Quimera escrita por aa


Capítulo 2
Resistência e Acordo


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas postei. Queria agradecer a Miuphia por comentar e me incentivar a continuar!
Então é isso, espero que agrade quem ler.



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— Como assim terei alguns trabalhos a mais? Para deixar bem claro, qualquer coisa que me dê algum trabalho já está fora de questão.

— Ora, não é assim que as coisas funcionam, Sengoku — Samir sorriu ironicamente.

— Como que as coisas não funcionam assim? Agora você irá me obrigar a fazer coisa pra você?!

— Basicamente, sim.

— Essa é boa — Sengoku ironizou. — E o meu livre arbítrio onde fica?

— Não me venha com politicagem. O fato é: agora você é uma Quimera Classe C. Antes você era praticamente um mundano, mas agora está um passo mais próximo das divindades.

— Mas eu não quero estar mais próximo das divindades! — o garoto vociferou. — Eu quero ser um simples humano!

— Mas não é. — A postura calma de Samir manteve-se mesmo em meio ao calor da discussão. — Você é uma Quimera! Deixe de sonhar com o que não é!

— Desgraçado...! Se acha que me obrigará — Sengoku abriu a mão direita, sua espada surgiu; com força ele a segurou — está muito enganado!

Um rápido golpe na horizontal fora desferido. A espada rasgou ao meio o ar e Samir, que se desfez em uma mistura de fumaça e luzes. Era apenas uma projeção. Seu corpo verdadeiro estava em outro lugar. E agora o seu corpo provisório havia desaparecido, deixando Sengoku com uma raiva crescente, uma enorme vontade de acabar com aquela divindade e o inesgotável desejo de ser humano. Por hora ele resolveu tentar relaxar, mesmo sabendo que aquela criatura irritante, mais cedo ou mais tarde voltaria.

O seu café parecia estar mais amargo que o de costume, mas havia grandes chances de o problema não estar no café e sim em quem o estava tomando. Sengoku estava perdido em seus próprios pensamentos, ele não podia achar a sua situação menos do que “uma tragédia irônica”. Todas as pessoas comuns sonham com poderes e mundos mágicos, ele não. E exatamente ele, que tem acesso a tudo isso, deseja ser alguém normal. Talvez todos queiram ser especiais porque são normais, e ele que é especial deseja ser normal por este mesmo motivo.

— Eu não vou ser mais um dos seus brinquedos... — ele balbuciou, enquanto observava a rua vazia através da vidraça da cafeteria.

Instantes depois, todo o silêncio ao redor de Sengoku fora rompido.

— E ai, Sen, como está o café? — perguntou a atendente. Uma bela garota de cabelos castanhos claros e olhos negros.

— Um pouco mais amargo que o de costume — ele respondeu ao olhar para ela.

— Talvez quem esteja mais amargo é você — disse ela ao apoiar os cotovelos sobre o balcão.

— Engraçado você dizer isso...

— Por que engraçado?

— Porque pode ser a verdade.

— Eu, hein, deixa de drama, Sen.

— Me desculpe. — Sengoku olhou para dentro da xícara vazia. — Esqueci que você não gosta da seriedade da vida — findou sorrindo.

— Olha quem fala, o garoto que é movido à cafeína e sarcasmo.

— Falando assim você me faz parecer uma pessoa ruim.

— Ruim, não. Apenas estranha — Yasuko disse ao sorrir.

— Seu desaforo ultrapassa os limites permitidos pela humanidade.

— Deixe de inventar coisas.

— Não inventei. Está lá, no manual que ensina a ser humano.

— Você não existe.

Sengoku apenas sorriu, enquanto a observava. Em segredo ele a ama desde que tinha treze anos. Muitas foram as suas chances de se declarar, mas ele achou melhor não dizer nada. Gosta de tê-la por perto e não está disposto a arriscar o que tem para conseguir uma aproximação maior dela. Mas isso não o impede de sonhar com um mundo perfeito em que eles possam ficar juntos. E que o Samir não exista, é claro. Ou que talvez exista e seja seu escravo... talvez isso seja mais satisfatório, era o que Sengoku imaginava.

— Sen, tem tempo para jogar hoje no final da tarde?

— E quando é que eu não tenho tempo para jogar com você?


— Definitivamente não! — Sengoku declarou. Ele estava deitado sobre a cama e observava o ventilador girando.

— Não seja teimoso, Sengoku — Samir falou pacientemente.

— Eu não vou com você para droga de lugar nenhum!

— Como você é teimoso. Parece a sua mãe — Samir disse coçando o queixo.

— Você mal conhece a minha mãe, maldito!

— Isso é verdade, mas não deixa de ser um fato.

— O fato é que eu puxei isso do meu pai. — O garoto o fuzilou com o olhar.

— Ah, puxou algo de mim? Fico tão feliz em ouvir você me chamando de pai.

— Cala a boca, divindade escrota! — Sengoku falou irritado ao sentar na cama e apontar um dedo para Samir, que levitava no ar, na posição de lótus. — Você não é o meu pai e eu nunca vou chamá-lo assim!

— Nossa, você sempre começa uma discussão comigo. Precisa mesmo de tudo isso?

— Por que você ignora o fato de que eu o odeio e nunca o perdoarei por ter me feito ser uma quimera?

— Eu tenho os meus motivos — ao dizer isso, a calma e bom humor da divindade sumiram, dando espaço para alguém que falava com amargura e tinha um brilho triste nos olhos.

— Bem, isso não importa agora. Apenas me deixe em paz! Logo a Yasuko estará aqui. Então quero que você suma!

— Mas, Sengoku...

— Nada de mas! Eu te disse que não vou fazer nenhum trabalho que você tenha para mim e também não irei à nenhuma celebração.

— Você sabe melhor do que ninguém que posso levá-lo em um piscar de olhos — Samir levantou um dedo e esboçou um largo sorriso de satisfação.

— Não faça isso. Não é algo justo — Sengoku disse ao suspirar desanimadamente.

— Ah, mas eu posso... como é bom ser uma divindade... como é bom ter tantos poderes.

— Maldição! — O garoto cerrou os punhos com força.

— Mas estou disposto à fazer uma negociação com você.

— O que você quer, droga?!

— Simples. Faça o que quiser, mas quando chegar as onze horas você virá comigo. Certo?

— E eu por acaso tenho escolha?

— Não. Nenhuma.

— Que seja! Eu vou com você!

A fúria de Sengoku arde em seus olhos. O que acontecerá a seguir?


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Notas finais do capítulo

Não percam o próximo capítulo, quando Sengoku partirá com Samir, sabe-se lá para onde.



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