Hermione bateu seus cílios lentamente várias vezes, mas não, isso não fez com que o louro a sua frente sumisse. Crispou os lábios e encarou-o, estreitando os olhos castanhos. Terno simples, mas com a aparência de caro e bem engomado, sapatos perfeitamente lustrados, cabelos ainda milimetricamente penteados para trás e olhos azuis duros e ainda frios, porém com um leve teor de cansaço e leves olheiras ao redor. Era definitivamente o astronauta do outro dia e, pelo olhar que ele lhe lançou, achou que talvez ele também a tivesse reconhecido. Tentou lembrar o nome dele, anunciado em sua homenagem, mas ficara tão enraivecida com seu desprezo que acabou por esquecer.

Até que faz sentido ele estar aqui, pensou. Um bando de ricos querendo sugar o dinheiro de um parente falecido pare ser bem a cara dele. Decidida a não dar mais importância ao fato do que ele merecia, voltou-se para ouvir o professor, que fazia uma breve explicação da sessão que se seguiria.

Ao ouvir o sobrenome do falecido, olhou rapidamente ao redor e sorriu ao reconhecer Sirius, padrinho de Harry, recostado em uma parede no canto, com cara de poucos amigos. O professor anunciou que começariam em cinco minutos, então a Granger escapuliu para perto do Black.

– Animado, Sirius? – Cutucou a garota, sorrindo.

– Hermione? Ah, visita da faculdade, suponho. – Sirius respondeu, também sorrindo, mas fechando a cara em seguida. – Não se empolgue muito, vai ser incrivelmente chato, deveria ir para um julgamento de um assassinato ou qualquer coisa do gênero.

– Imagino, mas não ousaria faltar. Mas então, esperando faturar muito? – Ela debochou, sabendo do completo desagrado do mais velho por qualquer mínimo relacionamento com aquela família. O Black rolou os olhos.

– Definitivamente não, mas minhas adoradas primas devem estar ansiosas. – Disse, indicando com a cabeça duas mulheres sentadas mais a frente. Uma com longos cabelos pretos e volumosos, de certa forma bagunçados, e outra com um cabelo tão loiro e bem cortado quanto o do astronauta – até que viu o próprio sentando-se do lado da loira.

– Hm, quem... quem são? – Perguntou, tentando não demonstrar muito interesse.

– Bellatrix Lestrange e Narcisa Malfoy. Nem se incomode, não vai querer conhecer. – Hermione franziu o cenho ao ouvir o sobrenome da última. – E parece que o filho da Narcisa está aí também, Draco. Ele voltou há pouco tempo da Lua ou qualquer coisa assim.

– Do espaço. – Hermione murmurou, com o cenho franzido. Despediu-se se Sirius e sentou-se junto com seus colegas de classe, franzindo mais o cenho a cada segundo.

É claro. Draco Malfoy. Uma das pessoas mais desprezíveis que ela já teve o desprazer de estudar. Como pôde esquecer? Ele certamente estava mais alto e com as feições mais maduras, mas aquele arzinho irritante de se achar superior parecia ainda estar infiltrado nele, talvez um pouco menos evidente, mas ainda estava lá. Lembrava-se dele do colégio. O típico filho mimado de uma família de renome. Ele e seus asseclas tinham uma espécie de prazer pessoal em implicar com ela, Harry e Rony. Ainda estava indignada por não tê-lo reconhecido, mas ao refletir por um momento chegou à conclusão que era perfeitamente plausível tê-lo bloqueado de sua mente.

Buscou o Malfoy com o olhar e percebeu que ele a observava. Tentou reunir todo o ódio acumulado de anos ao encará-lo e então voltou sua atenção ao tribunal, pensando se o tinha visto dar um sorriso de escárnio ou não.

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Draco sentia cada músculo de sua boca querendo se formar num riso. Era a... Granger, não era? Tinha que ser, ela era a única que o fazia se sentir mais nojento e insignificante que uma barata só com um olhar. Continuou a prender o riso, lembrando-se dos tempos de colégio, dos cabelos volumosos e dentes levemente grandes da garota, e concluindo que definitivamente ela mudara. Estava – e nesse momento ele realmente quis gargalhar – bonita. Se Pansy estivesse ali, ficaria horrorizada com seu pensamento. Blaise reviraria os olhos. E Crabbe e Goyle... concordariam com qualquer coisa que Draco dissesse. Numa repentina saudade da imaturidade, desejou que eles estivessem ali para voltarem a alfinetar a garota.

