Ironias do Destino escrita por Bi Styles


Capítulo 44
Capítulo 44 -Narrado por Gabriel


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, voltei para quebrar os corações de vocês, tudo bem?
"Mas tia Bianca, em pleno espírito natalino..." Ah gente, desculpa mesmo ♥
Espero que todos tenham tido um ótimo Natal viu... E, sei que já está atrasado, mas FELIZ NATAL Á TODOS!!
E, espero que percebam que esse capítulo é narrado por Gabriel...MUAHAHAHAHAHAHAHA
Leiam e de presente, comentem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559572/chapter/44

Me ajoelhei ao lado de Gustavo, que respirava com dificuldade. Peguei seu corpo e tentei erguer para deixa-lo de frente pra mim.

Ele estava com a mão agarrada na longa espada enfiada na região torácica, com os olhos arregalados. Da sua boca saía uma enxurrada de sangue.

–Não Gustavo. Por favor, fique. Olha, vou te tirar daqui. –falei desesperado, e percebi que meus olhos começavam a lacrimejar.

Gustavo olhou pra mim e mais sangue jorrou da sua boca. Levantei ele com bastante dificuldade e o levei para um lugar mais afastado, embora soubesse que nossos inimigos já deveriam estar dizimados.

Encostei seu corpo em um tronco de árvore e segurei seu rosto para fazê-lo focar em mim.

–Gustavo, não vá. Olha, olha pra mim. Por favor. –falei apressadamente desesperadamente.

Ele olhou pra mim, respirando ofegante. A cor estava deixando seu rosto. Ele desviou o olhar e viu a espada, e sua roupa completamente encharcada de sangue. Vi ele engoli em seco.

Arranquei um pedaço da minha camisa e pressionei contra todo aquele sangue, deixando-a encharcada de sangue logo em seguida.

Minhas mãos tremiam. Não pensei em mais nada. Apenas gritei por socorro.

Se algum inimigo nos achasse, seria o fim e, pela primeira vez, não tive medo disso. Se Gustavo morresse, não haveria motivos para eu voltar. Todos me odiariam, inclusive eu mesmo. Gustavo era um bom homem e era meu irmão, não merecia morrer.

Minutos depois, chegou um oficial francês.

–Gabriel? –ele perguntou, com aquele legítimo sotaque francês.

Lambert officiel? –perguntei, falando em minha língua. Creio que eles não sabiam falar português.

–Qu'est-il arrivé ici?

–Il suffit d'appeler des renforts. –pedi e ele se retirou rapidamente.

Voltei a encarar Gustavo. Apesar de tudo, ele deu um sorriso.

–Não entendi n... –ele teve um acesso de tosse. –Nada.

–Ele quis saber o que aconteceu. E eu pedi que ele chamasse reforços. –falei, arrancando outro pedaço de minha camisa e limpando sua boca.

–Ga-b-riel... –sua voz saía falha. –Diga a K-ia...ra. –ele teve um acesso.

–Shhhhh! Não fale nada, por favor. Este não é o fim, Gustavo. –implorei. Seus olhos começaram a se fechar. –Gustavo! –gritei e o sacudi. –GUSTAVO! –gritei novamente.

Mas ele não respondeu. Uma tristeza tomou conta de mim. Tristeza, pânico, medo e raiva.

Aproximei meu dedo indicador de seu pescoço e senti que sua pulsação ainda existia. Fraca, porém existia.

Ouvi passos atrás de mim e vi que alguns guardas franceses traziam uma espécie de caminha feita de pano para levar Gustavo. Dei espaço para levarem ele e fui atrás.

...

–Senhor Gabriel, se acalme, por favor. –pediu o guarda Richers, enquanto eu andava para lá e para cá.

–Como o senhor consegue pedir para eu ficar calmo?! –rosnei. –Gustavo tem que voltar para o castelo, agora!

–Estão tentando deixar ele estável para que aguente a viagem de volta. –ele respondeu, demonstrando impaciência.

Não tinha pra quê ele ficar irritado comigo. Eu só tinha quebrado 5 copos e batido em dois guardas que tentaram me levar para a enfermaria improvisada. Ah, também tentei arrombar a porta da enfermaria.

Bufei, irritado.

Me sentei em uma cadeira próxima á uma janela e olhei lá fora. Estavam terminando de retirar todos os corpos. Havíamos tido muitas baixas e olhe que ainda haviam muitos feridos em estado crítico.

