01:32, Torre Stark

Pov. Amanda

Pepper jogou as compras no chão assim que pisou na sala, com a expressão vermelha tanto quanto o cabelo de Natasha. Pude sentir o olhar confuso da senhora Potts sobre mim, e aquilo me preocupou. Tudo que eu não precisava nesse momento é de uma crise de ciúmes da mulher.

– Que sangue é aquele no meu elevador, Tony? – A ruiva colocou as mãos no quadril e cerrou os olhos para o herói.

Olhei para Anthony impressionada com o modo que ela falou com ele. Corria o boato que o “Grande Homem de Ferro” era um cachorrinho com rabo entre as pernas quando a Pimenta Potts agia. Mas eu custava acreditar que ele curvava-se desse jeito.

Era rara as vezes que me enganei.

– Correção: Nosso. – Ressaltou o moreno com seu dedo erguido. – Resolvi mudar um pouco as coisas, dar uma renovada...

– Nem inventa! – Gritou com o dedo apontado. – O que andaram aprontando?

– Pela cara de vocês parece que uma nova guerra começou. – Comentou Jane Foster olhando para o resto do grupo.

Ela na verdade está muito certa.

Olhei para todos e percebi a mínima vontade de se explicar as mulheres. Então apenas restou a mim.

– Ah, Srita. Potts, Srita Foster. – Tentei avançar alguns passos até elas, mas minha perna estralou de dor.

– Eu te ajudo. – Rogers, sem ao menos me pedir, levantou-me e caminhou comigo até elas.

Não pude deixar de ficar com raiva dele. Folgado! Quem ele pensa que e para me pegar no colo dessa maneira? Cadê sua cordialidade?

Quando me soltou não tive como me conter e não demonstrar meu olhar confuso.

– Obrigada, Capitão. – Balancei a cabeça tentando tirar a vergonha e raiva da minha cabeça. As mulheres trocaram um olhar cúmplice e depois me olharam. – Sinto muito por incluí Thor e Stark nos meus problemas, sinto mais ainda por ter manchado seu elevador com meu sangue.

– Você é aquela agente que entrega as coisas da SHIELD, né? Amélia, Alicia...

– Amanda. – Corrigi Pepper. – Amanda Creane.

– O que aconteceu? - A expressão de Jane mudou de curiosa para preocupada.

– A cachinhos dourados te explica depois, – Respondeu Tony batendo no ombro de Thor – Pep, leve-a para o quarto de hóspedes.

– Eu não...

– Eu a ajudo subir. – Ofereceu-se Clint.

– Eu sei subir em um elevador, obrigada. – Minha intenção não era ser rude, mas os Vingadores estão me confundindo com uma boneca! – Não pensem que irão decidir qualquer coisa sem mim, quero saber de tudo.

Rogers assentiu, mostrando que eu podia confiar nele para me falar. Agora Stark apenas rodou os olhos e me imitou numa voz falsa e fingida.

– Vamos, Amanda – .Pepper ofereceu ser meu apoio. – Deixem que eles cuidem da terceira guerra mundial. Foi rápido subir com Pepper como companhia, ela me explicava detalhadamente como funcionava a torre, sem nunca parecer arrogante ou entediada. Agora entendo porque Stark precisa dela em sua vida.

– Se estiver com calor ou frio e só falar com Jarvis que ele arruma a temperatura. – Explicava. – Jarvis faz tudo por aqui!

Já estava na cama quando Pepper disse isso. O quarto era grande e claro, que de todos os lugares que fiquei, até do meu apartamento, foi o que eu mais gostei de estar. Tudo parecia ser escolhido por mim própria.

– Obrigada, Pepper. – Agradeci a aquela mulher simpática e receptiva. Ela sorriu e me cobriu mais um pouco.

– De todos os problemas que Tony já me trouxe você parece o mais fácil de resolver. – Pepper sorriu. – Sem ofensas!

– Não ofendeu. – Respondi, desejando que ela estivesse certa.

– Com licença. – Disse Steve batendo levemente na porta. – Amanda eu posso conversar com você.

Pepper me olhou perguntando com aqueles olhos azuis se eu permitia. Assenti como resposta, me interessou o que o Capitão tinha a dizer.

– Entre, Steve. – Mandou a ruiva terminando de arrumar meu cobertor.

Rogers abriu a porta hesitante, conferindo se não me encontraria de modo indecente eu acho. O Capitão caminhou até minha cama e ficou de pé a minha frente.

