Beyond two Souls escrita por Arizona


Capítulo 42
Festim


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é dedicado a Vicky Stlitfoor



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A explosão tirou um pouco do meu entendimento. Era como se eu tivesse caído do limbo, esquecendo momentaneamente do que estava fazendo ali. Vejo a fumaça e o fogo misturados ao sangue do meu comandante. Vejo ele sentindo a dor de ter seus membros arrancados se contorcer em agonia.

Aguem grita meu nome.

Mas a voz está tão longe que mais parece um ruído.

Um estante depois, minhas costas recebem todo o impacto da queda. Minhas mãos prendem-se por instinto ao pequenino relevo que é a criança em meu ventre. Os olhos azuis do pai da minha filha estão em tons de tristeza enquanto suas grosseiras mãos me sufocam outra vez.

É impossível lutar contra a fúria mesmo eu sendo a tempestade. No entanto, tenho sorte quando o tiram de cima de mim. Levo alguns segundos para retornar a realidade. A adrenalina sobe pelo corpo fazendo meus dedos tremerem. Procuro o arco com a urgência de me manter segura, apesar das chamas esquentado a pele.

— Everdeen! – Homes me chama – Venha até aqui. Me ajude a carrega-lo.

Corro até ele que está agachado ao lado de Boggs segurando-o pelo colete. Também o pego pelo colete pondo em prática o treinamento de resgate. Homes e eu seguimos os outros que vão a nossa frente arrastando o capitão quase morto conosco.

A fumaça negra se alastra rapidamente fazendo meus olhos arderem, assim como minha garganta que peleja em rejeitar a vontade de vomitar. Ouço gritos dos meus companheiros, mas não posso olhar para trás, muito menos salva-los.

Entramos em um prédio subindo as escadas até mais de um andar. Jackson dar as ordens apressando a subida. Dentro um dos apartamentos, deitamos Boggs no meio do corredor, Homes já vai abrindo sua mochila para retirar o kit de primeiros socorros. Embora o rosto pálido de Boggs seja desanimador, Homes insiste em suturar as pernas amputadas.

A pele dilacerada causa-me torturas acompanhadas pelo enjoo incessante na traqueia. Assusto quando Boggs aperta minha mão atraindo meus ouvidos para perto dos seus lábios. Ele transfere o comando do Holo, pondo a mim na liderança do esquadrão.

Não confie neles. Não recue. Mate Peeta. Faça o que você veio fazer.

São suas últimas palavras.

Quando o olho novamente, Boggs já não respira mais. Afasto-me do seu corpo sentando no chão escorando na parede. Afundo o rosto nas mãos, puxando para os cabelos. Tenho a sensação estar fora de orbita. Cressida e Messala cuidavam de fechar os espaços das portas, impedindo a fumaça tóxica de entrar. Gale vomitava por ter inalado tanta substancia química. Finnick recupera o fôlego apoiado nos joelhos. Leeg 1 chorava no canto, só então percebo que sua irmã não estava. Os gêmeos enfiavam Peeta a força dentro do armário, que brigava para vencê-los.

Seu rosto está ferido, bem como todo o seu lado esquerdo. O tecido das roupas queimaram em respingos machucando a pele baixo. Ele está furioso, parece ter um demônio dentro dele, demônio que a Capital criou.

Peeta tentou me matar mais uma vez. E mais uma vez eu quis estar morta pelas mãos dele. Toda via, não seria apena a minha vida findada, também a da nossa filha. Peeta se mataria por isso, mas talvez ele tivesse a sorte de enlouquecer antes.

A capitã Jackson anda de lado para o outro de forma agitada. Está com o comunicador na mão chamando pelas irmãs Salt que deveriam ser nosso apoio aéreo. O comunicador não emite outro som que não seja ruído. Sei que isso significa que perdemos o contato com a base, consequentemente estamos perdidos.

Jackson olha Boggs morto aos meus pés, fitando-me em seguida. Seus olhos vão parar no Holo deixado sobre o tórax do capitão. Ela dar passos largos se aproximando, forçando-me a levantar apanhando o Holo como reação de defesa. Homes também se levanta ficando perde mim.

 Ele parece ter tido o mesmo pressentimento que eu.

— Me dar. – ela fala com firmeza esticando a mão – Está surda Everdeen? Me dar o Holo!

— Não, é meu. – rebato com o mesmo tom de voz.

— Como é? Me dar o Holo menina.

— Boggs deu ele para mim. – afirmo – Ele me pôs na liderança do esquadrão.

— Chega! Não temos tempo a perder.