Procurei saber porque os franceses chegaram tão atrasados e me responderam que eles haviam se perdido e só conseguiram encontrar a gente quase no fim. E eu não tinha percebido o quão tínhamos poucas pessoas. Droga.

Minha cabeça estava querendo explodir de tanta dor. Eu estava enjoado e não queria comer nada, já que tinha a certeza de que colocaria para fora depois.

Olhei para o lado e vi que o guarda Richers me encarava, horrorizado.

–Você deve ir até a enfermaria. –informou.

–Não. –disse com firmeza. –Não tenho nada para ter que ir para lá.

–Olhe para a sua perna, Gabriel. –ele pediu.

Ao olhar para baixo, me deparei com minha perna direita sangrando. O pedaço de bandagem de Gustavo já estava bastante ensopado e eu não notara antes. Eu nem lembrava mais desse pequeno incidente.

–A ferida se abriu. –falei e pressionei a perna. Trinquei os dentes. Estava doendo muito.

–Vou chamar os guardas. –o senhor Richers falou, ao ver minha reação, completou: -E não quero ver o senhor se debatendo novamente, entendeu?

Afirmei com a cabeça.

Assim que ele saiu, tirei as bandagens para ver o ferimento. Uma exclamação saiu de minha boca. Estava muito pior do que antes. Estava um colorido de sangue, pus e um pouco de uma coisa branca que não consegui identificar. O buraco da bala ainda estava presente, portanto, o ferimento não se fechara, como eu havia pensando.

Ouvi barulho da porta se abrindo e dois enfermeiros entraram, me guiando até a pequena enfermaria.

Analisaram cuidadosamente meu ferimento, enquanto eu estava deitado em uma maca.

–Infecção. –um falou. Ele era um homem alto, de pele escura. A voz dele era grave.

–Temos de leva-lo até o hospital do castelo. –falou o outro. Se eu não estivesse sentindo dor, teria rido. Ele era completamente o contrário de seu parceiro. Era baixo, de pele clara e a voz era fina.

–Consegue aguentar, senhor Gabriel? –perguntou o de pele escura.

Afirmei com a cabeça e trinquei os dentes.

Observei o baixinho se aproximar de um guarda que estava perto da entrada da tenda e falar:

–Chame duas carruagens. Agora.

O guarda meneou com a cabeça e saiu.

O enfermeiro alto chegou perto de mim e perguntou:

–Está sentindo muita dor?

Confirmei com a cabeça.

–Desculpe não poder ameniza-la. Não tenho anestésicos aqui. Terá de ser forte.

Pela primeira vez no dia, soltei uma risada debochada.

–Eu sou forte. –falei. –Se não fosse, acho que não estaria mais aqui.

O enfermeiro deu um meio sorriso e se retirou.

...

Tudo bem. Eu não conseguiria ser forte por mais tempo.

Já estávamos na estrada havia uma meia hora, e eu já não aguentava mais de tanta dor. O enfermeiro alto foi do meu lado, enquanto pressionava um pano em meu ferimento, tentando estancar o sangue, em vão.

Tentaram me dar comida, que eu prontamente recusei. Aquela ânsia de vomito não passava.

O enfermeiro disse que eu estava com muita febre, quase perto dos 40°, então fiquei desesperado. Se eu ficasse mais quente, iria ter uma convulsão.

Tentei conter meus gritos, mas não conseguia. A dor começava a se espalhar por toda a região da perna, chegando perto da minha virilha. Estava com medo de nunca mais poder andar. Uma infecção pode deixar alguma pessoa paraplégica?

Acho que eu estava muito mal mesmo, porque comecei a ver alucinações. Comecei a ver homens com armas dentro da cabine da carruagem, tentando atirar em mim. Só que eu não me mexia. Somente ficava parado, esperando que aqueles malditos colocassem um fim naquela dor idiota.

Desmaiei algumas vezes, admito. E, em uma delas, quando eu acordei, o enfermeiro estava fazendo eu beber um líquido de cor esverdeada.

–Hey! –ele falou, afastando o copo. –Ainda bem que acordou. Tome isto. –e me ofereceu o copo.

–Não, não. Muito obrigado. –recusei. –Se eu tomar isso, essa carruagem vai ficar com um cheiro muito desagradável.

–Gabriel... –ele falou como se me ordenasse. –Por favor.

–Tudo bem, então. –falei, soando como uma criancinha mimada. Peguei o copo e emborquei o líquido pegajoso de uma só vez.

