A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 17
Dezesseis




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Ás sete e vinte e sete da noite me dou conta do óbvio: preciso me arrumar para o baile. Mas, obviamente, existe um problema: eu não sei o que vestir.

Me levanto da cama e vou até a porta do quarto.

–Eliza! - Chamo, ela está na sala com meu pai.

–Algum problema, Laura? - Ela diz andando até mim.

–Preciso da sua ajuda; o Thomás virá me buscar em meia hora para irmos ao baile do Asilo e não sei o que vestir.

Ela abre um sorriso enorme. Deve estar debochando da minha cara.

–Eu sempre esperei por esse dia - ela diz passando o braço direito sobre meu ombro. - Vem comigo até meu quarto.

Ela me puxa pelo corredor e vamos até o seu quarto e do meu pai; entramos e então ela tira o braço de cima dos meus ombros.

–Sempre esperei pelo dia que você me deixaria te arrumar - ele vai até o guarda-roupa e abre a porta de correr e então tira um cabide com um vestido preto tomara que caia. - Você vai ficar linda.

–O que mais você tem dentro desse guarda-roupa? - Brinco. - Se eu entrar aí saio em Nárnia?

–Vesti logo - ela diz sorrindo.

Tiro o short e a blusa e pego o vestido que - não surpreendendo-me - cabe perfeitamente em mim. Eliza fecha o zíper e então para por um momento me olhando.

–Senta aqui - ela diz me puxando até a mesinha com espelho do outro lado do quarto. - Vou arrumar seu cabelo.

Me sento de frente para o espelho e olho para o reflexo do meu rosto e o da parte de cima do vestido, de repente fico morrendo de vontade de ver como ele ficou em meu corpo.

Eliza desfaz o coque do meu cabelo e ele cai acima dos meus ombros, ela pega a escova sobre a mesa e começa a pentear o emaranhado castanho e curto.

–Vamos fazer um penteado despojado - ela diz assim que termina de pentear.

Ela estica a mão até um pote com uma coisa branca e pega um pouco com a ponta dos dedos, esfrega a coisa branca nas mãos e passa sobre meu cabelo; ela enfia os dedos entre as mechas e então bagunça um pouco.

–O que achou?

–Achei que ficou bom - digo sorrindo.

–Ótimo. Agora é a maquiagem.

–Nada de maquiagem, assim está bom.

–Nada disso mocinha. Sempre esperei por esse momento e você vai me deixar aproveitá-lo ao máximo. - Ela me vira no banquinho e fica de frente para mim.

Ela passa algo sobre minhas bochechas, pede que eu feche os olhos e passa algo sobre as pálpebras, por fim passa um gloss vermelho em minha boca.

–Vem se olhar no espelho - ela puxa minha mão e me leva até o espelho no canto do quarto.

–Wow! - Digo ao ver meu reflexo.

O vestido ficou lindo em mim, ele tem uma faixa vermelha na cintura, se ajusta perfeitamente ao corpo até se abrir como uma flor abaixo da faixa vermelha até acima dos joelhos.

–Obrigado - digo me virando para a mulher toda sorridente ao meu lado.

–Eu que agradeço, Laura...

–Não, eu não estou agradecendo só por isso - digo balançando a saia do vestido. - Estou agradecendo por cuidar de mim, por sempre fazer de tudo para que eu fique bem. Eu demorei tempo de mais pra perceber o quando você é importante pra mim. Obrigado por tudo... Mãe.

–Oh, Laura... - Ela diz me abraçando.

–O destino não poderia ter encontrado alguém melhor para o meu pai.

Ela dá um passo para trás e olha para mim antes de dar um beijo na minha testa.

–Não chora, se não vai borrar a maquiagem - digo sorrindo.

–Você está maquiada, não eu. - Uma lágrima escorre pelo seu rosto.

–Desculpa incomodar, meninas - meu pai diz da porta do quarto, me viro e olho para ele. Ele usa uma blusa de estampa quadriculada e o cabelo preto ondulado cai sobre os ombros. - Laura, seu amigo chegou.

