Ironias do Destino escrita por Bi Styles


Capítulo 42
Capítulo 42 -Narrado por Gabriel.


Notas iniciais do capítulo

Gente, fiquei muito feliz pelos comentários no capítulo anterior. Muito obrigada ♥
Agora, está na reta final de Ironias do destino. Esse capítulo é enorme, mas vai ter a emoção que tanto esperavam.
Tentem não chorar.



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Não esperei Gustavo. Não tinha tempo a perder. Saí em disparada ao conflito. Estava uma confusão de tiros, gritos e fumaça. Como havia fumaça. Não conseguia enxergar com muita nitidez, seria difícil mirar em algo.

Droga. Droga. Droga.

Eu teria que subir em uma árvore para ver o estrago. Para abrir caminho em meio ao conflito, armei meu arco e atirei em alguns homens com uniformes desconhecidos.

Senti leves facadas nos meus braços, mas o combatente não ficou vivo por muito tempo. Enfiei uma flecha em seu coração, sem dó nem piedade.

Abati alguns inimigos no caminho, mas estava ficando difícil desviar de algumas balas que tentavam me atingir. Não estava sendo rápido o suficiente. Consegui chegar perto de uma árvore e comecei a escalar.

Já estava quase na metade, quando senti uma dor aguda vindo do meu braço direito. Alguém havia me atingido.

Caí com força no chão, me fazendo trincar os dentes. Levantei com dificuldade, minhas pernas doendo da queda que eu levei. Encarei meu inimigo.

Era um homem de minha estatura, devia ter minha idade. Peguei meu arco e mirei uma flecha nele. Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele pegou sua arma e atirou em mim. Duas balas se alojaram em minha perna direita. Caí de joelhos, gritando de dor. Ótimo. Meu braço e perna direitos estavam totalmente inúteis agora.

Ele chegou perto de mim e pude ver com nitidez seu rosto. Tinha a pele branca e os cabelos loiros, apontou a arma na minha cabeça e falou em uma língua totalmente diferente, certamente russa:

Иди к черту , отвратительное существо.

Ouvi o click da arma quando o homem colocou mais munição. Meu arco estava longe, não daria tempo eu pegá-lo. Morreria antes.

Eu sabia que viria para a guerra. Sabia que poderia morrer. Mas agora, com a morte batendo minha porta, eu senti medo.

Ele posicionou com mais força a arma na minha cabeça. Ele olhou pra mim com cara de nojo e deu um sorriso diabólico. Fechei os olhos. E, ao invés de escutar um tiro, escutei um grito. E, por incrível que pareça, o grito não era meu.

Abri os olhos e vi Gustavo retirando a flecha que estava alojada na cabeça do homem. Ele me olhou e arqueou uma sobrancelha.

–Acho que você precisa, de vez em quando, gritar por socorro. –falou.

–Eu estava com tudo sob controle. –falei e tentei me levantar, sem sucesso. Gemi de dor, por causa de minha perna direita.

Gustavo correu até mim e analisou minha perna.

–Você tinha de ficar ferido logo agora? Não podia esperar mais pro final?

–Desculpa se eles tem armas e a gente tem arcos. –respondi no mesmo tom de ironia que ele.

Gustavo deu um sorriso malicioso. Ele acabara de ter uma ideia.

–Consegue se arrastar até ali? –perguntou e apontou para a árvore que eu tentei subir.

Afirmei com a cabeça e me arrastei até lá. Escorei-me lá e fechei os olhos, para tentar aliviar a dor. Como doía, meu Deus. Era como se minha perna estivesse sendo corroída por dentro.

Trinquei os dentes e tentei analisar o ferimento. Estava tão horrível que arregalei os olhos. No local onde havia as duas balas, havia muito sangue e pus. Peguei minhas mãos e coloquei-as na cabeça. Percebi que meus cabelos estavam suados. E minha pele ardia em febre.

Quando olhei em direção á Gustavo, ele já vinha correndo em minha direção. Trazia algo em suas mãos e sorria triunfante.

–Abati uns 4 caras lá. –ele falou ofegante. –E, consegui pegar armas e munições deles.

–O quê? –minha cabeça estava começando a girar.

–Armas e munições dos mortos. Agora estamos no mesmo nível que eles. –Gustavo respondeu, como se fosse óbvio.

