Amor e Liberdade [PAUSADA] escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 14
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560065/chapter/14

Hans me conduz até a pequena praça que fica próxima a floricultura. Nos sentamos num banco de madeira de frente para uma fonte, onde uma estátua de anjo de asas abertas despeja água de seu jarro. Olho para o anjo, distraída por um momento. Hans suspira, atraindo minha atenção.

– Sabe, eu... eu simplesmente preciso me desculpar por ontem à noite. Não devia ter deixado você sozinha. Fui um tolo - Hans me olho fundo nos olhos. - Perdoe-me, Anna.

Dou um meio sorriso. Sei que ele está sendo sincero.

– Está tudo bem. Não se preocupe com isso.

Hans faz uma careta, como se sentisse dor.

– E... sabe... quanto ao que dizem sobre mim e aquela garota...

Arqueio as sobrancelhas, inclinando-me para ele com curiosidade. Espero por alguma desculpa. Hans parece aquele tipo de pessoa que tem desculpas e justificativas para tudo.

Ele suspira e curva os ombros, sem me encarar.

– Estou envergonhado.

Engulo em seco.

– Hum - murmuro. - Envergonhado de que exatamente?

Hans me encara.

– Anna, eu... eu... não dormi com aquela garota - declara ele, um tanto irritado. - Nem mesmo sei o nome dela. Nós apenas... trocamos alguns beijos entre as árvores na praça. Mas eu não passei a noite com ela como dizem que fiz. Puxa... que tipo de pessoa acham que eu sou?

Franzo a testa. Acredito em Hans, de verdade. As filhas do contador sempre tiveram certa fama de oferecidas e esse não é o primeiro rumor que surge sobre a vida amorosa agitada de alguma das duas.

Além disso, Hans confia em mim. Por que não confiar nele também.

– Acredito no que diz - eu digo, olhando-o com firmeza. - Mas este é um voto de confiança que estou dando a você, Hans. Você disse que confia em mim...

– E confio.

– Então me dê motivos para confiar em você também. Nunca minta para mim e podemos ser amigos.

Hans abre um sorriso de tirar o fôlego e segura minha mão entre as suas.

– Ganhar sua confiança é minha única missão - ele brinca.

Suspiro e sorrio de volta.

– Devo ir agora.

– Sim, deve - ele engole em seco, soando chateado. - Seu noivo a espera, não é?

– Sim.

– Espero que ele atenda às suas expectativas, Anna.

Sorrio levemente.

– Ele atende.

Coloco-me de pé, ainda segurando a rosa.

– Anna... uma última coisa...

Olho para Hans por cima do ombro.

– Sim?

– Obrigado por me ouvir. Foi importante para mim.

Assinto, sorrindo. Sinto-me mais leve sabendo a verdade. Hans não é um depravado. Não posso culpá-lo por ser uma das inúmeras vítimas de uma das filhas do contador. Foi tudo um mal entendido. Ele é meu amigo.

Volto à floricultura e encontro madame Daisy rindo e conversando com a florista. Provavelmente alguma fofoca. Ainda bem que ela não notou minha breve fuga.

– Pronta para ir para casa? - pergunta, aproximando-me dela.

– Oh, sim. Já encomendei suas bromélias, Anna. Você pagou por essa flor? - madame aponta para a rosa em minha mão.

– Ah, mas essa não é uma de nossas rosas - diz a florista. - Onde a encontrou?

– Um amigo me deu de presente - dou um meio sorriso.

Madame crispa os olhos, desconfiada. Não me importo. Se Hans for fiel ao voto de nunca mentir para mim, então está tudo bem. E eu sei que ele será. Quero confiar nele.

– Está com um olhar suspeito, Anna - diz madame, enquanto caminhamos de volta ao lar. - O que viu no meio das flores?

– Nada - sacudo a cabeça.

Logo que entramos em casa e Trudy vem recolher nossos casacos, sinto um clima diferente no ar - e o tempo frio não tem nada a ver com isso. Papai está de pé diante da lareira, de ombros caídos. Vou até ele.

– Pai? Está tudo bem?

Ele não responde.

– Pai?

– Senhor? - chama madame Daisy, preocupada.

– Uma garota - murmura meu pai, parecendo distante e agourento. - Uma garota foi encontrada na fronteira. Morta.

Cubro a boca ao mesmo tempo em que madame arqueja. Não costuma haver acidentes que envolvam morte em Arendelle. No máximo as pessoas vão parar no hospital. Temos o menor índice de mortes da região.

– C-como? - gaguejo. - Como aconteceu?

Papai ainda não em encara.

