Loving to Hate You escrita por Paçoca do Amor


Capítulo 1
Baranga Queen




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Assim que me levanto, contemplo o outono londrino através da janela. São seis da manhã, uma vez que meu despertador em forma de lua cheia me atordoou com seu barulho irritante, me fazendo quase cair da cama de susto. Estava tendo um sonho tão bom.

Bocejando, pisco os olhos lentamente. Limpo-os e estico minhas costas em seguida, me dirigindo ao banheiro pra jogar uma água no rosto e ficar acordada de uma vez por todas. Manuseio com cuidado os fios de meus cabelos naturalmente ruivos, os prendendo num coque frouxo para que não fiquem molhados. Após a fina e clara pele de minha face se encontrar com a temperatura fria do líquido, ela treme levemente.

— Brrrr, odeio levantar cedo! — resmungo enquanto faço minha higiene matinal. Como hoje é o primeiro dia de aula e meu pai detestável nunca está aqui, me vesti de acordo com minhas vontades. Ponho um vestido simples e de um roxo escuro até os joelhos e uma sapatilha preta sem salto e confortável. Além disso, ajeito meu cabelo em uma semi trança e prendo uma rosa roxo escura neles para combinar com o vestido, também colocando em meu pescoço um pingente discreto e prateado de clave de sol (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=139743970&.locale=pt-br).

Ouço um toque de celular que me chama a atenção no meio do silêncio da manhã. Summertime Sadness, de Lana Del Rey.

Quem diabos está me ligando?, me pergunto, já sabendo a resposta. Não conheço ninguém nessa merda de cidade. Sinto falta do sol de Phoenix, no Arizona. Londres é totalmente nublada nessa época do ano, é tão triste. Olho para a mesa de cabeceira e não há dinheiro nenhum para o táxi. Novamente terei que pegar de minhas reservas. Deixo o celular tocar por mais dez segundos para mostrar para o escroto do meu pai que não deixo me pisotearem fácil. Posso ignorá-lo perfeitamente tal como ele o faz comigo.

— Alô, porra — atendo com uma explícita má vontade.

— Estou em Liverpool agora, bom primeiro dia de aula — ele responde rapidamente e desliga na minha cara. Afasto o rosto do celular, indignada. Só porque ele é um homem de negócios super ocupado não tem o menor direito de me tratar assim. Caralho, qual é a dele? Desde que mamãe morreu, nada tem sido mais a mesma coisa.

— A vida segue, Jeniffer Allen — murmuro para mim mesma, apenas jogando meu Nintendo 3DS na minha mochila e pegando meu skate enquanto abro o Google Maps no meu iPhone 6. Provavelmente ficarei sozinha no recreio jogando, uma vez que meu sarcasmo meio que me impede de fazer amigos, porém não ligo muito. Dou uma olhada para meu violão, querendo compor uma letra de música e dedilhar suas cordas, porém o dever me chama. Sim, estou naquela clássica situação "cidade nova, escola nova, vida nova". O que meu pai tinha na cabeça quando decidiu recomeçar sua vida aqui?

~*~

Quando vejo o portão praticamente fechando, penso: fodeu.

— Não! Espere! — aumento a velocidade no skate, desviando dos carros no meio da rua. Uns pararam e buzinaram, me xingando com esse sotaque britânico ridículo, já outros apenas me olhavam indignados. Estou totalmente errada, mas foda-se, não quero me dar mal logo no primeiro de aula. Tive que comer uma torrada ao mesmo tempo que tentava não atropelar dois adolescentes que estavam se pegando de maneira ninja.

Por um triz, consigo entrar. Após frear, começo a arfar, pedindo desculpas ao porteiro — que apenas me olha de cara feia. Que puta vontade de dar um dedo do meio para ele! Por que são tão pontuais? Apenas dou um sorriso falso, apenas pondo o pé no skate novamente para não perder muito tempo procurando por minha sala.

