Beyond two Souls escrita por Arizona


Capítulo 38
Um terror tão velho quanto a prórpia vida




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/561095/chapter/38

Um silencio estranho permanece entre nós. Os Vitoriosos se entreolham sem saberem exatamente o que responder. Tento conciliar a forçar das palavras ditas pela presidente Coin, tal pergunta é quase uma utopia, beira a inocência eu diria. É mais do que óbvio que queiramos ir à Guerra.

O silencio é rompido por Johanna, ou melhor, sua gargalhada que preenche completamente a sala. Nunca achei que Johanna fosse exatamente uma pessoa emocionalmente controlada, mas uma coisa que admiro nela é a sua tão fatal ironia de enfrentar as coisas, ironia essa que eu nunca tive, e certamente nunca vou ter.

Na Capital, a cela onde ela ficava era vizinha a de Peeta, por isso ela sempre diz que os dois se conheciam tão bem, porque estavam acostumados aos gritos de dor um do outro. Assim como ele e Annie, Johanna chegou aqui muito machucada e abaixo do peso, os cabelos haviam sido raspados só para agravar sua tortura psicológica.

Ultimamente ela anda mais sociável, apesar de algumas vezes ter que ser arrastada para o banheiro por Effie. Haymitch me falou que ela era torturado com água, ou seja, incitavam afoga-la para que dissesse o que sabia, isso fez Johanna criar uma barreira e passar a detestar banhos. Ela prefere ficar com as unhas pretas de sujeira, e fedendo a urina que se molhar.

– Padam...padam...padam..., Il arrive en courant derrière moi! – Johanna cantarola o trecho de uma música de forma irônica em um idioma que não reconheço – Que droga de pergunta é essa? Não acho que não temos o direito de fazer parte disso, excelentíssima presidente?

– Bom, eu esperava isso de vocês, mas conversando com alguns conselheiros, ficou claro que alguns de vocês... – a presidente faz uma pausa coçando o queixo, como se procurado as palavras certas a dizer, e então prosseguiu – não têm condições de segurarem uma arma, muito menos de ir para uma campo de batalha.

– É claro que não! – Johanna se exalta – Não nos deram a menor chance de entender o que está se passando lá em cima.

– O que querem que eu faz?

Novamente a pergunta de Coin cala todos nós. Não consigo compreender onde ela quer chegar com isso. Se já sabia que alguns não tinham condições que ir a guerra, por que essa reunião inútil? Meu sangue ferve só pensar na tamanha chateação que essa mulher está causando.

Mas que porra!

– Johanna tem razão, nunca ninguém nos instruiu a nada. – me esforço para falar com firmeza cada palavra – Gale mesmo, se tornou um soldado desde o momento em que pôs os pés aqui. Ele ganhou os Jogos com a maioria nesta sala, o que o faz tão diferente assim do restante de nós?

Era verdade, nos poucos dias que estava no 13, Gale já usava um corte militar e uniformes destinadas a soldados. Ele mesmo – nas pouca vezes que conversamos de verdade – me disse que estava sendo treinada com outros militares. Até nas raras vezes que saímos do Distrito, ele tinha autorização para portar uma arma de fogo.

– Acontece senhorita Everdeen, – Coin apoia os cotovelos na mesa se inclinado mais a mim – que o senhor Hawthorne sempre manifestou interesse nas questões que envolve essa Revolução.

– E eu não?! Pelo que me lembro, ainda sou eu o Tordo que inspirou os rebeldes.

Minha voz sai um pouco mais aguda do que eu esperava. Essa droga de reunião de merda fez meus nervos ficarem a flor da pele. Não acredito nisso. Esse bando de desgraçados podiam ter me resgatado antes dos Massacre Quaternário, podiam ter evitado as mortes dos outros Vitoriosas e teriam mais aliado contra a Capital.

Mas não, claro que não.

– Na verdade, Katniss... – Plutarch diz num suspiro alisando os cabelos – Achamos que você pode se considerar dispensada da função como o Tordo.

– Ah é? – indago irônica me recostando na cadeira com os olho estreitados – Me explica isso melhor.

– O que queremos dizer é que seu dever era unir os Distritos. – Coin parece cansada ao dizer – O Tordo surgiu para isso, e você conseguiu. Não existe motivo algum para continuar.

