POV Bella

Abro os meus olhos pela centésima vez no meio da noite. Eu não consigo dormi. Olho para o meu lado e vejo Mel dormindo que nem um anjo, em seu sono tranquilo.

Sorri ao me lembrar o que ela fez, em pedir obrigada e abraçar o Edward do nada. Sei que ele ficou surpreso com isso, eu também fiquei. Eu não tinha a mínima noção que a Mel ia fazer isso.

Parece que o Edward gostou da Mel. Do jeito que ele falou com ela e a tratou, deu para perceber que ele não a culpa por nada. Não que suas acusações sejam corretas ou verdadeiras. Mas eu me contento por ele se comporta de forma amigável em sua frente. Eu não suportaria se ele a tratasse mal no período que nós vamos ficar em sua casa. Tudo bem ele fazer isso comigo, mas com ela, eu não teria estômago para aguentar.

Mel é tudo que tenho, ela é o meu anjo e eu não admito que ninguém a trate mal. Eu posso suportar tudo, humilhações, maus tratos, xingamentos, menos ver alguém a tratando mal.

Eu já vivi tanta coisa nessa vida, com apenas dezenove anos, eu vi minha vida vira de cabeça para baixo, meu mundo perfeito se tornar em um mar de amargura e sofrimento, o meu coração foi arrancado e dilacerado por o único homem que amei, mas ao mesmo tempo, eu me vi dando vida a um ser perfeito, que reuniu todos os meus cacos, sem nem mesmo perceber. Eu sei que a tive com muita dificuldade, para começar, minha gravidez não foi fácil, Mel acabou nascendo prematura, mas graças a Deus sem nenhuma sequela. Mel passou mais dias que o normal no hospital, mas depois ficou tudo bem.

Em seus poucos anos de vida eu não pude lhe oferecer muita coisa. Com o emprego que eu tinha, não permitia ter certos recursos. Quando fui expulsa da minha antiga vida, eu comecei do zero, não tinha nada, só a roupa do corpo e uma pequena mala com algumas coisas que conseguir pegar antes que os meus pais me colocassem para fora de casa.

Me lembro que o Alec me ofereceu sua casa para ficar por um tempo, mas eu não aceitei, então ele me deu um pouco de dinheiro e com o que eu tinha, conseguir alugar um quartinho em um lugar que eu nunca sonhei nem colocar a ponta do meu pé. Confesso que foi duro aceitar a realidade, mas foi ali que conseguir reorganizar minha vida e seguir em frente.

Chorei por noites, eu simplesmente não conseguia parar de chorar. As palavras dos meus pais e as do Edward me atormentavam por dias e noites. Com o tempo eu fui me acostumando a guardar toda minha dor dentro de mim, sem demonstrar para ninguém o que me atormentava. Eu queria tentar ser novamente uma pessoa normal, uma pessoa que sorria e não apenas chorava e sofria pelo um passado que não queria sair da mente. E ainda tinha o meu bebê, que era o meu principal motivo, não fazia bem a ela esse sofrimento todo, eu tinha que me segurara e ser forte.

Logo nos primeiros meses conseguir um emprego em uma cafeteria como garçonete. Tentei esconder a minha gravidez, mas não foi fácil. Meu chefe começou a desconfiar que tinha alguma coisa de errado comigo, foi então que ele descobriu. Eu pedi por tudo que era mais sagrado para que ele não me despedisse. Ele me aceitou, sua mulher ate me ajudou e deu conselhos sobre gravidez. Com o dinheiro que conseguir nesse trabalho fiz uma ultrassom. O dia mais feliz da minha vida foi guando descobrir que estava grávida de uma menina. Não conseguir comprar muita roupinhas e nem brinquedinhos, Mel não teve berço, nem nada do tipo, mas tinha o meu amor e isso foi o suficiente.

Depois que tive a Mel não conseguir de volta o meu trabalho na cafeteria, então tive que ir a luta para conseguir outro trabalho, não foi fácil, mas conseguir. O salário do novo emprego era maior e conseguir me mudar do pequeno quartinho que vivi por quase dois anos. Me mudei para um apartamento, que eu poderia chamar de casa.

Com muita pena coloquei Mel na creche para poder trabalhar. Mel tinha acabado de fazer dois anos quando foi à primeira vez, me lembro de ter chorado mais que ela, mas eu tinha que me conformar. A comida tinha que ser posta na mesa todos os dias e sem falta.