No meio do caminho, bam! Quase atropelo alguém de novo, e a pessoa ficou perto de se estabacar no chão. Desço do skate e o ponho debaixo do braço, apenas pedindo desculpas. Quando olho para seu rosto, dou de encontro com um homem na casa dos quarenta, porém charmoso. Seus poucos fios grisalhos estão bem disfarçados por baixo do cabelo preto com um penteado que me lembra vagamente o de Tony Stark.Infelizmente, sua expressão facial não era nada agradável. Já ouviu falar de ódio à primeira vista? O experimentei nesse momento, e, mesmo que não tenha sido a primeira vez, me causou mal estar.

Consigo olhar de soslaio seu material espalhado no chão antes dele recolher tudo e ir embora. Percebi várias imagens de hidrocarbonetos e nomes complicados de compostos, chegando à conclusão de que ele é notoriamente o professor de química que dará aula para mim.

Fodeu, penso de novo, compreendendo que meu dia estará cheio de vários "fodeus".

Quando chego na sala, olho o relógio e estou dez minutos atrasada. Um sentimento de amargura me atinge, principalmente no momento em que a professora de literatura me encara por cima dos óculos e simultaneamente os alunos começam a me julgar por seus olhares de reprovação.

— Olha como ela está se vestindo — ouço uns sussurrarem para os outros.

— Parece uma vadia, que vestido curto! — uma garota que parece ser crente exclama daquele modo britânico. Tenho vontade de socar seu nariz.

— Bom dia — pigarreio, tentando silenciar todos. — Meu nome é Jeniffer Allen. Sou aluna nova. Prazer em conhecê-los — me viro para a professora e faço uma pequena reverência, indo para meu lugar ouvindo cochichos no caminho.

— Olha o sotaque... ela é americana. Quem é ela? — há uma nova discussão entre os filhos da puta. Estou vendo que ninguém aqui presta. O que eles têm a ver com a minha vida? Nada!

Ugh, quero ir embora dessa merda.

— Tudo bem, senhorita Allen — a professora intimidadora finalmente me responde, inclinando o queixo com um ar superior. — Você pode copiar o que perdeu a matéria de alguém e depois me entregar a lição de casa. Trate de prestar atenção nas horas.

— Claro, "professora" — dou uma ênfase na palavra de maneira sarcástica. Já me é claro que sua aula não vale a pena. A julgar pelo que está escrito no quadro, estamos lidando no momento com literatura inglesa, começando por Shakespeare. Já li dez vezes as obras dele, é um escritor fantástico. Acho que estou com uma pequena sorte porque não gastarei tanto tempo assim fazendo o que ela manda porque inclusive decorei algumas falas dos personagens.

Sento numa cadeira localizada bem no fundo da sala, do lado da janela e quase invisível aos olhos dos distraídos. É o lugar perfeito para procrastinar e jogar enquanto ela fica com seus blá-blá-blás e a turma anota o conteúdo, e passo a aula inteira assim.

No intervalo, presto mais atenção ao meu redor e então é mais perceptível o quanto o colégio é gigantesco. Dou uns passos em direção ao nada, para dizer a verdade, quero explorar o lugar antes da próxima aula começar. De repente, sinto uma cutucada e bufo. Meu humor não está dos melhores.

— Oi! — uma tábua de passar roupa me cumprimenta num tom animado. Seu estilo para se vestir é, digamos, monocromático, sendo todas as suas peças cor cinza, o que é meio estranho. Por outro lado, acho sua pulseirinha de super heróis bonitinha. (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=139757723&.locale=pt-br)

— Oi — retruco de modo seco.

— Eu gostei bastante do seu skate. Meu nome é Jessica! — seus cabelos castanhos balançam alegremente quando ela pega minha mão e a aperta. — O que você estava jogando na aula da Monique? Você parecia bem, digamos, aérea.

— Acertou em cheio — sou sincera com Jessica, uma pessoa bastante simpática e que demonstra interesse por mim. — Estava jogando Zelda, mas já tinha zerado antes.

