Kenome (HIATUS) escrita por Ayshi


Capítulo 3
O Sangue do Dragão


Notas iniciais do capítulo

E aí galera! Eu to postando esse capítulo um pouco tarde (00:58), mas eu não aguentava mais esperar para o fazer. Espero que gostem do resultado.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560759/chapter/3

Entrei no tribunal e me sentei na cadeira do centro. Existiam nove cadeiras à minha frente e todas elas de mármore, como se fossem superiores a mim, na minha pequena cadeira de pinheiro. Kūki disse que antes de entrar na Ordem eu precisava ser julgada. Pelos delitos que eu cometi contra a Ordem, eu nunca seria aceita.

Três pessoas se sentaram nas cadeiras do centro. A da esquerda, reconheci que era Raion, pela descrição de Kūki: "As pessoas que ali se sentam, seguem uma ordem. Do centro para as extremidades, indicam o quão importante é o indivíduo, sendo que o lado esquerdo sempre é superior. Raion, a garota loira, sempre senta a direita e a frente de Hayai, apenas de Hayai. Ela é a número oito. Com certeza será a mais simpática dos nove. Não se preocupe, eu também faço parte do conselho."

Ela tinha lindos cabelos repicados e dourados. Os olhos eram amarelados e felinos. Quando ela abria a boca, podiam-se ver que as suas presas eram um pouco maiores que o normal. Ela batia preguiçosamente as garras na mesa.

Kūki sentou-se ao lado de Raion e passou a mão nos cabelos dela. Um homem baixo e narigudo, se sentou logo ao lado dela. De acordo com a lista de Kūki, o identifiquei como o número quatro.

– Kenome... - disse o quatro - Que belo histórico.

Eu sorri - Para se construir uma boa reputação, tem de se trabalhar bastante.

– Filha de Atran e Sai, os donos do poço de cristal em Salafar - ele me olhou colocando os óculos - Nunca lhe faltou nada. Aos sete anos derrotou a infantaria inteira e exigiu fazer parte do exército principal. Foi rejeitada.

– Obrigada - eu provoquei - Eles não estavam pensando direito quando não me aceitaram.

– Depois de muito treinamento, aos catorze anos derrotou um general vinte e dois anos mais velho - ele passou a página- Depois de falhar em sua missão, traiu o exército se juntando à Ordem e também a traiu quando destruiu um grupo de iniciados só - já existia um pouco de raiva em sua voz - Agora diz estar arrependida - senti o ar se condensando sobre minha cabeça - e quer se juntar a Ordem - ele gritou e levantou a mão.

Vi um grande martelo descendo sobre mim e fechei os olhos - Masayoshi - Raion gritou e num movimento rápido socou o "juiz" que foi lançado na parede. Ela voltou a bocejar e se deitou novamente sob a mão de Kūki. Era assombrosa a força e a velocidade daquela garota. E era apenas a número oito.

Masayoshi saiu do buraco que fora feito na parede um pouco tonto e eu não consegui conter o riso.

– Voltando ao julgamento, você não pode aderir à Ordem pois cometeu muitas traições contra a mesma - ele se sentou na cadeira. Como ele ainda estava vivo.

– Porém - disse Kūki - nós precisamos de mais Furu. Somente o conselho tem guerreiros completos, mas eles sempre estão fora - o número quatro estava tentando respirar e ficou roxo. Então entendi o que estava acontecendo e ri como nunca antes. Kūki estava retirando o ar dos pulmões dele e estava o subornando.

– Certo - ele se esforçou para respirar - Ela faz parte da Ordem. Sem mais formalidades - ela parou de controlar o ar e ele retomou a cor.

Fui me levantando e senti minhas pernas cansadas, minhas pálpebras estavam se fechando e antes de adormecer escutei Raion murmurando - Suimin seu bastardo.

Então meus olhos se fecharam.

Quando acordei, Raion não estava mais lá e Kūki também estava acordando. Notei também que o número quatro tinha sumido também.

– Suimin. Desgraçado - Kūki se levantou - Sempre assim. Vive adormecendo as pessoas. Deve ter algum assunto com Masayoshi. Está encarregado da fronteira com a Floresta Gélida e sempre tem problemas por lá.

– E Raion? - perguntei um pouco desesperada.

– É a única do conselho que nunca viu o rosto dele. Acho que está perseguindo ele - ela disse - Aliás, ela é a leoa. O único animal que você nunca vai dominar sem consentimento dela.

▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶

Seis meses depois.

Avancei contra Kūki e usei minha espada contra ela. As espadas eram de madeira, já que as espadas de verdade (Ken) não podiam ser usadas antes de me tornar um Furu, e isso era apenas um treinamento, pois daqui dois meses seria a cerimônia do conselho, para escolher quem se tornaria um Furu.

