Jason

Desde que cheguei em casa, Thalia não parou de me azucrinar sobre o quesito encontro. O que foi bom porque ela não pôde mais fazer brincadeiras bestas sobre eu ser gay - nada contra - , mas ruim porque minha mãe quis saber de tudo.

– Mãe, não é um encontro. Só vou sair com uma garota careta e mostrar pra ela o lado bom da vida. - resmunguei enquanto me servia dos sanduíches que ela fizera

– Jason! Não fale assim da menina, aposto que é adorável. Eu conheço a família de Silena e as duas são uns amores

– Fale por você... - Thalia murmurou enquanto pegava refrigerante - A Silena bem que sabe ser insuportável quando quer. - reprimi um riso

– Vocês dois hein! - ela sorriu, bagunçando meu cabelo - Servidos? - assentimos - Pois bem, vou tomar um banho, estou exausta! - dito isso subiu as escadas.

Senti um chute na bunda e me virei para Thalia-mal-humorada-Grace.

– O que é?

– Pega o controle - ordenou como uma criança mimada. Corri os olhos pela sala e encontrei-o, a nada mais, nada menos, que um braço de distância dela. Arqueei a sobrancelha e disse:

– Por que você não pega?

– Está muito longe - abriu um sorriso malvado. Eu abri a boca para responder mas fui interrompido por batidas na porta.

– Só dessa vez porque vou levantar para ver quem é - levantei e joguei o controle para Thalia. Abri a porta e me deparei com uma mulher de uns 40 anos com um sorriso amigável. Ela enrusbeceu ao me ver.

– Oh desculpe! Casa errada - soltou um risinho sem graça e foi para a casa ao lado, que me dei conta que também estava ocupada. Arqueei uma sobrancelha. Desde quando? Provavelmente quando saí. Dei de ombros e fechei a porta.

Piper

Depois que Abbie e Silena finalmente me deixaram em paz, subi para o meu quarto para tomar um banho. Assim que coloquei um pijama confortável desci as escadas pois Abbie me chamara para o jantar.

– Então - meu pai entrelaçou os dedos sobre a mesa - Não precisa servir, está tudo bem, você é de casa, tenha um pouco de folga. - ele interrompeu Abbie amigavelmente, já que ela nos servia.

Abbie era uma amiga de mamãe, e ela teve gravidez precoce, portanto precisava de ajuda já que os pais morreram num acidente de carro e ela foi criada pela vó, que estava doente. Ela precisava de dinheiro, então mamãe contratou ela e ajudou a cuidar do bebê.

– Obrigada senhor Mclean

– Tristan, me chame de Tristan por favor - ele deu uma piscadela para nós duas - Ouvi vocês falando sobre...

– Pai! - interrompeu Silena - você ouviu nossas conversas? Que horror!

– Bom, diz respeito à uma de minhas filhas, então diz respeito à mim - ele sorriu, triunfante - Você tem um encontro? - ele foi super direto. Ah meu Deus! Meu pai estava com ciúmes?

– É, com Jason Grace - Silena se apressou antes que eu pudesse responder, a fuzilei com o olhar e ela me deu a língua

– Grace? - meu pai engasgou - Hum, bem...Tudo bem então - ele sorriu, mostrando algumas ruguinhas do lado dos olhos.

Aquele foi o jantar mais estranho da minha vida. E o que veio a seguir foi ainda mais, acreditem.

– Filha? - meu pai bateu na porta e enfiou a cabeça para dentro, mostrando parte do corpo. Estava no meu quarto. - Posso entrar?

– Já está dentro - sorri, tímida

– Bem - ele esfregou as mãos e se sentou ao meu lado, suspirando - Já não é mais a minha menininha - sorriu triste

– Pai...

– Não, tudo bem. Eu teria que conversar com você sobre isso uma hora ou outra, já que...bem, sua mãe não está aqui. - ele estava certo, não tive lá muito contato com minha mãe, ela viajava demais, era dona de uma revista de moda, além de uma agência de modelos e blá blá blá...

Sempre a mesma desculpa: "Oh Piper, desculpe, não poderei sair com você e com Silena pois tenho um compromisso de última hora em Milão!" , "Oh Piper, sinto muito, mas precisam de mim para a escolha dos modelos da próxima estação, sem contar os modelitos, os ajustes...Ah! Mamãe ama você, está bem?"

Argh! Estava cansada disso, então, assim como Silena, parei de ligar.

– Piper? - meu pai chamou, pisquei os olhos, confusa. Será que fiquei tanto tempo "fora de órbita"?

– Oi - sorri docemente pegando em sua mão

– Você sabe, os meninos...hum, - pigarreou - nessa idade...

