Amor e Liberdade [PAUSADA] escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 5
Capítulo 5




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Kristoff não pode ser real.

A cada segundo que passo com ele, penso que vou ouvir uma voz vinda de longe, me chamando, me dizendo para acordar do sonho, me julgando por ser tão tola. Afinal, quais são as chances de eu realmente gostar de meu noivo arranjado?

– No que está pensando, Anna? – ele pergunta baixo.

Estamos sentados em caixotes de madeira, um de frente para o outro. Nossos joelhos quase se tocam. Perto da lareira, aquecida e olhando para Kristoff, não há nada que eu preferisse estar fazendo agora.

– Estou pensando no quanto isso parece certo – digo.

– Isso o quê?

Atrevo-me a tomar sua mão na minha.

– Isso, nós – sussurro. – Hoje pela manhã eu estava tão assustada e preocupada com essa história de noivado! Fiquei tão nervosa, tão... brava. Com tanto medo.

Kristoff franze a testa e aperta meus dedos.

– É mesmo?

Assinto.

Ele toma minha outra mão e segura nas dele, como fez no hall de entrada. Só que, agora, há mais intimidade em seu toque quente.

– E como se sente em relação a mim agora? – ele indaga e me atinge com seu olhar intenso.

Fico tentada a puxar de volta minhas mãos e usá-las para cobrir meu rosto. Mas as mãos quentes e grandes de Kristoff parecem o lugar certo para elas agora.

– Eu... não estou mais com medo. Não de você.

Kristoff faz minhas veias pulsarem mais forte quando toca meu rosto com as pontas dos dedos. Ele acaricia minha bochecha como se eu fosse quebrável ou fosse me dissolver se ele pressionasse demais. As borboletas voltam a dançar dentro de mim, agitadas. Nunca fui tocada por ninguém assim.

– Não precisará ter medo enquanto eu estiver com você, Anna – sua voz soa aveludada e baixa, como se ele estivesse contando-me um segredo. – Caso tenha motivos para ter medo de mim algum dia, quero que me avise. E eu me afastarei.

Seguro a mão dele que está em meu rosto. Não quero que ele se afaste.

– Você... – a palavra escapa por meus lábios. – O que você pensou quando me viu pela primeira vez, hoje mais cedo?

Ele sorri torto e sua mão deixa minha face. Sinto frio.

– Você é linda – Kristoff sorri. – Mas não foi em sua beleza que reparei primeiramente. Foram seus olhos. Anna, eles são tão bonitos, tão vivos... Dizem que os olhos são a janela da alma. Os seus são iluminados e alegres, brilhantes. Tudo o que consegui pensar quando coloquei os olhos em você foi que esse brilho precisa ser mantido. Preciso fazê-la feliz, porque então... serei feliz também.

Sinto vontade de chorar. Isso não pode ser real.

– Puxa, isso soou... tão arcaico – ele ri de si mesmo.

– Não, não diga isso – sacudo a cabeça, sentindo lágrimas nos olhos. – Você é muito mais do que eu mereço, Kristoff. Quando vi você, tudo o que pensei foi em como você é bonito, em como você é forte e em como eu... como eu não precisava ter medo. É tão egoísta comparado a tudo o que você acabou de dizer.

Kristoff sacode a cabeça, rindo.

– Gosto de ser admirado, Anna. Principalmente pela mulher que será minha esposa.

Arquejo. Ele é a primeira pessoa a me chamar disso.

Mulher.

Para papai, madame Daisy, minhas amigas e toda a vila, eu sou a garota adorável e atrevida que sorri para todo mundo e não se comporta de modo adequado. Sou alguém que não é digna de muita confiança e que não consegue lidar com grandes responsabilidades. Mas para Kristoff, eu sou uma mulher. Sua futura mulher.

– Definitivamente, é impossível não gostar de você – resmungo. Eu queria achar um defeito nele (além do pequeno desvio da linha de seu nariz) para usar como desculpa e convencer papai a não me casar.

– Não diga isso, vai me deixar convencido.

– Você já parece convencido – arqueio uma sobrancelha.

A mão de Kristoff volta a tocar meu rosto. Ele afasta minha franja e inclina-se para mais perto, beijando minha testa demoradamente. Seu perfume é agradável, tem cheiro de menta e... chocolate.

