"Peguem aquela maldita!"

"Ela está possuída! Não deixem ela escapar!"

"Ela ainda vai matar alguém! Temos que acabar com ela antes que isso aconteça!"

???????: Não... Não é verdade...

"Essas bruxas desgraçadas estão tentando nos matar!"

"Devíamos saber que elas estavam planejando algo!"

"Não vamos deixar por isso mesmo! Vamos acabar com elas, pelo bem de Sortiny!"

???????: Não... Que está havendo? Isso... não devia ter... Não...

!!!!!!!: Irmã Mileena! Irmã Mileena! Acorde!

???????: Não... NÃO!!!

Eram três horas da madrugada. Todos na Vila da Ferradura estavam dormindo... Até então. No subterrâneo de uma taverna, uma mulher havia acabado de se levantar de forma brusca em seu quarto. Estava ofegante e ensopada de suor.

!!!!!!!: Irmã Mileena! Você está bem?

Mileena: Purkeed? O que está fazendo aqui? Você devia estar dormindo.

Purkeed: Eu... Eu ouvi você falar enquanto dormia e quando fui ver, você... Parecia estar sofrendo muito.

Mileena: Eu só tive um pesadelo, Purkeed, só isso. Eu estou bem; não precisa se preocupar.

Purkeed: Er... Como quiser, minha irmã. Mas se precisar de algo, me chame.

Mileena: Eu chamo. Agora, volte a dormir.

Purkeed: Sim, minha irmã.

Enquanto o pequeno Purkeed saia do quarto de Mileena, esta voltava a se deitar.

Mileena: (Esse maldito pesadelo... Por quanto tempo isso vai continuar me atormentando?)

Seis horas depois, um forte ruído acordou Mileena novamente. Alguém estava dando pancadas na porta de seu quarto.

&&&&: Ei! Acorda, encrenqueira! O café da manhã tá pronto!

Mileena: Uuuuhhmmm... Lobs, seu chato, me deixa dormir...

Lobs: Ei, eu tenho que abrir a taverna daqui a pouco! Se você ficar aí, vai ficar sem comer!

Mileena levantou contrariada e foi até a porta. Ao abrir, se deparou com um sujeito alto, magrelo, com cerca de 40 anos, um vasto cabelo ruivo com o curioso formato de pé de alface e uma cara de pouquíssimos amigos. Era Lobs, o mau humorado dono da Taverna da Lagosta Escaldada.

Lobs: Ah, bom saber que você ainda está... Hm? Ugh, por Adriel, que inhaca é essa?

Mileena então direcionou o nariz para a axila direita e constatou que, de fato, não estava com um cheiro muito agradável.

Mileena: Hm... Deve ser porque acordei suada hoje de madrugada...

Lobs: De novo? Caramba, você ainda vai acabar deixando o quarto dos fundos inabitável! Permanentemente!

Mileena: Pois saiba que isso é culpa sua também. Já tá mais do que na hora de você construir um tubo de ventilação aqui.

Lobs: Claro. Pague-me os dois meses de despesas que você está me devendo e aí a gente conversa.

Mileena: Cara, você é uma desgraça... PURKEED!!!

Lobs tomou um baita susto com o grito repentino de Mileena, tanto que quase saiu do chão. E enquanto ele se recompunha, o pequeno garoto saiu do térreo às pressas para atender sua irmã.

Lobs: Sua louca! Tá tentando me matar do coração?!

Purkeed: Aiaiaiaiai... S-S-Sim, irmã Mileena, estou aqui!

Mileena: Me faz um favor; prepare um banho pra mim. Meu suave aroma está atraindo insetos muito cabeludos...

Lobs: ...

Purkeed: Insetos cabeludos? Onde?

Mileena: Aff... Purkeed, para de enrolar e vai logo, por favor.

Purkeed: P-Pois não, irmã! Agora mesmo!

E assim, Purkeed saiu em disparada para cumprir a ordem de Mileena, seguido vagarosamente por Lobs, que não se dava ao luxo de resmungar em voz baixa.

Lobs: E depois eu é que sou uma desgraça...

Pouco tempo depois, estava Mileena ainda em seu alojamento improvisado ao lado da adega, tomando banho dentro de uma tina de água a temperatura ambiente, usando sabão e escova com insistência para se livrar do mau cheiro. Em termos de aparência, Mileena se parecia com as bruxas de Chesord, ainda que não fosse de lá, tendo pele clara e cabelos escuros, além de olhos castanhos escuros, quase negros. Mas havia um detalhe nela que chamava tanta atenção quanto a sua aparência: Uma manopla escarlate que cobria inteiramente a mão e o antebraço direito e que ela usava o tempo todo, não tirando nem nessas situações. Era uma manopla grotesca, segmentada, tendo vários símbolos estranhos em cada segmento. Apesar disso, Mileena contemplava a manopla como se fosse um troféu, mas, por vezes, ao olhar para a manopla, ela sentia uma pontada de tristeza.