– Pai, por favor...Não precisa

– Sua mãe nunca me perdoaria se eu não tivesse essa conversa com você - ele apertou minha mão - eu tive com Silena mas...

"Não adiantou."

– Hum, pai, acho que adiantou...Sabe, agora ela está namorando com o Charles, e ele é um cara legal

– Mesmo? - ele levantou o olhar e pareceu mais aliviado - É, ele parece um brutamontes mas...

– Pai, ele a faz feliz

– É, tem razão, isso que importa - sorri, pensando que ele já esquecera do assunto encontro que na verdade nem era um encontro de verdade, mas para a minha infelicidade ele lembrou - Ah! Então, os adolescentes, eles têm hormônios, e nessa idade, os meninos principalmente, ficam incontroláveis...Eu já tive a sua idade, sabe, sei como é, mas hum...

– Pai, você está bem? - ele estava começando a ficar pálido

– Só estou preocupado - sorriu sem graça - Mas algum deles, só querem...ficar, sabe? Contar quantas ficaram, só se aproveitar e...

Silena caiu com um baque surdo no chão, eu nem vira Abbie entrar. Tinha uma porta que ligava os quartos e Abbie abrira justamente essa.

Oh meu Deus, Silena estava escutando tudo!

– Então - Silena riu, envergonhada - Pai, eu posso ajudar Piper com isso.

– Ah, certo, era só isso que eu queria falar mesmo, hum - ele se levantou, desconfortável - melhor eu ir

– Pai - segurei sua mão - obrigada - o abracei

– Se cuide - retribuiu o abraço e saiu do quarto.

– Obrigada Pipes - Silena pulou em minha cama me abraçando - demorou um pouco pro papai aceitar Charlie, mas depois disso...Ah! Ele vai ficar tão contente quando souber! - Silena pegou seu celular e começou a digitar freneticamente - Ah! Sobre o Jason, não se preocupe, okay? Ele é um cara legal. Só não banque a careta, okay?

– Silena! - ela riu

– É sério Pipes, se divirta um pouco, se solte... - ela levantou da cama me puxando, enquanto dava "play" em uma música da sua playlist louca. Acabei me deixando levar pelo ritmo, deixando Silena feliz.

– Vem Abbie - puxei-a para junto de nós

– Ah! Eu não tenho jeito para isso, meninas - ela riu, envergonhada

– Nós ensinamos - Silena falou e a puxou.

Dançamos pelo menos mais de 100 músicas até cansarmos, Silena realmente tinha um bom gosto.

***

Jason

Acordei cedo pois praia nunca se aproveita quando acorda tarde, tomei um banho, coloquei um calção e assim que desci as escadas encontrei minha mãe de camisola.

– Vai sair? - arqueou uma sobrancelha

– Praia com o pessoal - expliquei

– Ah, Thalia também vai?

– Ela já acordou? - minha mãe negou com a cabeça enquanto tomava um pouco de café - então vai ser difícil...

Depois que terminei, subi as escadas e fui ao quarto de Thalia, apenas ouvi minha mãe rir e gritar:

– Boa sorte!

Se você está lendo isso, saiba que esse foi meu último momento antes de morrer.

Entenda, os metódos de acordar Thalia são tantos que é difícil escolher, mas graças a Deus todas as manhãs sou presenteado com ideias e com a oportunidade de viver na mesma casa que ela para pôr em prática as ideias.

Hoje, resolvi fazer algo simples, eu chamei ela, juro que chamei.

Apenas puxei o lençol que cobria ela, mas ela por instinto o segurou.

– Thalia - falei sério - levanta.

Ela resmungou algo e se virou, dormindo como um bebê. Apenas parecia angelical quando estava dormindo. Apenas. Puxei com mais força, quase a derrubando da cama. Foi uma posição engraçada, ela estava com as pernas na cama ainda, com o corpo quase escorregando, se não estivesse de ponta cabeça tentando se equilibrar, sonolenta, com os braços curtos.

– Jason Grace - sibilou - eu vou te matar.

– Duvido que consiga nessa situação - ri

– Mas antes me ajude aqui, por favor? - pediu docemente. Até de ponta cabeça Thalia conseguia ser mais assustadora.

– Claro - sorri, puxei suas pernas a deixando desequilibrada, fazendo com que a mesma caísse.

– Eu vou arrancar suas bolas! - se levantou e correu atrás de mim. Ela pulou nas minhas costas, mas eu girei e joguei ela na cama novamente, a imobilizando.

– Vamos à praia - declarei - se arrume

– Quem estará lá?

– Silena e sua irmã, Charles, Leo, Bianca e...

– E...?

– Nico, acho, sabe como ele é...

– De jeito nenhum! - ela arregalou os olhos, num desespero que nunca vi - eu estou...

– Está?

