Amor e Liberdade [PAUSADA] escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 4
Capítulo 4




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Tenho uma dificuldade imensa de me concentrar no prato de guisado de cordeiro diante de mim. Minhas mãos tremem e meu coração está tão acelerado que todos na sala com certeza podem ouvir.

Após aquela declaração calorosa de fidelidade, Kristoff me conduziu sem palavras para junto de nossos pais e de madame Daisy. Até agora sinto borboletas dançarem em meu estômago e minhas risadas vêm com facilidade exagerada. Sinceramente não sei o que pensar desse noivado, e essa insegurança me deixa preocupada. Kristoff parece bom demais para ser verdade e temo que a qualquer momento papai ria alto e grite Pegamos você! Seu noivo não é esse!

– É maravilhoso finalmente conhecê-la, Anna – diz a Sra. Bjorgman. Seus gestos são todos nobres e delicados e ela brilha tanto em suas roupas e acessórios que parece ser feita de ouro. – O senhor seu pai nos falou tanto sobre você.

Sorrio com sinceridade. É bom saber que ela gosta de mim.

– Igualmente, senhora – assinto.

Ela agita o dedo indicador, rindo.

– Nada disso. Quero que me chame de Amélia daqui em diante. Logo seremos família, não é mesmo?

Meu sorriso congela. Família.

– Como quiser, Amélia.

– Todas essas formalidades me cansam às vezes, sabia? – Ela toma um gole de vinho. – E Kristoff também não é muito formal. Nós o criamos à maneira moderna.

Eu não sei o que é essa maneira moderna, mas arqueio as sobrancelhas como se compreendesse.

– Já esteve em Trollstone, minha jovem? – pergunta o Sr. Bjorgman, enquanto corta seu pedaço de carne. Creio que Trollstone é o lar da família de Kristoff.

– Não tive o prazer, senhor.

Eles me perguntam tanta coisa que mal toquei em meu jantar. Qual meu passatempo favorito? Gosto da neve? Viajar está em meus planos para o futuro? Estou animada para o casamento? Quando nota meu desconforto, papai toma a atenção do Sr. Bjorgman e sua esposa para discutir assuntos comercias. Então fico livre para respirar um pouco e trocar olhares tímidos com meu noivo à minha esquerda.

Kristoff parece quase tão constrangido quanto eu e isso me conforta um pouco. Aos menos somos um tanto parecidos.

– Gostaria de mais vinho? – ele me oferece, aproveitando-se da distração dos pais.

Levo minha taça até ele.

– Sim, por favor.

– É a primeira vez que bebe? – ele despeja o conteúdo do jarro.

Olho para ele.

– Como sabe?

– Suas bochechas – Kristoff ri e seu riso é rouco e agradável – estão tão coradas.

– Ah, mas não é por causa do vinho. Estou tão nervosa que poderia explodir a qualquer momento e...

Cubro os lábios antes que mais alguma bobeira saia deles, provocando mais risadas de Kristoff.

– Eu não devia falar tanto – digo, envergonhada. – Madame Daisy diz que uma boa moça consegue se expressar apenas com gestos e olhares adequados.

– Mas eu gosto de ouvir você falar – ele dá de ombros. – Então comigo não precisa seguir essas regras.

Sorrio.

– Não diga isso. Você não sabe o quanto eu falo. Às vezes madame Daisy tem que me repreender, porque quero discutir sobre tudo.

– Isso é bom. Quer dizer... Quero ter alguém com quem conversar, não alguém que só escuta o que digo – ele baixa os olhos por um segundo, mas volta a fixá-los nos meus. – Minha voz é irritante às vezes.

– Gosto da sua voz – eu digo, antes de perder a coragem.

– Hora da sobremesa! – anuncia Daisy. – Para hoje temos o prato favorito de Anna: suflê de chocolate com frutas vermelhas!

– Adorável – diz Amélia.

