Simplesmente Diferente escrita por Winter


Capítulo 11
Velhinhos, Filhotes e Gringos


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas! Desculpa pela demora. Mas, além do fato de estar lotada com assuntos da escola, eu fiquei bastante chateada de não ter recebido nem um comentário no último capítulo. Espero que dessa vez seja diferente.



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O dia mal havia começado, e eu já queria que terminasse.

Estava tão cansada que nem o banho conseguiu deixar meus olhos abertos, então apelei para três xícaras de café e aipim amassado com açúcar.

E mesmo cansada daquele jeito, estava ciente de duas coisas: amanhã era o almoço na casa dos gringos, o que eu ainda não estava mentalmente preparada, não depois de ontem. E que meu pai, sempre depois de visitas como a de ontem, ficava com as esperança lá em cima pensando que eu estaria mais receptiva.

É. Vai sonhando.

Peguei minha mochilas em cima do sofá e saí pulando tentando colocar o sapato no pé, e essa deveria ser uma imagem mais do que cômica, pois quando olhei para o lado avistei minha vizinha se acabando de rir. Velha miserável.

– Como vai, Dona Lúcia? Acordou cedo hoje.

– Olá, minha querida. Como está? Faz tempo que não nos vemos.

– É... essa vida de estudante está complicada.

– Mas foi exatamente por isso que eu acordei cedo.

– Porque sua vida de estudante está complicada? Com todo o respeito, mas acho que a senhora já passou desse tempo...

– Não bobinha. Eu precisava trocar uma palavrinha com você.

– Ok... - falei caminhando em direção à sua casa - Qual foi?

– Jovens e suas gírias - ela balançou a cabeça rindo fraco - mas, o que eu queria falar era que meus sobrinhos virão passar um tempo aqui com a gente enquanto meu filho e a mulher dele viajam a trabalho.

Opa! Isso sim que era boa notícia. Os irmãos Souza eram uma combinação de beleza, bom humor e fofura. E claro, um par de tanquinhos de morrer.

– E quando é que meus homens chegam? Já estava na hora deles fazerem uma visitinha. Depois se dizem meus amigos.

– Ah, querida eu lhe garanto que eles também sentem sua falta. Mas, como você, devem estar ocupados estudando.

Ri, mas ri mesmo.

– Claro, Dona Lúcia. Eles devem estar mesmo se acabando de estudar.

Aqueles malditos, além de serem uma das melhores famílias que já conheci, ainda eram mini gênios. Claro, pelo que eles haviam me dito, eles prestavam atenção, faziam atividades, participavam das aulas, mas nunca estudaram tanto quanto eu. E ainda tiravam noves!

Ela riu.

– É, talvez você tenha razão. Mas e você e seus pais. Como estão?

Cocei o pescoço, percebendo uma movimentação na casa ao lado.

Como será que estavam os gringos? Não estava querendo esbarrar neles hoje logo de manhã. Ainda precisava pegar minha bicicleta. Estava parecendo que ia chover, e eu não queria me molhar, havia acabado de lavar meu casaco, e também tinha um livro novo na minha mochila, que eu não estava nem um pouco interessada em molhar.

– Bem, bem. Muito bem. - respondi rapidamenete, dispensando a senhor com um acneo - Olha, parece que vai chover. Acho melhor eu me apressar para a escola. Foi um prazer falar com você e com certeza virei visitar seus netos. Tchauzinho! - corri em direção a minha casa, gritando a última parte.

Peguei minha bicicleta que estava na parede da minha casa, e saí acenando para Dona Lúcia que me encarava de um jeito que eu não pude e nem quis entender.

Essas velhinhas de hoje em dia... Sem um pingo de consideração com a minha pessoa. Se ela pelo menos tivesse trazido um bolo, era até aceitável. Mas, não! Tinha que vir falar comigo logo de manhã, ainda por cima sobre seus netos gatos. Deus do céu, eu devo estar muito carente.

Enquanto pedalava entre árvores e casas em direção a escola, percebi que na minha pressa não peguei meu lanche.

Droga. Eu que não vou voltar agora, mas também não quero passar fome, porque sério, a comida daquele colégio é um veneno.

Bom, eu poderia roubar a comida de algum jovem desavisado, ou...

Eu sempre tinha minha carteira na minha mochila em caso de necessidade (como hoje), e poderia parar na padaria na metade do caminho e comprar algo que não me matasse até o fim do dia.

Dei uma rodeada na minha bicicleta, entrando na ruazinha fofinha que tinha a melhor pessoa do mundo: um padeiro. Mas não era um simples padeiro, não. Ele era o padeiro que estava afim da minha avó.

E vocês me perguntam, "Você não deveria ficar enojada ao invés de feliz, porque bem, ela é a sua avó?!", e eu digo, não. Além do fato da minha avó ser viúva, e muito louca das ideias, ela era bem fofinha e amável, do jeito que não sobrava nenhum velhinho solteiro ou casado que não achasse ela charmosa. Mesmo eu achando um pouquinho estranho, eu tirava muito proveito dessa situação, como agora.