– Bem eu vou ir conversar com Tony, arrumar a bagunça. – Pepper me lançou um olhar doce e se dirigiu a porta.

– Pepper. – Chamei antes que saísse. – Obrigada por tudo e me perdoe pela bagunça.

– Querida não se preocupe com isso, você apenas me ajudou a arranjar um motivo para trocar aquele sofá. – Respondeu com o sorriso e saindo logo depois.

Um sorriso brotou em mim naturalmente. Pepper era uma boa mulher, entendo porque o Stark a tem por perto.

– Sim, Capitão? – Perguntei ao homem depois que nos encontramos sozinhos.

– Gostaria de ver com meus próprios olhos que está bem. – Disse demonstrando preocupação em seus olhos azuis.

– Sim, Capitão, estou bem. – Usei meu sorriso que sempre usei com ele, um sorriso educado. Mas mesmo assim aqueles olhos azuis não se quietaram depois do que eu disse. – Algum problema?

Steve sentou na beira da cama, com as costas curvada de tanta preocupação. Ele estava sendo perturbado.

– Amanda, preciso lhe contar uma coisa.

Voz apreensiva, oscilante... Deveria ser uma notícia má. Inclinei mais um pouco para frente, ansiosa, ignorando a queimação dos meus pontos.

– O homem que atacou Fury e você está noite...

– O Soldado Invernal. - Lembrei com raiva.

– Isso... Antes que eu caísse no mar, antes de seu nascimento, houve um verdadeiro herói na segunda guerra mundial, um soldado. Seu nome era Bucky Banners, ele foi meu melhor amigo. Em uma missão ele caiu do trem e eu não pude salva-lo, pensei que estivesse morto. – Rogers tinha dor em sua voz, dor que me compadeci. Perder um melhor amigo assim deve ser trágico. – Ele era um bom amigo, bom homem. Estou te contando isso porque não desejo que o julgue por suas decisões de hoje, ou por ser quem é. Acredite, o Bucky que eu conhecia nunca faria tal coisas.

– Seu melhor amigo é o soldado invernal. – Comentei entendendo suas palavras.

– Sei que pensa nele como o homem que levou seu padrinho, deve vê-lo como o vilão. Mas, Amanda, sei que no fundo ele ainda é o Bucky. Ele ainda é o homem que morreria por seu país.

Steve inclinou-se para poder ver se suas palavras conseguiram me amolecer.

– Capitão... – Comecei olhando no fundo dos seus olhos. – Eu desejo muito que seu amigo ainda esteja vivo dentro dele. Mas ele não vera isso agora. Ele não precisa aceitar que é outra pessoa, é você que precisa. Entendo seu lado, porém você deve entender: Bucky não é o mesmo agora, O Soldado Invernal é, e querendo ou não ele é o inimigo.

O semblante do Rogers entristeceu-se, me causando uma sensação de culpa. Não deveria ter sido tão negativa, mas não conseguiria ser menos sincera. Honestamente não posso idealizar uma redenção a uma pessoa que mata a sangue frio, a pessoa que levou aquele que eu mais amo. O único que eu amo.

Steve Rogers e seu otimismo me lembrou alguém que eu também já amei e se converteu a ser meu inimigo, alguém que me traiu profundamente. Virei para o outro lado e tentei desviar de tal pensamento, não quero pensar e nem abrir feridas que não se cicatrizam.

Olhei a lua através da parede de vidro, uma bela e cheia lua. Aquilo me deu uma nostalgia que feriu meu coração como um dardo envenenado. Me fez voltar, no que parece agora, uma outra vida.

Flashback

Seus braços estavam em torno de mim enquanto depositava selinhos em minha nuca. Uma lua grande e cheia nos iluminava, deixando tudo mais perfeito.

– Quero que esse momento seja eterno. – Pedi fechando os olhos.

– Eu só quero estar sempre com você, não importa qual seja o momento. – Ele parou de me beijar e me olhou com seus olhos castanhos. – Eu te amo, Amanda Creane.

– Eu te amo também...

Me levantei com um solavanco e os pontos quase rasgaram. Aquela dor física foi o suficiente para parar de deixar minhas memórias vagar em minha mente. Essas memórias eu quero esquecer. Coloquei as mãos no ferimento e me lembrei de algo que eu aprendi: gelo sempre ajuda.