– Acho melhor voltarmos – diz Kristoff. – Está tarde.

– Você vem me ver amanhã?

Não quero parecer desesperada, mas... bem, eu estou desesperada. Kristoff obviamente vê o quanto perguntar isso a ele é uma facada em meu orgulho. Por isso, ele simplesmente assente e me oferece o braço outra vez.

Retornamos então aos olhos vigilantes de nossos pais e ouvidos fofoqueiros das criadas. Kristoff não se afasta de mim até que chega sua hora de partir com os Bjorgman. Nos despedimos com um olhar intenso e íntimo que só nós dois compreenderíamos.

Papai está mais que radiante. Ele brilha. Assim que nossos convidados se vão, sou tomada num abraço apertado que tira o restante de fôlego que me sobrou.

– Você, minha doce filha – ri papai –, estava igualzinha a sua mãe em nosso jantar de noivado.

– Eu estava tão nervosa – reclamo.

– Ah, mas não deixou transparecer nada – madame Daisy bate palmas. – Você se saiu muito melhor que eu poderia sequer imaginar, querida. Achei que começaria a tagarelar coisas sem sentido como sempre faz!

Sinto-me estranhamente ofendida com o comentário dela, mas decido não me preocupar com o que madame Daisy pensa de meu comportamento. Ainda estou inquieta, com o rosto quente e o coração acelerado. Será que estou assim por causa de todo esse constrangimento ou por causa do efeito que Kristoff de repente tem sobre mim?

– Você deve estar exausta, querida – diz papai, corado de satisfação.

Deixo meus ombros caírem. Estou mesmo esgotada.

– Sim, estou.

– Vou preparar sua cama, Anna – diz madame Daisy, já tomando a direção das escadas.

Papai olha para mim com um misto de orgulho e emoção. Não consigo evitar ficar constrangida.

– Lembro-me de quando vi Gerda pela primeira vez – sussurra ele, citando o nome de minha mãe como não fazia há muito tempo. – Foi numa noite como esta, fria, mas encantadora. Ela era simplesmente a personificação da calma e da graça.

Eu li certa vez a respeito de algo chamado amor à primeira vista. Comentei com as criadas e com madame Daisy, mas todas me disseram que era algo que acontecia apenas nos livros e contos infantis e que eu não devia esperar que funcionasse comigo. Mas para meus pais parece ter funcionado.

Talvez para meu noivado com Kristoff também.

– Se ela pudesse ver você agora, querida – papai toma minhas mãos nas dele. – Não tenho dúvidas de que estaria cintilante de orgulho, como bem estou. Kristoff parece simpatizar muito com você.

É mais que isso, quero dizer. Mas não digo. Chega de constrangimento por hoje.

– Ele é realmente um cavalheiro, papai – sorrio.

– É um alívio que vocês estejam se dando bem – ele ri, sacudindo a cabeça. – Quando sua mãe e eu trocamos as primeiras palavras, não suportávamos ficar ao lado um do outro – outra risada. – Ela era geniosa, assim como você, e não aceitava de bom grado quando eu tentava cortejá-la como exige a etiqueta. Gerda sempre queria quebrar as regras... e queria que eu as quebrasse com ela. Nós brigávamos muito no início. Ela sempre vencia.

Arqueio as sobrancelhas, pega de surpresa. O que meu pai diz não soa nem um pouco com amor à primeira vista dos livros e isso me preocupa. Se o casamento dos meus pais foi bem sucedido porque eles começaram um relacionamento com certa tensão, como seria o meu e de Kristoff, que começamos tão bem?

– Anna! – chama madame Daisy, a voz estridente. – Sua cama está pronta! Você precisa descansar!

Despeço-me de papai e me arrasto cabisbaixa para meu quarto. Lady Lana está à porta e ronrona ao me ver. Madame Daisy me ajuda a trocar meu vestido rodado por minha camisola comprida e desfaz o coque em minha cabeça. Assim que me deito, começo a relaxar, e o rosto de Kristoff não sai de meus pensamentos até que durmo.

Tenho um pesadelo terrível essa noite.


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Notas finais do capítulo

O que estão achando da fic?
Continuem acompanhando! Beijos!



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