Tinha certeza absoluta de que ela ainda era uma metida à sabe-tudo desprezível.

Encarou as costas de Hermione, pensativo.

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– Ei, você. Granger. – Hermione virou-se e arqueou as sobrancelhas no instante em que viu quem a havia chamado – ou melhor, cuspido seu sobrenome, praticamente. Parou no corredor que dava a saída do local e o encarou interrogativamente.

– Mione, vou indo na frente, certo? – Sua amiga a avisou e Hermione assentiu, sem deixar de notar a espiada descarada e curiosa para Draco.

– O que foi, Malfoy? – Falou, começando a cruzar os braços de forma protetora, como num reflexo do passado, porém notou o que fazia e obrigou-se a permanecer de braços esticados. Um sorriso brincou nos lábios de Draco.

– É, imaginei que se lembrava de mim. – Comentou, num tom divertido, que o próprio Draco concluiu que se devia ao fato de ter passado as últimas três horas imerso em um profundo tédio e que qualquer coisa que fizesse, incluindo decidir falar com Hermione, seria sinônimo de pura diversão.

– As coisas desagradáveis costumam grudar mais. – Ela retrucou, ácida. Sentia-se um pouco infantil por provavelmente estar entrando num joguinho de bate-rebate, mas era Draco Malfoy e, pelo que se lembrava, para lidar com ele era necessário ser infantil.

– Foi o que pensei. – E fez uma careta. – Então, está fazendo Direito, é?

– O que você quer, Malfoy? – Ela perguntou, um tanto quanto indignada pelo fato de o loiro aparentemente estar jogando conversa fora com ela, enquanto a mesma estava armada para qualquer comentário dele.

– Parece mesmo algo que você faria, pelo que me lembro. – Ele ignorou a pergunta dela. Encarou-a por breves segundos, no que Hermione achou sua expressão um tanto estranha, quase como se ele estivesse se divertindo com o que diria em seguida. Draco inclinou sua cabeça levemente e deu de ombros. – Você... quer ir tomar um café comigo, ou algo assim?

Os lábios de Hermione, agora não tão secos, lentamente entreabriram-se enquanto suas sobrancelhas se erguiam e seus punhos se crispavam. Incrédula definia com exatidão seu estado de espírito naquele momento. De incrédula, foi a cética e rolou os olhos.

– Você... enlouqueceu no espaço ou algo assim? Ou ficou com saudades de me importunar e está fazendo alguma brincadeira idiota?

– Ora, vamos, para relembrar os velhos tempos. – Malfoy retrucou, um sorriso brincando em seus lábios. Aquilo tudo o estava divertindo como nunca e só ele sabia como precisava se divertir.

A Granger o encarou por dez longos segundos antes de dar uma risada cheia de escárnio. Quase queria olhar ao redor para ver se Pansy, Zabini, Crabbe e Goyle estariam ali para rir dela junto com o Malfoy. Quase.

– Malfoy... só... Me diga, você bateu a cabeça, ou algo parecido? Olha, se quiser, eu o levo a um hospital. Em que raios de época você e eu fomos amigavelmente tomar um café juntos?

Apenas uma vez mais, Hermione revirou os olhos, lançando um último olhar de desprezo para o louro antes de se virar e começar a ir embora dali. Apenas para sentir alguém segurando seu pulso e puxando-a avidamente para fora do corredor, direto para a saída.

– Argh, Granger, você não pode parar de ser uma sabe-tudo irritante? Só venha comigo, está bem? – Draco falou, irritado, olhando para trás e suspirando ao ver que conseguira sair dali bem a tempo, pois sua mãe saíra do tribunal e o procurava.

Alheia ao que o loiro pensava, Hermione tentou desvencilhar-se dele, mas ele apenas continuou a puxá-la para fora dali, decidido a sair o quanto antes.

– Mas... Malfoy, onde pensa que está me levando? Eu ainda tenho au-

– É, certo, tanto faz. Espero que tenha vindo de carro.

E deu-lhe um sorrisinho, indicando com a cabeça o estacionamento.