–Tirando a parte que eles sabem usar esse treco, e nós não. –respondi e engoli em seco. Comecei a sentir um gosto azedo na boca.

–É só mirar e atirar, como fazemos com os arcos. –ele me olhou e franziu o cenho. Mas, não pareceu perceber a minha aparência doentia. –Pegue duas armas e estes 5 pacotes de munição.

Não aguentei mais. Virei meu rosto pro lado e vomitei. Dei graças a Deus quando vi que não era sangue. Limpei minha boca com a mão esquerda e encarei Gustavo.

–Se você não percebeu, eu estou incapacitado de andar! –berrei.

–Exatamente por isso que trouxe isso. –ele ergueu uma maleta branca com uma cruz vermelha. –Tem algumas ataduras aqui, e o que parece ser um alicate. Deve dá pra retirar a bala.

–Você vai retirar minha bala? Não, muito obrigado. –falei e cruzei os braços, gritando de dor pelo movimento repentino.

Fechei os olhos com força e tentei aliviar a dor. Sem sucesso, é claro. Então duas mãos fortes agarraram minha perna direita e eu abri os olhos.

Gustavo estava com o alicate e estava o levando á caminho da minha perna direita.

–NÃO! NÃO! –gritei e tentei livrar minha perna, novamente sem sucesso.

–Você está querendo que todos venham pra cá? Gabriel, cale a boca. –ele sussurrou.

–Não me mande calar a boca seu... –mas fui interrompido pela dor repentina na minha perna. Gustavo havia retirado uma bala. Mordi meus lábios para não escapar nenhum grito, fazendo o mesmo sangrar. Gustavo pegou uma atadura e a pressionou na perna. Depois pegou mais outra e a amarrou no local.

Ele fez o mesmo procedimento com as outras duas balas e não consegui conter meu grito.

Percebi que eu estava molhado de suor. Gustavo me olhou e pressionou um pano em meu rosto, limpando todo o suor.

–Acha que pode se levantar? –perguntou.

Tentei me levantar, mas minha perna ainda doía. Meu braço direito ainda pinicava também.

Gustavo balançou a cabeça e levantou-se bruscamente.

–Tem alguém aqui. –sussurrou, pegando sua arma.

Ouvi um barulho de galho estalando e Gustavo se posicionou, com a arma em punho.

–Sério que você vai usar isso? –perguntei, temendo o pior.

–Veremos se ela realmente funciona. –ele falou e atirou no vazio.

Ouviu-se um berro de dor e uma figura caiu no chão á nossa frente.

Gustavo fez um ruído de surpresa e eu fiz o mesmo.

Ele foi até o homem e sorriu.

–Está morto. –falou e em seguida pegou a arma que estava com o homem.

Então ele caminhou triunfante em minha direção. Entretanto, ao olhar pra detrás dele, arregalei meus olhos. Mais homens vinham atrás dele.

Ele olhou pra trás e gritou:

–Gabriel, é melhor você correr.

E, esquecendo da dor e de tudo, corri e subi a árvore em uma velocidade tão grande que pensei que ia escorregar e cair no chão. Gustavo fez a mesma coisa e, quando dei por mim, estávamos um ao lado do outro em cima da árvore.

Os homens tentavam nos acertar, mas estávamos muito bem escondidos, não tinha como eles nos acertarem.

Gustavo pegou sua arma e colocou munição nela. Fez um gesto pra eu ficar em silêncio e saiu do nosso pequeno esconderijo dentro das árvores e deu dois tiros.

Escutei um barulho de um corpo caindo no chão, e Gustavo deu mais três tiros e ouvi barulho de mais três corpos caírem ao chão.

Gustavo se virou pra mim e falou:

–Não é que eu tenho jeito?

–Ainda tem homens lá embaixo? –perguntei.

–Não. –ele falou. –Vamos subir mais alto para termos uma visão maior desta confusão.

Com bastante dificuldade, subi até a copa da árvore. Como a árvore não era muito alta, conseguíamos ver com nitidez tudo o que estava ocorrendo. E, digamos que estava uma verdadeira carnificina.

Consegui ver vários de nossos combatentes caídos, inertes no chão. Muitos dos nossos inimigos também jaziam mortos no solo, mas ainda haviam muitos. Consegui ver o guarda Richers empunhando uma espada e desviando dos projéteis lançados pelos nossos inimigos, enfiando a espada no peito de um homem. Eles precisavam urgentemente da nossa ajuda.