–Oh, meu Deus, ainda precisamos encontrar um sapato pra você - minha mãe diz indo até o guarda-roupa. - Você pode usar um dos meus saltos.

–Nada de salto alto, deixa que do sapato eu cuido. Vão pra sala ficar com o Thomás. - Saio do quarto deles o corro até o meu; abro a porta do guarda-roupa, pego meu All-Star preto e calço rapidamente.

Ando calmamente até a sala e me surpreendo ao ver Thomás; ele está usando uma camisa social branca com uma gravata borboleta preta e um paletó vermelho escuro por cima, a calça social é da mesma cor do paletó e o sapato de couro preto. A roupa cai super bem nele, não é como os ternos frouxos que geralmente os adultos usam.

–Uau, você está linda! - Ele diz sem se importar com os dois adultos em pé do outro lado da sala.

–Quero vocês dois juntos, vou tirar uma foto - minha mãe diz com o celular nas mãos.

Ando até Thomás e paro ao seu lado, ele coloca o braço em volta da minha cintura e olhamos para a frente.

–Digam "X" - ela fala e então bate a foto.

–Tudo bem, agora nós vamos indo - digo indo até meu pai e lhe dando um beijo na bochecha. - Tchau, pai.

–Tchau, querida. Você está linda! - Diz sorrindo para mim, eu sorrio de volta.

–Tchau, mãe - digo ao abraçá-la.

–Acho que vou sentir vontade de chorar sempre que você me chamar assim - ela sussurra em meu ouvido, eu apenas sorrio.

Thomás aperta a mão do meu pai e cumprimenta minha mãe.

–Não demorem - ela diz enquanto saímos.

Vamos andando pela rua escura e Thomás estende o braço para que eu segure.

–Gostei da sua mistura de estilos - ele diz indicando para meu tênis.

–Obrigado, também gostei da sua roupa.

–É do meu primo, ele usou no casamento do nosso tio no fim do ano passado, e modestamente falando ficou bem melhor em mim.

–Tenho certeza disso - digo rindo.

*

Do lado de fora do Ginásio da Cultura foi colocado um banner enorme escrito "Baile Inverno de Amor" acima de uma imagem de um coração azul.

Thomás e eu nos olhamos e rimos da imagem.

–Vamos entrar logo - digo o puxando em direção ao prédio velho e iluminado.

Assim que entramos somos recebidos por uma moça usando um vestido longo vermelho.

–Sejam bem vindos - ela diz de forma simpática. - Se quiserem podem entrar na fila e tirar uma foto, é grátis.

–Obrigado - digo sorrindo.

Andamos pela entrada do ginásio e paramos no fim da fila, á nossa frente tem cinco casais.

–Isso está parecendo aqueles filmes clichês. - Thomás diz sorrindo quando damos um passo á frente

–Então você está gostando - digo me lembrando do que ele disse no dia que nos conhecemos.

–Isso é verdade.

Esperamos na fila até a nossa vez e então andamos até um espaço coberto com um pano azul escuro.

–Boa noite casal, façam uma pose - diz o fotografo segurando uma daquelas câmeras que revelam a foto em poucos segundos em frente ao rosto.

–Careta no "X" - Thomás sussurra em meu ouvido.

Fazemos uma pose e então quando o homem avisa que irá bater a foto nós fazemos uma careta.

–Olha, vocês são um casal de atitude - ele diz olhando a foto que acabou de tirar e entregando á Thomás.

–Obrigado - dizemos juntos e então andamos em direção ao salão. Ele me entrega a foto e eu sorrio quando olho as caretas que fizemos.

–Deixa que eu guardo - ele toma a foto da minha mão.

Entramos no salão, o lugar está bastante cheio, apenas algumas das mesas dispostas pelo amplo espaço iluminado estão livres; do lado esquerdo há uma mesa com bebidas, no fundo do salão há um espaço elevado que é usado como palco, sobre ele instrumentos estão espalhados, mas apesar dos músicos estarem lá, a música que toca - algo dos anos 80 - vem das caixas de som.

