A bebida desceu queimando pela garganta, mas não conseguia parar de beber, e também não queria. Ela fazia me sentir dormente, era o que mais queria nesse momento, pois dormente não lembraria daqueles olhos amendoados espantados que deixei quando sair de casa.

Eu só queria esquecer, mas não consigo, isso explica a quantidade de frascos de doses tomadas, já perdi as contas de quantas vezes o barman retirou copo vazio e o encheu logo em seguida.

Eu estava assim porque sabia que estava em um grande problema mesmo não entendendo.

Desde que sair da mansão pensamentos soltos rolam na minha mente. Não queria pensar na probabilidade da Bella esta falando a verdade, essa hipótese fazia com que o meu cérebro congele de pânico e terror.

“ Não  a possibilidade” – sussurrei na minha mente - “ Não a possibilidades da Mel ser a minha filha”.

“Eu não te trair”

“Como você pode pensar isso de mim? Eu o amava tanto. Como poderia fazer isso? Naquele tempo só existia você e mais ninguém”.

Suas palavras foram ditas com tanta verdade como se ela realmente acreditasse naquilo que estava dizendo.

E aqueles olhos aterrorizados depois que falei que era estéril não saia da minha cabeça. Toda sua reação foi descrita em seu rosto, não precisou de nenhuma palavra. Ela não seria capaz de fingir aquilo tão bem, seria?!

Eu era pai da Mel?!

— Caralho – grui e passo as mãos bruscamente pelo rosto antes de pedir mais uma dose – Mais uma – grui para o barman. Estendo o copo, mas uma mão parou meu movimento, impedindo do meu copo ser cheio novamente.

— Obrigado, cara, mas por hoje já chega –  reconheço a voz do filho da mãe do Will. O Barman dá de ombro o some da minha visão indo atender outras pessoas sem a minha maldita permissão .

— Caralho, Will, que merda é essa?- praticamente grito para ele sem me importar com os olhares que ganho ao meu redor. Com o humor que eu estava dava vontade de manda todo mundo ir a merda.

— Edward, não acha que já encheu a cara demais por hoje? – ele me olha com um olhar repreensor que não fazia seu tipo.

— Como raios isso é da sua conta? E como você me achou aqui?

Ele revirou os olhos como uma maldita criança.

— Eu sou seu amigo, Edward, me preocupo com você e sou sócio daqui, lembra?

Foda-se! Queria ficar sozinho e vim logo para o bar que era parte dele.

— Sim, me lembro, também sou sócio daqui, e ainda sim você não tem nada a ver com isso. Me deixa sozinho – disse e o ignoro voltando a minha atenção para chamar outro Barman, porque aquele já estava despedido. Espero me lembrar disso amanhã, não, melhor... Me volto novamente para Will que não saiu do canto que estava – Já que você ta aqui me lembre amanhã de despedir aquele barman.

— Não vai despedir ninguém, seu idiota, ele só saiu sem questionar porque ele me conhece mais que você. Agora levanta e vamos embora, estou ali no canto faz uns dez minutos e vi você pedindo um dose atrás da outra, como ainda não ta no chão?

Eu era bom com bebidas, anos de experiência, não me orgulho disso, mas agora esta sendo útil.

Ignoro seu discurso e bato o copo no balcão.

— Eu quero mais uma dose, alguém pode me servi ou ta difícil – falei alto chamando mais atenção para mim, logo um barman estava na minha frente, ótimo!

— Cara, você está muito bêbado – ouvir Will resmungar enquanto eu tinha mais uma dose.

Viro sem pensar duas vezes.

— Mais uma – viro sentindo o liquido descer rasgando, e logo em seguida sinto uma leve dormência.

— Eu sei que estou bêbado, eu quero ficar assim... – falo com a voz arrastada, minha cabeça estava começando a ficar tonta.

Ouço will respirar fundo antes de falar.

— Eu sei que alguma coisa fodida aconteceu para você querer ficar assim, mas não é assim que se resolve os problemas, Edward – sua voz era seria, se não estivesse com a cabeça girando eu poderia ficar surpreso, era muito raro ele agir assim sério. Normalmente era eu que tentava colocar juízo na cabeça dele.

Fico um tempo em silêncio

— Ela me odeia – finalmente solto sem pensar.

Ele demorar um pouco para entender, mas por fim entende.

