Clato: Os verdadeiros amantes desafortunados escrita por Beatriz Mendes


Capítulo 2
Cato


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, deixem seus elogios e críticas nos comentários.



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Meus músculos ficaram rígidos. Aguardei durante alguns segundos para que alguém se voluntariasse. Ninguém. Todos sabiam o quão forte eu era e a honra que eu poderia dar para o meu Distrito. Meus olhos ficaram embaçados e subi no pódio, como se eu estivesse carregando uma tonelada em cada sapato e assim, meus passos se tornaram cada vez mais curtos. Mas não tinha escolha diante disso. Não havia escolha em relação a nada. Pensar em Clove morrendo bem diante dos meus olhos... Pensar em matar alguém... Me aterrorizava. Mas era matar ou morrer. Se você pensa que não farão o mesmo com você, é um homem morto. Na arena o mais capaz vence.

Eu havia pedido e até mesmo implorado. Mas ela não me ouviu e se voluntariou. Destino? Não sei. Mas ali estávamos nós dois, um na frente do outro, paralisados e perplexos. Um filme passou pela minha cabeça e nele estavam todos os momentos que Clove e eu passamos juntos. Meus pensamentos foram interrompidos quando a nossa representante pediu para apertarmos as mãos. O toque me assustou porque as mãos de Clove estavam geladas como as de um defunto. Um defunto... A primeira experiência que eu teria com a morte seria nos jogos. Nunca ninguém próximo a mim havia morrido e eu nunca tinha matado ninguém, mesmo estando preparado para isso.

Fomos levados e colocados em custódia pelos Pacificadores em salas separadas para que pudéssemos dizer adeus aos nossos parentes e amigos. Todos os meus parentes vieram e me parabenizaram mas eu não consegui esboçar nenhum sorriso. Todos disseram "até logo" quando foram embora e eu respondi:

–Assim espero.

Logo me senti culpado. Se houvesse um até logo para mim não haveria para Clove. O meu regresso significaria a morte dela. Senti uma pontada no estômago. Me levaram até Brutus e Enobaria, os nossos mentores e os mais famosos ganhadores do Distrito 2. Enobaria, por um exemplo, foi a vitoriosa da sexagésima sexta edição dos Jogos Vorazes. Sua arma? Seus dentes. Como ganhou os jogos? Cortando o pescoço dos seus oponentes com eles. A Capital alterou cirurgicamente sua arcada dentária após os jogos para que seus dentes ficassem pontiagudos. Imaginar que eu poderia enfrentar pessoas daquele tipo nos jogos me causava náuseas.

Subi no trem que nos levaria para a Capital e quando vi a ceia posta numa mesa de mármore, percebi que estava com fome. Mas ao ver Clove tão frágil sentada no meio de Enobaria e Brutus, perdi totalmente. Pedi que me levassem ao meu quarto, tirei do armário um lençol e chorei dentro dele. Não por muito tempo, mas as lágrimas vieram. Eu poderia contar para Clove mais tarde, mas ela pensaria que eu estava mendigando piedade.

Alguém bateu na porta e antes mesmo de abri-la, percebi que era Clove. Ela sempre fazia isso. Sempre batia quatro vezes na porta antes de entrar. Limpei os olhos na fronha e taquei para longe. E antes mesmo de abrir a porta, ela disse com uma voz quase baixa demais para ser ouvida, mas a escuto, sempre a escutei:

–Não vou mais para os jogos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixem seus elogios e críticas nos comentários.