NOTAS INICIAIS!

Acordei com Violet cutucando meu ombro e chamando meu nome.

– Isso tem que parar de acontecer. – murmurei, ainda grogue do sono.

– Se você acordasse mais facilmente, ajudaria muito. – ela retrucou. Sentei-me na cama.

– O que quer? – perguntei.

– São dez horas da manhã. Você já dormiu o suficiente. Astoria quer fazer a prova do vestido. E sem reclamação! – ela disse segundos depois de eu soltar um muxoxo. Odeio vestidos. Odeio provar vestidos. Argh. Scorpius me paga.

Levantei da cama e me espreguicei. Tomei uma ducha e vesti uma camisola mesmo. Não ia ficar tirando e colocando calças. O problema: essa camisola era MUITO velha. Da época que eu suportava vestidos. Ou seja: ou eu cresci, ou os duendes malvados que vivem no arco íris de Asgard encolheram a peça. Voto na segunda opção. É a mais provável.

Porém eu só me dei conta deste detalhe no momento em que pisei na cozinha para roubar alguns waffles e me deparei com Scorpius e Albus olhando descaradamente para as minhas pernas.

– Se não tirarem os olhos das minhas pernas eu vou pegar aquela frigideira ali – apontei para uma frigideira que estava pendurada ao lado do fogão – e vou dar muitos golpes doloridos na cabeça dos dois. – eles olharam para o meu rosto, como pessoas civilizadas.

– Que humor belo, querida prima! O que aconteceu pra te deixar assim? E por que está usando uma camisola tão curta? É crueldade provocar o Scorps no dia do aniversário dele. – Albus recitou e levou um tapa do Malfoy sentado ao seu lado.

– Prova de vestido. Eu não vou ficar tirando e colocando shorts e camisa. E estou pouco me lixando para o que acontece dentro das calças do Scorpius. – disse e coloquei um pedaço de waffle na boca. Albus riu alto.

– ROSE! – a voz da maluca da prima do Malfoy soou pela casa inteira antes que qualquer um pudesse responder. – VENHA ATÉ O QUARTO DA ASTORIA AGORA!- eu levantei-me preguiçosamente.

– A morte me aguarda. Adiós. – e subi as escadas em rumo à tortura.

Astoria estava sentada em sua própria cama, de casal e com roupas-de-cama branca, com um pacote grande ao seu lado. No momento em que entrei no recinto, ela levantou-se e entregou-me o mesmo.

– Vá até o closet e vista-se. Chame se precisar de ajuda. – fui até a porta que ela havia indicado. O closet tinha pelo menos o dobro do tamanho do meu e acoplava MUITAS roupas e sapatos. Todos de marca. Não é a toa que dizem que os Malfoy são os mais ricos das famílias bruxas. Eles são mesmo.

Quando abri o pacote, fiquei deslumbrada com a beleza do vestido. Até mesmo eu que odeio essas coisas tive que admitir: era perfeito. A parte do busto era encoberta por várias pedrarias prateadas e brilhantes que davam lugar a um fino tecido transparente e negro que cobria os ombros em forma de alças e terminava um pouco acima das escápulas. As pedras davam lugar à uma faixa de tecido negro que marcava o meio das costelas. Abaixo, a saia caia levemente e era feita do mesmo material do que cobria os ombros por cima de uma camada de tecido negro que escondia minhas pernas até o chão. Estava longo demais, porém na medida certa para eu poder usar salto.

Coloquei o vestido, que serviu perfeitamente. Saí do closet e percebi que Astoria estava trancando a porta com um feitiço. A mulher ouviu quando cheguei perto, olhou para mim e deu um sorrisinho.

– Para manter os xeretas longe. – ela analisou todo o meu corpo com um brilho diferente no olhar. Parecia que várias lembranças estavam voltando à sua mente- Você está linda, Rose. Será a mais bela hoje à noite, quando estiver completamente pronta. Nem precisarei fazer pontos!

– Eu jurava que teríamos de alargar a cintura. – Violet disse, pensativa.

– Não vou levar isso como uma indireta para me chamar de gorda. – respondi.

– Não, minha querida- Astoria retrucou, rindo. – Esse vestido foi usado faz muito tempo por outra pessoa, e feito sob medida para ela. Mas, Violet, eu tinha certeza que ficaria perfeito. – ela sorria realmente, um sorriso belo e sincero que ia até seus olhos. – Agora estão livres. Façam o que quiser até as duas e meia da tarde, quando começaremos a nos arrumar. – ela virou-se e saiu do quarto. Fui até o closet novamente e tirei aquela bela peça do meu corpo. Com delicadeza, coloquei-o de volta no pacote, que deixei repousado em cima da cama da Sra. Malfoy.

