Sentei no chão e me encarei no espelho, feliz da vida. Se o vestido branco sujasse, simplesmente lançaria um feitiço. Já tinha andado muito de um lado para o outro, ansiosa por começar, e tinha de descansar um pouco as pernas. Por que não sentar em uma cadeira? Não estava com vontade.

Meus cabelos estavam arrumados na frente e soltos atrás, lindos. O vestido cabia perfeitamente no meu corpo, realçando minhas formas. Sentia-me bem com tudo, feliz, maravilhada. E isso transparecia pela minha pele, como se todo o meu organismo concordasse.

Os dois meses que se passaram desde a tragédia com Aidan tinham sido os melhores da minha vida. Eu e Scorpius conversamos sobre os anos que passamos separados e colocamos cada detalhe em dia. Vendi meu apartamento e fui morar no novo imóvel que havíamos comprado juntos.

Não tive outra despedida de solteira. Uma já tinha sido suficiente para o resto da minha vida, e Violet, incrivelmente, pareceu concordar.

Falando na loira, Violet estava atrás de mim com um enorme sorriso no rosto, maravilhosa com seu vestido, mal dando pra notar a pequena protuberância na barriga. Sim, ela e Albus seriam pais. Já estava grávida de dois meses.

Ela veio até mim e abraçou-me por trás.

– Eu sempre soube que vocês terminariam assim, desde que o Scorpius chegou na minha casa, no Natal, no fim do primeiro ano de vocês em Hogwarts, e ficou tagarelando sobre a nova amiguinha ruiva e inteligente. – sorrimos juntas. Só a menção do nome dele trazia milhares de borboletas ao meu estômago.

Papai entrou no recinto, exatamente como fez meses atrás, quando o eu estava prestes a me casar com o homem errado. Ele veio até mim e me deu um abraço apertado.

– Você sabe que tem a minha bênção, mas, pra deixar claro, sempre vou preferir o outro cara. – ele disse e rimos. Ronald podia ter aceitado, mas nunca se conformaria. – Vamos? – perguntou e estendeu o braço. Aparatamos até a entrada da igreja e as portas se abriram.

Os bancos estavam lotados por nossas famílias e amigos. Todas as cabeças viraram-se para nós assim que a marcha nupcial começou a tocar. Senti um aperto de ansiedade no estômago. Já tinha me apresentado na frente de várias multidões, mas aquilo era diferente... Não tinha como explicar.

Dei o primeiro passo e olhei para o altar, onde Scorpius me esperava ao lado do padre, vestido com um terno impecável, os cabelos (pela primeira vez na vida) arrumados e postos para trás com gel. Preferia a versão normal dele, mas tenho que admitir que havia esquecido o quão bonito o Malfoy ficava de terno.

Seus olhos estavam pregados em mim e sua boca abria lentamente enquanto ele examinava a minha aparência. Tive de conter um risinho, mas minhas bochechas ficaram vermelhas. Demos o primeiro passo para dentro da igreja e...

Todas as luzes se apagaram subitamente. As caixas de som usadas para transmitir a marcha pararam.

Uma onda de pânico começou a me invadir. Era o meu casamento com Scorpius. Nada podia dar errado.

Repentinamente, uma luz multicolorida se acendeu em um nicho elevado, e pude ver algumas silhuetas lá. Reconheci instantaneamente os cabelos vermelhos e lisos de Simone Simons, a mesma cantora que estava no aniversário do Scorpius anos antes. O dia em que ele se declarou pra mim.

Lentamente, todos os convidados levantaram suas varinhas, cada uma acesa com uma cor diferente que piscava fracamente. Eu estava em choque. Aquilo era muito bonito.

– Surpresa – ouvi Violet sussurrar atrás de mim. Papai voltou a andar e fui ao seu lado, caminhando com toda a dignidade que conseguia reunir no meio da surpresa e da emoção. Paramos em frente ao altar e Rony deixou a minha mão em cima da de Scorpius, que guiou-me até o nosso lugar. Enquanto o padre começava a cerimônia, ele sussurrou:

– Gostou da surpresa? – tive vontade de dar um soco em seu braço.

– Claro, idiota! Simone Simons tocou a minha marcha nupcial enquanto o caminho era iluminado por varinhas. Nem em sonhos poderia ter sido melhor. – dei uma pausa. E, claro, o menos importante, estou me casando com Scorpius Malfoy. Isso é um fato dispensável, mas... – ironizei. Ele me lançou um olhar divertido.

~*~

Depois da cerimônia, fomos até a Mansão Malfoy, que estava toda decorada e iluminada, para celebrar.

Tirei o enorme vestido que usara no altar e coloquei um mais leve e mais fresco, melhor para dançar.

O salão principal estava cheio de pessoas dançando, e eu e Scorpius nos encontrávamos no meio de todos, dançando enquanto alguns bruxos e bruxas assistiam. Simone cantava em um palco idêntico ao construído no aniversário do meu novo marido.

Marido.

Scorpius Malfoy era meu marido. Aquilo ainda era muito surreal.

– O que foi, Sra. Malfoy? – ele perguntou no meu ouvido enquanto girávamos. Passei as mãos por seu pescoço.

– Ainda é um pouco estranho, marido. Duas horas atrás eu era apenas Rose Jane Granger Weasley. Agora, sou Rose Jane Granger Weasley Malfoy, a esposa de Scorpius Malfoy.

– Eu adorei o seu novo título. – ele sussurrou abaixo do meu ouvido, espalhando calafrios por todo o meu ser.

– Eu não disse que não gostei. Aliás, Sr. Malfoy, eu amei o novo título. – devolvi na mesma moeda, sussurrando abaixo do nódulo de sua orelha e depositando um beijo ali.

– Pare de me provocar, Rose, ou eu juro que te agarrarei aqui e agora. – ele sussurrou e eu deu um sorrisinho.

– Infelizmente, se isso acontecesse, acho que eu não teria forças pra te afastar. – ele sorriu e puxou minha cintura mais para perto de si. Uma música mais lenta começou a tocar e ficamos dançando daquele jeito, juntos como se fôssemos um só e sussurrando entre nós.

~*~

A maioria das pessoas já tinha saído naquele ponto, e os que restavam estavam sentados nas pesas, descansando os pés. Scorpius tinha ido falar com Albus, que estava conversando com alguns colegas.

Tirei os sapatos de salto que estava usando desde o começo da noite e fui até o jardim. Aquele lugar me trazia várias lembranças boas, como no último ano novo em que passamos juntos, quando ele me beijou bem no banco onde eu acabara de sentar.

As roseiras continuavam lá, ainda bem cuidadas. Seu cheiro invadiu minhas narinas e, se fechasse os olhos, podia quase reviver a cena do nosso beijo de ano novo.

Duas mãos inconfundíveis tocaram meus ombros. Abri os olhos e levantei a cabeça, dando de cara com duas orbes acinzentadas.

– Você lembra do que aconteceu aqui? – perguntou enquanto colhia uma rosa vermelha e delicadamente retirava os espinhos. Scorpius sentou ao meu lado e me entregou a flor.

– Rosas eram suas flores favoritas. – repeti o que ele havia falado tantos anos antes.

– Ainda são. – e então ele aproximou sua cabeça da minha.

Não sei por quanto tempo nos beijamos, mas isso não importava.

Eu era finalmente dele, e ele era finalmente meu.