Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 18
Capítulo 18




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Acompanho Delly até a sua casa, e durante o caminho, não dizemos palavra alguma. Percebo que ela chora, o tipo de choro que não tem barulho, as lágrimas só escorrem por sua face, como se estivessem acostumadas a traçar esse caminho. Ofereço meu braço para ela, e ela se enrosca nele como uma criança num brinquedo novo. Quando chegamos, penso em pedir meu casaco, mas ela está tão agarrada a ele, que desconsidero essa ideia. Não sei como me despedir dela. Nem sei ainda como digerir o fato de ela me amar. Fica um longo silencio pairando no ar, até que ela o quebra, dizendo algo, que eu temia escutar.
– Você não precisa fazer isso. Você sabe que não.
– Do que você esta falando? – pergunto, fingindo desentendimento.
– Ir para o massacre. Não é como no caso de Katniss que ela é obrigada a ir. Você pode ficar – ela responde, num sussurro sufocado por lágrimas.
– Ficar para que? Para assistir Katniss morrer? Eu preciso ir com ela Delly, você tem que entender isso.
– Mas Haymitch pode protege-la também...
– Eu sei. Mas eu não suportaria estar aqui, de mãos atadas, assistindo a ela sofrer, ou até morrer. Eu simplesmente não posso ficar.
– Se você não fosse, e ela sobrevivesse, vocês poderiam ficar juntos. Mas se os dois forem, não terá jeito. Um de vocês vai morrer – sua voz falha – ou os dois.
– Você não quer que eu vá por esse motivo? – pergunto, surpreso por ela estar pensando sobre eu ficar com Katniss.
– Que outro motivo seria? – ela funga. – Eu só quero que você seja feliz. Mas, acima de tudo, quero que você sobreviva.

Meus olhos se enchem de lágrimas, por sentir esse amor tão puro, emanando de Delly, por mim. Num impulso, me lanço sobre ela, e a abraço, bem apertado, sabendo que isso é tudo o que eu sou capaz de fazer. Quando me afasto, ela parece em transe, devido ao meu gesto.
– Isso é um adeus, Delly – digo, com o nó na garganta crescendo.
– Adeus Peeta – ela sussurra, e entra em sua casa, com seu corpo tremendo pela força de seu choro.
Volto para minha casa, desconcertado por tudo que acabei de vivenciar. Mas, se eu soubesse desse sentimento que Delly tem por mim antes, não iria adiantar. O amor que está fincado dentro de mim, não ia ser simplesmente transferido para Delly. Ia permanecer em Katniss. Pensando nisso, me dou conta que já está muito tarde, e que eu ainda não a vi. Estou na metade do caminho, mas não consigo me conter, e começo a correr. Corro, sem parar, até chegar a casa dela. As luzes ainda estão acesas, e quando entro, encontro com a mãe de Katniss, a beira do fogão. Seus olhos ainda estão vermelhos, mas ela parece mais calma.
– Katniss já voltou? – pergunto imediatamente.
Ela assente.
– Está no quarto.
Estou me movendo em direção á escada, quando ela completa a frase.
– Com Gale.
Fico onde estou, sem saber se ouvi direito, sem saber se devo subir assim mesmo. Droga. Eu deveria ter ficado aqui, esperando ela voltar. Enxugo o suor de minha testa, sentindo raiva de mim mesmo, por não ter sido eu, a ampará-la, depois de uma notícia horrível como essa, que recebemos.
– Suba – a mãe dela me encoraja. – Se ela estiver acordada, ficara feliz em vê-lo.
Se ela estiver acordada? Mas o que pode ter acontecido?
Respiro fundo, e subo lentamente as escadas, preparado para o pior.
Quando chego ao seu quarto, a porta está fechada. Giro a maçaneta lentamente, e minhas pernas tremem com a cena que vejo. Gale, está curvado sobre Katniss. E eu sei o que ele está fazendo. Assisto ele beijando delicadamente os lábios dela, enquanto acaricia seus cabelos. Quando ele se afasta, percebe minha presença, e me olha espantado.
– Me desculpe – ele murmura.
– Tudo bem – respondo, entrando no quarto, me sentindo como se estivesse sendo sugado para o chão. De repente, sinto um cheiro forte de álcool, e fito Gale, mas ele não parece estar bêbado.
Katniss está deitada, com seus olhos fechados, parecendo dormir profundamente.
– Ela esta bem? – pergunto, por fim, apesar do desconforto em falar, enquanto tento segurar minhas lágrimas.
– Vai ficar. Ela veio da casa de Haymitch bêbada. Nunca a vi beber antes. O choque deve ter sido muito grande para ela – ele responde, sem conseguir me encarar.
Fico horrorizado, ao saber disso. Não posso permitir que Katniss tenha o mesmo destino que Haymitch.
– Vou deixar vocês a sós. E me desculpe mesmo, por ter feito aquilo. Só para você saber, ela já chamou seu nome umas cinco vezes – ele diz, e sai do quarto, me deixando num misto de sentimentos.
Quando ele fecha a porta, me sento na beirada da cama, e pego suas mãos imóveis e geladas.
– Você pode me ouvir? – pergunto, sem obter resposta.
–Bem... – continuo – se você puder me ouvir, quero que saiba, que seremos nós dois de novo naquela arena. E não importa o que aconteça, você vai voltar para casa, e cuidar de Prim, de sua mãe, de Gale, e de Haymitch. Está ouvindo? Eu sei que você é teimosa, mas não adianta. Eu vou com você, e farei o possível e o impossível para você voltar.

