Quando Davi entrou no apartamento de Manuela, viu que ela já tinha arrumado a sala, posto uma mesa de café para dois, e, lá no quarto, estava sentada contando algo em um calendário.

– Manuela? - ele disse já sentindo o peso da conversa.

– Davi!! Entre querido, já coloquei nosso café reforçado, visse! - ela disse jogando o calendário de lado, assustada, e vindo em direção dele estendendo os braços para um abraço que Davi desviou.

– Bom. - ele colocou as mãos na cintura e a perna direita a frente, flexionada, como se estivesse se preparando para falar algo e depois correr - Manuela, eu só vim aqui para pegar o resto das minhas coisas - ele olhou ao redor - é claro que já não tem mais roupas minhas aqui e ... nenhum dos móveis são meus, nem tenho escova de dente...- viu seu celular em cima da mesinha de centro - acho que só tem isso de meu mesmo.

Davi pegou o celular na mesinha, e franziu a testa.

– Por que ele tá desligado?

– Foi você quem desligou ele, ontem a noite - respondeu Manuela rapidamente, mentindo e se aproximando dele - Davi, eu não to entendendo, depois de ontem a noite achei que íamos nos acertar. Você estava tão carinhoso...

– Manuela - ele afastou ela que tentava abraça-lo - eu...realmente nem lembro o que aconteceu ontem a noite. Não acho justo com você, mas só consigo pensar em ontem como um erro. Um erro meu. Senta aqui - ele puxou ela para sentar no sofá, e olhando ela desabafou - a gente já não é um casal há muito tempo. Mesmo o que quer que tenha acontecido aqui ontem é algo fora da nossa rotina nos ultimos meses, ou anos...

– Mas Davi...

– Deixa eu terminar, por favor. Nós nos damos muito bem, mas é como amigos, talvez parceiros de games...nem nos projetos da Brasuca nos entendemos mais..

– Porque você não quer, era só aceitar minha proposta de irmos para a Marr...

– É justamente isso! Eu não tenho as mesmas ideias que você. Pensando bem hoje, nunca tive! Acho que apenas estávamos tentando fazer dar certo isso depois do que fizemos para ganhar o reality juntos. Como se para mostrar que não fomos teimosos ou nos enganamos quando enfrentamos o Jonas para poder ganhar juntos, tentando mostrar que era porque realmente não conseguiríamos ganhar sem o outro. Eu... eu não sei o que nos manteve até hoje, mas sei que o amor que tinha, bom...é passado.Ainda admiro você, e não nego nosso passado, mas é passado!

Manuela estava com a boca aberta pronta para retrucar. Mas depois de tantos passado, ela ficou passada! Fechou então a boca e começou a chorar.

– Davi, eu não te vejo como passado. Minha vida sempre foi muito difícil, meu pai está preso... - Davi havia suspirado diante do inicio de mais um discurso de Manuela a sofredora, mas levantou a cabeça surpreso.

– Seu pai está preso?

– Sim, você não lembra disso de ontem?

– Não lembro de nada de ontem!

– Sério? - Manuela pareceu animada - De todo jeito... - e voltou a fazer o discurso de "tenha dó de mim" - eu soube agora que meu pai está preso, meu irmão sempre foi minha responsabilidade, quantas vezes não tive que abandonar planos ou batalhar dobrado para garantir vida melhor a ele, com essa doença. E fui enganada tantas vezes, usada por namorado, FBI... Seu pai me odeia por conta de eu ter sido usada para ajudar na captura dele, mesmo sabendo que ele teve culpa. Eu sei que ele só me mantém por que quer te agradar.

Ela se encolheu no canto do sofá, puxando as pernas, olhando para o lado, fazendo cara de sofrida.

– Meu pai não vai fazer nada contra você, eu prometo. E Manuela, você é uma das pessoas mais fortes e determinadas que já conheci, é uma das coisas que mais admiro em você, sei que esses problemas são apenas chances de você mostrar ....o quanto é capaz - Davi ficava pensando em como dizer que ela não precisa dele para resolver os proprios problemas - afinal, nós sequer estivemos juntos nos ultimos meses e você está aqui, firme e forte.