Fui até a cozinha, apoiando-se na parede para chegar lá, abri a geladeira já pegando um cubo de gelo, não contendo arfar com a sensação de alivio. Como eu estava ali e não iria dormir tão cedo resolvi comer um pouco de cereal para me trazer o sono de volta.

– Acho que a S.H.I.E.L.D também proíbem o sono de seus agentes. – Stark adentrou na cozinha vestido apenas de hobbie, seus cabelos desgrenhados e coçando os olhos.

– Eu gosto de acordar cedo mesmo. – Comentei fingindo não estar surpresa por sua aparição.

– Junto com as galinhas. – Tony bocejou.

Stark pegou uma tigela no armário e colocou em cima da bancada de granizo. Sem solicitação tomou a caixa de leite da minha mão e pegou o cereal também.

– Seu pai não te deu educação? – Perguntei colocando a colher de cereal na minha boca, sem deixar de notar na leve coincidência de gostarmos do mesmo cereal.

– Ele estava ocupado demais cuidando de sua agência de mentirosos. – Respondeu abrindo a boca o máximo que podia e colocando a comida dentro. – E o seu? Não te ensinou a ser educada quando e apenas uma visita?

Mordi os lábios enquanto fingia demonstrar que aquilo não me afetou. Stark joga baixo.

Ele se sentou na minha frente e começou a devorar o cereal sem se preocupar em sujar seu rosto.

– Eu não vou morar aqui se e o que está pensando. – Comentei, a discussão sobre a minha localização não tinha sido esclarecida. – Amanhã eu...

– Hoje. – Corrigiu levantando a colher.

– Hoje eu irei pedir a Hill que me envie a uma base secreta. – Respondi mordendo os lábios – Mas obrigada pela hospitalidade.

– Uau, sabe agradecer. – Outra colher foi em sua boca.

Ficamos algum tempo comendo em silêncio, nenhum dos dois sentindo a menor vontade de começar um assunto. Que assunto poderíamos ter em comum? Eu não sou uma modelo, nem uma gênia da tecnologia... Somos tão diferentes como fogo e água.

– Boa noite, senhor Stark. – Tentei sair da cadeira e meu pé acabou prendendo, o que me fez ir de cara no chão.

Anthony logo me ajudou a levantar, e assim como os outros me carregou no colo até o sofá. Nem precisei exclamar minha irritação, pois a irritação era comigo mesma não com ele. Eu odeio ter uma imagem de fraca! Da mocinha que precisa ser salva! Lutei tanto para me aperfeiçoar, trabalhei duro para aprender tudo e agora não posso agir porque eu ainda sou vulnerável. Eu ainda sou humana.

– Você costuma cair assim normalmente ou irá culpar sua falta de coordenação ao seu estado físico? – Perguntou chegando se os pontos não abriram.

Automaticamente um tapa voou na sua mão, e logo abaixei minha camiseta. As intenções de Stark tinha sido nobre mas isso não deixou menos indecente.

– Não gosta que um homem a toque? – Ele segurou a mão que eu bati, pelo jeito estava vermelha. Pelo menos eu ainda tinha força para dar um tapa.

– Não quando ele é você. – Respondi ríspida.

Stark calou-se de repente e começou a analisar minha perna, com um certo brilho nos olhos.

– Acho que tenho uma solução provisória.

Ele saiu em passos largos e me deixou sozinha a sua espera. Quando voltou segurava um pequeno malote em suas mãos.

– Como isso pode...

Antes que eu terminasse ele colocou aquele malote em meu pé e como mágica começou a desmontar em minha perna, formando um gesso de ferro.

– Deve se considerar com sorte porque o governo americano mataria para ter apenas isso da minha armadura. – Explicou batendo na bota e sorrindo orgulhoso.

– Ainda dizem que você é o pior vingador. – Deixei escapar passando a mão pela minha perna de ferro.

– O que? Quem disse isso?! – Perguntou ofendido.

– Natasha. – Delatei. – Disse que você é o pior vingador para se trabalhar.

– Isso é amor ressentido, vai por mim. – Ele pegou algo do seu bolso, uma chave de fenda, e começou a fazer alguns ajustes na perna mecânica. – Precisa ficar justo, senão acaba ficando desconfortável.

Olhei para o homem e sorri agradecida. Fui à casa de Stark porque sabia que ele me ajudaria, mais do que qualquer agente da S.H.I.E.L.D. Naquele momento ele não se preocupava com a agente 18, mas sim com a Amanda Creane, isso diferenciava muito na escolha de quem eu chamaria em um resgate. Já vi a S.H.I.E.L.D nem se importar com pessoas que morreram por ela. Amo meu trabalho, mas não confio naqueles que o compõe.