– Com dor de cabeça, é, é isso - sorriu amarelo

– Ok, eu vou indo, a não ser que você prefira ficar com a mamãe, porque ela vai visitar uns amigos chatos

– Aqueles que moram há duas quadras daqui?

– Os próprios - sorri

– Espera! Vou com você.

Depois de esperar umas 500 horas por Thalia, ela finalmente apareceu.

– Tá usando maquiagem? Vai borrar tudo quando você entrar no mar

– Quem disse que vou entrar no mar? E é a prova d'água, seu idiota. Agora vamos logo que estou com fome.

– Não sei como você não engorda - ri enquanto atravessava a rua. Sim, a casa era em frente à praia. Você podia descer a escadinha, andar um pouco e já sentia a areia.

– Eu como pouco - levantei uma sobrancelha - Tá, eu como pra caralho - admitiu, ri

– Você tem comido pouco mesmo - avistei Leo, Calipso e Bianca; acenei.

– Até que enfim! - exclamou Leo quando cheguei mais perto - Essas duas começaram a conversar e me deixaram de lado

– Cadê o Charles?

– Foi buscar a Silena

– Não vão chegar tão cedo - Leo concordou rindo - bora lá... - ele congelou e ficou com uma cara de abobado, olhando algo atrás de mim - Aquela é sua irmã?

Olhei sobre o ombro e vi uma menina baixinha, de cabelos pretos, olhos azuis eletrizantes e pálida; - não ganhando de Bianca - com os braços cruzados, emburrada.

– A própria - confirmei - Por quê?

– Cara...

– Não fala merda...

– Ela mudou muito

– Aham, o que você ia falar mesmo?

– Ah, bora entrar no mar, tá uma delícia

Concordei, afinal estava muito calor.

Piper

Silena irrompeu da porta do quarto, parecendo uma pantera cor-de-rosa. Mas ela estava realmente bonita, o rosa neon contrastava com sua pele increvelmente bronzeada.

Diferente de mim, que parecia um palmito num biquiní que ela guardara quando mamãe mandou presentes.

– Piper, você viu... - ela suspirou, me olhando dos pés a cabeça. Mas não foi do tipo decepcionada, como sempre fazia pelo jeito que eu me vestia ou estava, mas do tipo orgulhosa. - Ah, você está linda

– Obrigada, vamos? Estou aqui há 2 horas pronta porque você disse que nos atrasaríamos, mas na verdade estamos 1 hora atrasadas por sua cau...

– Já estou pronta!

– Achei! - Abbie entregou à Silena um bronzeador. E suspirou, do tipo orgulhosa, como sempre fazia quando nos via arrumadas. A diferença de Silena e Abbie, é que Abbie não me criticava ou suspirava decepcionada, ela me ajudava, conversando com mais calma.

– Obrigada. Você também está linda Abbie

– Eu a arrumei! - Silena disse, orgulhosa

– Onde você vai? - perguntei, curiosa

– O patrão me deu uma folga, então vou passear - ela comemorou, se despedindo de nós

– Você acha que ela...?

– Claro Pipes! Não seja boba, agora vamos, Charlie já está aqui na frente.

Depois do cumprimento meloso deles, Charles me deu um abraço e ajudou a carregar as coisas, afinal, a casa era em frente à praia.

Logo avistamos Calipso, a namorada de Leo, uma menina pálida de cabelos negros e um menino parecido com ela, que depois descobri serem irmãos e se chamarem Nico e Bianca di Angelo.

– Chegamos!! - declarou Silena, escandalosa como sempre. Ela começou a conversar com Calipso sobre moda e outras coisas, enquanto conversei com Bianca, que era muito simpática.

– Onde estão os outros? - perguntou Charles

– Logo ali - apontou Calipso e...

– Uau - Bianca arfou, junto de mim. Nico a cutucou, enciumado, rimos, ele era o irmão mais novo e se mostrou bastante ciumento. Eu não queria acreditar que o cara loiro de olhos azuis que vinha em nossa direção era Jason Grace. Ele tinha um peitoral definido, sem dúvida alguma, poderia ser modelo.

Se não fosse seu jeito arrogante...Mas, pensando bem, metido assim ele se encaixaria.

– Uau - Nico também suspirou e Bianca riu, ele provavelmente estava suspirando pela menina ao lado de Jason...

Menina ao lado de Jason. Ela pulou nas costas dele. Por que eu me senti incomodada?

Eles chegaram mais perto e seu olhar caiu em mim, faminto. Senti meu rosto queimar. Olhei para a menina ao lado dele e ela estava tentando não rir, ela tinha olhos azuis eletrizantes e cabelos pretos e repicados, ela pálida, mas não tanto quanto Bianca. E falando em Bianca...Assim que ela viu a menina, se levantou correndo e gritando, para abraçar ela.

