Clato: Os verdadeiros amantes desafortunados escrita por Beatriz Mendes


Capítulo 1
Clove


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, deixem seus elogios e críticas nos comentários.



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A minha data preferida no ano finalmente havia chegado: o dia da Colheita. Os adolescentes com idade entre doze e dezoito anos ficam numa área com cordão de isolamento, agrupados por idade, com os mais velhos na frente. Pacificadores andam por todo o distrito, certificando que tudo seja realizado conforme o planejado. Tinha uma sensação festiva no ar. Iriamos disputar uns contra os outros pela coroa do vencedor. Treinamos em escolas especiais até completarmos a idade suficiente e sermos voluntários para irmos aos jogos.

Nossa nação não seria nada sem o trabalho soberbo da construção em pedras, feito pelo Distrito 2, o nosso distrito. Ele constrói e fortalece as cidades, e os habitantes são conhecidos pela a sua força. Não podia me considerar uma pessoa forte, mas desde os meus sete anos aperfeiçoo minha maior habilidade: atirar facas. Completaria dezesseis logo após os jogos e esperava completar na Aldeia dos Vitoriosos, como vencedora da septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes!

Acordei mais cedo naquele dia e minha mãe insistiu durante minutos para que eu colocasse um vestido rosa. Eu queria alguma roupa mais ousada, que mostrasse que eu estava ali para ganhar, mas logo cedi. Após a minha vitória, a roupa que eu usei na Colheita não faria diferença nenhuma. Prendi meus cabelos com uma presilha e uma mecha caía sobre os meus olhos. Percebi por um instante a minha expressão forte, determinada e aterrorizante.

Nosso Distrito era um carreirista. E isso significava que quase sempre ganhávamos e quando perdíamos, outro carreirista ganhava. Só haviam algumas poucas exceções de tributos que tiveram sorte um ano ou outro. Os Distritos 11,12 e 8, por um exemplo, tiveram um ganhador ou outro. Mas normalmente, morriam logo no primeiro dia.

Tomei um rápido café da manhã e saí correndo em direção ao matagal, para treinar minha pontaria, mesmo tendo a certeza de que era certeira. Quase não percebi quando Cato apareceu, vestindo trajes finos e com o seu olhar dissimulado, me fitando da cabeça aos pés. Sem ele eu nunca teria entrado na Academia para demonstrar e treinar minhas habilidades. E mesmo ele sendo o melhor de lá, tinha que ser grata a ele. Eternamente. Cato era um ano mais velho do que eu, devia ter um metro e oitenta e era forte como... Um animal geneticamente alterado pela Capital. Ele também era o cara por quem eu tinha uma quedinha desde o primário, mas isso não vem ao caso.

–Feliz Jogos Vorazes!-Ele disse, abrindo um sorriso.-Estou ansioso para ver os tributos desse ano. Você não?

Respirei umas duas vezes antes de responder. Eu sempre fazia isso. Tentava formular uma resposta conveniente na minha cabeça e só depois dize-la.

–Minha curiosidade está cinquenta por cento menos do que no ano passado. Já que um dos tributos não é novidade para mim.

Ele cerrou as sobrancelhas e cruzou os braços enquanto perguntava:

–Ah, é? E quem vai ser?

Revirei os olhos como se a resposta parecesse óbvia, e respondi:

–Eu, é claro.

Ele soltou uma gargalhada irônica que segundos depois, ao fitar meus olhos sérios, se tornou um gemido amedrontado.

–Não pode estar falando sério.

Taquei uma de minhas facas em um galho enquanto explicava todos os motivos plausíveis pelos quais eu deveria, e iria, ser voluntaria. Quando o olhei novamente, vi seus olhos úmidos. Ao perceber que eu estava encarando-o, Cato apertou as pálpebras e começou a gritar:

–Não pode estar falando sério, Clove! Você pode conhecer várias estratégias para o jogo, mas não todas. São doze Distritos, Clove, Doze! Vinte e quatro tributos lutando até a morte em uma arena por uma droga de coroa.-Nunca tinha o visto falar daquela maneira sobre os jogos, olhava perplexa-E depois? Depois quando um tributo volta o Distrito ganha alimento pro ano todo... Mas e daí? Você não é forte o bastante. Não vai sobreviver aos jogos.

Quando percebeu que tinha se exaltado, soltou o corpo e sentou-se em uma rocha, fechando os seus olhos enquanto uma lágrima escorria. Mas eu estava furiosa.

–Cato, eu não quero que você me explique como funciona o jogo! Eu sei como funciona. Você tem noção do que é isso? A glória eterna! Para sempre serei lembrada. E não diga que eu não ganharei, você mesmo disse que eu era capaz. Ou você é mentiroso ou... Mentiroso. Isso, você é um mentiroso.

Cato levantou, indignado, bufou e ficou perto demais e eu pude sentir o calor de sua pele e o som da sua respiração. E finalmente, ele perguntou:

–Você tem certeza disso?

–Toda a certeza do mundo.-respondi.

Ele balançou a cabeça, para cima e para baixo. Então, passou os braços fortes pela minha cintura e me puxou para perto dele. Nunca havia antes sentido o toque de sua pele, mas era extraordinário. Nada perto do que viria a seguir. Ele pressionou os lábios contra os meus e nos beijamos até que percebi o que ele estava fazendo: me distraindo. Virei o rosto e empurrei-o enquanto corria em direção a Colheita.

Comecei a correr o mais rápido que pude e meus pensamentos só foram colocados em ordem quando todos estavam em seus devidos lugares. O prefeito subiu ao pódio e começou a leitura que eu já sabia de cor. A história de Panem que se ergueu das cinzas e deu lugar a América do Norte. Depois os distritos se rebelaram e o décimo terceiro foi obliterado. E para lembrarmos todos os anos do quão ingratos fomos com a Capital, um tributo de cada sexo é escolhido em cada Distrito para a realização dos Jogos Vorazes. Fascinante!

Depois a representante do Distrito 2 sobe ao palco e lê a lista gigantesca de ganhadores do nosso Distrito. A última frase que ela diz antes de enfiar a mão em uma bola transparente cheia de papéis é:

–Feliz Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre ao seu favor.

Olhei para os lados e tudo o que eu vi foram sorrisos. Ela retirou um papel da bola e leu o nome de uma garota que eu nem se quer conhecia. Mas antes da garota mover um músculo, falei com uma voz alta e clara:

–Eu me ofereço como tributo.

Subi ao palco ao som de aplausos. Disse bem alto meu nome, para que nunca se esquecessem do nome de uma vitoriosa.

E então tinha chegado a hora do tributo masculino. Quando um tributo robusto e que todos sabem que faz maravilhas na Academia era sorteado, ninguém se voluntariava. Porque sabíamos que ele poderia trazer honra ao nosso Distrito. Enquanto a representante remexia na bola transparente, pensava em várias maneiras de matá-lo na Arena, quando ele menos esperasse. Antes do fim da nossa aliança, claro. E então, ela retirou um papel da bola e leu em voz alta.

O som daquele nome perfurou os meus ouvidos e fiquei zonza.

Era Cato.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixem seus elogios e críticas nos comentários.