Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 19
Capítulo 19




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Saio da casa de Katniss, e ignorando o fato de já ser de madrugada vou até Haymitch. Ele não podia permitir isso. Aliás, ele não poderia nem beber, visto que será nosso mentor, mas deixar Katniss se embriagar? Isso foi longe demais.

Abro a porta de sua casa, e adentro aos gritos, deixando toda minha raiva se extravasar.

– Haymitch, seu desgraçado! O que você está pensando? Se tem uma coisa que você nunca poderia fazer, era dar bebida a Katniss. Quer que ela se torne uma alcoólatra a poucos dias de ir para a arena? Hein?

Mas de repente, toda minha raiva vira compaixão, quando avisto Haymitch deitado no chão, todo encolhido.

– Sabe, ela veio aqui – ele começa. – Ela quer que você viva. Ela quer que eu vá. E eu prometi isso a ela. Prometi a você que te deixaria ir. O que eu faço com tantas promessas?

Seu bafo, faz eu questionar a sua lucidez. E o que ele diz, também. Por que Katniss iria vir aqui pedir isso?

– Cumpra a promessa que você me fez. Já é o suficiente – respondo enquanto o ajudo a se levantar. Ele cambaleia, segurado por meus braços, mas depois de alguns minutos, tentando chegar até uma cadeira, ele cai, e me leva junto. Desisto de leva-lo até algum lugar e fico ali sentado com ele.

– Mesmo se eu for sorteado, você não pode se voluntariar – digo, preocupado.

– Eu não farei isso. Prometo.

– E, não conte a Katniss o que te pedi.

– Tarde demais.

– Você é um desgraçado mesmo – digo, fingindo estar bravo, mas um sorriso escapa de meus lábios.

– Eu sei – ele responde e começa a dar risada.

Quando me dou conta, estamos os dois rindo, sabe-se lá do que. Mas o riso, vem acompanhado de lágrimas, e eu penso que talvez estejamos ficando loucos com tudo isso. Haymitch dá um último gole em sua garrafa, antes de adormecer.

Subo até seu quarto e pego um cobertor. Coloco sobre seu corpo que exala um forte cheiro de álcool, acendo a lareira, mas depois apago, com medo de que comece um incêndio, por ter tanto álcool em todo canto.

Quando finalmente volto para minha casa, todo o cansaço se deposita sobre mim. Encontro na porta de casa um pacote, com um bilhete de Effie com as palavras “ Sua encomenda, aproveite”. Como aquilo foi parar ali, e tão rápido, me intriga, mas tenho que admitir que Effie é mesmo eficiente. Me sento para começar a assistir aos jogos dos outros tributos, mas saber que Katniss está a poucos metros de minha casa, embriagada, me deixa inquieto. Tenho que tomar previdências para que isso nunca mais aconteça. E tem que ser agora. Visto um casaco, e saio em meio a inebriante madrugada, e marcho para o centro. O frio parece penetrar meus ossos, mas conforme vou andando se torna mais suportável. Quando chego a praça, fria e deserta me dou conta de que não sei para onde devo ir. Decido por ir até a parte mais afastada, e mais pobre do distrito, para quem sabe lá, conseguir achar quem eu quero. Pelo caminho, encontro algumas pessoas dormindo na rua. Isso me assusta, pois eu não sabia que havia pessoas dormindo na rua. Como eu posso ter vivido todo esse tempo aqui, sem me dar conta disso? Ao longe, vejo uma silhueta se mexer. Hesito, mas decido verificar o que é, e conforme chego mais perto vejo que é um senhor idoso, tremendo, numa valeta. Eu queria poder fazer alguma coisa, levar todas essas pessoas para algum lugar quente, com comida, mas me sinto tão inútil. No momento, tudo o que posso fazer, é tirar meu casaco, e depositar sobre suas costas. O idoso, vira assustado, e quando me reconhece, parece mais assustado ainda.

– O que você faz aqui? – ele grunhi.

– Estou procurando Ripper – digo com firmeza – Que vende bebidas.

Ele me olha desconfiado, depois olha para o casaco em seus ombros.

– Á direita, casa com um buraco na porta.

Demoro um pouco para entender suas instruções, mas assim que entendo, sorrio e agradeço. O idoso volta a se encolher, mas dessa vez não treme.

Quando avisto a casa com um buraco na porta, me pergunto, o que fazer. Quando estou prestes a bater na porta, uma voz me surpreende.

– Tenho apenas licor branco e pinga destilada – uma mulher diz, de dentro da casa.

– É Ripper? – pergunto receoso.

– O que vai querer? – ela retruca ignorando minha pergunta.

– Escute, eu sou Peeta Mellark, não sei se você me conhece...

– Todos sabem quem você é – ela me interrompe.

– Certo. Vim aqui te pedir para não vender mais bebidas a Katniss e Haymitch.

Ripper solta uma gargalhada e quando recupera o folego, diz com desdém:

– Acha mesmo que vou parar de vender para os únicos que ainda tem coragem de vir até aqui?

– Você vai sim, ou...

– Ou o que?

– Ou te denunciarei para os pacificadores.

Silencio.

Empurro a porta, e me deparo com uma mulher magra, envelhecida pela vida, e muitos hematomas, machucados em carne viva pelo rosto.

– Pode deixar, não venderei – ela sussurra, abaixando a cabeça.

Entendo então, que o buraco na porta, é para passar as bebidas e receber o dinheiro sem ser vista. Eu sabia que muita gente teve que pagar por seus “crimes”. Mas não estava preparado para ver alguém assim. Me sinto uma pessoa horrível, por exigir que ela pare de vender as bebidas para aqueles dois.

Enfio a mão em meu bolso, e acho várias moedas. Suponho que isso deva pagar muitas bebidas, então dou todo o dinheiro a Ripper. Ela me olha, agradecida, eu acho, pois seu rosto desfigurado permite enxergar poucas expressões.

Volto para casa, mas decido que o trabalho ainda não acabou. Só que terei que deixar para amanhã, pois o sono e o cansaço não permitem que eu continue. Fico um tempo, pendurado na janela do meu quarto, pensando em como Katniss deve estar. Eu queria tanto poder ir lá. Mas a quem estou tentando enganar. O que eu queria, mesmo, era dormir com ela mais uma vez. Beijá-la. Eu sinto tanta falta dela. Falta de observar a ruga que se forma no centro de sua testa quando ela fica confusa com alguma coisa. Ou de quando ela sorri timidamente, com o canto da sua boca se abrindo mais para o lado direito. Sinto falta de afagar seus cabelos macios e ondulados. Falta de sentir seu coração batendo junto ao meu corpo. Falta do seu cheiro. Falta do seu olhar intrigante. Sinto falta de me sentir vivo, como só me senti quando achei que Katniss me amava também.


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