— A Bella – Não era uma pergunta, acho que não era novidade para ninguém que a minha vida girava em torno dela.

— A própria, e pior que acho que....- tento acabar a fala, mas perco o raciocínio.

Merda, eu realmente estava bêbado.

— Vamos para casa, amanhã a gente conversa – sinto ele pegar meu braço, ainda tento me soltar, mas por ficar sentando por muito tempo bebendo meu corpo tomba, mas Will me segura a tempo.

— Filho da mãe pesado, você ta me devendo uma, vou quebrar as minhas costa carregando você – ele resmunga, não entendo porcaria nenhuma que ele falou, minha mente parecia estar no nada. Assim chego aonde queria, dormente. Não conseguia me concentrar e nem pensar em nada, Perfeito.

Então apenas deixei Will me carregar.

.................

Abro os olhos sentindo pontadas enormes na cabeça.Fecho os olhos novamente levando as mãos a cabeça como se fosse amenizar a dor.

Ressaca infeliz. Fazia tempo que não sabia o que era uma dessa.

Quando vejo que não vai passar me obrigo a manter os olhos abertos e tento me levantar para tentar saber onde estou.

Fleches de cenas do Will tentando me arrasta para fora do bar vem na minha mente. Ele deve ter me levado para o apartamento dele.

Depois quer estou certo disso me levanto e isso foi uma má escolha, porque a cabeça piorou mil vezes mais, o peso do mundo estava em cima dela, mas mesmo assim me arrasto pelo quarto tentando achar alguma luz.

Finalmente acho uma luminária. Estreito os olhos pela repentina claridão, mas respiro quase aliviado quando vejo uma garrafinha de água e comprimido ao lado.

Eu deveria a minha vida ao Will.

Pego o comprimido rápido e engulo com a água em rápidos goles. Minha boca estava seca demais, que só aquela garrafa não seria o suficiente.

Saio do quarto em busca de mais água. A maneira que vou andando percebo que realmente estava um lixo. Além de toda dor e sensação normal de ressaca, tudo que queria esquecer veio em uma bola de neve de volta. Nada tinha se resolvido.

Quando chego na cozinha o will estava lá.

— A donzela acordou, finalmente- ele me deu aqueles sorrisos inconvenientes, que não se deveria dar a essa hora do dia, enquanto fazia algo no fogão.

— Preciso de água – ele aponta para geladeira a minha esquerda.

— Seu celular não para de tocar – ele avisou enquanto eu dissecava mais duas garrafas de água uma atrás da outra.

— É o Emmett– ele ligou o dia todo ontem, na certa para saber onde diabos eu estava que não fui trabalhar. Mandei mensagem dizendo que não ia, mas ele continuou, então coloquei o celular no silencioso e ignorei.

— Sim, mas a sua mãe também ligou, atendi e disse que você estava aqui em casa. Ela parecia preocupada.

— Droga – fecho a geladeira e vou ate o balcão onde o celular estava. Olho as notificações e realmente tinha a chamada dela e milhares de Emmett, assim como varias mensagens, ate do Carlisle tinha.

Ligo para Esme primeiro, mas ela não atende.

— Ela não atende.

— A ligação estava bastante ruim quando falou comigo – disse Will, colocando ovos fritos com bacon nos pratos que estavam no balcão – Come para curar essa ressaca.

Ia ligar para Esme mais tarde.

Sem questionar me sento em um dos bancos metalizados e como, ele também se senta e começa a comer em silêncio.

Aquele silêncio fez a dor de cabeça aliviar um pouco, mas em troca os meus pensamentos gritavam.

Faço uma careta ao pensar de como voltar para casa e encarar a Bella, não sabia como fingir que nada aconteceu.

— Que cara feia é essa? Vai me dizer o que aconteceu? – Will quebrou o silêncio.

—  Nada – disse sem complementos.

— Nada? Qual é, você vai para um bar no meio de semana, enche a cara e vem dizer que não foi nada?

O Will nunca soube o que realmente aconteceu entre a Bella e eu, nem minha família saberia se não fosse a Rose. Ele não morava aqui nos estados unidos, só veio voltar depois de formado. O que ele sabe é que a Bella e eu namoramos e acabou. O motivo no começo ele perguntava, mas com o tempo, como todos outros, parou de perguntar. A única coisa que ele sabe é que depois da Bella eu não era mais o mesmo.

