Beyond the Vengeance escrita por Mello


Capítulo 33
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

E aí galera, tudo certo?
Isso é uma despedida (por enquanto). Como eu já disse, esse é o último capítulo da "temporada". Eu editei esse capítulo umas 20 vezes. Isso, aliado a alguns problemas com a internet, me fez adiar esse último capítulo. E pra ser sincero, eu já estou meio arrependido, por isso é melhor que eu poste logo.

Enfim, boa leitura.



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Mike tinha me explicado como chegar ao depósito. Ofereceu o carro para chegarmos mais rápido, mas ainda não tinha me recuperado do acidente com o carro de Chris. No fim das contas não era tão longe quanto imaginei. Não demorou muito para vermos o portão que dava acesso ao depósito. Jennifer e eu nos escondemos em um beco próximo, observando o local antes de entrar.

— Quase ia me esquecendo — Jennifer sussurrou ao meu lado, tirando algo do bolso — O seu dinheiro.

Olhei confuso para o pequeno maço de notas.

— Você não achou que ele estava dizendo a verdade quando disse que gastou tudo, não é?

— Você roubou o dinheiro? — tive que conter uma risada — Queria ver a cara dele quando descobrir que realmente não tem o dinheiro. Mas pode ficar com ele. É melhor que o dinheiro entre nós fique dividido caso aconteça alguma coisa.

Jennifer concordou com um gesto de cabeça e guardou o dinheiro. Espiando o portão pude ver alguém passando pelo lado de dentro. Definitivamente o lugar estava sendo usado. Não tinha ideia de quantas pessoas havia ali, mas para cuidar de um lugar como aquele deveriam ser várias.

— Fique de olho no portão e espere meu sinal — disse a Jennifer.

Vi uma pergunta se formando em seus lábios, mas nesse momento minhas asas surgiram e eu alcei voo até o alto do teto da construção que formava uma das paredes do beco. Dali pude ter uma visão melhor. Não havia apenas uma pessoa, mas sim duas. Andavam de um lado para o outro parecendo extremamente entediados. Além deles havia um imenso galpão, pelo menos duas vezes maior que o de Mike.

Respirei fundo. Tinha que passar pelos dois. Poderia passar voando, mas com certeza seria visto quando entrasse no galpão. E nesse caso Jennifer teria que ficar para trás. Teria que ser do jeito difícil.

Novamente alcei voo e fiz uma volta pelo ar, ganhando altitude. Quando me dei por satisfeito me voltei novamente para os dois. Estavam relativamente longe um do outro. Era a minha chance. Mergulhei na direção de um, ganhando velocidade. Saquei a faca de caça de Artêmis. Estava tão rápido que achei que não conseguiria controlar a queda, mas consegui ajustar as asas a tempo. Passei como um relâmpago pelo sentinela, usando o cabo da faca para bater com força em sua cabeça. Ele caiu desmaiado.

Novamente subi. O barulho do corpo caindo tinha alertado o outro sentinela. Avistei-o indo em direção ao seu amigo caído e fiz uma volta no ar até ficar atrás dele, mergulhei novamente.

Depois de nocautear os dois, fui até o portão e fiz sinal para que Jennifer viesse. Aparentemente não havia mais ninguém por perto. Ao menos não fora do galpão. Quando Jennifer pulou o portão, lançou um olhar irritado pra mim. Antes que eu pudesse perguntar ela me deu um soco no braço.

— Desde quando você tem asas? Você quase me matou de susto lá atrás.

— É uma longa história — disse — E não temos tempo a perder.

Jennifer deixou aquela passar e me seguiu até o galpão. Igual ao de Mike, aquele galpão também tinha um porta lateral. Tentei abri-la, mas estava trancada. Concentrei-me na fechadura. Já tinha feito aquilo antes. Novamente senti a pressão na cabeça, como se houvesse um peso sobre ela. Porém dessa vez não demorou mais que alguns segundos e a porta já estava destrancada. Vi Jennifer abrir a boca para perguntar.

— Depois — avisei.

Todas as luzes do galpão estavam acesas. Era realmente um depósito. Inúmeras caixas formavam corredores a partir do ponto onde estávamos. Apesar das luzes não parecia haver ninguém por lá. O lugar estava extremamente quieto. Andamos em silêncio pelo corredor formado pelas caixas. Percebi que elas tinham vários tamanhos e pareciam ter vindo de lugares diferentes, mas não tinha tempo para verificar direito. O galpão era gigantesco, poderia abrigar facilmente um Boeing 747. A nossa frente os corredores acabavam, dando lugar a uma área com algumas caixas espalhadas de forma desordenada. Além dessa área havia mais corredores de caixas.