— Hm, parece ser legal! — ela ajeita seus óculos por cima da ponte do nariz, sorrindo novamente. Que alegria toda é essa? — Percebi que você é estrangeira, então quis te dar uma ajuda. Posso ser sua amiga!

Olha só, que alma boa. Não é todo dia que encontramos alguém assim. Dessa vez, não estou sendo irônica. Viro a cabeça para um lado e para outro, procurando por algum lugar para sentar. De repente, vejo algo que pode me deixar acordada de verdade: um bom café. Agora entendo o motivo da alegria.

— Tem um Starbucks aqui, Jessica? — me torno mais expressiva, sentindo de antemão o gosto daquele chantilly maravilhoso do frapuccino. O aroma daqueles muffins de banana com chocolate é muito convidativo.

— Tem sim, faz uns meses! Quer ir lá no recreio? — ela transfere o peso de uma perna para a outra, ajeitando os cachos desordenados e checando os nossos horários. — A próxima aula será a de história.

— Óbvio, Jessica — sorrio, agora honestamente. Foi uma garota bem receptiva, compreendendo minhas dificuldades de adaptação num país totalmente desconhecido e até vindo falar diretamente comigo. É melhor eu dar um desconto e tentar tirar esse mau humor. Acho que será uma ótima amiga.

~*~

Meu Deus, história é tão chato!

Como esses professores conseguem ter uma voz tão mansa e simultaneamente tão sonífera? Eu dormi de fato e não sei nada sobre a Primeira Guerra Mundial. Por Jessica ser boa aluna, pude copiar tudo do caderno dela. Pedi muitas desculpas, ainda mais pelo fato de não ter começado o dia bem, contudo, ela se sentiu culpada por não ter tentado me acordar.

— Você parecia tão cansada... Não dormiu direito? — perguntara com legítima preocupação. É uma menina tão amorosa, mas disfarça bem. Quando perguntou se eu tinha namorado e eu neguei, ela simplesmente disse:

— Não se preocupe, tem muita gente linda aqui. É seu primeiro dia, mas você nem vai acreditar!

Isso é tão engraçado que nem sei o que dizer. Tão fofinha e singela, mas quando se fala em garotos...

No momento, estamos comendo brownies enquanto aspiramos essa fragrância dos grãos de café. Me sinto no paraíso.

— Ah! Antes que eu me esqueça — Jessica ainda está comendo, porém sua voz assume um tom severo, me pegando de surpresa. Apenas balanço a cabeça, de boca cheia, indicando minha dúvida. — Tá vendo aquele grupinho ali?

Ela aponta para um grupo de meninos. Quando fixo meus olhos verdes neles, me passa pela mente aqueles modelos da Abercrombie, de tão lindos que eram. Nem tinha reparado nesses caras quando tava na sala de aula.

— Estou vendo até bem demais — falo com divertimento. Não acredito que disse isso.

— Fique longe daquele ali, o loiro. Isso é sério — minha amiga diz, me despertando uma maligna curiosidade.

— Ué, por que? — dou uma risadinha, finalizando o brownie. Jogo o guardanapo no lixo após limpar minha boca. — Ele morde?

— Quase isso, é um vampiro! — Jessica gargalha, provocando um ataque de risos em mim. Depois do momento descontração se esvair, ela volta a falar. — Não, mas é sério. É um cara perigoso. Ele tem um histórico muito tenso aqui no colégio. E a namorada dele é louca.

— Perigoso? — essa palavra em especial me preocupa. Antes que possa ser respondida, ouço uma música tocar no Samsung Galaxy S5 dela, claramente uma chamada. You Belong With Me, de Taylor Swift. Sinto vontade de cantar junto.

— Me desculpe, Jeniffer, mas tenho que ir. Uma amiga minha tá me chamando lá no ginásio pra ver o jogo de basquete — minha nova amiga mostra culpa por me deixar sozinha nesse ambiente selvagem e tenho pena dela.

