Todos empacotamos nossas coisas e fomos para o ônibus, para enfim poder voltar para casa. No dia anterior Jim conseguira um terno para si, mas de jeito nenhum me deixara olhar. Disse que era segredo de estado e que queria estar espetacular na festa. Enquanto isso, aparentemente Greg e Molly estavam comandando a arrumação da festa por telefone, enquanto pessoas organizavam tudo no salão do colégio.

Duas horas de viagem e estávamos de volta.

Voltamos ao nosso dormitório e Jim correu para o computador.

― Jim, vou no shopping achar um terno para mim. Vem comigo? ― Pedi ao meu melhor amigo.

― John, estou ocupado. Outra hora.

― Não tem outra hora. A festa é hoje à noite.

― Não posso.

― Preciso da sua genialidade com roupas. ― Apelei. Ele girou na cadeira de rodinhas e me encarou interessado.

― Fale mais.

― Sua teatralidade para com vestimentas é arrebatador.

― Não precisava roubar um dicionário também.

― Ta reclamando?

― Não, desculpa. Continua. ― Ele prestava completa atenção em mim, esperando por mais.

― Sua magia ao formular combinações transforma a perspectiva de cada roupagem rebuscando os contornos e estampas que nos inspiram a... Espera, eu não estou falando isso à toa, estou?

― Ta. ― Ele girou a cadeira de volta, encarando o computador novamente. ― Eu não posso de qualquer jeito.

Abri a boca desacreditado.

― E porque me deixou perder tempo falando isso tudo?

― Só assim para eu receber algum elogio de você.

― Todos falsos, se você quer saber. ― Peguei minha carteira e bati a porta.

― Cala a boca, bicha mentirosa. ― Ele gritou do quarto. Peguei o celular e liguei para o Sherlock.

― Ta a fim de fazer umas compras?

― Na verdade não. ― Ele respondeu do outro lado da linha.

― Mas vai. Preciso de um terno e você vai me ajudar a comprar.

― Mandão. Gosto assim.

― Safado. ― Sorri mordendo os lábios. ― Te encontro lá.

Desliguei e saí do colégio. Peguei o primeiro ônibus que passou e em vinte minutos cheguei no shopping. Fiquei rodando pelas lojas esperando o moreno chegar.

Ouvi meu celular apitar e o chequei, era uma mensagem de Sherlock. “Em frente ao Califórnia Coffee.”

Desci até o primeiro andar e me encontrei com ele. Segurei na mão dele e juntos pedimos nosso típico café gelado, que sempre tomávamos quando íamos ali.

― Sabe que aceitei vir aqui pensando no café, né? ― Disse o moreno rindo.

― E você acha que eu não te conheço, Sherlock Holmes? ― O segurei pelo pescoço aproximando nossos rostos.

― Não tem medo que alguém nos veja? Pode ter algum conhecido aqui.

― Agora, sabe... ― O admirava bem de pertinho. ― Nem estou ligando mais. ― O beijei carinhosamente.

― Vamos. ― O puxei pela mão até a loja de ternos que ficava no mesmo andar. ― Já tem o seu?

― Sim.

― Quero um terno diferente. ― Pensei um pouco. ― Fora do padrão. Talvez de outra cor... Que acha?

― Por mim tanto faz. ― Revirei os olhos.

Sherlock me observava dar a volta pela loja milhares e milhares de vezes indeciso, até que por fim me decidi e provei o terno para mostrá-lo.

Era um terno cor chumbo, que tinha a camisa verde e a gravata também verde, com um tom mais fechado.

O moreno me olhou de cima abaixo e mordeu os lábios.

― Lindo. Sabe que não resisto a um homem de terno.

― Sei sim. ― Disse e o beijei mordendo seu lábio inferior.

Troquei de roupa, comprei o terno e voltei com Sherlock para o colégio, soltei alguns quarteirões antes para que ninguém nos visse juntos.

Cheguei ao quarto e pendurei o terno no armário. Jim já tinha sumido. Já passava das oito, estava quase na hora da festa, comecei a me arrumar e depois de tudo pronto ia saindo do quarto quando me lembrei de que eu não tinha comprado máscara nenhuma. Já estava sem saber o que fazer quando vi uma máscara sozinha na cama de Jim com um bilhete embaixo: “Querido John, sei que se esqueceria do mais importante. E como sou um amigo caridoso e porque me senti culpado por hoje mais cedo, aqui está para você.”