Vamos para uma mesa do lado direito do salão.

–Espera um pouco, vou pegar algo pra gente beber - Thomás diz e me deixa sozinha na mesa.

–Boa noite, pessoal - diz um homem com um microfone próximo a boca encima do palco. - A partir de agora teremos o microfone aberto, quem quiser cantar basta subir aqui. - Uma garota loira levanta a mão e anda até o palco.

– Espero que goste de guaraná - Thomás diz colocando um copo descartável á minha frente.

–Gosto sim, obrigado cavalheiro.

A garota loira começou á cantar uma música animada, a música é ótima, mas a voz dela é enjoativa demais.

–Tem uma coisa que eu sempre quis fazer - falo depois de beber um gole do refrigerante.

–O que é? - Thomás pergunta animado.

–Fazer uma declaração, tipo...

–Subir lá e cantar uma música romântica - ele me interrompe.

–Sim, mas a pessoa pela qual eu cantaria não está aqui.

–E daí? Você sobe lá e diz que a música é para o "D", eu posso fingir ser ele. E depois você pode fazer algo diferente pra ele.

Penso por um momento e então digo:

–Tudo bem, mas dê um jeito de me tirar de lá antes que a música acabe; tenho medo de esquecer a letra.

–Isso pode envolver tirar uma casquinha - ele diz sorrindo maliciosamente.

–Quantas você quiser, só me tira de lá.

–Agora, quem será o próximo? - O homem pergunta quando a garota acaba a música.

Eu levanto mão e vou andando até o palco.

–Boa sorte - diz o homem me entregando o microfone.

–Qual será a música? - Pergunta a mulher com o violão.

Eu já tinha a música na cabeça, era a favorita de Diego.

–“Apenas mais uma de amor” - digo com o microfone abaixado.

–Boa pedida - ela diz sorrindo.

Me viro para frente.

–Essa música é para alguém muito especial - falo no microfone olhando para Thomás, que está sorrindo. - É para você D.

Espero começaram a tocar e na hora certa eu começo:

Eu gosto tanto de você/Que até prefiro esconder– canto ainda olhando para Thomás e imaginando que o Diego quem está lá.

Continuo e arrisco uma olhada nas outras pessoas e percebo que estão todas prestando atenção em mim.

Quando estou quase no meio da música Thomás se levanta da mesa e corre em minha direção, ele pula no palco e para na minha frente me puxando para seus braços e me beijando. Todos começam a aplaudir.

–Quer dar uma última corrida? - Ele sussurra em meu ouvido quando para de me beijar.

–Claro que eu quero - sussurro de volta deixando o microfone cair no chão e segurando sua mão.

Nós pulamos juntos do palco e saímos correndo de mãos dadas, as pessoas continuam gritando e aplaudindo.

Saímos correndo do ginásio e só paramos um quarteirão depois.

–Isso foi ótimo - ele diz rindo. - Foi uma ótima última aventura.

–Isso não foi a última coisa da lista de coisas que sempre quis fazer - digo sorrindo. - A última coisa é dormir fora de casa, não em outra casa, mas fora, ao ar livre.

–O quintal da casa da minha tia é gramado, podemos dormir lá.

–Pra mim parace ótimo.

–Mas - ele diz sério. - você tem que prometer que não vai me atacar sexualmente.

–Como se eu fosse tentar isso. - Falo rindo.

–Eu sei que você amou me ver só de cueca.

Dou um tapa no braço dele.

–Vou pra casa e assim que meus pais dormirem eu vou pra lá. - Falo pra ele. - Não dorme antes que eu chegue.

–Tudo bem. Aqui, leva pra você ter uma lembrança de mim - ele me entrega nossa foto.

–Mas aí você não terá uma lembrança minha - digo pegando a foto.

–Eu não me esqueço de garotas bonitas. - Eu sorrio para ele. - Principalmente quando dançam só de calcinha e sutiã comigo.

–Idiota - digo batendo em seu braço. - Vamos logo.

E então andamos juntos até o ponto em que nos separamos.


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