– Sim - ela respondeu olhando sério para ele, vendo que o drama não deu certo - eu vou aguentar firme.

Davi sorriu aliviado.

– Essa é a Manuela que conheço. Guerreira Maya. - ele deu dois tapinhas na canela dela - Bom...eu vou indo. Boa sorte, guerreira Maya.

Davi saiu da casa de Manuela aliviado. Não tinha percebido o quanto arrastar aquela situação havia deixado ele tão tenso, como se carregasse um peso, uma responsabilidade, um segredo, não sabia o que era, mas se sentia limitado, preso,e agora estava livre! Na verdade, se sentia muito bem como só em tempos de namoro com Megan conseguiu se sentir!

Pensou nela, sorriu largo, agora ele só precisava ver a melhor maneira de encontrar ela e contar sua decisão, a de lutar por ela. De mostrar que eles ainda podiam ser felizes juntos.

Mas como faria isso? Ela na casa com Arthur ia ficar bem complicado. Davi ligou o celular e viu várias notificações de ligações para ele, muitas de um número que não conhecia. Ele não costumava responder mas poderia ser da Megan. Retornou mas caiu na caixa postal. Desanimado, já quase meio-dia, foi até a plugar.

Manuela em casa voltou a para seu calendário, contando os dias da sua tabelinha.

– Pode dar certo. Ainda bem que não tomo regularmente o anticoncepcional. Vamos equilibrar essa batalha, Megan Marra!

Danilo estava na sala, esperando a médica passar. Assim que já era mais de uma da tarde, ela passou por ele com as malas.

– Hey, onde você vai? - ele gritou para ela que o ignorou - espera aí papaléguas.

Ele a alcançou antes de abrir a porta.

– Não te deram educação no hight school? Responde a minha pergunta - ele segurou a porta encarando Julién.

– Tente adivinhar! Disse que vou embora para a Megan, reuni todas as minhas coisas, já falei com médico que vai me substituir, e já comuniquei via mensagem Arthur! Logo?

– Quer ajuda para ir embora?

– O que? Espera, a Megan não deu ordens de você me parar?

– Sim, mas a primagata não precisa saber que te ajudei. Eu só digo que você me ameaçou de estar te mantendo presa e essas coisas!

Danilo falou pegando a menor mala que ela segurava, enquanto ela ficava de boca aberta.

– Vem, te ajudo!

– Mas...?

– Corre mulher, vai perder o onibus..avião! Não acha que vou perder a chance de me livrar de você, acha?

Ele então saiu da casa, chamando o motorista.

– Aaaa já sei - ela foi atrás dele carregando o resto das malas - psicologia reversa, você deve achar que dizendo que eu ir embora é tudo o que você quer vai me convencer a ficar!

– É? E não funcionou? Pena. Tchau!

O carro parou em frente aos dois. Ele abriu a porta de trás e jogou a maleta dela.

– O que posso dizer? Eu tentei evitar. Usei todos os meus recursos. Quer ajuda com as outras malas? - ele falou já pegando as outras e jogando no banco de trás do carro.

– Ok, se é o que ambos querem. Lá vou eu!

E Julién entrou no carro irritada por dar o gostinho de agradar o primo de Megan. O carro começou a mover e logo Danilo correu até ele o parando. Julién abaixou o vidro dizendo:

– Arrá, sabia que você não podia me deixar ir.

– Sai pra lá - ele falou abrindo a porta do carro - se a Megan chegar e eu estiver aqui e não com você, tentando te impedir - ele fez sinal de aspas na ultima parte - ela não vai acreditar que tentei de tudo para te impedir. Pode ir amigo.

A médica bufou enquanto o carro seguia para o aeroporto.

Davi entrou na plugar e sorriu. No canto da sala, onde ele trabalhava nos projetos da irmã do Junior, estava Ernesto, com um monte de papéis na mão tentando entender alguns gráficos.

