A bailarina e o astronauta escrita por Lady Murder


Capítulo 2
Tough Day




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Encarou com raiva o espelho enorme antes de calçar as sapatilhas de ponta em seus pés já extremamente maltratados pelas mesmas. Não deveria estar fazendo aquilo, não deveria mesmo. Hermione nunca se interessara por balé, muito menos pensara em fazer uma escola de um. Constantemente pensava que estava louca no dia em que aceitara fazer. Não conseguia se concentrar nos passos, o collant a apertava, a meia-calça coçava e se sentia um pouco ridícula naquela saia de seda. Mas... simplesmente não conseguia dizer a droga de um não para sua mãe.

Hermione Granger tinha 21 anos e tinha plena consciência de que poderia sim contrariar sua mãe e desistir das aulas de balé. Mas quando sua mãe viera com aquela ideia... ela tentou ser sutil, mas sabia que a sra. Granger estava implorando. E ela tinha o quê? 15 anos na época? Ela não conseguiu dizer não. Principalmente porque sabia que não faria a faculdade de Medicina que a mãe tanto queria que ela fizesse, e sim Direito, deixando seu pai mais que orgulhoso. Sentiu que devia isso a ela. E agora estava há seis anos naquilo, ainda se sentindo extremamente desconfortável.

Suspirou, sentando-se no chão, fazendo um espacate. Esticou os braços para cima e os abaixou levemente. Seus seios subiam e desciam conforme sua respiração, sentia a meia-calça esticar-se em suas pernas , pinicando levemente no joelho. Olhou-se no espelho, agora mais calma, vendo-se naquela posição. Até que não estava tão ridícula. Levantou o queixo e apertou mais os lábios um pouco secos, tentando parecer tão arrogante quanto algumas bailarinas de sua turma e imediatamente parou, levantando-se.

Percebeu, com um meneio de cabeça, que estava tentando se parecer com um certo astronauta do outro dia. E pensar que sequer cogitara querer vê-lo de novo... Riu, pegou suas coisas e foi para o vestiário para se arrumar para ir à faculdade, percebendo que quase todos da escola de balé já haviam ido.

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Passada uma hora, Draco já sabia de cor todos o riscos da mesa de madeira que há tantos anos fora tão bem polida. Seus familiares ao seu redor conversavam avidamente, a maioria extremamente sério, alguns parecendo gostar da situação, outros cochichando em tom de fofoca. Todos sentados na enorme mesa da casa de seu tio-avô... tio-bisavô... Não fazia ideia. Só sabia que era do lado da família de sua mãe.

Passou a língua pelo céu da boa, distraidamente, fazendo um pequeno estalo ao voltá-la ao lugar. Recebeu um olhar reprovador de sua mãe no mesmo instante, no que ele olhou rapidamente para a mesa, desconcertado. Mas ela simplesmente não podia culpá-lo de chegar ao ponto de fazer brincadeirinhas idiotas. Estava há apenas três dias em Londres e não conseguira respirar um dia sequer. No primeiro, tivera que preencher milhares de papeladas em sua base, prometendo não revelar especificações dos satélites britânicos, da base, e tudo relacionado. No segundo, tivera que ir a uma ridícula homenagem, festa, ou o que fosse, cheia de garotas irritantes, onde uma delas, que deduziu ser uma bailarina pela roupa que usava e pelo coque, aparentemente resolveu não gostar dele e ficou quase o tempo todo o olhando com desprezo – só não entendera o sorriso que ela lhe lançara ao final da apresentação. E agora, no terceiro dia, estava ali naquela chata reunião, onde não entendia muito bem o que estava havendo, mas sabia que alguém tinha morrido e todos queriam seu dinheiro.

Já havia tentado argumentar isso com sua mãe, no caminho para a mansão, mas a única coisa que ela fizera fora lhe entregar uma deliciosa torta de morango da melhor confeitaria de Londres com um sorriso de desculpas e uma tentativa de comemoração da sua volta. Torta essa que ele comera três pedaços antes das crianças da família perceberem a presença de torta e avançarem, aproveitando que ele estava ocupado com os parabéns de sua família.