— Eu me viro sozinha. Vai lá — faço um gesto com as mãos, como se a empurrasse. Jessica me manda beijos no ar, começando a correr para não perder a hora. Esses ingleses...

Sozinha com meus pensamentos, decido que, por ter tempo de sobra, seria bom catar uns livros na biblioteca. Amo ler! O que será que posso encontrar por aqui? Ademais, dar uma olhada no que há disponível para empréstimo vai ser útil porque é provável que quase todos os professores irão dar algum trabalho chato para a gente fazer. Não quero nem imaginar o que aquele professor de química pode fazer comigo, já que quase o matei e ainda nem tive aula com o dito cujo.

Dito isso, levanto-me, pronta para aquele cheiro gostoso de livro novo. Antes de sair do Starbucks, esbarro sem querer num grupo de meninas que estão conversando sobre, sei lá, algum cantor novo ou alguma coisa assim. Aceitaram minhas desculpas muito educadamente, passando-me uma boa impressão.

Dou uma olhada nos volumes ansiosos para ocupar minha estante, e passo os dedos sobre cada um deles, os analisando. A bibliotecária, com um cabelo vermelho falso cor de caju, os prendia num coque frouxo, dando bom dia para cada mísero aluno que entrava. Esse colégio não parece ser tão ruim, afinal de contas. Ainda não sei dizer, para falar a verdade, pois muitos professores são entediantes.

Por fim, acabo por empilhar dez livros em meus braços: A Culpa é das Estrelas, Querido John, A Última Música, Deixe a Neve Cair, Amanhecer, Cidades de Papel, Dezesseis Luas, Tipo Destino, Comer, Rezar, Amar e A Escolha. É muita coisa junta, haja músculo. Feliz da vida, tomo cuidado para não derrubar nenhum deles, e assim caminho lentamente em direção ao balcão. A bibliotecária parecer assustada e surpreendida.

— É bom que sua geração goste de ler... — ela fala em um tom baixo, computando os códigos de cada livro. Agradeci e os carreguei novamente, caminhando até a porta.

Para uma biblioteca, até que não estava fazendo tanto silêncio assim. Havia algumas pessoas completamente estúpidas brincando de guerra de bolinha de papel, e outras conversando. Se bem que, por estarmos no início do ano, ainda não há muito o que estudar. É compreensível que não tenham nada para fazer, mas não poderia ser em outro lugar?

— Babacas — sussurro, mentalmente cuspindo em cada idiota ali presente. Uma pequena raiva surge.

Peço licença para algumas pessoas para passar e então vou desviando, também tomando cuidado. Se essa pilha enorme cair, adeus meus pés, que sofrerão com o peso, e serei o centro das atenções graças ao barulho — só para constatar, não desejo isso de forma alguma.

Reparo que há uma menina conversando com as amigas e deixando a porta aberta, se distraindo e não me vendo. Com um metro e setenta, joga orgulhosamente seus cachos loiros para trás, rindo com as bochechas róseas ofuscando seus brilhantes olhos cor azul céu. (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=139765032&.locale=pt-br) O comportamento parecia ser de uma dama, mas percebi no modo como ela olhava as amigas que havia algo de errado. É um estranhamento inexplicável.

O peso dos livros me chamou de volta para a vida real e acabei seguindo em frente, passando por todas elas. Assim que cruzo a porta, ouço o estrondo da mesma batendo atrás de mim. Não teria ligado se não tivesse sentido algo me puxar para trás, me surpreendendo de forma que todos os livros caiam no chão ao meu redor.

Meu vestido ficou preso.

Ah, não! Isso não!, começo a me desesperar, tentando girar a maçaneta. O que diabos aconteceu que ela emperrou?!

Subitamente, olhares caem sobre mim e minha situação constrangedora. Em outra tentativa, me afasto um pouco, entretanto, essa ideia não foi muito inteligente de minha parte.

Minha roupa rasgou até a calcinha. Que merda! As pessoas estão vindo na minha direção para rir da minha cara!