– Ernesto Avelar, o melhor sócio do Brasil. Vem cá amigo - falou Davi muito animado indo abraçar Ernesto.

– Davi, você já tá bebado de novo, ou ainda está bebado desde ontem? - disse Ernesto olhando desconfiado o amigo o abraçar.

– É.. acho que ontem eu exagerei . Nem lembro o que aconteceu.

– Nem é bom lembrar. Tem coisas que realmente é bom não lembrar - e Ernesto deu um sorriso forçado - mas me diz, como foi com a Manuela?

Ernesto queria saber como ele se resolveu com a falsa novinha, e sobre as mentiras ou omissões dela reveladas na noite anterior.

– Como você sabe sobre eu e a Manuela?

– Eu tava lá né Davi!

– Você tava lá?

– Cara fui eu quem te segurou... vem cá, não lembra dos beijos, o boca-a-boca?

Davi fez uma cara de surpresa e depois de horror.

– Eu realmente preciso parar de beber. Como é que ... espera, é sério isso, você, Manuela e eu passamos a noite juntos? Teve mais alguém?

– O que? Você passou a noite com a Manuela? Davi...

– Não era disso que você estava falando?

– Não - Ernesto respondeu sério, jogando os papéis na mesa, decepcionado – e nem quero falar.

Davi olhou Ernesto passar por ele, irritado, em direção da saída. Foi atrás do sócio.

– O que foi? Espera, Ernesto!

– Davi, eu cansei. Você pode achar essa loucura de um dia amar Megan e no outro dormir com Manuela, num dia amar Manuela e no outro dormir com Megan, normal. Mas eu não tenho paciência para isso mais não – Ernesto quase gritava – depois de ontem então... meu Deus, Davi!

– Eu não sei o que fiz ontem!

– E o que você não fez ontem a noite, Davi? Eu sinceramente estava com pena de você, achando que estaria mal por conta da Megan, mas você vai e fecha a noite com chave de ouro!

– Ei... – Davi chamou a atenção de Ernesto mas não tinha como se defender – desculpa! Eu simplesmente não sei o que deu em mim. Eu nem lembro o que fiz cara – Davi gesticulava desesperado – quando eu acordei do lado dela, achando que era a Megan..nossa, você não faz ideia de como eu me senti mal.

Ernesto escutava o amigo com as mãos na cintura.

– E agora? Você vai fazer como? Vai continuar com a Manuela e esquecer a Megan ou vai dar um pé na bunda de coitada da sua ...atual, depois de ter passado a noite com ela?

– A segunda opção não parece muito boa, é? – Davi perguntou preocupado com o tom reprovador do sócio.

– Você terminou com Manuela depois de ter passado a noite com ela? – Davi assentiu – Parabéns cara, achei que nunca fosse resolver isso! – Davi riu com a mudança de feição e opinião do sócio, que se animou com a notícia – Mas diz aí, como é que ela ficou?

– Acho que vai superar. Ela reclamou que achou que estava tudo bem depois do que passamos, mas eu nem lembrava! O fato é que eu não podia mais deixar essa situação assim, em aberto, como se eu realmente ainda achasse que tinha chances de voltar com ela, não há.

– E por queeee...?

– Porque eu quero a Megan. É ela que eu amo. Já chegou a hora de assumir, parar de fugir e ficar trancando isso, vivendo só dos poucos momentos com ela – Davi se apoiou em uma mesa e cruzou os braços olhando para baixo – eu quero é estar com ela. Por mais que agora ela não queira.

– Amigo – Ernesto se aproximou e colocou mão no ombro do sócio, confortando-o – que bom que você percebeu isso, sóbrio – ele completou baixinho

– É. Eu estava muito confuso hoje pela manhã, imagina! Mas meu pai me fez pensar melhor.- Ernesto levantou a cabeça alerta ao ouvir a palavra pai, uma porque Davi não chama Jonas assim, e duas porque não entendia como o pai dele apareceu na historia, mas resolveu deixar o amigo desabafar sem interromper - Não quero ficar me iludindo que tem jeito o que nem há mais. E terminar como ele e Pamela, ela magoada depois de saber da Veronica, sofrendo pela traição...