Estava prestes a continuar quando avistei um cara saindo de um corredor. Aparentemente não estava surpreso de nos ver. Carregava uma espécie de maça com espinhos. Depois veio outro, vindo também de um dos corredores. Portava uma cimitarra de aparência persa.

— Terry! — Jennifer me avisou.

Atrás de nós mais pessoas surgiam dos corredores. Todos armados de alguma forma. Fomos cercados. Seis ao todo.

— Estávamos esperando por você — um deles falou. Os outros riram.

Cerrei os punhos com força. Se já estavam esperando por mim, Liza tinha que estar em algum lugar daquele depósito, servindo de isca para mim. Eles fecharam o cerco, se aproximando. Deixei que chegassem até certa distância. Jennifer sacou a faca.

— Abaixa — avisei num sussurro.

— O que…

— Abaixa! — gritei.

Fiz a tatuagem em meu braço ganhar vida. Segurei a corrente firmemente e a girei com força, acionando quase todas as lâminas que consegui. Jennifer se abaixou quase tarde demais. Não consegui ver exatamente o que estava acontecendo, mas quando parei de girar a corrente todos estavam um pouco atordoados. Alguns sangravam.

Lancei a corrente na direção de um deles e consegui enrolá-la em volta de seu pescoço. Puxei-o com força, fazendo tropeçar em cima de um dos seus companheiros. Troquei a corrente de mão e saquei a faca, cortando o pescoço de um que se aproximava com um cano de ferro. Ele caiu no chão tentando conter o sangramento.

O cara da cimitarra se aproximou pronto para um golpe, mas foi parado quando acionei o escudo. Fiz a corrente voltar ao meu braço e lancei a faca na direção de um dos que tinha derrubado antes. A faca fincou-se em sua perna no exato momento em que se levantava. A cimitarra conseguiu provocar um pequeno corte em meu braço. Rapidamente saquei minha espada e contra-ataquei. Em pouco tempo consegui fazer um corte feio no braço que segurava a cimitarra. Ela caiu no chão junto com o dono.

Jennifer lutava com dois de uma vez. Por sorte os dois só estavam com um canivete e uma faca, mas ela ainda tinha dificuldade em lidar com os dois ao mesmo tempo. Um golpe de maça veio por cima. Posicionei o escudo para receber o golpe, mas o impacto quase me fez cair de joelhos. Guardei a espada na pulseira e me esquivei de mais um golpe da maça. Acionei a corrente e consegui enrolá-la na haste da maça, puxando a com força. Pensei que conseguiria livrá-la do dono, mas ele a segurou firme. Golpeei seu rosto com o escudo ao mesmo tempo em que puxava a corrente. Isso o fez largar a maça… e desmaiar no processo.

Virei-me rapidamente para os dois restantes… ou melhor, um. Jennifer havia derrotado um deles, mas tinha ganhado um corte na mão. Em razão do ferimento, ela havia trocado a faca de mão, mas não estava bem. Antes que algo de ruim acontecesse corri até ela e agarrei o último deles pela gola, na parte de trás. Eu o puxei com força, fazendo cambalear e se virar para trás, em direção ao meu soco. Ele se desequilibrou e se apoiou em uma caixa para não cair.

— Onde está ela?! — gritei.

Como resposta ele tentou me atacar novamente. Evitei o canivete e segurei seu pulso, torcendo-o bruscamente. Com a outra mão segurei sua cabeça e a empurrei com força na direção da caixa. A madeira da caixa se rachou e ele caiu no chão. Olhei em volta. Todos estavam incapacitados ou mortos. Jennifer segurava a mão, com dor. Estava encostada em uma grande caixa que pontuavam o fim de um corredor. Fui até ela ver se estava bem. Porém, quando estava a apenas dois passos de distância, uma flecha surgiu na caixa, no espaço entre nós. Jennifer se abaixou. Recuei e me virei para ver quem tinha atirado a flecha, pronto para lutar, com a espada em mãos.

Deixei a espada cair.

Avistei quem atirara a flecha, mas aquilo não podia ser verdade. Alguma coisa tinha que estar errada. Simplesmente não podia acreditar na figura que apontava seu arco na minha direção. Nos olhos verdes que me encaravam com algo que eu nunca imaginei que poderia ver deles. Hostilidade.