Deixei minha bicicleta ao lado do banco de madeira que havia em frente a padaria, e entrei, recebendo um cheiro forte e muito gostoso de pão, chocolates, arco-íris e tudo que há de bom.

Dando uma olhadinha no balcão me deparei com um belo nada. Não havia ninguém ali.

Suspirei, resmungando como o mundo era cruel e que agora eu tinha que morrer intoxicada, quando ouvi uma panela caindo.

– Vicente? É você ai? - chamei.

Em resposta ouço um grito masculino e mais panelas caindo.

Sai correndo, pensando que era um ladrão, e pulei o balcão em direção a cozinha, e dei de cara com uma situação nada apropriada para se ter em uma cozinha: Vicente estava no chão, parecendo não estar machucado, e com um bando de filhotes de cachorros e panelas a sua volta, e eu plantada e com a maior cara de surpresa que alguém poderia ter.

– Julia, por favor, não conte isso para ninguém!

– O que aconteceu aqui?

E foi assim que nós acabamos sentados, com café e pão delicia, na mesa da cozinha, e cinco filhotes ao nossos pés.

– A Lolita morreu no parto! Há quanto tempo foi isso?- perguntei segurado meu choro. Eu amava aquela cadela.

– Na verdade foi ontem, algum tempo depois do parto. Mas ela já estava velhinha, ia acontecer mais cedo ou mais tarde.

– E porque eles estão aqui? - falei apontado para o safado que estava mordendo a ponta solta do meu cadarço.

– Eu não sei para onde levá-los. Não posso cuidar de recém nascidos. Eles precisam de muito cuidado e estou muito velho para fornecer o que eles precisam. E ninguém vai querer vira-latas como esses.

Fiquei irritada. Odiava o fato que as pessoas hoje em dia só querem cães de raça pura. Mas olhando para esses cachorrinhos pretos, marrons e sei lá mais que cor, me deu uma vontade de leva-los para casa. E foi assim que eu me liguei.

– Eu posso te ajudar.

– Pode? Meu deus, Julia, como posso te agradecer? Eu te amo, garota.

– Calma, eu posso te ajudar, mas vai sair caro.

Seu rosto ficou rígido, mas sabia que ele não estava realmente me levando a sério.

– Além de ter que pagar algumas coisinhas necessárias para os cachorros, já que eu não trabalho, você vai ter que me dar comida.

***

Apesar de ter chegado muito atrasada para entrar na primeira aula, eu estava muito feliz pela minha conquista de pelo menos cinco salgados por conta da casa, sem contar é claro com o sonho e o pão delícia que eu peguei para o lanche. Estava mais do que feliz.

Sem contar que eu amo cachorros, e que fiquei muito tentada a faltar a escola e ficar com eles até não aguentar mais. Mas para ajudar Vicente, eu precisava falar com dois loiros o mais rápido possível.

Fiquei sentada área da recepção com um casal que parecia chapado, e um garoto que estava quase caindo da cadeira de tanto sono, que é claro eu tirei uma foto, até bater o segundo horário, que por acaso era Literatura, ou mais conhecida como "pode usar celular, conversar ou dormir à vontade".

Fui em direção a sala de aula, sem pressa nenhuma já que o professor de agora, o de História, gostava de falar muito e perdia o horário. Fiquei com cara de bunda ao lado da porta, mais do que pronta pra dar um soco na cara daquele que puxasse uma conversa comigo.

É. Só um pouquinho ansiosa.

Depois do que pareceu uma década com a chata da professora de Literatura me enchendo o saco, o outro professor saiu da sala, junto com alguns alunos que gemeram ao ver que a professora já estava esperando ao lado de fora. Sem paciência, entrei empurrando todo mundo, e ouvindo em retorno palavrões. Ótima maneira de começar o dia.

Coloquei minha mochila com um cuidado extra para não amassar meu lanche, e fui à caça da Charlie, que estava falando com umas duas garotas que eu não me importava.

– Desculpa, interromper - falei sem nem um pingo de sinceridade - Mas preciso dela. Obrigada, até nunca mais.

– Oi, para você também Julia - respondeu Charlie, mal-humorada.

Ahn? Charlie? De mal humor? Essa era nova para mim. Mas estava muito ansiosa para me importar.

– Seus pais gostam de animais? - perguntei.

– Mas por...

– Responda mulher!

– Sim, eles gostam. Mas qual é...

– Você e Aaron. Gostam?

– Sim, desde que chegamos no Brasil estamos vendo a possibilidade de um gato ou...

–Me passa o número do seu irmão, sem perguntas. Só me passa.

– Ok - falou me olhando estranho.

Ela pegou o celular, e depois de um tempinho mexendo ela me entregou o aparelho, e na tela aparecia o nome "Warner" com um número embaixo. Fiquei mais emocionada ainda.

– Você leu Estilhaça-me?

– Você também leu?

– Meu deus. Eu poderia te beijar agora, mas preciso de foco. Depois eu dou a louca sobre como esse livro é maravilhoso.

Olhei em volta e percebi que a sala estava começando a se acalmar e a se sentar, então puxei Charlie para o fundo enquanto mexia no meu celular adicionando o número de Aaron e mandando uma mensagem.