– Sofrendo por pouco tempo, pois logo me encontrou..- completou Ernesto rapidamente.

– Certo – Davi sorriu – o fato é que percebi que por mais que se mostre cheio de impedimentos para mim e Megan agora que ela está grávida do Arthur – Ernesto pigarreou – eu tenho que lutar. Eu tenho que recuperar o amor da Megan. Eu sei cara, ela ainda me ama, mas eu magoei ela. Tenho que mostrar que não vou mais magoar ela. Que eu agora sei que é ela quem eu quero, a mulher certa para mim!

– Mas que bom amigo – Ernesto o abraçou – que bom. Posso contar com você sempre sóbrio daqui pra frente?

Mas Davi não chegou a responder.

– Oh no, Davi, não aceite, você bêbado é muito divertido – falou Megan entrando, segurando o seu casaco no braço esquerdo – Hi, Davi.

Ela o cumprimentou abrindo um sorriso doce que causou um efeito imediato em Davi. Ele sorriu largamente.

Ele pensou que realmente a gravidez deixava a mulher mais linda, radiante, porque Megan estava como que iluminando o lugar. Estava com vestido amarrotado, cabelo emaranhado e corada, linda!

Ela caminhou até eles, sorrindo e soltando o cabelo, agitando ele para tentar diminuir o emaranhado. Davi passou a língua nos lábios e os apertou forte, jogando o corpo para trás, tentando ficar firme. Como em todas as aparições de Megan ele lutava com a vontade dos músculos do rosto em montar um sorriso bobo, e com o fato de o ar ficar mais difícil de encontrar. Antes, é claro, Davi simplesmente ignorava esses fatores, pois era bom não pensar a causa, agora ele estava preocupado em ficar óbvio demais.

– Megan, não incentiva que esse aqui anda um pudim de cachaça dos piores.

Disse Ernesto rapidamente ao notar que Davi nem mesmo respondeu o “hi” de Megan e agora cruzava os braços, olhando para baixo e para ela com umas caretas muito estranhas. Controlando sorrir, não conseguindo, voltando a tentar não sorrir. Davi por sinal nem escutou o amigo, agora observava atento Megan se aproximando, olhando ela de cima a baixo. Mesmo com algumas manchas de terra, estava maravilhosa.

– Well, eu adoro pudim! – ela respondeu.

Megan então se apoiou em uma mesa perto deles e de frente para Davi, dessa vez todo o controle de Davi foi pro chão, ele sorriu soltando um pouco do ar preso de nervoso. Balançando a cabeça ele olhou para o amigo que o olhava intrigado. Nunca o tinha visto assim.

– Certo! – foi tudo que Davi conseguiu responder enquanto passava a mão direita pela barba mal feita, olhando furtivamente para as pernas levemente cruzadas de Megan – certo!

– Isso deve ser um “Ernesto, você não tinha um outro compromisso?” – falou Ernesto para Megan sorrindo – cuja a resposta é “certo!”.

Megan deu uma risada, Davi a olhou e riu também e então entendeu o que o amigo quis dizer e balançou com a cabeça concordando e agradecendo a sutileza dele.

– Ótimo. Nos vemos! – disse Davi para o sócio.

– Calma, não precisa insistir para eu ficar, cara – Megan levantou as sobrancelhas e riu do gracejo do Ernesto – eu preciso ir, não tem jeito. Bye, Megan, até a próxima. Davi, me acompanha até a porta?

– Por que? – Davi respondeu rápido tirando os olhos da Megan para o sócio entranhando.

– Hehe para mostrar qual o caminho.

– Mas é tão difícil, segue reto ó – Davi respondeu rápido apontando o caminho reto até a porta da Plugar.

– Vem de uma vez – e Ernesto puxou o amigo pelo pescoço até para fora da Plugar.