– Mas temos um acordo. – me levanto da cadeira batendo as mãos com força na mesa de vidro – “Eu mato Snow”, e sem chance que eu renuncio isso!

– Oh, Katniss! – a voz de Effie soa com calmaria em meio a tempestade, olho para ela que parece apreensiva comigo – Querida, não acho que a presidente tem razão? Afinal, você não está nas mesma condições que os outros.

Até você Effie?

– Acho que quem tem que decidir isso sou eu. – digo ainda bravia – Você fez uma pergunta senhora presidente. E eu digo sim, eu vou a Guerra.

– Se a Katniss vai, eu também vou! – Johanna garante também ficando de pé.

Coin solta um risinho pelo nariz jogando as mãos para o alto. Ela nos olha balançando a cabeça em negativo, mordendo o lábio como se quisesse dizer algo, mas que se arrependeria depois, então preferiu ficar calada. Talvez seja isso mesmo, talvez sejamos uma piada para ela.

– Isso é uma piada? – Gele se pronuncia pela primeira vez desde começamos a reunião – Johanna é uma doente, e Katniss... se quer matar esse pivete é só exagerar na doce de morfináceo, não precisa ir a Guerra para isso.

Miserável!

Minha vontade é de pular em cima dele e esbofeteá-lo de tanta raiva que estou. Ele acha mesmo que quero matar meu próprio filho? Acho que tenho essa capacidade nojenta? Por instinto, abraço minha barriga com as mãos, inconscientemente pensando que assim protegeria quem está aqui dentro.

Não reconheço meu amigo, o que cresceu junto comigo na campina, o que sofreu comigo para salvar nossas famílias da fome. Este Gale cheio de raiva e ressentimentos é completamente estranho para mim.

Meu olhos queimam. Não só pela fúria que há neles, mas também as lágrimas que se formaram de repente. No entanto com a mesma velocidade que surgiram, elas foram embora. Eu não vou chorar na frente de nem um deles.

– Por favor, me deem um minuto com a docinho? – Haymitch pede já me puxando para fora da sala.

Não fico nem um pouco contente com isso. Além de quebrar minha presença física, ele não me deixa enfrentar Gale, e sei que ele vai me passar um bronca daquelas para querer me trazer para longe de ouvidos curiosos.

Já do lado de fora, Haymitch larga me braço e começa a caminhar de uma lado para o outro. Ele aperta dos trapézios para aliviar a pressão nos ombros, mas não adianta muito já que seu rosto ainda é tenso, bufa uma, duas, três vezes antes de finalmente se virar para me repreender.

– Lembra que eu te disse que você nunca se perdoará se perder o filho do garoto? – eu apenas acena com a cabeça, cruzando os braços sobre o peito – Então o que diabos você quer fazer em um campo de guerra, Katniss?

– Eu sei Haymitch, eu sei. – se torna impossível de segurar minha frustração, e acabo exalando tudo na minha voz – Mas tínhamos um acordo, e ela me garantiu que fariam o que pedisse.

– Isso quando você não está tentado se matar, e matar um criança que nem nasceu ainda, droga! – ele esfrega o rosto com as mãos em um claro sinal de impaciência – Querendo ou não, Coin tem razão. Você está gravida meu bem, gravida, é loucura querer pegar em armas agora.

– Isso não é justo!

– Não é justo é seu filho morrer por caprichos seus, Katniss! Eu não vou permitir que você faça isso, não vou deixar que esse bebê sofra por sua causa, nem que eu tenha que te amarrar até ele nascer.

Fica quieta sentindo a força do que disse me atingirem. Se eu não queria chorar agora é impossível. Me encolho o máximo que posso, ainda constrangida, tentando sumir dentro de me mesma.

Deus! Estou tentado me autodestruir, mas o meu bebê não merece isso. Pois se eu não me importo com o que vai acontecer comigo, também não me importo com ele, o que não é verdade, é meu filho, é um pedaço vivo de Peeta que carrego.

Eu me importo sim.

Haymitch permite que eu chore no meu canto, ele não vem me consolar com abraço, apenas me deixar pratear por conta própria. E aí um desastre acontece. Eu começo a pensar em tudo o que já vivi até hoje, no meu pai e sua morte horrível, no abandono da minha mãe, na fome que eu sentia todas as noites antes de dormir.