— Olha a calcinha do Batman! HAHAHAH! — uns garotos começam a se acabar de rir, especialmente... aquele que Jessica mostrou outrora. O loiro de olhos claros.

— Como a bunda dela é caída, cara — um moreno comenta, com a risada igual a de um porco. Quero transformá-lo em bacon.

Imersa em humilhação, vejo pessoas passando e nenhuma delas querendo ajudar, no máximo olhando de lado e passando reto como se nada tivesse acontecido.

— Tinha que ser americana, na boa — percebo uma garota balançando a cabeça em negação.

— Olha esses livros ridículos que ela lê — um garoto faz uma cara de nojo.

Ainda presa e com minha roupa rasgada, nasce em mim um intenso desejo: o de mandar todos à merda. Achei que estava começando a ter um dia melhor e então todos começam a me tratar desse jeito sem razão alguma.

— QUAL É A DE VOCÊS? — tento silenciar a população. — SEU BANDO DE CUZÕES.

Vasculho os bolsos de meu vestido e, para minha sorte, acho uma tesourinha de unha. Dessa forma, consigo cortar o pedaço preso na porta para ficar livre de uma vez por todas. Como não pensei nisso antes?

Engrossando a voz, tendo intimidá-los. Vejo Jessica chegando com um olhar assustado.

— USO CALCINHA DO BATMAN, SIM, PORRA! QUEM VOCÊS — aponto o dedo para aqueles miseráveis, querendo que tomem vergonha na cara — ACHAM QUE SÃO PARA FALAREM DE MIM DESSE JEITO? A RAINHA DAQUI? VOCÊS SÃO UM BANDO DE MERDA.

Vejo no meio da multidão somente o silêncio. Acho que finalmente se tocaram.

Para minha infelicidade, o garoto "perigoso" dá um sorriso sacana e apenas fala:

— Eu posso ser um merda, mas pelo menos não sou infantil a ponto de usar uma cueca do Batman — dá uma risada, e sua frase estúpida leva os outros a rirem também. Parece ser aquele garoto popularzinho que todos acham engraçado. — Fala sério, garota, pega seu skate e volta pra casa — todos se silenciam novamente. — Você não parece ter muita vontade de estar aqui.

Jessica dá uns passos rápidos na direção da roda que foi formada a partir da confusão e me defende:

— Deixa de ser idiota, Logan! — ela aponta o dedo para a cara dele, em plena fúria. — Ela é minha amiga, e você não tem o menor direito de tratá-la assim!

Ah, então Logan é o nome do zé mané. Que interessante.

— Sua amiga é uma ridícula, sinto muito. Essa anã nem sabe pagar de valente — o loiro ajeita a alça da mochila por cima do ombro direito, já pronto para ir embora. Assim que noto que ele pretende ir e deixar as coisas assim, o puxo pela manga da blusa e digo umas verdades.

— Olha aqui, Logan — aproximo meus olhos raivosos dos dele. Sou baixinha, admito, e por isso fico nas pontas dos pés, a ponto de encostar meu nariz no seu. — Até eu que sou nova aqui sei que você tem um histórico, digamos, encantador. Se você mexer comigo, já sabe o que acontece!

O sujeito me encara de volta, as respirações se misturando no meio da tensão do povão. Seus amigos começam a protestar, gritando para que ele me respondesse. O metido a marrento somente me olha com raiva e se vira, impotente, indo para a próxima aula.

Jessica, atrás de mim, aprova minha atitude por meio de uma risada. Eu a acho tão fofa.

— Parabéns, Jeniffer, nem sei o que dizer — ela me dá um abraço, e eu retribuo de bom grado.

— Obrigada, fiquei muito tensa. Tomara que esse vestido rasgado não me atrapalhe — começo a analisar melhor o estrago, e ele é bem grande. Dá pra ver bem minha calcinha, mas que se dane. Eu compro outro igual.

— Ainda tem aula depois do almoço, se prepare — me avisa, já prevendo meu cansaço.

