande, afinal tratava-se de algo coletivo. Algo perfeito para acolher um bom número de pessoas.

– Ora, sua maldita! Saia logo daí! – Elas gritaram de volta, batendo com força contra a porta da minha cabine.

Novamente, bufei. Fechei o registro e me sequei com a toalha que havia trazido. Coloquei a roupa que havia separado e calcei meus chinelos. Abri a porta da cabine, sem receio. Eu não tinha o menor medo de lutar contra elas, pois reconhecia que todas eram inferiores com armas ou sem.

Saí do banheiro e voltei para o dormitório feminino. Novamente, segui até o meu canto, mas dessa vez, me joguei no chão, bruscamente. Estava tão cansada que nem queria pensar em nada.

A imagem de Kevin, um de meus grandes amigos, ainda estava em mente. Não conseguia esquecer o fato de havia o matado. Algumas lágrimas quase caíram de meus olhos, mas eu as segurei com força. Havia prometido que não choraria mais por ninguém. Depois disso, simplesmente adormeci.

10/01/2031

Acordei com uma gritaria ensurdecedora em meus ouvidos. Ao abrir os olhos, me deparei com diversas pessoas que me encaravam de forma negativa. Todas pareciam prontas para uma trilha ou uma caminhada. Mas, eu sabia que não estávamos em tempo de passear por bosques encantados.

– Vocês... O que está acontecendo? – Questionei enquanto esfregava os olhos.

– Levanta logo, sua preguiçosa! Temos uma missão coletiva! – Respondeu uma loira com cara arrogante.

– Uma missão coletiva? – Preferia estar dormindo ao invés de ouvir a voz daquela garota.

– É. E tenta não matar ninguém, ok? – Gwen – a loira - riu de forma debochada. – Vamos sair daqui, galera. Vai que essa maldição é contagiosa.

Todos riram e a seguiram como se fossem cachorrinhos atrás da dona. Não posso culpá-los. Gwen era uma jovem loira bonita e tinha olhos castanhos brilhantes. Sabia o básico de luta e manuseava algumas armas de modo regular, o que era considerado satisfatório para muitos. Sem contar que ela ainda era muito boa com palavras e era de uma família real. Pelo fato de que o mundo estava um caos, a loira não podia assumir o cargo que era seu por direito.

Agora, compare com minha situação. Imagine uma garota anti-social, cuja a aparência é um tanto bizarra – longos cabelos roxos e olhos azuis – e também que chega a ser demoníaca em um campo de batalha. Essa mesma garota não é nada boa com palavras, preferindo apenas ficar em silêncio enquanto observa outras pessoas se relacionarem. E é claro, ela é “amaldiçoada”. Pronto, você já está me imaginando.

Depois de refletir o quanto Gwen era mais popular e adorada do que eu, calcei um par de meias e coloquei meus coturnos. Desci rapidamente a escadaria, a fim de me apresentar para a tal missão. Ninguém estava na entrada, então deduzi que todos estavam no refeitório.

Minha dedução não pôde estar mais correta. Ao chegar lá, me deparei com todos se deliciando com um bom café da manhã. A fome chegou ao meu auge máximo já que havia passado horas sem comer algo. Peguei um copo com chocolate quente e um pão com ovo. Algumas pessoas me olharam, mas, felizmente, ninguém disse nada.

Saí do local, sem tentar chamar muita atenção. Voltei calmamente para a entrada, mas dessa vez, me deparei com uma pessoa que não estava lá: meu chefe. Seus orbes azulados cintilaram a me ver e ele apenas fez um sinal de aproximação. Desta vez, eu tinha certeza que ele não tentaria dar em cima de mim.

– Bom dia, Hillary. – Ele formalmente me cumprimentou.

– Bom dia.

– Está animada para essa missão? – O homem perguntou enquanto comia seu café da manhã.

– Estou normal... Não que eu goste de ter defender essas pessoas. Todos me odeiam, mas na hora que estão em perigo, sempre se escondem atrás de mim. – Tomei um pouco do chocolate quente, relaxando um pouco. – Na verdade, nem sei do que se trata essa missão.