O orgulho dos Malfoy e, em certa parte, dos Black. Não era político, médico ou advogado, como sempre pareceu a pretensão da família. Quando finalmente contara que sua carreira almejada era no espaço, um sonho de criança, achou que o deserdariam – o que o faria mudar imediatamente de ideia, admitia –, mas seus pais imediatamente começaram a falar na fama que faria sendo astronauta, que já poderiam ver nos jornais 'Herdeiro dos Malfoy excede expectativas', que não poderia ter tido ideia melhor, que ele era mesmo um Malfoy. Entrou cedo na faculdade de Engenharia Aeroespacial da University College London e tinha que confessar que seu pai mexera vários pauzinhos para que ele pudesse ir como aprendiz¹ na última viagem da base inglesa – mesmo ainda no último ano da faculdade –, mas consolava-se pensando que sua capacidade também o ajudou, afinal não mandariam qualquer idiota.

O loiro suspirou lentamente, sentindo os lábios e a garganta seca. Queria água. Votou a olhar para sua mãe que falava gesticulando com suas luvas branquíssimas e resolveu ficar quieto e continuar a observar. Deslizou a mão pelo pescoço até alcançar sua gravata e afrouxá-la. Só queria sair dali.

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– Ei, não estale os dedos para mim. – Hermione resmungou, voltando a atenção para o livro no seu colo.

– Eu estou tentando manter uma conversa há mais de dez minutos, Mione. – Harry retrucou, encostado em uma árvore, no meio de uma Hermione concentrada e um Rony muito pálido segurando um livro tremulamente. – Ron está pirando com a prova e você está enfiada nesse livro, acabei de fazer uma prova muito boa e estou precisando conversar. – Hermione suspirou, dando um leve sorriso.

– Desculpa, mesmo, mas é que eu vou a um julgamento hoje e tenho certeza de que, assim que sairmos de lá, o professor irá fazer algum teste sobre o que vimos. É os testes dele geralmente são "crie uma argumentação de dezenas de páginas a partir do que você viu por apenas uma hora a favor do lado que perdeu", ou algo assim.

– Tudo bem, tudo bem, vou ficar sentindo a brisa ou algo assim. – No que a garota riu levemente.

Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger. Amigos desde sempre, pelo que podiam lembrar. Harry e Rony a tornavam menos certinha e fechada, Hermione e Rony traziam amizade e 'família' para a vida de Harry e Harry e Hermione tornavam Rony mais confiante e forte. Entraram juntos na University College London – a faculdade dos sonhos, logo abaixo de Oxford, a faculdade do paraíso – quase na mesma época em que Harry saíra da casa dos tios intragáveis para casa de seu padrinho. Hermione fazia Direito², Harry fazia Engenharia Elétrica² e Rony fazia Arquitetura², um grande avanço dos dois garotos, que antes queriam montar uma banda de rock e consideravam seriamente viver disso.

Ron pigarreou, fechando o livro cheio de imagens complexas de colunas e paredes e o que fosse.

– Acho que... acho que dá para ficar na média.

– Tenho certeza de que está apenas sendo pessimista. – Afirmou Harry, com um sorriso, tentando consolar o amigo.

– É Ron, você sabe que é bom nisso, de verdade. – Comentou a garota, sem tirar os olhos do livro, fazendo o Weasley corar levemente.

Ainda parecia estranho ouvir elogios dela. Não que ela não o elogiasse, mas sim porque terminaram o namoro de alguns anos a uns nove meses, num consenso mútuo de que, como a relação já estava ficando casual e desgastada demais, era melhor voltaram a ser apenas melhores amigos. No meio disso, ficava Harry, ouvindo reclamações ou divagações dos dois lados, tentando ser o mais neutro possível.

– Bem, vou indo, meninos. Boa prova, Ron, boa... brisa, Harry. - Os três riram e ela se afastou. Pouco tempo depois Rony se encaminhou para sua prova e Harry ficou ali, realmente sentindo a brisa do campus.