Durante esses cinco anos minha vida foi de altos e baixos, perdas e conquistas, mas o importante é que estou aqui ainda de pé para enfrentar a todos que se colocarem na minha frente.

Beijo o rosto da Mel e puxo o seu corpinho mais próximo de mim e a perto em meus braços. Eu farei tudo para que minha pequena seja feliz nessa vida. Isso era uma promessa que eu fiz a mim mesma quando vi seu rosto pela primeira vez.

Fecho os meus olhos novamente e depois de alguns minutos caiu em um sono profundo sem sonhos e nem pesadelos.

....................................................

– Mamãe, mamãe – ouço a voz de Mel me chamando – Mamãe, mamãe acorda que eu quero fazer xixi.

Abro os meus olhos e vejo Mel ajoelhada encima da cama ao meu lado. O dia já tinha amanhecido. Seu rosto estava amassado, dando sinal que ela tinha acabado de acordar. Quando Mel me viu abrir os olhos, ela sorriu e pulou da cama.

– Vamos mamãe eu quero fazer xixi – disse ela calçando sua sandália - Eu to com medo de ir sozinha, porque o bicho pode me pegar e me levar para longe da mamãe. E a senhora não quer ficar sem mim, porque eu sou sua princesa, e se não tiver mais sua princesa, a senhora vai ficar triste e eu não que ver a senhora triste – tagarelou Mel pegando em minha mão.

– Ok, vou levar minha princesa ao banheiro – disse ainda sonolenta, mas feliz por ter sido acordada por ela com tamanha empolgação.

– Vamos, vamos, senão vou fazer xixi na roupa– disse me apresando. Me levanto da cama e também calço minha sandália. A peguei no colo e sair quase correndo para o banheiro.

– Tira mamãe, tira - disse Mel se contorcendo já dentro do banheiro. Tirei seu pijama de bolinha e a coloquei sentada no vazo. Ela me deu um sorriso lindo quando se levantou e beijou o meu rosto dizendo que por pouco não tinha feito xixi no seu pijama preferido e que eu era a sua herói. Gargalhei guando ouvi isso dela. Beijei a pontinha do seu nariz e mandei ela lavar suas mãos. Não tinha nada melhor do que manhãs como essa.

Voltamos para o quarto para pegar nossas roupas. Tomamos banho, escovamos os dentes e nos arrumamos. Mel estava vestida com um vestidinho azul clarinho, ele estava um pouco surrado, mas ela dizia que amava aquele vestido, fiz uma trança em seu cabelo e depois fui me vestir, coloquei uma calça e uma blusa antiga da época da faculdade. Mel me disse que era para eu fazer uma trança também no meu cabelo para combinar com ela. Assim eu fiz.

Hoje não estava fazendo frio que nem ontem, o sol resolveu aparecer. O dia estava lindo lá fora, já se podia ouvir os passarinhos cantando guando abrir a janela da cozinha. A Amelie ainda não tinha chegado. Também era muito cedo, nem tinha dado seis horas, ainda faltava meia hora.

Quando o café estava quase pronto quando Amelie chegou. Ela deu bom dia e me ajudou a fazer o resto do café da manhã. Durante o processo conversamos sobre o que iríamos fazer hoje. Ela me deu uma lista sobre coisas que deviam ser compradas no supermercado hoje de manhã. Amelie me ofereceu ajuda, mas eu disse que estava tudo bem.

Tomamos café escutando Mel falando sobre um dos seus personagens favoritos de desenho animado para Amelie. Acredite, quando Mel abre a boca para falar sobre algo que goste, não tem quem a faça parar de falar. Eu amava o jeito da minha pequena. Amelie ficou a ouvindo e fazendo perguntas para ela sobre algo que não entendia sobre o personagem e Mel respondia toda feliz, por está falando sobre isso com alguém novo. Assim foi o nosso café da manhã, com a Mel comandando a conversa.

Terminamos de comer e tudo foi feito como ontem. Amelie serviu o café do Edward quando faltava poucos minutos para sete horas. Enquanto isso, lavei os pratos e os enxuguei. Eu estava nervosa por ter que ir de novo retirar os pratos da mesa, porque isso significava que eu poderia ver Edward de novo, mas eu tinha que me acostumar, afinal, eu estava vivendo em sua casa e o trabalhando para ele, então não tinha como fugir. Eu tinha que aprender a lidar com sua presença, pois ela ia ser constante na minha vida nesse momento.