– Vocês ainda não foram apresentadas - Bianca chegou ofegante, puxando a menina - Essa é a Thalia, irmã do Jason

– Irmã? - arqueei uma sobrancelha

– É - ela riu - não parece mesmo.

De repente elas começaram a conversar, eufóricas do tipo Silena e Calipso, mas a diferença é que elas não falavam sobre maquiagem, garotos, moda, maquiagem e...Puxa, eu já falei garotos?

Olhei para uma mão estendida à minha frente e levantei o olhar. Uma visão do inferno numa mistura com a do paraíso - bem, mais do inferno - estava bem em minha frente. Jason Grace, com seu corpo bronzeado e malhado, sorrindo como um cafajeste, com uma cicatriz no canto do lábio superior - sendo bem visível devido ao bronzeado - estava com a mão estendida para mim.

Arqueei uma sobrancelha, mas aceitei, trêmula. Um choque percorreu meu corpo, fazendo minha espinha congelar e um frio na barriga surgir.

Não, você não pode se mostrar fraca assim só porque ele está sorrindo. Seja forte Piper. O que vovô Tom acharia disso? Patético! E ele provavelmente contaria mais uma de suas lendas cherokee para explicar tal fato.

Mas eu estava no mundo real agora, então tinha que encarar Jason Grace com seu sorriso cafajeste e sua beleza única e inigualável.

Ele me puxou com força demais, fazendo com que nossos corpos se chocassem, o que não contribuiu nada para o meu estado. Na realidade, só piorou. Eu estava prestes a desmaiar.

Pigarreei, me afastando, estávamos praticamente colados a segundos atrás.

Você bem que queria ter ficado mais colada nele... , disse meu subconsciente

Oh, cale a boca!

Mas é verdade, vai dizer que não? , implicou

Okay! É verdade, satisfeito?

Muito.

– Vem - ele me puxou, parei

– Aonde você está me levando? - perguntei

– Para o mar - respondeu como se fosse óbvio

– Ah, tudo bem - ainda hesitante, me deixei ser guiada. Olhei para Bianca e Thalia pedindo ajuda, mas elas apenas fizeram um "joinha" me incentivando, Silena ficou boquiaberta e quase derrubou Calipso e os demais da cadeira enquanto os cutucava freneticamente e apontava para nós. Ri sem graça, chamando a atenção de Jason.

– O quê? - ele deu mais de um seus sorrisos mega-watt destruidores. Indiquei com o queixo nossos amigos que de repente estavam muito entretidos olhando para seus próprios pés - foi uma tentativa muito falha de não mostrar que estavam prestando atenção em nós - .

Jason soltou um "ahh" silencioso e riu, enquanto eu lutava para minhas pernas não bambearem e continuarem andando até o mar. Percebi como os músculos de Jason ficavam mais visíveis quando retesados e...

Senti algo gelado bater em minha bunda.

Olhei para trás, e senti a água salgada salpicar no meu rosto e no resto do corpo. Limpei o rosto e procurei por Jason, o desgraçado estava rindo descaradamente. Chutei a água e molhei ele, que fez uma cara de falsa indignação e revidou. Ficamos correndo um atrás do outro e chutando água até nos darmos conta de que estávamos com a água até o pescoço.

Ele começou a jogar no meu rosto, senti meus olhos arderem e andei para longe dele, numa tentativa falha de fugir. Ele me puxou e enquanto eu me debatia nos braços dele, uma onda gigante veio, quase nos derrubando e nos colando mais ainda.

Eu ainda vou morrer. Meu corpo estava todo arrepiado, não pelo frio, a água já estava morna por conta do Sol que reluzia nela, mas sim por Jason Grace estar colado em mim. Eu falo como uma espécie de reverência o nome completo dele, mas qual é, ele é uma divindade mesmo, não há como negar.

– Desculpa poxa

– Seu idiota!

– Calma, aqui - ele passou a mão no meu olho, mas só piorou

Olhei para nossos amigos e eles estavam rindo demais, Leo estava rolando na areia de tanto rir, literalmente. É, a cena devia estar realmente hilária.

Depois de um tempo, meus olhos se acostumaram e eu já conseguia mergulhar. Dei por falta de Jason, e em quanto olhava ao redor senti algo pegar meu pé.

Dei um grito estridente, que fez todos ali presentes olharem por alguns segundos. Mas assim que Jason irrompeu pela superfície todos entenderam que era só uma brincadeira de um cara idiota com uma garota. Menos nossos amigos, é claro. Que enquanto riam e apontavam freneticamente, batiam em algo por perto para tentar parar com a crise de risos. Corri - se é que é possível correr ali - um pouco lenta pois a maré me puxava para perto de Jason. Até que pisei em falso e afundei.