Aí, numa tarde fria, no meio de um temporal, um menino me jogou pão para comer. No dia seguinte ele me mostrou o primeiro Dente de Leão da primavera, foi quando decidi lutar pela vida. Esse mesmo menino fez uma vida em mim. Fez esperança, e trouxe esperança.

E hoje, eu não suportaria perder nem um dos dois.

Logo começo a soluçar e mais lágrimas incontroláveis me escapam, fazendo meu peito saltar e doer. Então sinto algo estranho que me faz parar de chorar na hora. Adrenalina cobre-me pelo susto que tomo quando um terror tão velho quanto a própria vida me assola.

Olho para Haymitch que está assustado observando minha reação. Não posso ter certeza, mas acho que o senti, eu senti meu filho se agitar pela primeira vez dentro de mim, mas aí ele fez outra vez, e pude ter a confirmação:

O bebê se mexeu.

Ao contrário dele, eu permaneço parada sem saber o que fazer. Só percebo que havia parado de respirar quando puxo o ar com muita força para dentro dos pulmões. Minhas mãos pousam delicadamente no ventre, com medo que machuca-lo ao meu toque.

Volto a realidade quando Haymitch me paga pelos ombros, me fazendo encara-lo. Ele parece tão espantado quanto eu, mas não foi ele que sentiu a estranheza de ter uma pessoa se movendo dentro de você.

– Docinho, o que houve? – diz preocupado – Está sentindo algo? Você empalideceu de repente.

– Ele mexeu. – pronuncio sussurrando, sem saber o efeito que essas palavras causariam – Ele mexeu, Haymitch. Me filho mexeu, mexeu.

Outra vez minha voz se torna carregada de emoção. Agora devido a mistura um novo choro. Um choro de alegria. Haymitch abre um sorriso que eu nunca vi antes, ele começa a gargalha como se essa fosse a melhor informação recebida há tempos. E certamente seja sim.

Ele me agarra fazendo meus pés saírem do chão, e rodopiando no ar. É impossível não sorrir da mesma forma, Haymitch garante isso. Por fim, meu coração entende o porquê de Haymitch querer tão bem minha criança; ele a ama como ama a mim, e a Peeta. Somos os filhos que ele nunca teve. O carinho que tem conosco, é a resposta do carinho que temos com ele.

Depois de um tempo a mais de lágrimas e sorrisos, eu consigo me acalmar para podermos voltar a reunião. Dou tapinhas em meu rosto para desfasar o inchaço antes de entrar na sala, ficou decidido que eu não iria a lugar algum a não ser o hospital para cuidar da saúde do meu bebê.

Porém Coin tinha planos diferentes.

– O senhor Odair também não se agrada em ir espontaneamente a Guerra. – ela começa a explicar –, assim como a esposa dele, a senhora Annie Odair. A senhorita Mason não é habilitada fisicamente, e creio eu que mentalmente também não. E você, senhorita Everdeen, está fora de cogitação. O senhor Mellark encontrasse em tratamento psiquiátrico. Quanto Haymitch e Beetee, eles são necessários aqui, e não lá fora. Por tanto, só nos resta o senhor, ou melhor, soldado Hawthorne como Vitorioso representando a classe de vocês nessa Revolução. Mas...

Coin fica de pé antes de continuar o que dizia.

“Plutarch acha que mais pode ser feito, e eu concordei com ele. Vocês não precisaram ir a campo, todavia queremos que o seu apoio moral. Cressida e sua equipe gravaram pronto-pops de vocês durante o treinamento para exibi-los na cadeia nacional. Nós tomamos os arredores da Capital no início dessa semana, e desde então estamos enviando soldados para lá. Outros Distritos estão mandando seus guerrilheiros também, mas eles precisam de apoio, precisam ter a confiança que alcançaremos nosso objetivo de uma Panem livre. Por isso queremos que vocês, Vitoriosos estejam lá com eles, não para a Guerra precisamente, mas como eu já disse, para dar apoio moral. Paylor está sozinha nessa, e só ela não basta”

Levanto os olhos para fitar os outros quando a presidente finaliza a explicação. Me prendo em Finnick que está visivelmente desconfortável, ele segura e mão de Annie, ela aparentemente esqueceu dessa reunião em algum momento, já que pragueja baixinho sem muito interesse no assunto abordado.