– O que foi isso? – Davi perguntou dando olhadelas para dentro da Plugar, vendo Megan se levantar e começar a olhar os computadores e papeis soltos.

– Nada, só queria terminar um assunto importante antes de sair.

– Fala – Davi disse objetivo, cruzando os braços.

– Bom, você disse que estava decidido a lutar por Megan e mostrar que não a magoaria mais, certo? – Davi assentiu – vai contar sobre ontem a noite?

Davi franziu a testa e fechou a cara, realmente era a pior parte da noite anterior, Megan saber. Afinal antes de vomitar nele, ele havia dito que a amava! Como ele poderia sustentar isso indo para cama com Manuela logo depois, mesmo bêbado?

– É... pois é – Davi respirou fundo, coçou a cabeça – eu vou pensar nisso.

– Pensar? Davi...

– Não se preocupa, Ernesto, primeiro deixa eu começar bem as coisas, depois a gente vê como faz! Agora vai lá.

E Davi deu dois tapinhas nas costas do amigo e saiu correndo para a Plugar.

– Depois falo contigo, tem muito o que conversar ainda!

Ernesto gritou mas Davi nem ouviu, ou fingiu que não ouviu.

– É, talvez ele mereça mesmo não saber agora sobre o filho – Ernesto falou sozinho e depois olhou ao redor rápido para ver se não tinha alguém perto, e foi embora.

Davi chegou perto de Megan parando sem ar da breve corrida. A olhou respirando com dificuldade, levantando a sobrancelha, piscando e abrindo um sorriso.

– Então...?

– Então? – ela respondeu se virando e o encarando, a apenas um palmo de distancia.

Davi se aproximou para lhe dar um beijo na bochecha, mas Megan fugiu rápido para perto do computador onde ele trabalhava no novo projeto da irmã do Junior.

– Como vai o novo projeto? – Megan disse suspirando.

– Não vai. Eu tinha começado algo novo muito bom há uns dois meses...mas perdi minha inspiração – Davi falou indo até ela, cruzando os braços e a olhando de cima a baixo – você parece que veio de uma briga no chão.

Eles riram, ela estava mesmo precisando de um banho.

– Você sabe como o Linus gosta de demonstrar o amor dele por mim. Ele só parou quando deram a comida dele. Estava faminto, as crianças deram quase dois potes cheios de ração para ele.

Megan disse isso animada, mexendo no cabelo e na roupa. Davi ficou observando com um sorriso.

– Sério? Linus não come bem faz tempo. Na verdade acho que desde pouco depois da ultima vez que você esteve aqui.

– Oh yeah?

– Yéah – ele respondeu fechando o sorriso, apoiando o braço direito numa coluna, trancando a saída de Megan por aquele lado, e se aproximando dela outra vez – todos aqui estavam com muitas saudades de você.

Megan sorriu e passou por baixo do braço dele.

– Realmente as crianças estavam muito animadas com a minha chegada.

– Sim – Davi se virou para ela a observando, era a segunda vez que fugia dele – todos NÓS queríamos muito você de volta.

– Really? – Megan se virou para Davi e se apoiou em uma mesa de frente para ele.

– Really! Acho que eu mais que eles – ele falou mais tímido, mas mirando ela intenso.

– Eu percebi ontem na festa, depois de uns drinks você sabe realmente como agitar uma festa hahahah

– Hahahah eu ainda vou sofrer muitas piadas por causa de ontem ne?

– Acredite, ninguém vai esquecer e nem deixar você esquecer hahahah.

– Bom, eu já não lembro de nada – ele falou dando uma passo a frente, observado por Megan – a primeira parte já não vai dar certo.

– Hahaha típico, as merdas você não lembra.

Davi parou, com feição mais séria diante do que ela falou. Ela notou.

– Bom, eu por mais que beba sempre lembro de tudo. Principalmente das merdas, não sei se é uma praga ou uma dádiva. A gente sempre acaba rindo de algumas partes, entre outras que marcam.