Ela estava prestes a arrancar o Holo a força das minhas mãos quando Homes se põe entre nós duas. Ele confirma a verdade sobre o Holo para o desgosto de Jackson, mesmos vermelha de raiva, ela assente sem dizer mais nada. Sendo a segundo no comando, Jackson ficou extremamente decepcionada.

Boggs me deu ordens antes de morrer. Confiar não é algo que eu costumo fazer, muito menos no que diz em relação a Coin. Sou incapaz de matar Peeta. O que vim fazer aqui foi uma estratégia de marketing, não éramos para irmos tão longe na cidade. O que Boggs pretendia afinal? Qual foi o objetivo de nos trazer até aqui? Se é que existia um objetivo.

Não sei.

Só sei que agora estamos sem o apoio dos outros pelotões, encurralados de certa forma embora ainda tenhamos o Holo com mapa. Boggs queria de eu tomasse a frente do 451, mais uma vez me tornei líder de algo que não queria, e não tenho escolhas.

Conto as baixas da equipe, além de Boggs, perdemos Mitchell e Leeg 2. Mando Homes vigiar o lado de fora. Jackson continuar tentado contato com a base. Aos que tivessem feridos, mandei que ajudassem uns aos outros a fazerem curativos. Chamo Cressida e Messalla para me ajudarem com o mapa, afinal, eles conheciam a Capital melhor que eu.

Não poderíamos demorar muito tempo onde estávamos. Quando o período do casulo terminasse, viriam verificar o perímetro, e não me surpreenderia em nada se tiverem nos visto. Messala mostra-me que podemos escapar por um beco até chegarmos a outro prédio do outro lado a rua. Não dar para garantir que não seriamos vistos, mas é a única chance que temos.

Esperamos por mais de uma hora até podermos sair. Ordenei que deixassem tudo o que não fosse necessário, isso incluía as câmeras. Assim que Peeta foi tirado do armário, Jackson o algemou para sua própria segurança. Ninguém além de mim hesitaria em meter um tiro no meio da sua testa se ele perdesse o controle de novo.

Mas para o meu alivio, Finnick assegura ser seu responsável.

A substancia do casulo se solidificou formando um piso negro e brilhante. Leeg vai a frente verificando se ainda há armadilhas a disparar, ela não parece tão mais forte sem a irmã. Fugimos pela porta dos fundos, o beco é estreito, ajuda a esconder nossa passagem. Rapidamente estamos no prédio da frente.

Invadimos um apartamento sem problema de estourar o alarme. Tal como os outros prédios da região, este também foi abandonado às pressas, além do fornecimento de energia cortado. Ainda haviam deixado alguns enlatados no armário, o que foi bom para nós que não tínhamos suprimentos. Poucos minutos depois, Jackson avisa que há Pacificadores onda estávamos. Como eu imaginei, eles sabiam que éramos nós quem havíamos detonado o casulo, mas pelo visto, não sabiam que conseguimos fugir.

Os Pacificadores atiram bombas contra o prédio implodindo-o em segundos. Automaticamente, a tv da sala é ligada transmitindo pelas câmeras a cena que víamos a estantes pela janela. A tela se divide mostrando o presidente Snow a esquerda. Ele afirma para o povo de Panem que eu estou morta, se referindo a mim como O Tordo.

Mesmo que tudo tenha ocorrido a menos de u minuto, Snow mente dizendo que os corpos haviam sido todos encontrados nos entulhos. As fotos de Peeta, Finnick e Gale aparecem suscetivelmente entre os mortos.

Panem perdera quatro grandes Vitoriosos.

Em pouco tempo, soldados da Capital se retiram passando direto por nós. Já está escuro e ainda preciso decidir o que fazer, ficar aqui e esperar não é uma opção. Cada um faz a refeição que prefere com os enlatados. Preciso pensar na bebê ao me alimentar, então escolho comer feijão com carne seca.

Depois de tudo o que passamos, ela permanece forte. Tinha a certeza disso por ainda senti mexendo-se dentro de mim, disposta a nascer a qualquer custo. Eu também não abro mão disso por ela.

Peeta está sentado nos degraus da escada mastigando sua comida devagar. Ele está tão triste, com os olhos tão vazios, os olhos que eu me acostumei ver sorrir. O rosto machucado me preocupa, porém ainda não tenho certeza se posso me aproximar.

Acho prudente que todos descansassem ali mesmo. O perigo havia passado, não tinha motivos para temer, além do mais, eu precisava pensar para aonde iríamos no dia seguinte. No meio da madrugada, Finnick me acorda para passar a vigia, assim que tomo seu lugar ele se jogar onde eu estava para dormir.