– É só apoio moral? – Finnick pergunta só para ter certeza.

– Só isso. – Coin lhe afirma.

– Tudo bem... – ele suspira pesaroso acariciando os cabelos negros da esposa – Eu vou.

– Para dar apoio moral ou não, eu tô dentro. – Johanna não perderia é chance. – Katniss?

– Epa, epa, epa! – Haymitch se manifesta antes de mim – A Katniss fica. Ela não sai desse Distrito por nada nesse mundo.

– Mas Haymitch, ela não vai sair do acampamento. – Plutarch argumenta para convence-lo – Além do mais, um esquadrão será montado para a garantia da segurança deles. A presidente Coin vai destinar seus melhores homens para isso. Katniss é de suma importância, ela ainda é o Tordo sim! Seu dever ainda não acabou. Estão esperando por ela lá.

Plutarch faz uma cara de cachorro abandonado, apelando para a boa vontade de Haymitch. Meu ex-mentor coça a barba sacudindo a cabeça. Mas pela demora em responder, sei que deve está considerando a possibilidade.

– Escuta aqui Plutarch. – ele aponta o indicador agressivamente para o homem roliço a sua frente – Ela vai, mas vai apenas ficar sob vigilância 24 horas por dia enquanto estiver no acampamento. E quando as tropas avançarem, quero os meninos de volta, entendeu? Ah, e também quero apoio aéreo.

Dadas as condições necessárias, tínhamos duas partes felizes. Bom, nem tanto assim, mas de acordo. Quando vi que a discussão ainda continuaria, pedi licença saindo da sala sem olhar para trás. Eu estava cansada, havia um turbilhão de coisas na minha cabeça e eu não sabia como pegar do início.

Caminho lentamente pelos corredores em direção ao meu compartimento. Essa hora é tudo tão quieto por aqui. Um calma bem vinda para aconchegar meu sono. Não sei quantas tempo fiquei naquela reunião, no entanto meu corpo reclama bastante, me puxando como um ímã para a cama.

Livro-me das roupas e das botas antes de jogar em cima das cobertas. Fecho meus olhos e levo a mão até a barriga. Não resisto a vontade de sorrir só de lembrar que meu filho se mexeu pela primeira vez, isso só confirma que ele está bem, e intacto dentro de mim.

Agora tenho que fazer exatamente o que Haymitch mandou, e cuidar dele. Vou ser mandada para o acampamento rebelde em alguns dias, tendo que garantir não só a minha segurança, mas principalmente a dele. Ou seria dela?

Ainda não parei para pensar, só que nesse instante, a ideia de ter uma menininha me agrada. Hm... ter uma filha com os olhos do pai, seria maravilhoso.

Batidas na porta me fazem saltar da cama pelo susto. Levanto-me rapidamente vestindo as calças que deixei no chão. Infelizmente só posso ver quem está do lado de fora se abrir a porta, esse apressadinho bate freneticamente no metal. Mesmo quando eu grito um “já vai” ele não para de bater.

Ao abrir a porta tenho um surpresa.

Era Peeta que batia. Seu rosto está suado, e ele respira alto e afobado, meio desesperado. Procuro em seu rosto algo que indique que ele está tendo uma crise o que não é difícil de identificar. Apesar de não saber, obedeço minha intuição, tento fecha a porta rapidamente, mas ele é mais esperto que eu.

Peeta entra no meu compartimento trancando a porta atrás de se. Ele se aproxima ficando tão perto, que consigo sentir o calor do seu corpo. Pronto, estou morta. Não vai adiantar gritar, ninguém vai me ouvir, Peeta vai acabar comigo num piscar de olhos e eu nem vou ter chance.

Estou tremula, lutando contra o nervosíssimo me fazendo querer chorar. Mas os olhos de Peeta vacilam. Varem meu corpo cima abaixo, se fixando no meu rosto.

– Achou que podia esconder para sempre? – posso sentir magoa na doçura de sua voz – Quando pretendia me contar, Katniss?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Beyond two Souls" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.