Seguindo Estrelas escrita por Saber


Capítulo 1
Capítulo 1




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– Sabe, lançaram esses tempos algumas histórias novas... é de um garoto que é filho de um deus grego, Zeus, eu acho..o fortão que tem o tridente...

– Mãe, por favor, ele é filho de Posseidon...

– Ah, também tem um romance de vampiros, mas eu não entendo muito o filme, só que sua prima só sabe falar dele e de como ela quer um namorado que a ame como ela é haha... imagina ela só tem 13 anos!

– Sério dona Helena, vai ficar me contando todas as histórias de infanto juvenil, eu logo vou fazer 19 anos...

– Sei, sei você deve achar que já esta velha pra essas coisas... mas ainda lembra como você esperava sua carta de Hogwarts, gatinha? Você ficava brava porque nós falávamos que nunca ia chegar, e você discutia que só estava atrasada por viver no Brasil.

– Nossa eu me lembro dessa época, jurava que o problema era no correio internacional e que as corujas se perdiam com a falta de organização do sistema brasileiro de residências. - Passei a mão pelos meus cabelos, não que adiantasse muito, eles sempre ficavam onde queriam.

Minha mãe finalmente soltou minha mão e começou a olhar em volta. Agradeci por isso, sabe eu me sinto muito bem quando ela está perto, mas no resto do dia, é um vazio tão grande, eu prefiro não ter nada, a lembrar que logo ela vai embora.

Suspirei e desci da mesa, tenho sempre essa péssima mania, antes minha mãe estava sempre enlouquecendo com isso. Dona Helena estava focada em trocar as flores e coloca-las num lugar onde batesse mais sol, sabe aquela mania de arrumação de mãe, nada nunca está no lugar certo até que ela tenha a ideia de colocar lá.

– Mas tenho certeza que você ainda gosta dessas coisas, de histórias fantásticas e tudo mais, o Gustavo vive saindo daqui com um livro diferente do outro e aquele notebook. Só que pra mim você se faria de difícil, né " Dona Amanda".

Dei um sorriso amarelo, eu sempre bancava a durona perto dela, mas se aparecesse uma barata no quarto eu sai gritando "Maaaaaanhêê, me salva!". E nessa ultima semana assisti todos os filmes do Harry Potter de novo com Gustavo e mais uns documentários pirados, agora que ele está fazendo Cinema.

Tenho que implorar pra mudarem o currículo, não aguento mais saber de posicionamento de câmeras e como uma pessoa pode se sentir inferior ou entrar na histórias, sério! Eu só quero cair nos truques e acompanhar a história, perde a graça saber que foi tudo de propósito.

Decidi deixar minha mãe nos seus pensamentos um pouco, logo ela leria o jornal e eu realmente estou cansada das desgraças que passam fora daqui. Acho que vou ver o Tomas na creche.

Continue caminhando, não tinha ninguém na rua, melhor assim, mas também, qual louco andaria naquela chuva, tinham bueiros inundando toda a calçada em volta. Tinha um parque bem no caminho, quase parei por lá, mas como não tenho relógio sei que ficaria distraída e só ia perceber que o tempo passou quando tivesse anoitecido. Tomas isso, tinha que ver o Tomas.

Depois de uns 20 minutos cheguei na escolinha, era hora do intervalo. Meu pequeno irmão problema estava tranquilo fazendo seus desenhos enquanto os outros garotos se "matavam" numa briga de espadas de jornal. Aquela cabeleira loira, muito parecida com a minha, única diferença é que meu cabelo continuava mais curto, um pouco repicado e jogado de lado, minha mãe enlouqueceu quando cortei assim, mas hoje ela fazia questão de manterem o corte.

E aquela pele branca de porcelana, que deve foi difícil pra um garoto, mas como ele sempre foi esquentado, bastou alguns narizes sangrando para que os coleguinhas abandonassem o apelido de "boneca" que deram pra ele. 5 anos e "uma arma mortífera regada a toddinho" como eu falava.

– Hey, Tom, se está procurando seu lápis vermelho, ele está embaixo do seu sapato.

Tomas levantou os pés e pegou o lápis, sem pressa levantou a cabeça e olhou pra mim sorrindo, não precisou falar nada. Nós nunca conversávamos, até porque não queria causar problemas pra ele. Com o lápis vermelho ele rabiscou nos cantos do papel e logo virou ele para mim.

Era eu e ele, sentados na casa da arvore. Uma bola vermelha no meio da minha camiseta, eu ri. Era pedir demais pra uma criança desenhar certo o símbolo do Red Hot,era minha camiseta preferida. Meio curta mas eu a adorava, deve ser por isso que sempre estava com ela.

– Muito bom garoto! Você está cada vez melhor, logo vai desenhar melhor que eu.

– Que desenho bonito Tom, essa é a sua irmã?

Dei um pulo de susto. Não que isso fizesse muita diferença, mas realmente não tinha visto a garota chegando. Ela devia ter uns 20 anos talvez, tinha os cabelos castanhos presos, obviamente querendo parecer mais velha. Assim como aquela camisa social. Queria falar pra ela que não daria certo, não enquanto ela continuasse usando jeans e all star. Mas fiquei ali com minha boca fechada observando a conversa dos dois.

–Sim, ela construiu uma casa na árvore pra mim...

–Sério sua irmã deveria ser super legal!

– Na verdade não, ela só me deixou subir depois que comi um inseto como teste...

Bufei, ele adorava contar aquela história pra todo mundo, só que nunca contava que ele que escolheu o teste, e eu acabei tendo que comer uma formiga. Afinal, é o que se ganha por apostar com uma criança que só sabia falar algumas palavras (que pro meu azar eram mamae, sopa, nhonhom e formiga). Mas apostas são apostas e tinha que ensinar para ele que sempre cumprimos nossa palavra.