Minha garganta ardeu e senti uma ponta de vertigem. O gosto era horrível. E, como eu previa, não ficou no meu estômago por muito tempo. Logo o cheiro azedo invadiu a cabine da carruagem e eu tapei minha boca para que não saísse mais nada desagradável. Entretanto, não consegui me conter e despejei uma onda de sangue na cabine.

O enfermeiro me olhou, horrorizado e limpou minha boca com um pano.

–Gabriel, seja forte. Seja forte. –ele sussurrou pra mim. Ele parecia em pânico. Acho que agora eu não estava mais com uma simples infecção.

A escuridão me invadiu e eu desmaiei, pela milésima vez.

...

Ao acordar, vi que estava em uma sala totalmente branca. A primeira coisa que se passou em minha cabeça foi que eu havia morrido e se encontrava no céu. Mas mudei de ideia assim que vi o meu braço e vi uma agulha enfiada lá dentro. Segui a trajetória do pequeno tubinho conectado á agulha e vi que estava tomando soro. Eu devia estar bastante desidratado.

No meu outro braço, havia outra agulha. E essa, me nutria com sangue. Okay, eu vi o tanto de sangue que havia perdido, não me surpreendeu estar tomando bolsa de sangue.

Olhei em volta, ainda zonzo e vi que eu estava em um quarto de hospital. Meu braço e perna direitos estavam cobertos de bandagens e notei que algumas tinham gotículas de sangue.

Tentei localizar alguma sombra, alguém. Mas não havia ninguém comigo. Como sempre, eu era o rejeitado. Tudo bem que Gustavo deve ter chegado em um estado bem pior que o meu. Mas, vamos combinar que eu estava péssimo e que seria muito bom uma pessoa vir me perguntar se eu estava bem.

Humpf, como se alguém ligasse para o que eu sentia.

Creio que a única pessoa que viria me visitar seria Gustavo. Depois de termos passado esse tempo juntos, vi que ele me ama. E eu percebi que o amo também. O amor fraterno finalmente entrava em ação.

Gustavo me salvou tantas vezes nessa nossa jornada e eu talvez não tivesse conseguido salvar ele nenhuma vez. A única chance que me foi dada pra salvá-lo, não mirei com força suficiente a adaga no coração daquele maldito homem.

Eu queria que ele estivesse bem. Queria que ele pudesse fazer alguma piada perto de mim. Mesmo eu não achando nenhuma de suas ironias engraçadas, era muito bom ter alguém com humor perto de mim.

Eu cresci em um lugar onde ninguém ria de piada alguma. Os franceses eram pessoas sérias, que nunca levavam nada na brincadeira. Será que se Gustavo tivesse crescido comigo, ele seria igual a todos os outros franceses? Difícil de acreditar, mas nunca saberei.

Todas aquelas imagens horríveis passaram de repente pela minha cabeça: Quando o homem atirou na minha perna e apontou a arma para mim; Quando Gustavo enfiou uma flecha e me salvou; Quando Gustavo cuidou dos meus ferimentos; Quando brigamos na árvore e eu chamei ele de covarde; Quando ele desceu e novamente me salvou; Quando atirei a adaga no homem e ele continuou de pé; Quando Gustavo caiu no chão.

Um grande nó se formou em minha garganta. Tomara que não fosse outra rajada de sangue.

Então eu percebi o que era aquele nó. Eu queria chorar, mas simplesmente estava segurando. Toda a agonia que eu passei desde que saí do castelo estava me corroendo por dentro e eu queria pôr para fora em forma de lágrimas.

Entretanto, ouvi o som de vozes ao longe e, para ninguém desconfiar de nada, fechei os olhos e fiquei na mesma posição em que eu tinha acordado.

Ouvi o barulho de uma porta se abrir e em seguida veio uma voz familiar.

–Bem, parece que o senhor Gabriel está melhor. –falou o enfermeiro alto. –Pode sentar ali, senhora.

Fiquei tentado a abrir os olhos e ver quem era a senhora, mas me segurei. Ouvi um arrastar de cadeira e esperei a mulher falar algo.

Ela pigarreou e começou:

–Você é tão parecido com ele. –a voz era familiar, mas não consegui assimilar a ninguém no momento.

–Os cabelos são diferentes, mas a teimosia é igual. –ela continuou. Ela estava falando que eu parecia com Gustavo? Se eu não estivesse fazendo papel de garoto que ainda está desmaiado, teria falado: Poxa senhora, somos gêmeos.