Todos estão exaustos e estressados, isso é refletido na forma como o corpo de cada um de nós fica sobrecarregado. Vou para perto da janela observando a rua deserta em ruínas. Está começando a nevar, o frio faz dedos doerem, se bem que eu já saiba como é.

— Desculpe.

O sussurro parece ecoar em meio ao silencio. Viro a cabeça rapidamente encontrando o dono na voz algemado ao corrimão da escada. Peeta está desconfortavelmente preso as escadas onde estava sentado horas antes. Vê-lo de tal maneira como se fosse o pior criminoso do mundo me parte o coração.  

Ele não merece isso.

Pega minha mochila perto do sofá, e sento-me ao lado dele. Tiro a garrafa de água lhe oferecendo para que beba. Peeta não olha para mim enquanto bebe já que sou eu quem tenho que segurar a garrafa para ele. Murmura um obrigado quando termina, me deixando limpar logo em seguida os pequenos cortes em seu rosto.

— Foram só estilhaços. – sussurra mais uma sem me olhar.

— Eu cuido mesmo assim.

Assepsio os machucados na testa, têmpora, e bochecha. Desço para a linha lateral do pescoço até o ombro, chegando ao braço. Depois a cintura e o quadril, coxa, e uma parte da panturrilha, tudo do lado esquerdo. É impressionante a extenso que os estilhaços atingiram seu corpo. Seu tornozelo ficou machucado mais gravemente com um corte que ainda sangrava através da bota. Foi o único que precisei fazer curativo.

— Ainda está cuidando de mim. – não é uma pergunta.

— Sempre. – sorrio casto sentando-me ao seu lado – Você está desconfortável assim. Quer que eu o tire?

— Não! Prefiro continuar como estou.

Ele continua a olhar para baixo ao falar comigo. Toco o seu queixo fazendo-o finalmente olhar para mim. Peeta carrega tanto desespero quanto eu. Há tanta agonia e suplica no seu semblante que transbordam. Encosto nossas bocas carente em ter seus lábios que tanto já me confortam. Brigo com as malditas lágrimas nos meus olhos, pedindo para que não caírem, mas elas caem.

Só nos separo quando um soluço abafado escapa da garganta dele que também chora. Passo a mão em seu rosto enxugando a pele molhada, desejando arrancar toda aquela tristeza do seu peito.

— Eu não queria ter feito aquilo... – se lamenta jogando o rosto contra meu pescoço para esconder-se – Me desculpe.

— Não foi culpa sua. – digo calmamente abraçando-o – Não é culpa de nem um de nós.

Permanecemos juntos por horas, quietos, afogando a saudade que sentimos um do outro, até o sol atingir as grossas nuvens acinzentas. Penso ser mais seguro sairmos antes de estar totalmente claro, por tanto decido acordar a todos. Dou um beijo em Peeta antes de ir levantar o pessoal.

Com todos já de pé organizamos uma estratégia de saída. O melhor seria tentar voltar para o acampamento, mas aí teríamos que dar uma volito maior que levaria dias. E de certo, perdemos o coto com as bases de apoio, todos acham que nosso esquadrão está morto, o que significa que o exército rebelde antecipará o ataca por causa da nossa morte. A população inteira da Capital estava sendo concentrada no centro, em direção a Mansão Presidencial. É para onde poderíamos ir.  

Estávamos perdidos até Pollux se tornar a luz.

Ele havia trabalhado nos encanamentos por anos desde que se tornou um Avox. Conhecia as estruturas e para onde levavam. Poderia nos guiar facilmente por ali.

O subterrâneo é o único lugar que não nos deixaria expostos para atravessar a cidade. Um bom plano. Apanhamos o quanto de enlatados que cabiam em nossas mochilas, e descemos pelo esgoto. Os tuneis estão totalmente escuros, o concreto está seco como se a dias não tivesse água. Caminhamos um dia inteiro no breu sem descanso, o Holo não tem o mapeamento da parte subterrânea se tornando uma coisa inútil. Ficamos a merecer da memória de Pollux, que vez ou outra para pensativo sobre a direção por onde íamos.

Fazemos uma parada para recuperar as energias com uma refeição. Usamos uma sala de comando hidráulico para não ficarmos alentos nos tuneis, aproveitando o máximo possível a parada para relaxar. Voltamos a andar ansiando o momento de cair fora dali. Por sorte, com menos e uma hora de caminhada Pollux avisa a Castor que estamos perto da saída.

Uma das comportas do túnel estava fechada pela metade, por isso precisamos nos arrastar até o outro lado. Jackson era a última quando tudo aconteceu.

Bestantes.