Peguei a máscara e prendi o elástico atrás da cabeça. Ela cobria o rosto inteiro, só a boca ficava destampada, me deixando irreconhecível.

Mandei uma mensagem para o moreno:

“Essa festa é o único lugar em que podemos ficar juntos perto de todo mundo.” Eu me referia a todos estarem de máscaras.

“E vamos tirar bastante proveito disso.” Ele respondeu. Eu sorri. “Mycroft disse que não vem.”

“Ok. Vou avisar ao Lestrade.”

Cheguei na festa. O salão já estava lotado e tocava uma música bem animada. Peguei um refrigerante com o garçom e fui para perto do DJ, pois ao lado dele estava o Lestrade com a máscara na cabeça passando a mão na testa. Quando cheguei perto pude ouvir o que ele falava.

― Não, gente, por favor. Isso não é comigo. A parte das bebidas não é a minha divisão! Tratem disso com a Molly.

― Greg. ― Chamei ele.

― Sim?

― Sou eu, John. ― Levantei a máscara rapidamente para ele me ver.

― Cadê o meu par? ― Ele perguntou ansioso.

― Ele não vem. ― A animação foi sumindo de seu rosto. ― Sherlock o chamou, mas ele tinha algo urgente para fazer. ― Menti. Ta, ok, poderia ser verdade, mas eu não fazia ideia.

― Algo urgente? ― Greg parou pensando um pouco. ― Tanto faz. Vai se divertir, vai, John. ― Disse rudemente.

Eu saí com uma expressão de “sinto muito” estampada no rosto. Me afastei dele e olhei para trás, pude ver que ele estava triste e com raiva ao mesmo tempo, mas como não podia fazer nada, ignorei aquilo e fui atrás de alguns aperitivos.

POV. Sherlock

Tinha demorado um pouco para me arrumar porque demorei para encontrar uma máscara velha que tinha guardada pelo armário. Era tão pequena que qualquer um poderia me reconhecer. Depois de mandar uma mensagem ao John entrei na festa e fui a procura dele, mas mal entrei e as luzes centrais foram substituídas por irritantes luzes coloridas que piscavam por todo lugar e a música eletrônica era tão alta que podia sentir meus tímpanos vibrando. Não conseguia ver direito, nunca acharia o loiro ali no meio, a única pessoa que consegui discernir no meio de tudo foi Greg, que estava sem máscara. Me aproximei.

― Viu o John? ― Ele me encarou por alguns segundos, parecia irritado, então apontou para perto da mesa do Buffet. Tentei fazer o reconhecimento de longe e pude notar uma camisa e gravata verde por dentro do terno. “Só pode ser ele” Pensei e me aproximei.

O segurei pela cintura e o puxei firme para perto de mim. Sorri e ele demorou um pouco, mas sorriu de volta. Parecia estranhamente assustado. Mas não importava, ele estava ali comigo agora. O puxei para um beijo, o mais excitante e intenso que consegui. Queria fazê-lo desejar por mais.

Separamos nossos lábios lentamente, encostei os meus em seu ouvido e deixei o nome do meu amado sambar em minha boca:

― John. ― Sorri ao sussurrar.

Ele se afastou bruscamente e ficou me encarando espantado.

― John? John? ― Ele precisava praticamente gritar para ser ouvido por causa da música alta, mas eu podia notar claramente o ódio em sua voz. Não consegui reconhecer de quem era.

Alguém encostou em meu ombro por trás e eu me virei para olhar.

― Sherlock. ― Reconheci o sorriso e a voz calorosa. Gelei. Pude reparar, era o mesmo terno.

Voltei a encarar a pessoa em minha frente e temi pelo pior. Ele arrancou a máscara. Era o Jim.

― EU NÃO ACREDITO! ― Moriarty bufou. Ele se aproximou com raiva e olhou de mim a John, demorando mais o olhar em seu amigo, cheio de ódio. Empurrou John com força e saiu correndo dali.