— Oh, meu Deus, — solto um suspiro, querendo desabar em algum sofá. Cato os livros no chão.

Logo, faço uma pergunta a Jessica:

— Qual é o sobrenome do Logan? Quero ficar bem longe dele — faço uma careta só de pensar no que aconteceu.

— Eu te avisei... — ela levanta as sobrancelhas e ajeita o óculos. — Bom, ele se chama Logan Rivers. É o melhor jogador de futebol do nosso colégio, sendo cobiçado até por universidades americanas.

— Ó, que coisa... — respondi, um pouco surpresa. — Tomara que fique bem longe de mim, pelo menos. — Ela concorda com um sorriso.

~*~

— Obrigada por me emprestar esse casaco, Jessica. Ainda tô meio bolada pelo que aconteceu — suspiro, pegando minha bandeja e o prato vazios. Ela me acompanha.

Essa menina foi um verdadeiro anjo da guarda pra mim. A última aula que tivemos foi a de química — sim, a aula que eu estava temendo pelo professor já me odiar — e não arruinei tudo pelo casaco amarrado na cintura ocultar o rasgão do tecido do vestido.

— Não há de quê, Jen! Posso te chamar de Jen? — dá um sorrisinho fofo, e por um momento suas roupas monocromáticas parecem ter cores alegres por todo lado só por seu comportamento.

— Claro que pode.

— Então, não liga pro que aconteceu não. As pessoas daqui são meio assim mesmo, implicam com alguém e isso passa — ela faz um gesto com a mão a abanando. Pega o pegador de macarrão, servindo-se, enquanto eu coloco bastante chilli no prato. Aconteceu tanta coisa hoje que estou com bastante fome.

Isso se não colocarem minha cabeça na privada antes. Agora não duvido de mais nada.

Jen, eu vou te apresentar à Yui. Ela é muito boba, mas um amor de pessoa! Disse que estaria nos esperando na mesa doze.

Não duvido que seja alguém legal, respondo mentalmente. Sorrio pra ela, mostrando que estou prestando atenção. Só tomara que não tenha me visto naquela situação de antes.

Desgraçadamente, antes que consigamos atingir metade do caminho, acontece mais uma tragédia.

Esbarro em uma pessoa e derrubo toda a minha comida na camisa social branca dela e sua calça jeans. Devido ao trombo, nós dois paramos no chão. Como é possível alguém ter me jogado tamanha macumba?, ousei perguntar para meu alter ego e ver se ele responde, porque não é possível!

No instante em que olho para seu rosto... tenho uma inegável vontade de me atirar de uma ponte.

Logan Rivers.

— Que vingança é essa, porra?! — ele parece estar se controlando para não gritar comigo. Nem falei contigo pelo resto da manhã!

Caralho, parece maldição penso alto, toda melecada de chilli. O refeitório inteiro já deve estar olhando pra gente. Me desculpa.

Do nada, vejo aquela mesma loira de olhos azuis da biblioteca de pé, na minha frente, em um piscar de olhos. De onde ela surgiu?

— Com licença, querida? — ela se refere a mim com uma ironia doce e sutil.

Hm? não compreendo o que ela quer dizer.

Esse macho já tem dona! ouço um estalar de dedos. Isso é sério? Vai embora, piranha, antes que eu acabe com sua raça!

Eu hein!

Gente louca!

Olho de novo pro cara, que estava xingando Deus e o mundo com todos os palavrões possíveis porque derrubei chilli em sua blusa da Cavalera. Encaro a metida a musa aos berros comigo, e o fito novamente. Já há indivíduos ao redor gritando "BRIGA! BRIGA! BRIGA!". Vão comer, pessoas! Vocês não têm mais o que fazer?

Quero definitivamente ficar afastada dessas pessoas, essas duas em especial. Cruz credo.

Me levanto, limpando o excesso de carne da minha roupa, e saio voando do refeitório para ficar trancada no banheiro até o início da aula à tarde.

Eu mereço.


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