Mas meu coração esquentou um pouco, quando a garota ao invés de fazer uma careta, começou a rir e logo ele estava rindo também. Tom deu o desenho pra ela, a garota de olhos castanhos agradeceu e deu um beijo na testa dele, guardando o presente no bolso. Eu queria saber o nome dela, mas ela já estava voltando para as salas. Dei um tchauzinho pro Tomas e fui seguindo ela.

– Céus Amanda, você é idiota ou o quê? Você espera falar com ela e pegar um numero do telefone por acaso? - Dei um tapa na minha testa, mas continuei indo atrás dela e mantendo uma conversa saudável com a minha própria cabeça... mas quem nunca falou sozinho que atire a primeira pedra.

A garota era alguns centímetros mais alta que eu, ela foi já colocando um casaco que estava na parede e pegando um guarda chuva.

– Já vai embora Sofia? - Uma senhora que estava sentada perguntou, mas logo voltou a fazer suas palavras cruzadas. Odiava quando alguém conversava e desviava o olhar para outra coisa. Sabe o quanto eu daria para ter alguém olhando para mim e conversando? Tudo, absolutamente!

– Sim Marta, tenho prova da faculdade, e a mãe disse que vai vir buscar o garoto hoje.

Sofia esse era o nome dela, meu Deus, que boca era aquela, aquele sorriso. Devo estar sem sair a muito tempo mesmo, porque eu estava encantada. Mas espera... ela ia sair naquela chuva?

– Você não quer esperar a chuva passar querida?

Eh, a chefe Marta pareceu ler meus pensamentos, estava caindo o mundo lá fora, aquele casaco e um guarda chuva não iam servir para nada.

– Não tem problema, se eu ficar vou perder o ônibus e além do mais como diria minha mãe, um chazinho com mel cura tudo.

Sofia deu um breve aceno para a senhora e foi para a porta. Assim que chegamos na rua vi ela se encolher embaixo do guarda chuva. Aquilo era um temporal! Os carros passavam a toda hora jogando água na calçada e estava tudo cinza, mal dava pra enxergar do outro lado da rua.

– Caramba, eu preciso chegar logo no ponto de ônibus. - Sofia pensou alto, mas eu estava perto suficiente para ouvir, como eu tinha dito...muita gente fala sozinha.

Tudo aconteceu muito rápido, eu parei por reflexo na calçada, e olhei para o lado, tinha um caminhão vindo. Como um babaca desses pode correr assim tão perto de uma escola. Mas não consegui pensar muito nisso, porque não estava mais do lado da Sofia, ela não tinha visto o caminhão antes de começar a atravessar a rua.

E eu não consegui me conter, um grito escapou da minha boca, quase um movimento involuntário, Eu não ia deixar aquela garota ser atropelada.

– Sofia não! - Me joguei contra ela e senti que estava tudo girando a minha volta, provavelmente estávamos rolando para o outro canto da rua, no meio daquela chuva.

O caminhão passou cortando por nós duas, e ainda buzinou.

– Filho da puta! Você podia ter matado a garota seu desgraçado.

– Creio que ele poderia ter matado nós duas...

Gelei. E olhei para ela. Sofia estava com o rosto todo molhado com cabelo grudando na sua bochecha, a roupa toda encharcada. Engoli seco ao perceber que eu estava olhando para camisa branca dela, que agora estava quase transparente. Levante num pulo, não era hora para hormônios ou garotas, até por que será que eu tinha hormônios?

– Sabe você poderia me ajudar a levantar....

Estendi minha mão por reflexo e ela a segurou, foi como sol num dia quente, fazia tanto tempo que não sentia isso. Esse era o toque de outra pessoa, é assim que nos sentimos quando estamos perto de alguém.

Comecei a olhar minhas próprias mãos. Sofia me olhava como se quisesse agradecer, e logo depois fez uma cara de surpresa. Mas alguém gritou o nome dela do outro lado da rua e nós nos viramos para ver o que era.

– O que foi? Você se machucou? Vi você caindo depois que o caminhão passou. Meu Deus, Meu Deus, eu já liguei para a ambulância...vamos, vamos sair dessa chuva

Um senhorzinho começou a falar sem parar com ela, apertando-a num abraço e puxando-a pra baixo de um guarda chuva muito maior.

– Seu Antônio eu estou bem, essa menina me salvou antes que algo pior acontecesse...

– Que menina, do que você esta falando filha? Você bateu a cabeça? Vamos, vamos.

O velhinho foi levando a para dentro da loja do outro lado da rua, enquanto Sofia olhava para o lugar onde nós duas estávamos no chão.

Se eu ainda não estivesse em choque talvez tivesse dito alguma coisa, mas só fechei os olhos, queria voltar para o quarto.

Abri meus olhos e me virei analisando o quarto, minha mãe tinha ido embora já, mas o vaso de flores foi parar na cabeceira da janela e sabia que amanhã ela arrumaria outro lugar. Aquela garota podia me ver, ela podia falar comigo, depois de quase 2 anos eu senti o toque de verdade de uma pessoa. Sentei no chão, eu tinha muita coisa para processar na minha cabeça. Olhei para meus próprios braços na cama, e vi que os aparelhos mostravam os mesmos sinais. Nada tinha mudado. Fechei os olhos e respirei fundo, juro que um pouco antes de desaparecer a ouvi sussurar: " Mas ela nem estava molhando na chuva".

– Mas o meu corpo ainda está em coma...O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI?


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