Ela defendeu meu ataque e fechou os olhos. Eu já conhecia a técnica de retirar o ar dos pulmões de uma pessoa e então me joguei sobre ela e interrompi a concentração dela. Fiquei sobre ela e abri um sorriso que foi correspondido. Seis meses na Ordem me ensinaram a aprimorar meus instintos além do mana. Aprendi que não só o mana pode ser modelado, e também a alma.

Não a alma de espírito, mas literalmente sua força vital, uma energia branca que quando bem controlada, é impenetrável. Kūki me disse que Kokoro poderia me ensinar a controlar a alma, porém para ser tão forte quanto ela, seriam precisas duas vidas inteiras.

Mondai e Kokoro são gêmeas. Mondai sempre teve controle sobre o que é matéria e Kokoro sobre a alma. Cada toque da espada de Kokoro purifica a alma, te matando aos poucos, e um arranhão da lâmina de Mondai pode te cortar ao meio.

Nunca as conheci, aliás, não conheci mais ninguém do conselho durante esse tempo.

– Acho que essa batalha é minha - eu brinquei.

– Ainda não - senti o ar me empurrar para frente e após cair, Kūki passou a espada pelo vão entre meu braço e meu busto.

Rimos igual loucas e eu tive vontade de beijá-la. Assim como ela e Raion, eu tinha assumido o costume de não me importar se era homem ou mulher. Eu apenas amava.

O sol estava alto e a grama com orvalho refletia um luz estonteante. Estávamos em uma colina no Centro de Treinamento da Ordem, ao leste da floresta Kartiruan.

Continuei olhando para ela e então me levantei e corri até o pátio dos iniciados.

Tinham mais ou menos trezentos garotos e garotas lá (todos meus soldados da EISS), treinando para se tornarem Furu. Era incrível a disciplina do exército, sempre se mantendo fiel ao seu general. Após me juntar à Ordem, fui até Salafar e recrutei todos o guerreiros da EISS, que me seguiram sem remorso ou medo. Sem sentimento de culpa ou traição. Eu não sabia se eu tinha medo pelo sangue frio deles, ou se eu me orgulhava pela fidelidade.

Olhei para eles e andei até a Fonte da Paz com o desejo de meditar.

O lugar era lindo. Um lago cristalino era abastecido por uma pequena caichoeira, algumas árvores cercavam o lugar e pássaros pousavam para admirar o lago.

Sentei-me com os pés na água e fechei os olhos. Esvaziei minha mente e desejei ficar ali por anos.

▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶◀▶

Dois meses depois.

Entrei no salão com minha roupa de sempre. O sobretudo preto jogado por cima de roupas brancas. O tribunal do conselho estava decorado com flores e fitas vermelhas. Várias cadeiras estavam dispostas em oito fileiras e todos os nove estavam sentados diante da platéia.

Fui até minha cadeira na primeira fila e identifiquei os nove um por um, na ordem de importância.

Yūwaku era uma garota muito bonita, com cabelos vermelhos e olhos que sempre alternavam do preto para o lilás. Ela era a mais descontraída deles. Diziam que ela era capaz de fazer um exército inteiro se curvar perante ela, somente usando a persuasão. Era filha de um comerciante muito próximo ao rei Sansmei e após assassinar o próprio pai, se encaminhou até a sede da Ordem, que era apenas uma casinha.

Buki era um homem grande e muito relaxado. Uma máscara branca cobria seu rosto o deixando ainda mais assustador. Ele era o mais estranho, já que seu corpo se recompunha extremamente rápido, como se fosse gelatina. Misteriosamente acordou ao lado da sede e se juntou a nós, com o viril desejo de recuperar sua memória e adivinhe: não descobriu nada.

Mondai era uma menina pálida e usava uma tiara vermelha com uma borboleta no cabelo negro. Aquela garota sempre parecia tremeluzir, como se a alma, não pudesse ser contida naquele corpo.

Masayoshi continuava o anão narigudo de sempre. Atrevido e justo.

Kokoro a irmã gêmea de Mondai, era idêntica à outra, porém usava uma tiara azul e não tremeluzia. Mas se podia ver que os objetos se moviam lentamente na direção dela e, ao levantar a mão, todos eles voltavam para trás. Todos sabiam da história das duas. Elas eram sacerdotisas no norte das Florestas Gélidas e passaram quatrocentos anos treinando para atingirem o ápice de seus dons. Kūki mencionou que qualquer um poderia controlar mente e matéria, mas somente coisas muito simples como descobrir informações ou quebrar um galho. Nem mesmo ela poderia alcançar as gêmeas.

