Heimkehr escrita por Rocker


Capítulo 14
Capítulo 13 – Evitando




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Capítulo 13 – Evitando

QUEM QUER QUE DISSE QUE o passar do tempo ajuda a melhorar as coisas estava mentindo. A cada dia que eu passava nas cavernas parecia apenas piorar a sensação de sufoco que eu tinha. Eu evitava todos os cômodos que eu sabia que Jamie poderia estar, pois sabia que eu despencaria assim que o visse. Nem Brandt e nem Melanie ou Peg gostaram do meu novo isolamento, mas entenderam quando eu pedi ajuda para reformular minha nova rotina. Eu levantava cedo para trabalhar na cozinha e comia antes que qualquer um pudesse chegar para o café da manhã para poder fugir de lá o mais rápido que eu conseguia. Depois disso, eu passava todo o meu tempo no hospital, ajudando no que fosse preciso, o que nem sempre era muita coisa. Para ir tomar banho, eu esperava quando todos já estavam dormindo, assim como na primeira noite.

Apesar de tudo, eu estava um lixo, para dizer o mínimo.

Eu mesma já não estava aguentando ficar sozinha. Eu era extrovertida, brincalhona. Agora eu estou...

Depressiva, disse Lua em minha mente.

Fiz uma careta, pois sabia que ela estava certa.

É, suspirei, levantando da maca onde eu estava dormindo pelos últimos dias.

Não consegue ficar parada?

— Não. – respondi em voz alta, começando a ficar inquieta e irritada. – Acho que vou dar uma volta.

Não é muito bom andar sozinha por esses corredores à noite, ela comentou.

— Eu conheço essas cavernas como conheço a palma da minha mão. – respondi, colocando o calçado e me espreguiçando quando saí da maca. – Mas não se preocupe. Não vou muito longe e nem quero ficar muito tempo.

Você está bem?, ela perguntou, quase de repente.

Parei no meio do hospital e engoli em seco. Há dias que eu não era eu mesma, há dias que eu fugia de ao menos ver Jamie, pois sabia que acabaria tendo uma crise. Há dias que eu fingia que tudo iria voltar ao normal, fingia que o tempo ia curar a dor meu peito. Não que eu estivesse conseguindo convencer muita gente, mas se tinha uma pessoa que conseguia ver através de toda a atuação era Lua – afinal, ela estava dentro da minha cabeça.

Suspirei, mordendo o lábio quando senti uma lágrima escorrendo por minha bochecha. Eu não podia me permitir sentir, ao menos não agora. A dor era muito recente e se eu me permitisse sentir todas as emoções que ameaçavam me dominar, eu sabia que não conseguiria me reerguer novamente. Se eu deixasse essas emoções me dominarem, ao não conseguiria nem ao menos ficar nessas cavernas que eu um dia chamei de lar. Eu me senti um robô ali. Tudo o que eu fazia era automático, só porque eu tinha que fazer. A vontade de sobreviver, de continuar, de lutar – essa vontade eu simplesmente não tinha mais.

Não, respondi a ela mentalmente, pois não confiava na minha voz naquele instante. Não estou bem e nem sei quando vou ficar.

Eu conseguia sentir como ela estava tendo dificuldades para encontrar as palavras certas para o momento.

Não precisa se esforçar, Lua, meu tom ameno, carinhoso, pois eu apreciava sua tentativa. Não é como se alguma coisa fosse amezinhar o que eu estou sentindo, mas obrigada de qualquer maneira.

Eu quase podia sentir ela sorrindo.

Onde estamos indo?, ela perguntou quando voltei a andar.

Abri um sorriso torto. Para o único lugar onde eu posso encontrar paz.

E talvez me torturar um pouco também.

~*~

A sala de jogos parecia vazia. Não sei há quanto tempos eles não a usavam, mas eu sentia como se não estivesse ali há muito tempo – o que não era mentira. O teto baixo e o local largo me faziam ter boas lembranças. Não podia ir para o lado de fora por ser muito perigoso, mas aquele local era o mais perto do que tínhamos para atividades que costumavam ser ao ar livre. Eu sentia falta de jogar futebol. Eu sentia falta de vir aqui quando o peso de uma das poucas adolescentes humanas sobreviventes era muito para carregar. Eu sentia falta de passar meu tempo livre aqui com ele.

— Melody?

Virei-me assustada, receosa de ser Jamie. Quando vi o rosto do meu irmão, porém, relaxei um pouco.

— O que está fazendo aqui? – perguntei, retomando minha posição no chão.

— Eu poderia te perguntar a mesma coisa. – ele disse, sentando-se ao meu lado. – Pensei que não quisesse sair do hospital.

Franzi o cenho quando meu coração deu uma leve disparada com sua aproximação antes de voltar ao ritmo normal ao mesmo tempo que minha mente pareceu ter mais espaço para meus próprios pensamos. Quase como se Lua estivesse indo para a retaguarda, se fechando um pouco.

Lua?, perguntei em minha mente, procurando pelos cantos por algum sinal dela.

Eu estou aqui, ela respondeu, mas percebi seu receio. Estava a ponto de perguntar o que havia de errado quando ela se pronunciou novamente. Você não respondeu seu irmão.