É nesse instante que me sinto radiante. Todo mundo sabe que não há nada nesse mundo que um pouco de chocolate não possa revolver. Mesmo que meu pai de repente resolva me casar com um completo estranho e a vergonha tenha me tomado até o último fio de cabelo. Mesmo que eu esteja tão confusa a respeito do homem ao meu lado a ponto de querer beijá-lo e me esconder dele ao mesmo tempo. O cheiro do chocolate me deixa relaxada instantaneamente.

Enquanto comemos alegremente a sobremesa, Kristoff não tira os olhos de mim. Eu porém, decido não olhar para ele até ter certeza de que não cabe mais nenhuma fatia do suflê dentro de mim. Madame Daisy sempre diz que uma boa moça come igual a um passarinho quando está em público, mas nesse momento as regras dela não me importam. Porque hoje, eu querendo ou não, é uma noite especial e eu quero aproveitar tudo o que posso dela.

– Pai? Mãe? Senhor prefeito? – chama Kristoff, assim que os pratos são retirados da mesa e todos estamos mais que satisfeitos.

Embora ele não esteja se dirigindo a mim, olho para Kristoff, como os outros três presentes.

– Quero levar Anna a um passeio pelo jardim da propriedade, se me permitirem. Ainda temos algum tempo antes de voltarmos à nossa pousada.

Os pais de Kristoff entreolham-se e buscam uma resposta de meu pai.

– Bem... – gagueja ele. – Acho que não haverá problema, visto que não está mais nevando. – Então ele olha para mim. – Gosta da ideia, querida?

Contenho um sorriso de satisfação. Kristoff quer ficar a sós comigo.

– Sim, papai.

– Vista algo mais quente então, querida – meu pai assente e volta-se aos Bjorgman: - Acompanhem-me até a sala de estar, senhores.

Nossos pais deixam a mesa com expressões de dever cumprido. Uma das criadas traz meu casaco, minha capa de inverno e minhas luvas e Kristoff veste seu pulôver grosso e negro de mangas compridas. Acho curioso que ele precise de qualquer tecido para se aquecer; é tão forte e másculo que simplesmente não consigo imaginá-lo tremendo de frio nem que estivesse nu na neve.

– Senhorita? – ele me dá o braço, cavalheiro, e saímos pela porta dos fundos para o jardim coberto de neve.

A brisa fria arranha meu rosto e eu me encolho um pouco. O jardim fica ainda mais belo à noite e coberto por todo esse branco. No verão e na primavera, temos as melhores e mais bonitas flores silvestres e pequenos animais nos visitam constantemente. Lembro-me de quando minha mãe em pessoa cuidava desse jardim, mesmo doente, e fico triste ao pensar nela justo agora.

– É fantástico – sussurra Kristoff.

Eu estremeço ao ouvir sua voz.

– Desculpe-me por tirá-la do calor de sua casa, Anna – ele toca minha mão em seu braço. – Era a única maneira de ficarmos sozinhos por um momento sem que alguém estivesse escutando.

– Est-tá t-tudo bem – meus dentes batem, traindo-me.

– Vamos voltar, você está morrendo de frio – determina ele.

Mas não quero voltar lá para dentro.

– Não, eu... – uma ideia ilumina meus pensamentos. – Podemos ir ao estábulo.

– Certo – ele sorri torto e me conduz até o estábulo de minha casa.

Os cavalos estão quietos e uma lareira aquece a construção. Já não estou com tanto frio.

– Melhor – diz Kristoff, olhando diretamente para os meus olhos. – Seus cavalos são lindos. Espera, cavalos? O que eu disse? Caramba, quis dizer olhos. Seus olhos são lindos, Anna.

Dou uma risada alta demais e cubro a boca rapidamente. Kristoff também ri e aproxima-se de mim devagar, como se tivesse medo que eu me afastasse.

– Conte-me algo sobre você. Além de seu gosto descontrolado por chocolate - ele sacode a cabeça loura.

Finjo-me de ofendida.

– Como assim, descontrolado? Eu sou uma pessoa perfeitamente equilibrada.

Ele revira os olhos.

– Por que será que eu não consigo acreditar nisso?

– Porque você não me conhece – dou de ombros.

– É, teremos que dar um jeito nisso.


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Notas finais do capítulo

Continuem acompanhando! Beijos!