Davi levou um tempo para entender, estava focado no olhar dela.

– Espera, sempre lembra?

– Sim, todas as vezes. – ela sorriu se levantando e indo para um local com livros.

– Megan... – Davi pensou então em dois momentos específicos que teve de cuidar de Megan, as quais achou que ela nunca lembraria – você ...tem muitas que marcaram?

Ela se virou sorrindo moleca.

– Umas duas, ou talvez três. Achei que você também! Você não disse que lembrava de tudo que aconteceu na noite que cuidei de você, bêbado, no seu quarto?

– Sim, mas naquela noite eu não tinha bebido demais, logo o que fiz foi bem consciente...

– Hmmm que pena essa sua amnésia alcóolica, Davi, eu lembro qualquer que seja o nível de bebedeira – ela deu um risinho.

Megan se sentou em uma cadeira cruzando as pernas e o olhando curiosa. Davi estava sério.

– What?

Foi quando a ficha caiu e as lembranças que passavam pela mente dele passaram pela dela também.

Eles então ficaram parados olhando um para o outro, lembrando as duas situações em específico em que Davi cuidou de Megan bêbada, e o que aconteceu.

Davi lembrava com maior clareza da noite em que cuidara dela depois que soube sobre a doença do Jonas.Assim que saíram da festa junina.

Como Megan estava com seu carro na Gambiarra mas não podia dirigir, Davi se ofereceu a levar o carro dela. Ele lembrava de ela não o largar até que abriu a porta e a ajeitou no banco do carona.

Pensou que talvez ela fosse dar trabalho, mas Megan apenas se virara para a janela, encolhida, chapéu no colo, com a mão esquerda sob ele e a direita sobre ele. Essa ultima levantava as vezes para enxugar lágrimas que caíam. Quando chegaram no centro da cidade ele notou que ela estava sem cinto. Parando em um acostamento, Davi, evitando qualquer contato ou tentativa de Megan beija-lo, puxou o cinto sobre ela. Megan apenas se ajeitou e aceitou passiva o cuidado.

Davi nunca tinha a visto assim frágil. Não parecia a patricinha voluntariosa que apenas queria mais uma aventura, para quem a vida não tinha maiores complicações e o problema era onde ia tomar a próxima bebedeira.

– Megan... você...você está bem?

Ela fungou e virou o rosto para ele, devagar, como se o movimento despendesse muito esforço. Ela o olhou nos olhos, Davi sentiu uma pontada no peito. Ela estava tão triste, parecia tão indefesa. Ele então teve que controlar um impulso que nasceu da boca do estomago; o de abraçar Megan e conforta-la. Impulso que ficou ainda mais difícil de resistir com a resposta dela.

Mexendo a cabeça para cima e para baixo como afirmando que estava bem, Megan começou a chorar copiosamente, dizendo então com a voz agoniada.

– No, Davi, i’m not. My dad – ela mexia a cabeça de forma negativa agora, como que tentando afastar os fatos – ele não pode morrer, Davi.

– Megan... – ele soltou o cinto e segurou o rosto dela com as mãos.

Mas Megan estava abalada demais. Fugindo do carinho de Davi ela voltou o rosto para a janela e continuou a lamentação:

– Sabe quando você está muito magoada com alguém e diz que não se importa se ela morrer? Sabe quando a gente fala isso pros pais, que não se importa se eles sumirem, quando estamos com muita raiva?

– Eu...

Davi ia mencionar que nunca disse isso, uma vez que os pais morreram quando ele era pequeno e ele sabia que a vida sem os pais perto era a pior coisa a se desejar.

– Eu nunca disse isso para o meu Dad – ela continuou olhando pela janela, a voz mais firme e triste – nunca quis ficar longe dele. E não é porque meu pai de verdade morreu antes de eu nascer – ela olhou para o chapéu, mexendo com as mãos nele – oh no... era porque dad and mom eram sempre tão ocupados que eu quase sempre estava sem eles, tudo o que eu mais queria na vida era ter eles sempre comigo, não o contrário.

