Capítulo 18 – Decidindo

QUANDO ACORDEI, APENAS Jamie e Brandt estavam ao lado da minha maca e tudo o que eu sentia era um vazio em minha mente. Eu precisei respirar fundo para conseguir segurar as lágrimas antes que elas escorressem pelas minhas bochechas. Foi quando eles perceberam que eu estava acordada e pararam a conversa em sussurros para correrem até a minha maca.

— Melody! - os dois exclamaram e eu coloquei a mão na cabeça para tentar me orientar um pouco.

Jamie segurou uma das minhas mãos enquanto apoiava a outra em minhas costas para me amparar enquanto eu me sentava. Brandt permaneceu do meu outro lado, acariciando meu ombro.

— Por quanto tempo fiquei apagada?

— Só algumas horas. - respondeu Jamie. - Doc acredita que você não ficaria muito tempo desacordada depois de tirar a Lua, já que você esteve no controle o tempo todo.

Eu não falei mais nada e acho que ambos perceberam quando a menção a Lua me deixou para baixo.

— Onde está o criotanque dela? - perguntei, olhando em volta.

— Não acho que seria uma boa ideia. - disse Brandt e eu vi que suas feições estavam mais sérias do que o normal. - Nós o guardamos até conseguirmos um jeito de enviar para a célula dela.

— Bem... - eu comecei, devagar. - Eu acho que eu deveria vê-la quando fizermos a inserção dela.

Tive apenas alguns segundos de silêncio.

— O quê?!

— Eu tive essa ideia a primeira vez que ela disse que queria ir embora. - comecei. - Tentei não pensar muito para ela não descobrir, mas lembrei de quando foram atrás de um corpo para a Peg e pensei que talvez podíamos conseguir um para ela também. Ela ama isso aqui e ela gosta do Brandt e eu sei que ela só disse que queria ir embora porque já estava ficando desconfortável com isso tudo.

— Ela gosta?

Engoli em seco quando ouvi a voz de Brandt e percebi que talvez eu tenha falado demais. Jamie deu uma pequena risada do meu outro lado quando olhei para meu irmão de soslaio e vi que ele tinha um leve sorriso nos lábios.

— Sim, ela gosta.

Ele ficou calado por um tempo, apenas brincando com os próprios dedos.

— Eu não tive muita oportunidade para conversar com ela com você como intermediária - ele disse e eu não consegui impedir uma risada de sair, lembrando o quão engraçado e constrangedor era -, mas eu adoraria ter uma chance de conhecê-la mais se ela for ficar.

Abri um sorriso. Isso era tudo que eu precisava ouvir.

— Vocês me ajudam a trazer minha irmã de volta então? - perguntei, esperançosa.

O sorriso dos dois foi toda a resposta que eu precisava.

Na noite anterior à data marcada para sairmos atrás de um corpo para Lua, eu estava um pouco nervosa demais para conseguir dormir - mesmo que Jamie estivesse ao meu lado. Não tivemos muito tempo a sós desde que eu acordei sozinha dentro de minha cabeça, com toda a readaptação, volta ao trabalho e saída para uma nova “incursão”. Eu voltei a dormir no nosso quarto - mais por insistência dele assim que eu acordei -, mas não pudemos aproveitar muito o nosso tempo juntos. Sempre um de nós chegava tarde e o outro já estava dormindo, cansado demais do trabalho para conseguir esperar acordado. Hoje, porém, Jeb havia nos liberado mais cedo para descansarmos antes de sair atrás de um corpo para Lua.

E mesmo que eu estivesse agora nos braços de Jamie, ambos deitados no colchão, tentando relaxar o suficiente para dormir, eu não conseguia. Jamie acariciava meus cabelos, passando os dedos entre as mechas em um ritmo calmo e contínuo, enquanto eu permanecia com a cabeça deitada em seu peito, ouvindo seus batimentos. Em qualquer outra ocasião, esse seria o cenário perfeito para que eu adormecesse. No entanto, eu estava nervosa demais para isso. Respirei fundo antes de enterrar meu rosto na curvatura de seu pescoço, esperando que isso fosse o suficiente para que eu me acalmasse um pouco.

— Em que tanto pensa, Mely? - perguntou Jamie, com a voz rouca.