Depois de alguns minutos eu fui para a sala de jantar, com o mesmo intuito da manhã passada, de que o Edward não esteja mais na sala quando eu chegasse, mas como ontem, ele ainda estava, mas dessa vez Edward já tinha acabado de comer, ele estava apenas mexendo em seu celular.

– Bom dia – disse por educação. Como ontem ele não respondeu, só me ignorou. Me forcei a me manter ilegível – Eu posso retirar a mesa, Senhor Cullen? – perguntei formalmente.

Ele levantou a cabeça, desviando sua atenção do seu celular. Edward olhou em meus olhos e desceu seu olhar para o meu corpo. Seu olhar ilegível me fitou profundamente. Como um clique no meu cérebro, eu percebi que ele estava olhando minha camisa. A camisa da faculdade. O reconhecimento se apossou de seu rosto. Seu olhar subiu no meu novamente e percebi que ele não gostou nenhum pouco da minha roupa. Quando eu pensava que ele já ia se retirar, Edward ficou na mesa me olhando atentamente juntar os pratos da mesa. Fiquei mais nervosa com seu olhar sobre mim. Me forcei o máximo possível para não deixar cair nada da minha mão.

– Com licença- disse com todos os pratos em uma pilha em minhas mãos, mas para minha surpresa ele fez um sinal para que eu esperasse.

– Eu preciso falar com você sobre algo importante – disse ele com o tom de voz duro e frio. Paralisei por um estante. Será que fiz algo de errado?

– Tudo bem – murmurei.

– Eu estava pensando ontem a noite em sua filha – meu coração perdeu uma batida com a menção dele pensar em Mel – Se ela estudava antes de você vim para aqui, ela tem de quatro para cinco anos, correto?

– Ela tem cinco – disse, mas não sabia onde ele queria chegar com essa conversa. Fiquei meio perdida com o seu subi interesse na minha filha. Permaneci do jeito que estava imóvel com os pratos ainda em minhas mãos – E ela estudava sim.

Ele me avaliou por um instante, mas foi o bastante para eu ficar vermelha.

– A Mel não pode parar de estudar – antes que eu falasse alguma coisa, ele continuou – Na minha empresa todos os filhos dos meus funcionários estudam em uma escola que faz parceria com a empresa. Essa escola é uma das melhores da elite de Washington. E é a empresa que paga todos os custos, desde coisas banais ate as mensalidades. Não seria justo que Mel parasse de estudar e perdesse um ano letivo, então ofereço a você essa oportunidade. O que você acha?

A palavra surpresa era muito pouco para resumir o que eu estava sentindo. Confesso que eu não tinha pensado nisso ainda. Tanta coisa na minha cabeça, que não me dei conta dos estudos da Mel. Me sentir culpada por isso. Eu não podia continuar pagando escola para ela nesse momento, o jeito seria colocá-la em uma escola pública. Essa oferta de Edward me deixou muito surpresa e ao mesmo tempo feliz.

– Muito bom – disse um pouco atordoada – Obrigada, eu não sei nem como agradecer, Senhor Cullen.

Eu realmente estava muito agradecida. Mel não poderia ficar só aqui, sem fazer nada, ela tinha que interagir com outras crianças e sem contar que ela tinha que continuar com sua educação. Mel está aprendendo a ler e isso não poderia ser interrompido agora.

– Apenas aceite.

É pelo bem da Mel.

– Eu aceito.

– Ok, então ela já pode começar a estudar semana que vem, quando eu chegar à noite do trabalho, você me passa o nome e o endereço da escola antiga, para tudo ser resolvido o mais breve possível. E o fardamento e seus materiais escolares são tudo por conta da empresa. Daqui para o fim de semana estará tudo pronto – disse ele pegando seu celular e se levantando.

– Muito, muito obrigada.

– Acredite – disse Edward direcionando seu olhar seco para mim - Não foi por você – completou e foi embora.

Me apoiei na parede mais perto de mim e fechei meus olhos. Soltei minha respiração, que eu nem percebi que estava prendendo. Não, eu não vou me deixar abalar por suas palavras. Ele foi bastante generoso com minha filha e é isso que importa.

Abri meus olhos e fui para a cozinha com a pilha de pratos nas mãos. O dia só estava começando.