Suimin era alto e musculoso. O cabelo castanho era jogado pra cima e o olho verde não parava de brincar nas órbitas. Ele estava sempre apontando para alguém e a fazendo adormecer.

Kūki e Raion estavam deitadas uma na outra como sempre e Hayai constantemente ia até alguma garota e lhe entregava uma rosa, em um piscar de olhos.

– Quietos por favor! - Masayoshi gritou para os presentes - Hoje estamos aqui para confraternizar a promoção de seis dos nossos iniciados.

O processo era rápido e simples, mas ainda tinha bastante charme e elegância.

Chamava-se um a um os iniciados e faziam um corte em seus pulsos, deixando o sangue escorrer até a pequena adaga que Grizo, um kiku-mon de Dandriel, segurava. Aí então ela assumia forma, cor, tamanho e atributos, tornando-se assim a sua Ken.

Chamaram cinco pessoas e o meu nome foi o último a ser chamado.

– Kenome! - gritou Masayoshi fazendo cara feia.

Eu me levantei um pouco trêmula e tropecei na barra do sobretudo, mas Hayai apareceu ao meu lado e me segurou com um sorriso no rosto. Caminhei até Grizo e o juiz cortou meu pulso. A dor era imensa, mas eu me controlei. Era como se estivessem te envenenando com seu próprio consentimento.

A primeira gota pingou na adaga e foi absorvida. Logo após, mais gotas caíram e a espada foi se alongando, até tomar minha altura. Devia ser muito pesada por que Grizo, que era musculoso e forte, estava suando.

Após o sangue estancar, eu segurei a espada e senti meu ferimento ser cicatrizado e de repente a espada ficou leve como uma adaga nas minhas mãos.

A lâmina era de um brilho prateado e, como em um tubo, tinha um liquido semelhante à lava circulando por toda a espada. O cabo totalmente vermelho, era de couro e possuia uma fita cor de sangue na ponta. Vi também duas tiras de couro presas à lâmina, que tinha minha altura, e deduzi que era a bainha. Prendi as tiras às minhas costas e coloquei a espada.

Quando me virei para voltar a cadeira, Kokoro me interrompeu.

– Espera - ela fechou os olhos - Essa espada... É como se tivesse vida própria. O líquido é mana de dragão e a fita é feita de escamas. Resistência à chamas ou força talvez. Ela é imprevisível.

Eu olhei para o cabo da espada, que estava a altura da minha cabeça, e percebi enquanto a fita ondulava, um padrão de linhas, como em escamas mesmo.

– Não é mana de qualquer dragão - disse Mondai - É do norte, além das Montanhas Nevadas - ela olhou para Kokoro com um pouco de receio e se voltou para mim - Como você destruiu nosso acampamento?

Eu hesitei. Como assim? Ela queria que eu confessasse na frente de todos minha traição.

– Eu usei mana de dragão - esperei alguma reação.

– Eu peço a todos que se retirem agora - ela gritou para os outros.

Se ouviram alguns murmúrios desanimados, porém todos saíram. Eu estava mais uma vez diante do conselho.

Mondai veio ao meu lado e todas as cadeiras se afastaram para as paredes.

Estavam somente eu e os nove no tribunal.

– Use o mana de novo, agora - ela me olhou séria.

Hesitei mais uma vez, mas obedeci a ordem - Doragon!

Senti meu corpo se transformando, perdi o controle sobre meus movimentos e quando olhei para as paredes de mármore, vi o reflexo de um dragão.

Todos se afastaram menos Mondai.

– Quem me despertou - escutei um rugido. Minha mente era o som do crepitar de fogo e a voz do dragão.

– Eu Kenome - pensei calmamente, tentando não entrar em desespero.

– Eu sou Kita - escutei outro rugido e percebi que meu corpo na forma de dragão estava vasculhando o local - Por que me despertou depois de setecentos anos?

– Eu não sei. Eu apenas me tornei um Furu - comecei a chorar.

Percebi o desespero de alguns do comselho diante da situação e isso só fez mais lágrimas irromperem.

– Você é fraca - escutei somente um grunhido em meio ao crepitar - Não merece minha obediência. Vou te destruir.

– Raion! - Mondai chamou quando o dragão abriu a boca.

Raion pulou a mesa do conselho e socou o rosto do dragão. A cabeça dele bateu na parede e eu senti uma forte dor. Lentamente fui retornando ao meu corpo.

– Suimin! Adormeça ela - senti meu corpo ficar fraco e então fechei os olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, espero-vos nos reviews! Quero que me digam de qual dos nove gostou mais e por que! Até!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kenome (HIATUS)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.