Davi olhou para o chão, mordendo o lábio para conter a emoção, respirou forte. Megan era órfã como ele, de certa forma, só que pior, ela tinha os pais longe dela por que queriam.

– Sempre fiz de tudo para ter eles cuidando de mim, e agora, não vai ter nada que eu possa fazer que mantenha meu pai perto de mim, se ele morrer. – Megan então soltou uma risada com um choro agoniado, e se abraçando ela olhou para Davi, ainda mais desesperada – Não é engraçada a vida, Davi?

Dessa vez ele não resistiu. Tirando o cinto dela a puxou num abraço forte, encostando sua cabeça no peito, com o braço esquerdo a envolvendo pelos ombros e a mão direita fazendo carinho nos seus cabelos dourados, sentindo ela soluçando e molhando sua camisa com as lágrimas. Megan passou as mãos pelo peito dele indo até as costas e o abraçando, forte. Davi mantinha os olhos fechados, com o nariz afundado nos cabelos dela, sentindo a fragancia que emanavam.

– Desculpa, Davi – ela disse se afastando e pousando uma mao no peito dele – i don’t...

Mas ela nem conseguiu terminar de pedir desculpa, Davi pegou o seu rosto com as duas mãos e beijou uma bochecha, fechando os olhos, demorando pouco mais de um segundo no carinho.

– Não se preocupa, Megan. Eu to aqui...por você.

Ele disse se afastando, notando ela ainda de olhos fechados. Ela então o olhou, ensaiou um sorriso. Ele sorriu de volta e lhe deu outro beijo, na bochecha direita dessa vez. Beijou então perto dos olhos, mais abaixo no maxilar, perto do pescoço, no queixo. Se afastou e olhou para ela, pensando onde mais queria beijar. Megan estava de olhos fechados, sentindo cada beijo. Quando ele foi se aproximar para beijar aonde ainda faltava, ela então pousou a cabeça no peito dele de novo.

– Meu herói, Golias, você é meu herói.

Davi engoliu em seco, e tentou dessa vez levantar as mãos para não encostar nela. Olha o que Megan fazia com ele? Isso não é atitude comum dele, ao contrário, era absurdo, beijar uma garota chorando a possível morte do pai. Megan o desestabilizava, era algo que ele odiava. Ele precisava de segurança.

E para seu desespero ela invadiu ainda mais seu espaço, Megan se aninhou mais a ele, pulando para seu banco, ela se colocou no colo dele, sem ele nem mexer nela. Megan o abraçou pelo peito e pousou a cabeça próximo ao pescoço dele, no ombro direito de Davi.

– Me sinto tão segura com você.

Davi então olhou aquele rosto perto dele e pensou que ele se sentia justamente em perigo. Megan é chave de cadeia, repetia para si mesmo. Ela pegou o braço esquerdo dele e o puxou para abraça-la. Se aninhando ainda mais no seu ombro. Davi sentia a respiração dela, olhava os lábios dela ali perto, ainda vermelhos do batom. Sua maquiagem não borrou mesmo com todo o choro. Passou a mão esquerda pelos cabelos e respirou fundo. Não se contendo mais a abraçou, dando beijinhos no alto da cabeça, para conter a vontade de beijar ela.

Ficaram assim alguns minutos. Até que ela levantou a cabeça do peito dele e olhou com um sorriso grato.

– Melhor agora? – ele perguntou ajeitando o cabelo dela atrás da orelha.

Megan assentiu com a cabeça, voltou para o seu banco e colocou o cinto. Voltando a olhar pela janela. Davi a olhou, suspirou e ligou o carro. Foi até a casa de Megan dirigindo com ela agarrando seu braço direito com a mão esquerda. O que não teve qualquer protesto dele.

Chegando na casa dela, Davi parou o carro, olhou ela que voltava a fungar e pegou sua mão, beijando.

– Vamos? – ele perguntou, e ela concordou.

Ele deu a volta no carro e a levou pela mão até dentro da sua casa, mostrando que estava do seu lado.