— Liza!

Liza me mirava com um olhar sério, como se realmente estivesse disposta a soltar a flecha em minha direção. Pensei que estivesse enfeitiçada, mas seus olhos não brilhavam. De algum jeito, era ela.

— Liza, o que está fazendo? Abaixe esse arco — disse me aproximando.

— Fique parado! — ela gritou.

— Liza… — não sabia o que dizer. Aquilo não podia estar acontecendo, não fazia sentido — Por que está fazendo isso?

— “É tudo que me resta”. Não era assim que você pensava? Você e sua vingança… Não bastou tudo que você passou antes, você teve que continuar em busca de mais desgraça. Não importa se ela já está morta, não importa se você morrer no processo, não importa o que eu pense… Você nunca se importou comigo! — lágrimas escorreram de seus olhos — Naquele dia… eu acreditei que tudo ficaria bem, que eu havia conseguido fazer você se esquecer de tudo pelo que você passou. Fiquei feliz de ter te animado um pouco, mostrado que você não estava sozinho. Tudo para você sair e voltar quase morto daquela missão estúpida! Eu nem mesmo sabia que tudo isso fazia parte dessa sua cruzada. Mas o pior veio depois: prometer que ficaria comigo, que não ia me deixar sozinha… Eu acreditei em você!

A flecha de Liza ainda estava no arco, mas eu sentia como se ela tivesse atravessado meu coração. Lembrei-me do dia em que ela estava chorando sob a árvore. Não tinha descoberto o motivo, mas nunca tinha procurado saber. Quando ela me contou sobre o pesadelo, quando me viu sozinho com Rachel ou como sempre desaparecia sem que ninguém soubesse dela. Ela sempre andara sozinha. Estava sempre tão concentrado nos meus problemas que ignorara completamente os dela. Tantas vezes ela os tinha mostrado a mim, praticamente gritando por ajuda e em todas essas vezes eu nada fiz. Não podia acreditar que tinha a deixado daquela forma, que a tinha abandonado. Não por não deixá-la vir comigo, mas por ter ignorado o quanto ela precisava de mim. Abaixei o olhar, mirando meus próprios pés. Lembrei-me do dia em que olhei para o espelho e desejei socar a imagem que via. Naquele momento eu sentia algo semelhante, mas muitas vezes pior.

Lentamente fui tirando cada uma das minhas armas. A espada já estava no chão, a faca também não estava comigo, joguei a lança no chão e deixei que a corrente caísse por cima. Até mesmo o anel do escudo eu joguei no chão. Só então olhei para Liza, para seu arco, para flecha apontada em minha direção. Dei um passo à frente.

— Atire.

Ela pareceu surpresa, mas nada disse.

— Terry! — Jennifer censurou.

— Fique fora disso! — gritei logo depois me virando para Liza — Atire. Eu deixei você sozinha. Quebrei minha promessa. Você tem esse direito.

Liza secou as lágrimas em seu braço e mirou a flecha. Olhou-me nos olhos. Não tinha certeza do que era, mas entramos em algum tipo de acordo silencioso. Fechei meus olhos enquanto aguardava a flecha. Não sabia exatamente o porquê, mas não tinha medo. Era como se não houvesse perigo, apenas uma tranquilidade, uma paz. Estava preparado para morrer. De alguma forma aquilo parecia ser o certo. Eu matara o assassino de Marie pelo que ele fizera e, mesmo que não tivesse declarado nada, no fundo eu desejava fazer algo parecido com quem tivesse sequestrado Liza ou feito algo de mal a ela. No fim, o maior culpado não era ninguém da Ordem, e sim eu mesmo.

Segundos se passaram. A flecha não veio. Quando abri os olhos novamente o rosto de Liza estava marcado pelas lágrimas novamente. O braço que puxava a corda do arco tremia. Não sei se por estar com a corda puxada por tanto tempo ou se por causa do nervosismo. Não consegui controlar. Lágrimas escaparam de meus olhos. Liza puxou ainda mais a corda do arco. Ela gritou. E soltou a corda. Uma lâmpada explodiu no alto, atingida pela flechada de Liza, uma pequena chuva de cacos de vidro caiu, deixando o lugar que Liza estava mais escuro. Ela chorava como nunca agora. Tinha largado o arco e usava as mãos para cobrir o rosto.