Mileena: Mamãe...

Depois de se banhar, de se enxugar e de colocar suas faixas íntimas, Mileena pôs as roupas que mais costumava usar: Uma calça de couro negro, uma camiseta vermelha de algodão, uma jaqueta negra de mangas longas, o suficiente para cobrir parcialmente as mãos, e sapatos de pele. Para terminar, deixou o cabelo semi-preso com uma pregadeira.

Já arrumada, ela se dirigiu até o espaço comum da taverna. A Taverna da Lagosta Escaldada não era lá tão grande, tinha espaço para apenas 5 mesas e o balcão, sendo que, por hora, só duas mesas estavam ocupadas, uma por um grupo de três homens e a outra por um velho que já estava no maior pileque. Um dos homens que estava com o grupo na primeira mesa pôs os olhos em Mileena e resolveu provocá-la.

Cliente 1: Ei, Lobs! Que tal botar essa sua servente bonitinha aí pra servir a gente?

Mileena: Eu tenho cara de servente, ô toupeira velha?

Cliente 2: Ih, essa é arredia, heim?

Cliente 3: Melhor assim, as mais difíceis são as melhores.

Mileena: Esses caras estão pedindo...

Lobs: Ei, tá um pouco cedo pra arrumar problemas pra mim, não acha, encrenqueira?

Mileena: Você devia se preocupar mais em arrumar algo pra eu comer.

Lobs: Nem preciso, o seu pequeno escravo guardou sua comida pra não esfriar.

Mileena: Escravo, não. Ele é meu irmãozinho...

Lobs: Mas o trata como se fosse escravo.

Mileena: Ah, não enche, Lobs.

Mileena então foi para a porta de acesso ao subterrâneo para procurar Purkeed. O grupo da primeira mesa aproveitou para caçoar de Lobs.

Cliente 2: É assim que você pretende domar a fera, Lobs?

Cliente 3: Acho melhor você procurar uma forma melhor de paquerar ou então não vai arrumar mulher nunca.

Lobs: Dá pra continuaream a beberem calados? Obrigado, tá?

Cliente 1: E depois vai reclamar que as garotas são ruins com você...

Foi quando finalmente, o velho embriagado da outra mesa resolveu se manifestar.

Bêbado: Ruim? Vocês num têm ideia do que é ruim! Hic! Ruim meeeeesmo... É a Laaaaady Fogarééééééu!

Cliente 1: Lady Fogaréu? O que ela tem a ver com isso?

Bêbado: Num tão sabendo não, é? Lady Fogaréu tá circulando aqui no reino de Sortiny! Todo mundo aqui tá pondo o rabinho entre as pernas! Hihihihi! Hic!

Cliente 3: Ah, não liguem pra ele. Ele já tomou todas; nem sabe direito o que está falando.

Cliente 2: Sei não, heim? Eu vi uma movimentação esquisita dos guardas do castelo hoje cedo antes de vir para cá. Alguma coisa errada está acontecendo aqui.

Cliente 1: Se for mesmo ela, não me surpreende. Os rumores sobre ela são tão medonhos que até mesmo os mercenários e caçadores de recompensas tem receio de encontrá-la, mesmo com o aumento do prêmio pela captura dela.

Cliente 2: É, dizem que ela enlouqueceu depois que pegou o marido com outra mulher e fez uma fogueira de quatro metros usando os dois vivos.

Cliente 3: Nossa... Quanto será a recompensa pela captura dela?

Bêbado: Três mil moedas de ouro, meus senhores! TRÊS MIL! DE OURO! Hic! Hihihihihi!

Clientes / Lobs: Três mil?!

Bêbado: É dinheiro prum cara como eu beber até morrer feliz! Hihihihi! Hic! Mas eu duvido... Hic! DUVIDO que alguém pegue aquela mulher! Aquele fogaréu num apaga nem com uma tonelada de água! Hic! Hihihi! Hic!

Enquanto os três clientes se entreolhavam num misto de preocupação e desentendimento, Lobs pensava consigo mesmo o quanto seria ruim se Mileena tivesse escutado essa conversa. Sem ele saber, porém, ela estava logo atrás da porta de acesso ao subterrâneo. E ela ouviu tudo, dando em seguida um sorriso pra lá de afetado.

Mileena: (Não é só com água que a gente apaga fogo, velhinho...)

O que ninguém sabia naquela taverna, senão Lobs, é que Mileena tinha uma profissão, digamos, enérgica. Ela era uma caçadora de recompensas. E, ao ouvir a conversa no espaço comum, ela não pôde conter o interesse. Mileena estava tinindo por ação, tanto que até sua manopla ficava aquecida. Ela ganhou um novo alvo... E a caçada estava para começar.

Mileena: (... A gente também apaga fogo na marra.)