Feras pálidas e cegas, com a boca cheia de dentes.

O festim dança ao redor. Minhas flechas atravessam as peles brancas dos mutantes com a mais egoísta vontade de sobreviver. Vejo as luzes vermelhas dos tiros passando perto de mim, igual ao vermelho dos gritos que se espalha no ar.

— Katniss!

Cressida me puxou pelo braço me fazendo subir as escadas para a saída. Finnick e Peeta – que teve a algema arrebentada – lutam incessantemente contra os bestantes. Gale aparece logo atrás de mim apertando minha subida. Cressida me ajuda a passar pela abertura, ajudando Gale em seguida.

Jogo-me para baixo para atirar nas criaturas. Finnick e Peeta ainda estão muito longe da saída, eles morreram se eu não ajudar. Disparo as flechas seguidamente gritando para eles virem para a escada, mas parecia que quanto mais estavam perto, mais bestantes os rodeavam.

— Ative o Holo – Gale advertiu-me puxando o aparelho do meu braço.

Sabemos que o Holo se alto destrói com o comando, tornando-se uma bomba, mas ainda não podia fazer aquilo.

— Eles ainda estão lá. – a ideia é absurda – Não posso jogar com eles lá.

— Eles já estão mortos. – ele sentenciou – Jogue logo!

Ignorei tamanha loucura que saia de sua boca, voltando a acertar os bestantes. Peeta já estava prestes a subir quando meu estojo acabou.

— Depressa! – pedi.

Pedi a arma de Pullox para continuar dando cobertura, mas Peeta já passava para fora. Ele virou-se para ajudar Finnick, porém, antes que conseguisse sair, um dos bestantes o puxa para baixo. Peeta passa a lutar para puxar Finnick de volta. Junto-me a ele segurando pelo camisa. Cressida que está ao lado, vem nos ajudar puxando-o também pela camisa.

Finnick grita de dor enquanto o bestante morde suas pernas. Ajo mais rápido pegando a arma novamente e o Holo. Aproveito o cano cumprido da arma, conseguindo chegar próximo a cabeça do bestante onde atiro. A criatura cai soltando Finnick que é puxado para cima. Digo o comando de alto destruição do Holo, jogando-o na multidão de bestas sob mim.

Fecho a tampa ferro antes que exploda.

Ao virar-me, vejo que Finnick está deitado no colo de Peeta, suas pernas foram muito feridas com mordidas enormes. Ajoelho ao lado deles no exato momento em que Finnick começa a sangrar pelo nariz.

— Não, não, não! – Peeta clamava desesperado – Ei amigão, não faz isso com a gente. Aquenta firme.

Peeta chora vendo Finnick agonizar em seus braços. Pego-me chorando da mesma forma enquanto seguro sua mão como se isso pudesse faze-lo se sentir melhor.

— Pee... A Anne... – Finnick tenta dizer mas não tem fôlego o suficiente.

— Não amigão, ela precisa de você!

Finnick pensava na única pessoa que ele amou antes que seus olhos perdessem a luz.

Vi o calor deixar seu corpo, e a cor abandonar seu espírito. Vi ele chorar e sonhar com o que já não podia mais.

Finnick Odair está morto.














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Notas finais do capítulo

Primeiro, muito obrigada pela paciência de vocês!

Como eu havia dito, passei por problemas pessoais, isso me desgastou muito, eu não conseguia escrever, era como se houvesse um bloqueio dentro de mim e isso não saia. Mas isso enfim passou.

Obrigada a todas vocês me deram apoio mandando mensagens e nos comentários. Me perdoem por não responder, nem para isso eu tinha vontade. Desculpe.

Outra coisa é que eu estou fazendo - ainda - a correção dos capítulos anteriores. Se vocês perceberam que há capítulos a menos, foi porque eu "fiz um plástica na fic", contudo, isso não alterou a essência da história, acho até que ficou melhor. Fiz essa escolha porque acho que isso deixou a fic mais objetiva, sem cap. maçantes. Vi que tinha muita coisa desnecessária ali, e hoje que eu escrevo melhor do que a um ano e meio atrás, posso ver isso. Se ainda conter erros, por favor me perdoem, estou em tempo de partir o teclado do pc em dois de tanta raiva que ele tá me fazendo.

Obrigada a Vicky Stlitfoor por ter feito a Sétima Maravilha das Recomendações de Beyond Two Souls. Obrigada mesmo Vicky, o capitulo é dedicadíssimo a você.

Bom, acho que é isso.

Comentem, deem sugestões, qualquer coisa mas falem comigo.

Estarei presente a partir de agora, não se preocupem.

Beijos ♥



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