Assim que entraram foram recebidos pelos pais dela e Brian, que logo a abraçaram.

– Oh Davi, muito obrigada. Fiquei tão preocupada com Megan Lily – disse Pamela abraçando a filha e a levando ao sofá.

Jonas apenas observava a filha, e com um tapa no ombro do Davi agradeceu.

– Obrigada, Davi. Desculpa o incomodo. É um momento delicado da família...

– Não se preocupa Jonas, não ia deixar ela assim.

– Oh Dad, você está bem? - perguntou Megan tentando se levantar para ir até o pai.

Mas Jonas foi quem se aproximou dela, se sentando na mesinha em frente a ela.

– Peanuts, não precisa se preocupar. Aqui, toma um chá - ele pegou uma xícara de uma bandeja pousada na mesinha - você vai se sentir melhor.

– Mas e você, vai ficar melhor? - ela perguntou ainda aflita segurando a xicara de chá com as duas mãos, bebendo um gole.

– Megan, seu pai tem tudo sob controle, ok? - disse Pamela - quem precisa agora de cuidado é você.

– Mas mom, os jornais e sites... - Megan dizia começando a chorar.

– I know Megan, isso nós vamos resolver amanhã, agora você vai dormir. - falou Pamela meiga - vem, vou colocar você na cama.

– No mom - Megan se levantou relutante - deixa meu dad ir comigo.

– Deixa Pamela, eu vou lá já. Só preciso dar mais uma ligação.

– Ouviu Megan, seu pai já vai. Anda...

– Ok - Megan fungou e tentou dar um sorriso - vamos, Davi - e Megan pegou ele pela mão para acompanha-lo até o quarto.

– Mas que isso Megan Lily, o Davi não pode ir com você...

– Oh no, eu não quero ficar sozinha até dad chegar.

– Deixa Pamela, eu acompanho a Megan - disse Davi compadecido.

– Thanks Davi - falou Pamela, e todos da sala observaram Davi ser carregado por Megan pela mão.

Jonas puxou Brian de lado para conversar enquanto Pamela olhava na direção que Davi e Megan foram.

Davi foi levado por Megan até seu quarto. Primeira vez que ele entrava ali. Buscou não olhar para a cama, mas observou as fotos. Em um canto tinha uma selfie que Megan tirara dos dois, pendurada.

Ela puxou ele para beirada da cama dela, e sentou do lado. Ainda estava triste, mas não chorando. Davi achou que ela ia tentar algum beijo, mas nada.

Ela então colocou a cabeça no ombro dele.

– Obrigada por me salvar hoje, Davi.

– Por nada, Megan - ele disse pousando então a cabeça dele sobre a dela.

Ela então foi levantando a cabeça para olha-lo, e os dois ficaram testa com testa.

Foi quando Jonas entrou obrigando Davi a se levantar rápido.

– Ok, Davi, obrigado mais uma vez.Agora pode ir que cuido da peanuts!

– Certo - ele respondeu contido - boa noite Megan.

– Davi - Megan chamou quando ele já havia passado por Jonas e alcançava a porta - espera.

Ela se debruçou sobre ele e deu um beijo, mais um selinho, na boca dele. Davi levantou os braços para evitar abraçar ela, e quando ela o largou ele sorriu acanhando para Jonas que tinha uma feição de zombaria.

Ainda bem que Jonas estava ali, pensou, assim não passou mesmo de um beijo inocente.

Dez minutos depois ele conseguiu entrar no carro dos Marra que o levaria para Gambiarra, com um motorista a frente, Davi deitou a cabeça para trás e ficou pensando no que aconteceu e repetindo para si mesmo que era efeito de um carinho que ele sentia por Megan, e que ele queria mesmo era Manuela, que lhe dava segurança, não Megan, indefesa.

Naquela noite Davi já devia sentir algo forte por Megan, mas não conseguia assumir. Mas ainda resistia. O que não conseguiu quando teve de levar ela bebada para casa, vestida de Marilyn Monroe....