– Aff, você está me lembrando alguém. – Disse voltando ao trabalho.

– Quem eu te lembro? – Minha curiosidade atiçou.

– Uma mulher do passado, mais uma da minha lista. – Seus olhos ainda estavam concentrando na perna e respondeu com pouco caso.

Porém eu vi seus olhos, quem quer que seja não foi mais uma. Foi especial. Quando alguém marca você, com uma ferida no coração, fica difícil esconder a mágoa, o ferimento. Ficamos expostos e por isso que todos percebem.

Quem quer que seja a mulher que estou lembrando a Stark, deve ter sido tão doloroso quanto alguém já foi pra mim.

E honestamente não sou eu a pessoa que abrirá seus ferimentos.

– Às vezes o melhor é deixar o passado no lugar que ele pertence.

4:49, Torre Stark

Pov. Autora

Depois que fez a ultima ação filantrópica da noite ajudando a agente certinha da S.H.I.E.L.D, Tony Stark ainda não conseguia dormir. Dês da primeira vez que viu Amanda não teve como não assemelha-la a seu amor do passado, a sua paixão de adolescente. As duas eram incrivelmente parecidas, mas felizmente era apenas aparentemente. Enquanto a mulher de seu passado não media esforços para fazer todos a sua volta feliz Amanda parece não se importar com mais nada que não seja sua postura e seu padrinho. Esse era o único agradecimento de Tony ao ver Amanda: que nada que viesse dela podia ser comparado a ela.

Stark apertou os olhos, cansado sem estar com sono. Aquela noite trouxe a tona mais confusão, agora o grupo estava decidido de vez ir atrás da HIDRA, só que nenhum deles pensou: Como vão achar uma agencia que esteve infiltrada na maior agencia secreta de todas? Claro que eles deixariam aquilo para Anthony cuidar, como sempre, ele era o cabeça do grupo mesmo quando não quer ser.

Uma hora ou outra ele sabia que teria que lidar com o problema da HIDRA, só não esperava que eles agissem tão recentemente. Agora que ele pensava em oficializar as coisas com a Pepper, casar, ter filhos... Um homem precisava pensar nessas coisas, até Tony Stark.

Quem mandou você ser o melhor herói de todos? perguntou-se. A pasta que Amanda lhe entregou estava na mesa, como um meio de distração ele a pegou. É só isso que você ganha; problemas, problemas e mais uma pitada de problemas...

Tony remexia na pasta que Fury havia lhe entregado, cheia de anotações de seu pai e os demais que criaram as armas da S.H.I.E.L.D. Já exausto, Stark deixou a pasta cair de sua mão fazendo um papel voar até o centro da cozinha.

Ele levantou-se e recolheu o papel com insegurança. A letra era de Fury e no papel dizia:

Stark,

Vou direto ao ponto: Amanda corre risco. Ao longo dos nossos encontros sempre reclama de que meus segredos são completamente ocultos, como costuma dizer: meus segredos tem segredos. Mas agora estou contando o mais secreto deles, porque preciso que cuide dela por mim. Confio em você para isso.

Amanda nem sempre foi minha afilhada, nem sempre foi a boa garota que pude educar como se fosse minha filha. Ela tem um passado que é perigoso até para si mesmo.

Cometi muitos erros ao longo da vida Stark, um deles foi tê-la deixado viver. Mas o que está feito, está feito, posso arcar com isso.

Mas ela ainda é uma garota, pronta para se tornar uma mulher poderosa. Algumas coisas acontecerão brevemente a mim, pode ser daqui há anos ou enquanto escrevo, e não penso em mais nada a não ser em sua segurança. Ela e a única de fato que precisa de mim.

Não confio em você porque quero que seja um pai ou lhe coloque seu nome, não polua minha afilhada. Porém de todos os Vingadores creio que seja o único com recurso para protege-la, camufla-la e tentar apagar o nome Creane de sua cabeça.

Transforme-a em outra pessoa. Deixe-a viver como outra pessoa. E o único jeito que posso deixa-la sobreviver.

Sei que cuidará disso. Afinal não é uma tarefa tão complexa para o incrível Homem de Ferro.

PS: Aconteça o que acontecer, não a deixe ir me resgatar.

Nicholas Fury.