– Como assim você não sabe? Eu pedi para a Gwen te informar. – Sua expressão facial mostrou certa decepção.

– Ela estava mais interessada em sua vida social do que explicar do que se trata. Falou coisas do tipo: “acorde, sua preguiçosa” e “vai que essa maldição pega”. Depois, desceu para o refeitório. – Não queria admitir, mas para todos da organização terem sido convocados, deveria ser algo importante. E eu realmente estava interessada nisso.

– Entendo... Sinceramente, não vejo tudo isso na Gwen, mas enfim... Vou explicar a missão. Pode ser o primeiro passo para o combate definitivo dos renascidos. – Voltou para a expressão séria.

– Combate definitivo? Você quer dizer... É possível que esse apocalipse acabe? – Calafrios passaram por todo o meu corpo. O fim disso era mesmo possível?

– Eu não posso garantir que o fim está próximo. Seria um sacrilégio prometer algo que nem eu mesmo sei se eu posso cumprir. Mas, sim, a possibilidade existe.

– M-mas, se nós passamos por isso há quase dezessete anos, já deveríamos ter encontrado alguma coisa. E se isso realmente existir deve ser algo realmente difícil, não acha? Eu também não quero criar falsas expectativas. Ás vezes, só queria morrer e desaparecer desse mundo pra sempre. – Tomei mais um pouco de meu chocolate quente. – Estou cansada. Nas primeiras vezes, combater essas criaturas era algo divertido e até mesmo emocionante, já que você não sabia se sobreviveria ou não... Depois, foi se tornando algo monótono... Algo que me traz mal-estar.

– Hillary, o que eu vou te perguntar pode te incomodar um pouco. Mas, você já procurou pensar no por que das pessoas te chamarem de amaldiçoada? – Novamente, seus olhos azuis cintilaram uma natureza sensata.

Engoli em seco. Odiava refletir sobre aquele assunto. Na verdade, já havia pensado sobre isso inúmeras vezes. Cada vez, uma resposta menos positiva saía de minha mente. E de repente, ele estava me propondo pensar mais uma vez nesse fardo que carrego.

– Certamente, o fato de ter nascido no dia em que o apocalipse começou é um dos motivos. E também... E também porque todos que se aproximam de mim, morrem. – Minha voz travou. Abaixei a cabeça, deixando alguns fios caírem sobre meus olhos.

– Eu estou vivo, não é? E sempre estive do seu lado. – Um sorriso caloroso se formou em seu rosto.

– Eu não acredito mais em exceções. Sou um verdadeiro fracasso. – Suspirei.

– Você é mais do que isso. Estive observando seu rendimento desde que entrou aqui. Desde pequena, sempre admirei sua facilidade com armas e com luta. Era algo incrível para uma garotinha de 10 anos. – Fez um sinal com a mão como se mostrasse minha altura. – O modo como você elimina os renascidos é extremamente eficaz. Você é uma das melhores da minha organização, sem a menor dúvida.

Eu não sabia se me sentia feliz com o fato de que conseguia lutar bem ou se eu era uma máquina demoníaca de guerra. Revirei os olhos.

– Mas, por que estamos abordando esse tema?

– Do mesmo modo que você tem uma habilidade incrível, você também tem algo que te persegue. Eu não sei explicar, mas já observei sua maldição. Todos esses anos foram apenas um teste de minha teoria. Sua maldição pode ser um dos primeiros passos para nossa salvação.

– O quê? - Minha voz soou incerta.

Meus olhos se arregalaram de uma forma fora do comum. Todos sempre quiseram se afastar de mim, desejando-me aprisionada nos confins do inferno. Sempre fui ridicularizada, esquecida, odiada, ameaçada de morte. Então, de repente... Eu podia ser a salvação do mundo?

...


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Notas finais do capítulo

Heeeey, comentem, por favor!
Beijinhos da tia ~Tsumitsuki



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