Ao olhar mais adiante, vi que mais inimigos chegavam. Estávamos em desvantagem numérica. Iríamos todos morrer.

Toquei o braço de Gustavo, que me encarou. Notei que ele estava pálido.

–Nós vamos morrer. –falou ele, como se ele tivesse acordado de um sonho neste momento.

–Vamos descer. –falei.

–Temos melhor pontaria daqui de cima. –ele retrucou.

–Com o arco. Com essas armas, a pontaria é bem melhor de perto.

–Desceremos quando nossas flechas estiverem esgotadas, Gabriel. –ele falou e empunhou seu arco, mirando em um homem que estava um pouco adiante de nós.

Olhei horrorizado para ele.

–Está querendo adiar o inadiável? Nós sabíamos que iríamos morrer, Gustavo! E você agora está com medo? Pelo amor de Deus! –eu falei, mas ele continuava atirando nos homens, que caíam no chão, mortos. Continuei: -Aqueles homens estão arriscando suas vidas. E vamos ficar atirando de cima de uma árvore? –ele continuava sem falar nada, apenas mirando e atirando. –Ótimo. Vou descer. Fique com sua consciência, seu COVARDE! –disse, simplesmente gritando a última palavra.

Desci da árvore e pousei de forma nem um pouco graciosa. Minha perna ainda latejava um pouco.

Peguei meu arco e tentei mirar em algo. A névoa começava a se dissipar, mas mesmo assim, era difícil mirar em algo. Nisso Gustavo estava certo: era melhor atirar com o arco lá de cima. Entretanto, eu estava em posse de duas armas. Era hora de saber se elas serviriam ou não.

Peguei uma arma e corri para o meio do conflito.

Vi um homem quase matando um dos nossos. Apertei o gatilho duas vezes e o homem desabou no chão. Pelo menos minha mira continuava a mesma.

Aquelas armas eram incríveis. Bastava um aperto e tiravam a vida de uma pessoa. Eu procurava mirar sempre nos pontos vitais, como o peito, ou cabeça.

Por onde eu passava e via os cadáveres dos nossos inimigos, eu pegava as armas dos mesmos e começava novamente a matança. O guarda Richers olhou pra mim e me encarou surpreso, ao me ver com uma arma. Apenas balancei a cabeça e continuei.

De vez em quando, via flechas perfurarem os corpos dos nossos inimigos, o que me fazia pensar em como Gustavo estaria. Tentei focalizar ele por entre as árvores, mas não consegui. Ao invés disso, tropecei em uma pedra e caí com tudo no chão.

Me levantei com bastante dificuldade e virei, á tempo de ver um homem se lançando contra mim. Caímos no chão com bastante força, me fazendo gritar, de dor e de surpresa. Ouvi um estalo, e torci para que não fosse do meu corpo.

O homem gritou em resposta e pegou meu pescoço, começando a apertar o mesmo. Parecia que ele tinha perdido sua arma.

“Ah, ótimo. De tantas formas de morrer, vou morrer enforcado”, pensei.

O ar começou a escapar dos meus pulmões, enquanto meus pés tentavam tirar o homem de cima de mim. Tateei o chão em busca de minha arma, mas nada achei. Devia ter caído em algum lugar.

Eu não estava mais conseguindo respirar. Minhas pernas fraquejaram. O rosto do homem começou a ficar fora de foco.

Então escutei um tiro, e as mãos em meu pescoço fraquejaram. Arfei em busca de ar, botando a mão em meu pescoço. Olhei para cima e vi Gustavo, estirando a mão para mim.

–Você me deve duas, Gabriel. –falou, sorrindo.

–Pensei que não desceria. –falei, aceitando sua mão e levantando. Percebi que nada em mim, tirando minha perna e meu braço direito, estava doendo. Pelo menos não havia sido eu que havia quebrado algo.

–Decidi que, se fosse morrer, ia morrer ao seu lado. –ele falou e me deu uma coisa que estava guardado dentro de seu casaco. Colocou na minha mão e eu olhei. Minha adaga.

Ele sorriu e ergueu sua arma, atirando em um cara que estava atrás de mim.

–Então, vamos lá. –falei suspirando e atirando em dois homens que estavam vindo pelos lados.

Olhei pro lado e vi que Gustavo não empunhava mais uma arma, mas sim um arco. Ele já conseguia mirar com precisão.