O Will era o meu amigo desde.... Desde sempre, estudei desde pequeno com ele até o ensino médio, só nos separamos quando veio à faculdade, ele mudou para outro estado e eu continuei aqui. Ele passou anos fora e mesmo assim quando voltou para Seattle e a primeira coisa que fez foi visitar a minha família que era praticamente também a dele.

Então sabia se contasse qualquer coisa ele saberia guardar, mesmo com o seu jeito doido, sabia que podia confiar nele.

— Eu e a Bella terminamos há anos atrás porque ela engravidou da Mel, mas eu sou estéril – fui direto sem enrolação.

Ele arregalou os olhos surpreso, sem esperar essa confissão de mim.

— Caralho... quer dizer, ela te atraiu?

— Assim que ela soube da gravidez ela veio me dizer, mas não acreditei que o filho fosse meu por causa de exames que fiz na adolescência por causa de problemas hormonais da Alice, também fiz uma bateria de exames, com o resultado o medico disse que éramos estéreis. E ontem a Bella veio reafirmar que a Mel era a minha filha, disse a ela que sou estéril, mas a sua reação não sai da minha cabeça, não sei o que pensar.

— Qual foi a reação dela?

A lembrança de seus olhos vem em cheio na minha mente.

— Ela não conseguiu dizer nada, mas não precisava, parecia surpresa como se não podia acreditar no que tinha falado.

— Ela foi pega na mentira? – ele sugeriu.

— Poderia pensar nisso, mas o que me incomoda mais foi a forma como ela falou, a certeza que ela disse que a Mel era minha filha.

Ele ficou um momento calado.

— Edward, vou ser sincero. Quando vi a Mel pela primeira vez lá na sua casa tomei um choque ao pensar que ela fosse sua filha – ele franziu a testa  e parou alguns segundos antes de continuar como se tivesse procurando palavras para falar – Ela se parece muito com você.

— Não pode ser – não sei se disse aquilo para ele ou foi para mim mesmo.

“Eu não te trair”

— Você tem certeza que ela não é sua filha?

“Eu não te trair” – parecia que estava ouvindo sua voz aqui perto de mim. Apoio o cotovelo no balcão para poder levar as mãos a cabeça.

— Ate antes de ontem eu tinha, mas agora não sei de mais nada – Sentir uma sensação tão ruim, não sei como explicar direito, mas parecia que algo estava se partindo por dentro. Um gosto amargo surgiu na minha boca, e a minha cabeça parecia que ia explodir mais do que nuca – Eu sou estéril, cara, isso não tem como acontecer. A minha irmã tenta a muito tempo ser mãe e nunca conseguiu – digo isso para ele na esperança dele me confirmar aquilo e me dizer que eu realmente estava certo.

—  E se for só ela e não você ? – olho para ele – Eu sei, eu sei que os exames estão dizendo o contrario, mas merda, eles podem ter cometido um engano. Já pensou nessa hipótese?

Nunca me deixei pensar assim. Me envergonho em dizer isso para ele.

“Como você pode pensar isso de mim? Eu o amava tanto. Como poderia fazer isso? Naquele tempo só existia você e mais ninguém” – suas palavras me faziam faltar o ar, como não duvidei, como pude não duvidar?

Não respondo nada, não tinha defesa, e com isso ele já tem a sua resposta.

— Puta que pariu, ela pode ser a sua filha, Edward -  ele me olhou assustado. Eu podia sentir que o meu coração a maneira que ele falava parecia que ia sair pela boca – Você tem que fazer um exame de DNA o mais urgente possível.

Essa alternativa nunca foi valida para mim, antes tinha a plena certeza do que creditava. Agora essa alternativa parecia resolver todos os meus problemas, com o resultado poderia ter um laço mais profundo possível com a Mel, mas sabia que de alguma maneira essa alternativa poderia cancelar qualquer chance da Bella voltar para mim.

Ela vai me odiar

Ela vai me odiar

Ela vai me odiar

Ela vai me odiar

Ela vai me odiar

— Eu tenho que ir – disse já me levantando.

— Você não pode sair assim –  ele veio atrás de mim.

— Eu tenho que ir para casa falar com ela. Tenho que ouvir tudo que ela tem para falar – disse e é ai que me toco. Nunca dei essa chance a ela, nunca deixei ela falar.

 Agora tenho essa consciência, preciso que ela fale, preciso ver a verdade nos seus olhos.

Só espero que não seja tarde demais.