— Eu não consigo… não consigo te matar… nem me matar… não consigo fazer a dor parar… — ela disse em meio às lágrimas. Finalmente olhou pra mim — Terry… eu não aguento mais…

Comecei a caminhar na sua direção, mas uma voz irrompeu pelo depósito, parecendo vir de todos os lugares:

Eu avisei que não haveria volta!

Olhei em volta. Tudo parecia incrivelmente vazio. Não havia nin… Olhei para Liza. Além dela uma figura escura tinha aparecido. Usava uma espécie de manto preto com capuz. Ele levantou um pouco a cabeça. Pude ver seus olhos. Eles brilhavam em azul. Não como se estivesse enfeitiçado, era um azul mais escuro, muito mais intenso. Ele parecia emanar poder. E seu olhar era muito mais cruel do que qualquer enfeitiçado. Avistei outra coisa brilhando sob as largas mangas do manto. Uma adaga.

— Liza, cuidado!

Corri e sua direção. Liza arqueou as costas com o golpe. Um grito morreu em sua garganta.

— NÃO! — gritei forçando as pernas a correr mais rápido.

Liza caiu de joelhos. Estava caindo para frente quando eu me joguei no chão, ajoelhado. Eu a segurei antes de cair. O cara do manto estava fugindo. Jennifer passou como um raio por mim, perseguindo-o.

— Liza… Liza! — ela estava abalada pelo golpe, mal conseguindo respirar — Calma, me deixa ver — eu a abracei, vendo a ferida em suas costas, uma grande mancha vermelha que fez meu coração gelar.

— Terry…

—Liza… Olha pra mim — disse segurando seu rosto — Não foi tão ruim assim, ok? Eu vou cuidar de você. Nós vamos ficar juntos de novo. Não vou te abandonar dessa vez. Vou cumprir minha promessa… Só fica comigo.

— Me… perdoa… — ela disse com a voz fraca.

— Não tem o que te perdoar… foi minha culpa. Fica comigo, Liza.

Seus olhos encontraram os meus. Ela se aproximou, fechando os olhos, os lábios abrindo ligeiramente. Entendi o recado e a beijei. As lágrimas haviam deixado seus lábios salgados, mas eu não me importava. Queria mais do que nunca tê-la ao meu lado, nunca mais abandoná-la. Olhamos novamente um para o outro.

— Eu te amo — ela sussurrou.

— Eu também te amo Liza.

Ela conseguiu dar um pequeno sorriso. Sorri também, embora as lágrimas já estivessem escorrendo pelo meu rosto. Enquanto as últimas lágrimas escorriam pelo rosto de Liza, seu sorriso também foi se desfazendo, seus olhos se fechando.

— Liza… Liza?

Todo o peso de seu corpo caiu sobre mim. Eu agarrei seu rosto na esperança de que ela abrisse os olhos novamente.

— Liza! — eu a abracei — deuses, não… — abracei-a ainda mais forte. Lágrimas caiam soltas em meu rosto — por favor, não…

Senti como se um grande buraco se abrisse em meu peito. Uma dor fria e ao mesmo tempo desesperadora.

— Liza!


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Notas finais do capítulo

Agora vocês sabem porque eu estou arrependido. Sendo sincero, essas foram, respectivamente, as minhas reações ao escrever, ler e reler o capítulo:
http://www.lrdo.com.br/wp-content/uploads/2015/02/O-iluminado.jpg
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/wp-content/uploads/2014/11/chaves-triste-580x348.jpg
https://www.youtube.com/watch?v=yJFTiF8-BXM&t=14
Eu sei que vai ter gente que vai querer me matar, infelizmente uma delas me conhece pessoalmente (nunca fiquei tão feliz em morar no fim do mundo), mas a essas pessoas só digo que a história ainda não acabou. Então… não me matem!
Antes que me perguntem, eu ainda não sei quando vai sair o próximo capítulo, mas muito provavelmente quando sair a fic volta ao ritmo normal. Pelo menos eu assim espero.
Quase esqueci: esse final também serviu pra eu fazer uma referência a minha série favorita, embora eu admita que não esteja tão fácil assim de perceber. Outra coisa que talvez nem todo mundo perceba, mas tudo isso também serve como um momento de reflexão. Nem sempre as coisas são como parecem e, às vezes, você pode estar fazendo mal para alguém sem nem mesmo se dar conta.
Bom, é isso galera. Muito obrigado a todo mundo que me acompanhou até aqui e até a próxima!

Tema final - https://www.youtube.com/watch?v=qT0Tnlzffyg (foi a melhor tradução que encontrei em vídeo :s)



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