— Precisava esticar as pernas um pouco. – respondi vagamente, ainda com os pensamentos no comportamento atípico de Lua.

Brandt suspirou, abraçando meus ombros e depositando um beijo em minha cabeça. Senti Lua se encolhendo ligeiramente um pouco mais.

— Não fica assim, Melody. Ele ainda vai acreditar em você.

Suspirei também, pois eu não estava tão confiante quanto ele ou quanto qualquer outro que já me falou a mesma coisa.

— Não sei se vai. – disse, praticamente me sentindo derrotada. – Já fazem dias. A raiva inicial já deveria ter passado.

— Pensou na possibilidade de que talvez ele esteja assustado?

Franzi o cenho, saindo um pouco de seu abraço para poder observar suas feições, como que tentando decifrar suas palavras.

— Não deve estar sendo fácil para ele. – Brandt respondeu, puxando-me para seus braços novamente. – Ele passou um mês inteiro pensando que você estava morta e sabendo que teria que conviver com isso o resto da vida. De repente ele vê a garota que ele amava viva, mas com uma Alma dentro dela, alegando estar no controle do corpo. Mesmo que ele acreditasse, ainda deve ser tão doloroso para ele quanto é para você.

Tentei absorver cada uma das suas palavras, colocadas em ordem na minha cabeça e arranjar um significado para elas. De algum modo, eu sabia que ele estava certo. Mas isso não diminuía em nada minha dor e confusão.

— Às vezes eu penso se não seria melhor eu ter ido embora para a célula da Lua no minuto em que percebi que não era mais tão bem-vinda aqui. – confidenciei em voz baixa, mal passando de um sussurro.

Percebi, pela expressão de Brandt, que minhas palavras de algum modo o machucaram.

— Brandt, eu não quis dizer... – comecei, mas ele logo me interrompeu.

— Eu sei o que quis dizer. – ele disse. – Mas eu acabei de ter minha irmãzinha de volta, te ver ir embora não seria fácil.

Ficamos alguns minutos em silêncio.

— Não seria fácil te ver indo embora... – ele retomou, chamando minha atenção. – Mas talvez eu pudesse ir com você.

Arregalei os olhos – por um segundo não sabia se por surpresa minha ou de Lua.

— Faria isso? – perguntei, minha voz falha pela emoção.

— Num piscar de olhos. – ele respondeu, sem hesitar.

Abracei-o forte, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam sair.

— Obrigada, mesmo.

— Por nada, maninha. – ele diz, depositando um beijo em minha testa antes de se levantar. – Mas pensa sobre o que eu te disse. Boa noite.

Assenti, observando-o enquanto saía do salão de jogos.

Eu podia não ter Jamie ao meu lado, mas eu sabia que sempre poderia contar com meu irmão.

~*~

Diferentemente da ida, na volta para o hospital eu acabei embarrando em alguém.

Jamie.

— M-Melody? – ele gaguejou ao me ver.

Tive que juntar toda a minha força de vontade para não voar em seus braços como costumava fazer antes, recordando-me que na última vez que nos vimos não estávamos exatamente nos melhores termos.

— Jamie.

Ele se encolheu ao meu tom de voz frio, um tom que eu jamais havia usado com ele. Doía fazer isso, mas eu não tinha escolha. Ficamos alguns dolorosos segundos calados, apenas olhando para os olhos um dos outros. Eu não podia me torturar mais. Encarar aqueles olhos azuis que uma vez me observou com amor não me fazia me sentir melhor. Não disse nem uma palavra a mais quando o contornei para continuar meu caminho, sentindo meu coração despencando dentro do peito.

— Espera.

Meu corpo todo congelou no lugar, mas não ousei me pronunciar.

— Podemos conversar? – ele perguntou em um sussurro que eu quase não ouvi.

— Pensei que tinha deixado claro que você já tinha dito tudo o que precisava. – não resisti e virei para analisar sua fisionomia. Ele parecia estar fisicamente ferido e, apesar de tudo, meu coração se apertou com tal visão.

— Olha... – ele começou a dizer, passando a mão pelas mechas negras do cabelo, que eu costumava entrelaçar meus dedos. Precisei de um pouco mais de esforço para me concentrar em suas palavras mais no que em minhas saudades. – Eu sei que quando foi Melanie e Peg eu fui o primeiro a acreditar. Mas não está sendo muito fácil agora.

Exatamente o que Brandt havia me dito, disse Lua em minha mente e, depois de um choque inicial, percebi que estava como antes da minha conversa com meu irmão.

— Não será fácil, mas eu posso tentar. Eu só preciso de tempo.

Pensei nas palavras dele e ele pareceu ansioso por minha resposta. Eu não tinha ideia do que falar. Era uma estrada longa a se trilhar, eu sabia disso, mas se ele estava disposto, eu também estaria. Então eu abri um sorriso para Jamie. Não como o que costumava lhe dar antes dessa bagunça toda, mas com certeza o primeiro desde que nos reencontramos. Pareceu resposta o bastante. Para ambos de nós.

 


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