Suspirei. - Em nada e em tudo ao mesmo tempo.

Ficamos mais um tempo em silêncio.

— Vai dar tudo amanhã. - ele tentou me confortar. - Tente não ficar nervosa.

— Eu sei, estou tentando ficar confiante. Mas também não é só isso que eu tenho na minha cabeça.

— E o que é?

Me ajeitei no colchão, virando um pouco meu corpo e deitando o queixo em seu peito. Percebi que ele já estava olhando para mim, com uma suavidade nos olhos azuis que fez meu coração aquecer e um sorriso se abrir em meus lábios.

— Eu estava pensando em nós dois. - admiti finalmente, vendo um sorriso se abrindo nos lábios dele também.

— Ah, estava? - ele perguntou com uma tom maroto, descendo a mão que mexia com meu cabelo para minha cintura e acariciando a pele por baixo da da blusa dele que eu usava de pijama.

— Estava. - eu ri um pouco. - Eu estava pensando no quanto eu senti falta de poder ter um momento com você, dormir no nosso quarto e apenas estar do seu lado. Eu senti sua falta.

Ele me olhou intensamente antes de me girar no colchão, me fazendo soltar um grito involuntário. Jamie então ficou sobre mim, prendendo meus quadris com as pernas e segurando meus pulsos com as mãos contra o travesseiro.

— Eu também senti sua falta, Melody. - dessa vez ele parecia mais sério, olhando diretamente em meus olhos como se quisesse transmitir tudo o que sentia sem muitas palavras. - E eu sinto muito pelo jeito que eu te tratei quando você voltou. Você não merecia.

Eu queria ser sincera com ele e dizer o quão magoada eu fiquei naquela época. Depois de ter corrido todos aqueles riscos para poder retornar para ele e ser tratada de modo frio por semanas, tendo Lua como a única companhia constante na minha vida, me consolando sempre que um confronto com ele acontecia. Eu consegui soltar uma das minhas mãos e colocar em sua bochecha, acariciando-a delicadamente. Eu queria ser sincera com ele como sempre prometemos ser e desabafar tudo aquilo, mas, quando eu olhei para aqueles olhos azuis cheios de angústia, as palavras que saíram da minha boca foram bem diferentes.

— Eu entendo, Jamie, e te perdoo. - e me surpreendi quando percebi que, ainda assim, eu estava sendo sincera. - Eu te perdoo porque você também estava magoado e não deve ter sido fácil para você também. Eu te perdoo porque eu te amo.

Lágrimas de alívio, dor e angústia caíram em minha bochecha e eu liberei a minha outra mão também para secá-las à medida que saíam de seus olhos. Jamie abaixou-se e enterrou seu rosto em meu pescoço e foi minha vez que acariciar seus cabelos para acalmá-lo. Ele colocou os braços ao lado do meu corpo no colchão para equilibrar seu peso sobre mim. Ficamos naquela posição durante algum tempo, apenas aproveitando a presença um do outro. Até que comecei a sentir leves beijos na minha pele e vários “eu te amo” sussurrados contra ela. Nem preciso dizer o quão louco ficou meu coração ouvindo isso. Segurei o rosto de Jamie com uma das mãos e o fiz olhar para mim.

— Eu também te amo, Jamie Stryder. Nada vai mudar isso.

Ele abriu um sorriso radiante antes de se inclinar e juntar nossos lábios em um beijo suave e apaixonante. Correspondi à altura, levando minhas mãos à sua nuca e cintura para puxá-lo para mais perto de mim. O que se iniciou com um beijo calmo se transformou em algo mais faminto e ambos estávamos satisfeitos com isso. Puxei alguns fios do cabelo dele e sorri quando sua reação foi gemer contra meus lábios. Em consequência, a mão dele começou a passear sobre a pele de minha cintura e cada vez mais acima e eu não consegui segurar o suspiro.

— Sabe... - ele desgrudou nossos lábios e murmurou contra meus lábios em uma voz rouca que fez minhas pernas enfraquecerem. - Eu adoro te ver nas minhas camisas, mas prefiro quando está sem elas.

Arfei e meu coração acelerou ainda mais, mas consegui me recompor o suficiente para respondê-lo.

— E o que está esperando?