Beyond escrita por Ilana Marques, JennyMNZ


Capítulo 28
Adriano


Notas iniciais do capítulo

AÊÊÊÊÊÊ Postei! =] Me amem.



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Como é que a gente se apaixona? Quando se observa o jeito de andar, ou a maneira que alguém prende a mecha de cabelo atrás da orelha? Ou como ela franze as sobrancelhas quando está zangada. Como cora quando envergonhada. Seria o sorriso? As palavras de sabedoria?

Preciso de respostas para saber como eu me tornei um completo idiota. E quando, sem a minha permissão um total estranho tomou conta da minha mente e sentimentos.

Isso é uma doença. Preciso ser tratado com urgência antes que esse vírus se espalhe e me tome por inteiro. Tudo isso por causa de uma frase. Uma simples palavra de quem a gente ama.

Ama. Exatamente isso. Eu amo a menina Brisa.

Eu. Adriano. O maior idiota de todos. Perdidamente apaixonado pela garota que disse que me ama de volta.

Bem, ela não disse exatamente isso. Mas o intruso que habita o meu corpo e me faz derreter como manteiga de garrafa tomou meus ouvidos. E me faz escutar o que ele quer que eu ouça. O fato é que, quando eu perguntei a Brisa se ela queria que eu fosse embora, ela apertou a minha mão e disse que por mais que odiasse admitir e tal, ela gostava de mim. E precisava de mim.

Gostar não está tão longe de amar. Então eu traduzi o sentido da frase.

Brisa me ama.

E porque ela precisa de mim, não vou deixa-la sozinha. Nunca.

– Adriano, dá prestar atenção? – a anã que estava me ensinando matemática gritou.

– Não tem um jeito mais fácil de aprender isso?

– Não. Você e o mundo querem tudo muito fácil. Algumas dificuldades são necessárias para se chegar a certos objetivos.

– Lá vem discurso... – Brisa pôs-se de pé e começou a gesticular e falar sem parar.

– O mundo quer tudo muito rápido. Comida instantânea...

– Está falando mal do meu miojo? – Interrompi. Ela não se abalou e continuou.

– Serviços rápidos, relacionamentos descartáveis. Eu sou cafona. Não quero essa vida que corre e não descansa. Quero a tranquilidade de enfrentar cada desafio que Deus me dá com a certeza que conseguirei chegar lá.

– Que você é cafona todo mundo sabe.

Recebi um chute na perna pelo comentário.

– Jesus chorou. Com a sua atitude agora, menina. – Abracei minha canela dilacerada.

– Deixa de ser mole. Se estivesse mesmo lendo a Bíblia, iria pedir pra eu chutar a outra perna.

Me levantei como um bravo soldado e abracei a menina.

– O que é isso agora? – perguntou.

– Estou amando o próximo como a mim mesmo.

Ela riu de encontro ao meu peito e eu entendi o que ela quis dizer. Eu conhecia aquela tranquilidade de que ela falara. Aquela paz. Aquela, que transformou a minha tempestade em uma... Brisa.

“Reduziu a tempestade a uma brisa e serenou as ondas.”

Salmos 107:29

***

No fim da tarde, minha cabeça estava tão saturada de números que parecia que eles iam escorrer pelos ouvidos. Peguei o violão no canto do quarto e sentei na cama.

– Vê se não quebra as cordas.

– Queridinha, você está falando com o melhor guitarrista dos últimos tempos.

– Um poço de humildade.

Deixei a música escorrer pelos meus dedos e preencher o lugar. Música tem esse poder. Por isso sempre me atraiu. Além do fato de ela inundar um garoto vazio como eu.

– Adriano? – a garota estava olhando fixamente para mim. – Há quanto tempo você toca?

– Alguns anos.

– Por que você nunca me contou que tocava tão bem?

– Não queria que você se apaixonasse tão rapidamente. Foi em vão. Na primeira semana você já estava perdidinha.

– Você não se toca mesmo! – ela girou a cadeira de rodinha e voltou a digitar no teclado.