Corri para o meu quarto e tirei aquela coisa que eu chamava de camisola, colocando algo mais confortável. A casa estava aquecida, por isso optei por algo mais fresco. Peguei um livro na biblioteca e encaminhei-me até o jardim, para ler um pouco. O que eu não esperava, era que encontraria Scorpius sentado no bando de pedra, mesmo lugar onde ele vinha pensar desde sempre e lugar onde nos beijamos no ano novo. A última lembrança fez minhas bochechas ficarem vermelhas. Eu estava me virando para sair quando ouvi o loiro chamar meu nome. Sentei-me ao lado dele.

– Eu?- Respondi.

– Tudo bem?

– Claro. – encarei as flores por um tempo. – Você realmente gostava de mim desde o primeiro amo? – perguntei subitamente. Ele me encarou com olhos arregalados.

– Como... Albus. – ele proferiu o nome como uma maldição e suspirou. – Bem... Sim.

– Isso é tão estranho... E constrangedor.- eu disse finalmente, após um longo e incômodo silêncio.

– Não posso discordar. – ele ia falar mais alguma coisa, porém passos foram ouvidos e Draco apareceu em nossa frente.

– Quer treinar um pouco, filho?

– Seria bom. – ele levantou-e, agradecido por sair daquela situação.

– Treinar o que? – me meti.

– Duelos. – Draco informou. Dei um pulo.

– Posso ir junto? – ele assentiu sorrindo com o meu entusiasmo. Corri até o meu quarto e peguei minha varinha. Fomos os três para o quintal, um lugar com um grande gramado e cercas cobertas de hera.

– Quem começará? – Scorpius perguntou. Levantei a mão.

– Podem ir os dois. – o Malfoy mais velho respondeu. Levantei minha varinha ao mesmo tempo que Scorpius. Sorrimos com isso. Era estranho como conseguíamos fazer coisas assim. Olhei para Draco, esperando o sinal de que poderia começar. Ele encarava minha varinha. Lembrei-me, de súbito, que já havia pertencido a ele. Seu rosto logo perdeu a expressão de espanto e ele disse:

– Podem começar!

– EXPELLIARMUS! – Scorpius lançou o primeiro feitiço. Com um simples Protego, desviei-o.

– IMPEDIMENTA!- Ele desviou com facilidade.

– RICTUSEMPRA! – consegui acertá-lo, que começou a rir como um condenado. Quando Scorpius começou a ficar vermelho e eu consegui conter as minhas risadas por vê-lo assim, lancei-lhe um Finite Incantatem. Draco veio andando até mim com o semblante sério.

– Vejo que conseguiu a minha antiga varinha. – ele não estava sério a ponto de parecer pavoroso, mas um sério espantado.

– Ela me escolheu. Um dia quando eu fui para a casa do Tio Harry, eu a peguei na mão e aquela coisa toda aconteceu. Ele me deu depois disso.- Draco assentiu.

– Curioso. – foi tudo o que disse. Astoria apareceu em uma das janelas e chamou-nos para almoçar. Fomos até a mesa e nos servimos. Depois de um tempo, Draco perguntou para Scorpius:

– Você já arrumou um par para a primeira dança? – O rapaz assentiu, ainda mastigando um pedaço de carne. – Posso saber quem? – Scorpius terminou de mastigar e engoliu a comida.

– Rose. – o Malfoy mais velho me olhou com uma sobrancelha levantada. Agora é certo: o filho da mãe do Scorpius não está me falando alguma coisa. Violet começou a tagarelar sobre seu vestido (sim, ela estava apaixonada por ele, iriam casar em março) e eu voltei a comer. Ao terminar, fui ler no meu quarto. Às duas e meia da tarde, Astoria me chamou para o seu quarto, onde eu, ela e Violet começamos a nos arrumar. Correção: elas arrumaram a si mesmas e a mim, que fiquei apenas sentada olhando para tudo. Eram sete e quarenta quando ficamos prontas. Santa lerdeza. Mas, em compensação, estávamos lindas. Violet usando seu amado Oscar de La Renta, Astoria com um vestido simplesmente impecável e eu, com aquela peça simplesmente linda. Enquanto me encarava no espelho, pude perceber que a Montogmery e a Malfoy trocavam um olhar cúmplice. Essa noite promete.