Kenome (HIATUS) escrita por Ayshi


Capítulo 5
Uma visão de mim mesma


Notas iniciais do capítulo

Bem... É mais uma retomada né... Leiam e se divirtam.



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– Mostre-me Kenome! – disse a voz na minha cabeça – És realmente digna de levar consigo meu sangue?

O som do crepitar de fogo, misturado àquela voz infernal e os rugidos ao fundo, me faziam sentir que eu estava no inferno. Nunca pensei que ser poderosa requer tanto do psicológico. Com certeza Kokoro era a que mais sofria com isso.

– Sai daqui demônio! – eu gritei.

– Não se expulsa Kita de nenhum lugar – ele disse calmamente – Seja a sua mente. Sejam os Prados Agonizantes. Seja a Floresta Gélida.

– Sai! Sai! – gritei repetidamente. O poder que emanava da espada me apavorava. Era espantosa a ideia de que já existira uma criatura com tal capacidade.

– Eu sempre estou contigo, menina burra.

Acordei com um pulo. O suor escorria pela testa e pingava no meu colo. A respiração ofegante e o coração acelerado dariam a ideia de que eu morri e voltei. Um ronronar vinha da varanda do meu quarto e me acalmava aos poucos. Levantei-me e enxerguei pela primeira vez a vista que eu tinha da Floresta Gélida. A brisa soprava a neve que estava começando a cair para dentro do quarto. As árvores se moviam num ritmo lento e suave. Saí para a varanda e vi Raion estirada no chão. Cutuquei o braço dela com o pé.

– Ei gatinha. Vamos acordar – eu disse quando ela abriu os olhos.

– Sabia que fica bem bonita com essa camisola – ela arranhou a minha perna e logo após se levantou, bocejando.

Sentei na cama e ela se ajoelhou à minha frente.

– Que tal se você se sentasse aqui do meu lado? – eu bati na cama – É um pouco desconcertante você se ajoelhar assim. Sabe?

– Ah. Tudo bem – ela pulou e se aninhou na minha cama.

– Tudo bem – eu revirei os olhos – O que você estava fazendo na minha varanda?

Ela bocejou e respondeu – Falaram para eu tomar conta de você. Para o caso do seu amiguinho aparecer de novo – ela pulou para fora da cama e subiu na amurada da varanda – Já que ele não apareceu, posso ir indo – acenou e pulou.

– É... Nem apareceu – troquei de roupa, peguei a Ken e segui-a.

Corri até a entrada da Floresta Gélida e hesitei. Eu nunca tinha entrado ali e, pelas histórias que o conselho contava, era melhor não entrar. Respirei fundo e continuei correndo. O cenário parecia sempre se repetir, sentimentos e sensações que sempre reapareciam. As árvores brancas passavam e a neve batia em meu rosto, ao mesmo tempo em que um peso se instalava no meu coração. A ponta da Ken batendo em meu tornozelo a cada passo, até que eu não aguentei mais e cai.

– Menina fraca – disse Kita em minha mente – É mais um dos pesos que você não vai suportar sem mim. A maldição de todos que você matou. O último desejo de quem você machucou.

Junto ao inferno que era minha mente, várias vozes começaram a falar ao mesmo tempo. Crianças, mulheres, homens e até monstros. Todos ao mesmo tempo.

– Parem! – eu gritei.

– Eles não vão parar enquanto estiver tão longe de casa – Kita disse fazendo uma pausa – O que está fazendo tão perto de minha casa? – eu senti como se ele estivesse olhando ao redor.

– Raion! – eu disse com as mãos nos ouvidos – Ela me trouxe aqui!

– Não, menina burra. Ela está no quarto dela. Você se trouxe aqui.

– Como...

– Continue a andar – ele ronronou, se é que dragões ronronam – Acho que vai ter suas respostas logo à frente.

Apoiei-me em uma árvore e tirei a espada das costas – Então me ajude a suportar esse peso – eu disse começando a caminhar, apoiada na Ken. A dor era crescente e as vozes se repetiam. Maldições tão assustadoras que eu me recusava a prestar atenção.

– Um passo de cada vez – disse Kita.

Eu caminhei pesadamente mais um tempo. O padrão de árvores começava a mudar, sendo trocado por troncos marrons chamuscados. A neve dava lugar à pedra quente. De repente caí no chão e me contorci, em silêncio. As vozes pararam, eu já não sentia mais a dor. Escutei então, uma voz cantando. Eu me ergui e corri na direção de onde vinha a voz. A Ken, que agora estava nas minhas costas novamente, batia mais frequentemente no meu tornozelo por eu ter aumentado o ritmo.

– Bem vinda ao meu lar – Kita disse – As Montanhas Gélidas.

Ironicamente, as montanhas não eram tão gélidas assim. O suor começava a encharcar minha roupa e cada passo era mais lento. Minha espada zunia levemente, como se o sangue do dragão, estivesse se movendo mais rápido por ela.

Não chores, por favor,

O meu amor continua eterno

Se deite em meu colo

Durma minha criança

Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu cheguei até um lago. Diferente de tudo o que eu vinha presenciando. As águas cristalinas me mostravam algas e peixes de diferentes cores e tamanhos. Árvores de um azul brilhante circundavam o manancial e delas, desciam vinhas também azuis. No centro, sentada numa flor rosa, estava uma mulher com longos cabelos negros que chegavam a tocar o lago. A voz vinha dela.

Sorria meu bem

A guerra não lhe afligirá

Se deite em meu colo

Durma minha criança

Eu comecei a soluçar e a mulher parou de cantar.

– Continue por favor – ajoelhei-me – Minha mãe cantava isso para mim ao dormir.

– Quem é você? – ela disse ainda de costas.

– Meu nome é Kenome – eu tentei parar de soluçar, mas era mais forte.

Ela se virou na minha direção. Tinha a mesma expressão de desprezo da minha mãe, ao saber que eu havia matado toda a infantaria, apenas por querer ser parte do exercito principal. Ela arrumou uma bolsa com as suas roupas e saiu de casa enquanto eu dormia, sem dizer nada.

– Quem é você? – eu perguntei.

– Sua maior decepção – ela ficou de pé na flor – Aquilo que você escondeu de si mesma, prometendo nunca mais querer relembrar. Aquilo que você nunca conseguiu dominar.

– Por que está aqui? – eu consegui conter o choro – Por que me trouxe aqui?

– Acho que já está na hora de vencer de si mesma. Menina burra.

Então ela irrompeu em chamas e no lugar de todo o manancial, uma espécie de semicírculo de pedras apareceu. Do céu desceu um dragão.

– Já está na hora de saber se é digna de meu sangue – ele rugiu e avançou contra mim.


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Notas finais do capítulo

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