– Adriano?

Me limitei a encará-la.

– Por que você não vai à Igreja comigo?

– Tá me chamando pra sair?

– Falando sério. Você poderia tocar guitarra lá. E conhecer novas pessoas, aprender mais de Deus.

Baixei a cabeça evitando contato visual. Meus olhos são frequentes traidores.

– Não acho que seria o melhor lugar pra mim.

O celular de Brisa tocou ao meu lado. Sofia estava escrito no visor. Obrigada, Sofia, por existir e me tirar dessa enrascada agora.

– Sofia! Como você está? – A garota atendeu num instante com um sorriso no rosto.

Quem era Sofia? Devia ser alguma irmã da igreja. Continuei dedilhando uma música no violão.

– Sofia, o que aconteceu?

Olhei para Brisa, que tinha uma ruga de preocupação na testa.

– Calma! Me diz, o que houve?

O rosto de Brisa ficou subitamente pálido. As lágrimas saltaram dos seus olhos. Suas mãos tremiam.

– Não, não é verdade!

Pulei da cama e segurei seu braço.

– Não, Sofia, Deus não permitiria que nada de ruim acontecesse com você, Você é serva e filha d’Ele! Nenhum mal pode te atingir! – Ela falava e soluçava ao mesmo tempo. - Você pode melhorar, fazer quimioterapia, ou radioterapia, você não vai perder a perna! Esqueceu-se de que vai ser missionária? É seu sonho desde pequena. Como você atravessaria o mundo sem uma perna? Deus não vai permitir que isso aconteça!

As coisas começaram a clarear na minha mente. A outra garota, aparentemente próxima de Brisa, iria amputar a perna. É uma barra para qualquer um.

– Não... – Ela murmurou e senti seu corpo desfalecendo. Segurei sua cintura e tomei o celular de sua mão.

– Sofia, aqui é o Adriano, um amigo da Brisa. Eu sinto muito pelo que você está passando. Desculpa, mas vou ter que desligar. Brisa está bastante abalada. Depois ela te liga, tudo bem?

– Certo, Adriano – a voz da menina era doce. Mas ela soava conformada com a situação. – Cuida da Brisa pra mim.

– Sempre.

Desliguei e abracei a menina em pedaços que sobrara.

***

Eu não sabia o que Brisa tinha feito de tão errado. Mas deve ter sido algo da pesada pra tanta coisa ruim acontecer na vida dela. Nem bem se levantava de uma já caía de novo. Acho que Deus estava levando a sério aquele papo de provar a fé.

Depois de chorar muito e encharcar minha camisa, ela acabou dormindo em meus braços. Puxei uma coberta fina sobre seu corpo e me despedi com um beijo na testa. O pai de Brisa me explicara parte da situação quando eu o procurei em busca de ajuda. Eu já não sabia mais o que fazer com Brisa tão abatida.

O pastor me contou. Sofia era a melhor amiga de Brisa, desde o jardim de infância. Cresceram juntas, na igreja e na escola. Foi ela quem mais a ajudou depois da morte de sua mãe. Ela dormia dias seguidos ao lado da amiga, para não deixa-la se desanimar um minuto. Pouco tempo depois, ela foi para uma cidade maior, pois seu pai tinha recebido uma proposta melhor de emprego. Desde então, o contato das duas se limita a ligações de três horas de duração, que pesavam na conta de telefone.

Perder uma perna. Uma menina da igreja. Por quê?

Por que pessoas ruins continuam vivas e bem enquanto as boas sofrem e morrem?

Tudo errado. Eu deveria estar sofrendo no lugar dessa garota. Porque eu merecia.

Mas de uma coisa eu tinha certeza. Deus não era mau. Era bom até demais para o meu entendimento. E ele não deixa o justo perecer. No tempo certo ele trará cura, para aqueles que confiam em sua destra vitoriosa.

“Mas para vocês que reverenciam meu nome, o sol da justiça se levantará trazendo cura em suas asas”.

Malaquias 4:2a


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Notas finais do capítulo

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