"Me encontre na biblioteca daqui a cinco minutos. Vá sozinho ou sua irmã morre. -J"

Olhei para a loira, que ainda me encarava curiosa, esperando por uma explicação.

– Eu preciso de você, da sua família e da sua casa.

Ela arregalou os olhos, assustada, mas ainda curiosa.

– Só siga o roteiro.

E a empurrei.

***

E foi assim que depois de cinco minutos, lá estavam eu, Aaron e uma Charlie inconformada.

– Eu ainda não acredito que você me empurrou da cadeira. A gente poderia ter simplesmente pedido para ir ao banheiro.

– Mas que graça teria?- respondi com um sorrisinho de canto.

– Você tem uma inclinação para o drama. Já pensou em ser atriz? - perguntou Aaron com seu sorriso sempre presente.

– Querido, eu sou uma atriz na vida. Agora vamos para o que realmente importa.

Expliquei a situação para eles, e o meu plano.

– Então foi por isso que você nos tirou da sala. Para adotar filhotes?

– É. Eu preciso da ajuda de vocês. Eles não podem ficar todos na minha casa, e toda sua família gosta de animais. Não me levem a mal, mas eu precisava falar com vocês rápido, porque se vocês não concordarem terei que bolar outra solução para eles.

– Ok, mas como você disse são cinco filhotes. Como é que nos vamos toma conta deles? Meus pais são muito ocupados para isso. Daqui a algum tempo mesmo, teremos que vir a pé para a escola - reclamou Charlie.

– Mas pensem que, eu vou ajuda-los em tudo: passear, alimentar, dar banho, essas coisas. E eu... - não acredito que eu ia me oferecer, mas tinha que ser feito. Resmunguei.

– O quê? Eu não entendi o que você falou - perguntou Aaron.

– Eu disse, que podia passar alguns dias na casa ajudando a tomar conta dos filhotes, e ajudar v-vocês a estudar, para não ficar muito atrás nas matérias - falei olhando para o chão.

Quando olhei para os loiros, eles estavam tendo uma conversa pelo olhar, que me enchia de inveja com a falta de um irmão para fazer isso.

– Ok - falou Aaron.

Não consegui conter minha alegria, e pulei em cima do dois em um super abraço.

– Ah, muito obrigada! Caramba, eu poderia beijar vocês agora mesmo.

– Que nojo.

– Eu aceito.

Adivinha quem falou o quê.

Mas foi aí que eu percebi quem eu estava abraçando. Não que me incomodasse abraçar a Charlie, mas Aaron... Soltei eles como se estivessem pegando fogo.

– Eles são labrador misturado com vira-lata, e tem um que é a sua cara Charlie, com o pelo da mesma cor do seu.

– Mas eu tenho cabelo ao invés de pelo, sua lerda.

– Se você diz...

***

Na volta da escola até a padaria, eu peguei carona com os gringos para falar com seus pais sobre a nossa ideia. Que por acaso não precisou de muito para convencer, apenas um bico da Charlie e um sorrisinho meu que ganha até guerras.

Então quando chegamos na padaria, eu praticamente saí correndo em direção a Vicente.

– Calma, meus amores! - falei quando passei pela porta - Eu cheguei!

– Ah, Julia. Também senti sua falta - falou o velhinho sorridente.

– Eu estava falando com os filhotes. Você, vai se apresentar para os gringos ali - falei apontando em sua direção.

Deixei os quatro com as apresentações, enquanto passava por mesas com farinha e panelas, e todas essas coisas de cozinha, até uma porta que dava para uma salinha com sofá e cadeiras, que eu até hoje não sei para que servia, e no cantinho presos em um cerca estavam os filhotes.

Cheguei perto deles, e vi que haviam dois dormindo e outros dois brincando, me ignorando, e apenas um estava no cantinho sozinho, e quando percebeu minha presença, se levantou abanando o rabo e veio na minha direção. Ele era único deles que era preto com olhos castanhos claro em contraste com sua pelagem, e com toda certeza, meu favorito. Os outros na sua maioria eram marrons, como a mãe, e o outro era amarelinho. Não sei como apareceu três cores, com apenas dois pais, mas vira-latas são sempre imprevisíveis.

Independente de ser vira-lata, eles eram uma graça, e acho que eles eram ainda mais bonitinhos que uma raça pura. Mesmo não sendo um rotweiller, eu estava apaixonada por esse cachorrinhos.

Eu ia ficar com aquele dali. Fui verificar seu sexo, quando Aaron e o resto das pessoas entraram na sala. E quase no exato momento que entraram, os três loiros se apaixonaram caindo em cima dos filhotes.

Bem, não literalmente. Mas vocês me entenderam.

– Ai, que coisa mais gostosa. Eu poderia matá-los de tanto que eu quero apertá-los.

Por mais incrível (e assustador) que pareça, foi Joseph quem falou isso.

– Então - falei, ansiosa e feliz ao mesmo tempo - Quem está pronto para ter uns filhotes?!


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Espero que comentem bastante. Principalmente sobre os irmãos Souza. Quem está curiosa levanta a mão!



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