Percebi que ela se aproximou mais.

–Gabriel, eu soube que meu filho teria morrido se fosse não o tivesse salvo diversas vezes. E você não sabe o quanto serei grata. –a voz dela estava um pouco abafada. Calma... Ela falou “meu filho”? Descobri quem era. Anastácia. Mas, o que ela fazia aqui?

Senti sua mão tocar minha bochecha e fazer um carinho. Minha mãe não me tocava assim fazia séculos.

–Gostaria muito de te conhecer melhor, querido. –ela sussurrou. –Queria conhecer o menino que salvou Gustavo. O menino que não pensou duas vezes em acompanhar seu irmão em uma guerra. Não sou boba, Gabriel. Percebi que você só foi para lá por conta de que meu filho iria. Você queria protege-lo. E foi o que fez. Você pode não querer admitir, muito menos Gustavo, mas sempre existiu amor entre os dois. E sempre existirá.

Ela pegou minha mão e a apertou com força.

–Só quero que você seja forte, Gabriel. Sua família precisa de você, mesmo acreditando o contrário.

Ela deu um beijo na minha testa e esperei ouvir o som da porta se fechando para que pudesse abrir os olhos e deixar as lágrimas caírem.

...

Não sei o que aconteceu. Só sei que adormeci e, quando finalmente abri os olhos, vi minha mãe sentada na poltrona me encarando.

Seus olhos quase saltaram das órbitas e ela correu para cima de mim, me abraçando.

–Meu Gabrielzinho. –ela sussurrou, enquanto me abraçava mais forte. –Pensava que ia te perder...

Eu queria dizer a ela que não se preocupasse, que eu era duro na queda. Mas, não era isso que eu queria? Não queria que meus familiares se amontoassem a minha volta e dessem total atenção para mim? Agora que eu tinha, vi que eu fui um garoto estúpido por querer isso. Era horrível ver o quanto a voz de minha mãe estava aflita.

Como minhas mãos estavam cheias de tubos, não pude retribuir o abraço, que logo se desfez.

Minha mãe me olhou com tanta felicidade que pensei que o sorriso não caberia no rosto.

–Meu filho. –ela falou, como se não acreditasse que eu estava aqui.

–Mãe eu...

–Shhh! –ela pediu e apertou minha mão. –Não fale nada. Só me responda uma coisa: Sente-se bem?

–Sim. –afirmei. –E Gustavo...

A expressão dela se tornou sombria e ela engoliu em seco.

–Gabriel, deixaremos isso para depois, tudo bem?

–Mãe, cadê Gustavo? Ele está bem? Mãe...

–Gabriel. –ela falou com a voz falha. –Repouse e se acalme, por favor.

–MÃE, CADÊ GUSTAVO? –berrei, sentindo minha garganta arder. –PRECISO VER ELE MÃE!

Lágrimas desceram dos olhos de minha mãe.

–Querido... –ela sussurrou por entre as lágrimas.

–Mãe... –falei, já sabendo o que tinha acontecido.

–Querido, não se pode ver os mortos. –ela falou e soltou um pesaroso soluço.

–O QUÊ? –berrei.

Não. Gustavo não podia estar morto. Eu teria sentido, não é?

Diziam que quando um irmão sentia uma coisa o outro sentia, então eu sendo o irmão gêmeo também sentiria.

Tentei me mexer na cama, mas minhas pernas não respondiam. Devia ser o efeito dos analgésicos e dos remédios.

–EU PRECISO VER O GUSTAVO. –gritei e senti as minhas bochechas serem molhadas pelas lágrimas. –EU PRECISO.

Minha mãe se afastou de mim chorando e vi o enfermeiro alto se aproximando de mim com uma agulha.

–Se acalme, Gabriel. –pediu e enfiou a agulha no meu braço.

–Eu... Preciso... Gustavo. –falei, sentindo meus olhos pesarem. Droga, ele havia me dado um calmante.

A última visão de que me lembro é a de o enfermeiro me olhar com pena, como se dissesse: Ele é o culpado por tudo, e nem sabe.

Mal sabe ele que a culpa está me destruindo por dentro.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Destruí os sentimentos de vocês? QUE PENA NÉ HAHAHAHAHAHAHAHA
Meu Deus, estou me sentindo uma Rick Riordian da vida pqp kkk
COMENTEM!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ironias do Destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.