– Martha morreu perfurada por fractais de gelo - ele cospe a frase, como se tivesse gosto ruim. - Encontraram seu corpo há menos de quinze minutos, segundo o mensageiro.

Sinto um calafrio horrível percorrer meu corpo.

Martha. A filha caçula do contador. A garota que, segundo as fofocas da vila, dormiu com Hans. Só pode ser brincadeira.

– Mas... mas como isso aconteceu? - indago, aflita. - Foi... foi um acidente, não foi?

Papai sente o medo em minha voz e olha para mim.

– Não me informaram muito. Vou à prefeitura assim que Kai preparar a carruagem para obter mais informações e discutir alguns detalhes com o chefe da guarda.

– Certo - minha voz treme. Meu pai me deixará sozinha. Tenho madame, as criadas e Kai, é claro, mas ainda assim...

Papai me abraça apertado e posso ver que ele está tremendo. O contador é seu amigo. Não será um dia fácil para o prefeito de Arendelle.

– Tudo ficarpa bem - diz meu pai.

– Sim - concordo, hesitante.

Ele beija minha testa ao mesmo tempo em que Kai chega para informar que a carruagem o espera.

Sinto-me aflita quando papai se vai e almoço no quarto, como uma maneira de demonstrar meu luto pela garota morta. Eu não conhecia Martha nada bem, mas ela era parte da comunidade da vila de meu pai. Da minha vila. Ela não merecia ter morrido.

Meu coração se aperta mais quando penso em Kristoff e no fato de que ele não me procurou a manhã e a tarde toda. Mesmo depois da maneira como nos beijamos ontem.

Não significou nada para ele?

Banho-me e visto-me para o jantar com a sensação de que estou entorpecida.

Madame Daisy não sai de seu quarto para o jantar, por isso faço a refeição sozinha à mesa. Papai enviou mais cedo um mensageiro dizendo que só chegaria bem tarde. Quando Trudy retira a louça para lavar, fico tentada a ir à cozinha com ela, apnas para ter com quem conversar. Porém, a velha Noreen, criada que me trouxe ao mundo, diz que devo dormir cedo como uma boa moça e praticamente me arrasta para meu quarto e me ajuda a mudar de roupa.

Não sinto nada. Saudades de Kristoff, talvez. Muitas saudades. Mas não quero admitir nem para mim mesma. Talvez a maneira moderna como ele foi criado dite que os noivos não precisam cuidar para que suas noivas sintam-se seguras e amadas. Talvez ele esteja trabalhando com o pai naqueles negócios de família odiosos, cansado demais para mim. Ou talvez Kristoff simplesmente tenha se cansado de mim. Talvez a maneira que ele me imaginou fosse melhor do que a verdadeira eu com quem ele se deparou ao me conhecer de verdade.

Talvez, talvez, talvez.

Reviro-me na cama, inquieta. Não vou conseguir dormir.

Ouço um som.

Levanto-me, alerta.

Ouço outra vez. Um tec à minha janela. Meu coração dispara. Visto meu robe de veludo e abro a janela cuidadosamente. A figura que vejo ali me surpreende tanto que quase caio debruçada no parapeito da janela.

– Kristoff! - arquejo.

– Por favor, não caia! - ele dá um grito sussurrado. - Cuidado, Anna!

– O que faz aqui? - indago, quase explodindo de felicidade. - Quer dizer... você... você veio me ver!

– Acabei de voltar à cidade - ele diz. - Vim arrancá-la de sua cama e levá-la para longe comigo!

Acordo num salto, assustada.

E profundamente decepcionada.

Ele não veio aqui de verdade. Foi um sonho idiota sonhado por uma garota idiota e iludida. Olho para minha janela, constatando que está trancada. Soco os travesseiros em uma frustração infantil.

– Olhe para si mesma, Anna - resmungo, fitando meu reflexo no espelho da penteadeira. - Olhe o que se apaixonar por Kristoff fez à você. Surta no primeiro dia sem ele. Isso é que é amor? Ou é outra coisa...?

A palavra carência paira em meus pensamentos, mas me recuso a dizê-la em voz alta. Não sou uma garota carente. Não serei. Se vou mesmo me casar com Kristoff, devo ser mais madura e mais segura de mim mesma. Não posso ficar abatida por não vê-lo. Não posso parar de viver porque ele não se interessa por meu bem estar como disse que se interessava. Não posso. Sou muito mais do que isso.

Durante mais um dia inteiro, as coisas ficam muito quietas em casa.

Durante mais um dia inteiro, nada de Kristoff.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uiii, mistério. Acham que foi um acidente que matou Martha ou outra coisa...?
Continuem acompanhando!
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor e Liberdade [PAUSADA]" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.