Deixo as lágrimas rolarem, e levo sua mão aos meus lábios. Sinto seu perfume, misturado a um odor de bebida. Beijo sua mão, me perguntando quando as coisas chegaram a este ponto.
– Mas, Katniss... você tem que me prometer, que nunca mais vai colocar uma gota de álcool na boca. Eu não suportaria ver você se tornar uma alcoólatra. E mesmo que, quando você voltar, eu não esteja mais aqui para ver isso, você tem que me prometer. Ou você quer que eu morra, para você viver, e acabar com a sua vida?

Katniss continua dormindo. Parece que nada será capaz de acordá-la, então não me preocupo, abraço seu corpo inerte, e choro.
Depois de um longo abraço, me afasto, e começo a acariciar seu rosto.
– Hoje estive com Delly – sussurro. – Você não vai acreditar, mas ela me ama. É tão triste isso. Saber, que enquanto eu te observava e te amava em segredo, ela fazia o mesmo, comigo. Esse mundo em que vivemos, é muito injusto. Por que nós simplesmente não podemos amar, as pessoas que nos amam também? Por que, você não pode me amar? Por que, você tem que voltar para o lugar que te causa pesadelos, até hoje? Por que isso está acontecendo com a gente? Sabe, eu não tenho resposta para nada disso. Tudo que eu sei, é que eu irei para esse massacre, e irei morrer, para que você, a pessoa que eu mais amo, possa viver. Se fosse num livro, seria uma linda história. Mas como é real, dói demais. Ah, Katniss, como dói. É quase insuportável.

Suspiro.
– Vou deixar você descansar – digo, e sem conseguir me conter me aproximo de seus lábios. Estou prestes a beijá-la, quando ela se mexe um pouco e sussurra:
– Peeta.
Beijo seus lábios, e chorando copiosamente respondo:
– Estou aqui. Sempre estarei.
Fico mais um tempo a observá-la, em meio a minha dor. Relutante, me levanto e caminho até a porta. Gostaria de ter dito a verdade, de sempre poder estar com ela. Mas infelizmente, eu não tenho escolha. E meu tempo ao seu lado, está se esgotando, assim como minhas forças, para aguentar toda essa dor, por saber que irei morrer nesse massacre, e pior, saber que Katniss pode morrer também.
– Boa noite, docinho – sussurro e saio do quarto, com uma vontade avassaladora de ficar ao seu lado, e aninhá-la ao meu corpo. De aproveitar cada segundo ao lado dela, antes que o simples prazer de apenas observá-la, seja tirado de mim, pela capital. O ódio que sinto pela capital, só não é maior que o amor que sinto por Katniss, porque esse sentimento, é o mais puro e verdadeiro. E mesmo que eu morra, eu sei que o meu amor por ela continuará vivo. Isso, a capital não pode mudar, nem tirar de mim. Nunca.


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