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Draco soltou todo o ar de seus pulmões pela boca. Tentava entender como, diabos, fora para na sala de um tribunal cheia de Blacks ávidos por dinheiro. No caminho dali, sua mãe explicara rapidamente que Baham Black³ havia morrido há alguns anos, parente distante, ela nem se deu ao trabalho de lamentar. Porém, recentemente, foi descoberta uma enorme riqueza pertencente à ele e não havia testamento ou filhos para designar alguém para herdá-la. Então, todos os Black vivos foram chamados a um tribunal para resolver aquela questão. Quando Draco questionou o fato de ela não dizer que teriam que ir para lá, ela disse que planejava não ir, mas como era uma intimação descobriu que, bem, realmente teria que ir, levando o filho junto. O que Draco não entendia era porque não pegara um táxi e ia para casa, ou visitar o pai no trabalho, qualquer coisa que o tirasse dali.

Olhou ao redor, notando alguém tão animado por estar ali quanto ele. Sirius Black, primo de sua mãe. Pelo que sabia, há muito tempo fugira de casa para viver sua própria vida. Mas não de mãos abanando, foi o que ouvira, recebera uma gorda herança de um tio maluco e hoje em dia vivia muito bem com uma empresa própria. Então, para quem há muito havia se desligado daquela família, ter que ser obrigado a estar ali deveria ser um saco.

Cutucou a mãe.

– Mãe, sério, me libera daqui. – Narcisa Malfoy interrompeu a conversa com sua irmã, Bellatrix Lestrange, e o encarou.

– Sei que não deve estar sendo o que pensava para sua volta, querido, mas logo iremos embora. Falei com seu pai e mais tarde iremos jantar ou ir para onde você quiser, está bem? – Falou docemente, fazendo o loiro revirar os olhos. Ela não estava falando como se ele fosse um garotinho impertinente de 10 anos, estava?

A frase 'Eu já tenho 21 anos, mãe' passou por sua cabeça, mas ficou por ali mesmo ao constatar o quanto infantil seria. Só lhe restava afundar naquela cadeira, esperar o juiz começar o julgamento, ouvir vários Blacks falando e em seguida ir para o restaurante mais caro que conseguisse pensar. Ou então sugerir ir para o fast-food mais gorduroso que conhecia, só para irritar.

Levantou-se, indo em direção onde tinha água. Não estava quente, na verdade o ar-condicionado estava bem forte, mas sua garganta não parava de ficar seca. Talvez fosse o espaço, talvez quisesse voltar para lá, afinal era bem mais emocionante. Virou-se com um copo cheio de água a caminho da boca e parou no meio do ato.

Fios encaracolados saindo de um coque apressado e sério, boca rosada levemente entreaberta, com lábios secos pelo frio, maçãs do rosto redondas e com aparência de macias, blazer feminino um pouco grande, parecendo ser por preferência própria, saia levemente apertada acabando em meia-calça preta que aparentava uma sensual seriedade, dessa vez parecendo ter sido sem querer, mãos com dedos longos segurando firmemente um livro enorme e... Um olhar de surpresa imediata, rapidamente substituído por um de desprezo profundo.

Draco quase sorriu. Era a bailarina. E agora ele tinha quase total certeza de que a conhecia de algum lugar.

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¹ : Gente, tentei pesquisar, mas não faço ideia de como funciona para quem vira astronauta, só vi que precisa de formação em alguma área tecnológica, por isso engenharia. Então relevem, e quem souber como é, finge que é assim hahah.

²: Não sei se a UCL realmente oferece esses cursos, mas vamos dizer que sim, ok?

³: Personagem inventado, porque nenhum dos Black dava muito certo para isso que eu estava planejando, porque ou um teria morrido há tempo de demais, ou outro seria próximo demais, tornando sua morte triste, o que não era o objetivo, enfim, dentre outros motivos.


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Notas finais do capítulo

Acabei! Pensei em fazer maior, mas não sei, gostei de ter acabado aí. Os capítulos aumentarão a medida que a fic for se desenvolvendo, creio. Mas, vamos ao que interessa:

Minha gente, dei muito a louca e na verdade estou adorando escrever essa DHr. Tenho várias e várias ideias para essa fic e espero muito que vocês gostem, comentem, enfim, leiam. Para ganhar inspiração, passei por vários tumblrs DHr até, haha.

Mas sim, esse capítulo, creio, deu para dar uma situada legal no contexto da fic, dos que poderão aparecer, como algumas coisas podem se desenvolver.

Espero que tenham gostado, reviews?