" Minha vida é complicada. É o que eu falo todas as manhãs para mim mesmo enquanto olho no espelho do banheiro pequeno comparado ao resto da casa. Eu moro com o Jake, meu amigo mais velho.
O terceiro ano do ensino médio me parece o Quinto dos Infernos. Ou pior. Transbordam todo mundo com deveres e trabalhos, e é foda ter que perceber garotas tentando falar baixo " Ele é gay. Só pode ser. é muito lindo". E elas estão falando de Alec Woods, que também chamo de "eu".
Realmente não mudaria nada em mim. Loiro, olhos verdes e grandes, sem queixo de bumbum, magro e com covinhas quando sorri, sem falar das maçãs muito avermelhadas do rosto.
Uma vez, fui para a diretoria por me recusar a fazer a aula de Educação Física e ter uma discussão com o professor.
Depois de acordar, fui para o banheiro escovar os dentes. Quando terminei, desci para a cozinha e pus a água para ferver e fazer o café. Eu já havia levantado mais cedo para pôr os biscoitos no forno, então, quando a água ferveu, eu coloquei o açúcar e liguei a luz interna do forno para ver se os biscoitos estavam prontos. Só mais pouco tempo. Terminei o café e subi de volta para o quarto para me trocar. Jake ainda estava dormindo. Peguei uma camisa azul com mangas compridas, tirei o suéter em frente ao espelho do guarda-roupa e percebi que Jake tinha acordado e estava me olhando com uma cara meio estranha. Eu levei um susto.

– Vou me trocar no banheiro. Isso foi estranho, Jake. Muito estranho. O café tá pronto. Desça na cozinha e desligue o forno, senão os biscoitos vão queimar. Agora. - Eu disse a ele.

Jake se levantou e passou pela porta logo em seguida.
Pouco depois, eu já estava na porta da escola. Subi direto para a sala de aula, já que não havia nada para se fazer fora dela. Nós nos sentávamos em duplas: Três fileiras com cadeiras bem próximas ao lado.

Estava me sentando, quando o professor entrou na sala, pôs as coisas em cima da mesa e começou a desenhar: Três fileiras com vários quadrados e nomes dentro deles. O mapeamento, só para não esquecermos. Eu me sentava no fundo ao lado de Aspen Jones, que pelo visto não havia chegado.

Me levantei e fui para as duas últimas carteiras do outro lado da sala, afinal já estava no fundo. Pus meus fones de ouvido e liguei o iPod.

Peguei lápis e o caderno na mochila, o abri e comecei a desenhar. Eram dois garotos deitados numa floresta, lado a lado. Pode parecer estranho, mas fazer este tipo de coisa me ajudava em relação à MINHA falta de amor.

Achava, hm... fofo.

Fiquei tão absorto "entrando" no cenário do desenho que só percebi que Aspen Jones havia chegado quando porque ele esbarrou em mim na hora de se sentar na cadeira.
– Desculpe. - Ele murmurou, e se debruçou na carteira. Parecia chateado, triste.
Por algum motivo, hoje, depois que ele chegou, eu o olhava de relance a todo instante. Cara, como ele era bonito! Ele usava uma blusa preta de manga comprida e com gola em V. Não tinha músculos, mas seu peito era largo, e seus olhos, por trás das lentes do óculos geek, eram castanho-claros, que pareciam meio dourados, e que combinavam com seus cabelos negros e brilhantes. Aparentavam ser macios.

Percebi tudo isso quando ele me perguntou se tínhamos que nos sentar ali todos os dias. Sua voz era meio arrastada, mas eu a achei legal. Fiquei pensando porque ele tinha aquele ar de tristeza, de insatisfação.Eu não tinha um amigo fazia muito tempo. Será que deveria tentar falar com ele?Quando pensei nisso, o sinal do fim das aulas tocou.


Eu conhecia um caminho que levava para casa, passava por uma floresta fresca, meio escura e confortável, MUITO confortável. Percebi que muitas pessoas seguiam o caminho pelo qual eu sempre ia pra casa. Mas hoje eu queria pensar, ficar sozinho. Me dirigi à floresta.
Andei mais ou menos uns 35 metros, então me sentei um pouco na grama. Ouvi um farfalhar de folhas, meio próximo. Vinha de onde eu já tinha passado, um pouco mais acima de onde eu estava. Estranhei um pouco, afinal, pouca gente entrava ali. Comecei a me levantar, e o som foi ficando mais próximo. Fiquei mais ou menos um segundo olhando para aquela direção, e quando me virei vi pelo canto do olho um cara de mochila. Me virei para olhar. Usava óculos, tinha cabelos pretos, uma blusa preta e carregava uma mochila nas costas. Era Aspen.

FIM DO CAPÍTULO 1