Desviei o olhar no exato momento que um homem tentava me agarrar. Peguei minha adaga e enfiei no seu pescoço, fazendo jorrar sangue da sua boca. O corpo escorregou pra o chão.

Vi que os inimigos estavam começando a desaparecer. Eles estavam recuando? Alguns corriam e outros simplesmente continuavam lutando, creio que para honrar seu país.

Segui o olhar de um inimigo e olhei para as colinas. Soldados com fardas azuis. Os franceses. Eles estavam correndo dos franceses?

Senti um sorriso aparecer em meu rosto. Eu estava orgulhoso do meu país. Eles estavam impondo medo. E eu gostava disso.

Mas alguns inimigos ainda estavam lá e, apesar de muitos terem corrido, ainda haviam o bastante para dizimar os franceses.

Observei que Gustavo não parou um segundo sequer. Continuava lutando, como se não tivesse percebido a chegada dos franceses.

Peguei minhas armas e comecei a atirar, na mesma hora que os franceses desceram de seus cavalos e ergueram suas espadas, matando todos que viam pela frente. Fiquei com medo de matarem os nossos combatentes, mas eles sabiam a diferença.

Desviei minha atenção para outros inimigos. Atirei em todos eles. Quando ia dar mais um tiro, percebi que não havia mais balas. E eu não tinha mais munições.

Peguei meu arco e comecei a lançar flechas nos peitos dos meus inimigos. Minha mira não estava tão boa, tanto que algumas flechas se perdiam nas árvores. Mas, o mais importante era que eu estava conseguindo matar os inimigos.

Os franceses eram incríveis. Matavam com bastante precisão e sem misericórdia. Então me peguei pensando: Por que eles não chegaram antes?

Isso eu perguntaria depois.

Atirei minha última flecha em um homem e corri na direção de outro com minha adaga empunhada. Cortei sua garganta. Depois me virei e cortei a garganta de outro.

Me virei e vi que Gustavo havia acabado de matar 3 homens, com três tiros certeiros em seus peitos.

Fui até ele e gritei:

–Os franceses estão aqui.

–Eu vi. –ele gritou de volta. Ele empunhou sua adaga e eu me abaixei, vendo um corpo cair atrás de mim.

–Obrigado. –agradeci.

–Me deve três agora. –gritou ele, dando um sorriso.

–Não mais. –falei e joguei minha adaga na garganta de um homem que se aproximava atrás dele. Corri até o corpo e retirei minha adaga.

–Ainda me deve duas. –falou ele.

Balancei a cabeça e girei pro lado para que ele atirasse em um homem que se aproximava. Ele ainda atirou em 5 homens que chegavam por trás dele e vi que ficou sem munição.

Mais dois homens vieram correndo, com longas espadas nas mãos. Gustavo pegou um saco de munição que tinha e colocou na arma. Atirou e os dois homens desabaram.

Corri e matei mais um grupo de homens que estavam querendo atrapalhar nossa vida. Gustavo atirou sua adaga em um homem, que corria em sua direção sem ter nada nas mãos. Ele se agachou para pegar a adaga e a pequena espada não estava querendo sair. Um homem se aproximou dele e eu atirei minha adaga nele. Corri até lá, peguei minha adaga e ataquei mais três homens que vinham em nossa direção.

Gustavo ainda lutava para retirar sua última arma, sua adaga, do corpo do homem. Não pude ficar olhando, já que outros inimigos chegavam. Tive que cortar a garganta de todos.

Ao olhar novamente pra Gustavo, vi que ele conseguira tirar a adaga do peito do homem e caminhava, triunfante, em minha direção.

Sorri e aguardei um comentário sarcástico. Entretanto, vi uma sombra se mexer atrás de Gustavo, e eu lancei minha adaga, que pegou em cheio o peito do homem. Porém, o homem continuou em pé.

Gustavo virou-se para dar o golpe fatal e vi seu corpo enrijecer e cair no chão. O homem desabou logo em seguida.

Da barriga de Gustavo, se projetava uma longa e afiada espada.

Gritei e corri até ele.

Eu havia falhado em protege-lo.

Eu havia falhado com Kiara.

Eu havia falhado com meu próprio irmão.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Eaí? O que acharam? Sou uma destruidora de corações? Sim ou claro?
Deixem nos comentários o que acharam do capítulo, pessoal. Ajuda muito.
Obrigada por lerem



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