Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 8
Eight




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Eu estava em um templo. Não podia dizer de que deus, porque não havia estátuas ou imagens, só um altar vazio. Ao redor de toda a estrutura, janelas em forma de monges davam vista ao mar. Levantei e olhei por uma delas. O templo ficava na borda de um penhasco, suspenso à queda livre se não fosse as muitas camadas de pilares de madeira conectadas à montanha que seguravam a base. Parecia ter sido abandonado pelo próprio dono. No altar, havia três círculos desenhados com algum tipo de giz brilhante no chão. O bonsai que Lucas me deu já estava lá, faltavam dois itens.

Eu ouvi um crack baixo vindo da base. Logo ele foi se multiplicando, se transformando em muitos cracks ao mesmo tempo. Olhei pela janela de novo, e vi que o templo estava ruindo à queda livre para o mar. Olhei ao redor, procurando desesperadamente por um saída, mas não achei. Era um lugar fechado, não tinha como entrar, nem como sair. Então como eu entrei?

De repente, o templo sofreu uma inclinação brusca e rachaduras apareceram nas paredes e no chão. Senti um frio na barriga que foi aumentando à medida que o templo caía para o mar.

Quando senti a água tocar a minha pele, acordei de repente, apenas para ver a cara de Lucas me encarando.

— Sabe, os budistas têm um pano mágico que faz você dormir sem sonhos, quem sabe eu passo lá e pego um pra você.

Levantei da cama e fui trocar de roupa.

— Que dia é hoje?

— Quinta.

— Tem esgrima?

— Não.

— Então o que diabos você tá fazendo aqui?

— Vim pegar o bonsai de volta. Você disse que ia precisar dele, e isso foi há uma semana atrás.

— Sim, cara, mas não recebi outra carta.

— E pra que diabos você precisaria do bonsai? Não é como se ele fosse mágico ou algo assim.

— Mas a carta pediu para…

Ele me interrompeu.

— Ei, veja bem, eu não estou dizendo que é uma brincadeira ou coisa assim, mas você tá muito focado nisso, Dylan. Pode ser verdade, claro. Assim como, da mesma forma, pode ser mentira. Quando você conseguir algo concreto, acredite, eu vou te ajudar, porque isso envolve a Mirina também. Mas enquanto isso…

Ele pegou o bonsai do meu criado-mudo e foi até a porta, parando antes de sair para completar a frase.

— Viva a sua vida.

Me preparei e saí do chalé para dar de cara com uma multidão de campistas congestionando o caminho à minha frente. Algo assim só podia significar uma coisa: ou alguém tinha morrido de uma forma estranha, ou alguém tinha voltado de uma missão importante. Percy.

Eu nem precisei abrir caminho para cumprimentar meu colega de chalé, porque ele veio direito na minha direção e entrou, sem falar nada, com uma cara de poucos amigos. Todos olharam para mim. Eu mal tinha saído do chalé e já voltei para dentro. Fechei a porta e me encostei nela.

Ele estava jogado na cama dele. Devia estar exausto.

— Não foi muito legal, foi?

— Você já foi a um conselho dos deuses olimpianos?

— Já vi alguns, mas não todos em um lugar só.

— Como foram esses seus encontros?

— Um pouco desconfortáveis, na maioria.

— Imagine isso multiplicado por 12 de uma vez só. Foi um inferno. Eles parecem um bando de velhos, não param de brigar entre si. E o pior, a única coisa que sabem fazer bem é descontar a raiva em algum ser “inferior”. No caso, eu e Annabeth.

— Mas que tipo de missão foi essa? Até onde eu sei, vocês não são deuses para participar do conselho. Vocês foram os informantes?

— Infelizmente.

Bom, deixe eu explicar para vocês. Informantes do Acampamento é um casal de campistas que vai no conselho dos deuses anotar as decisões mais importantes que os deuses fazem. Geralmente acontece no solstício, mas como nos últimos anos o solstício foi marcado por alguma entidade tentando fazer o mundo ruir em chamas e tal, o conselho deve que ser cancelado. Agora que tudo voltou ao normal, eles têm muito que discutir.

— E o que tem de interessante esse ano?

— Mesmas coisas de sempre. A implantação de novos chalés aqui no Acampamento, supervisão dos campos de Deméter, votação para a reaceitação de Hades no Olimpo, o Dioniso tentando se livrar da punição aqui, essas coisas.

— Nada de mais?

— Tem algo que me intrigou um pouco. Alguma coisa sobre um segredo de Atena. Mas eles não falaram muito sobre isso, acho que não queriam que a gente soubesse. Eu também não quero saber mesmo, pra mim já chega de problemas.

— Segredo de Atena, é? Não falaram mais nada?

— Não, mas deu pra perceber que é algo bem proibido. Por que tanta curiosidade?

— Hã? Ah. Nada demais. A vida aqui é muito chata, sabe? Bem que eu gostaria de alguma coisa interessante.

Ele se levantou com um pulo.

— Eu desejei isso há uns 7 anos, e só estou falando com você por milagre. Agora com licença, tenho relatórios para fazer a Quíron.

Abri espaço para ele sair do chalé, mas saí também e o chamei antes que ele pudesse se distanciar.

— Percy?

— Diga.

— Você desejou isso há 7 anos, certo. Mas diz aí, valeu a pena?

— Ah, e como valeu.

Observei ele ir à Casa Grande, até que senti algo vindo em minha direção e, instintivamente, desviei para o lado. Edward caiu de cara no chão. Gabriel explodiu em risadas atrás de mim.

— Desde quando você ficou tão bom assim? — Edward perguntou, tirando a areia da cara.

— É bem a sua cara fazer isso. O que vocês estão fazendo aqui? — perguntei para Gabriel, mas Edward teve que responder, porque o outro não parava de rir.

— Precisamos de você.

— Só com hora marcada.

— É sério.

— O que foi?

— Anastasius. Ele precisa muito da sua ajuda.

Gabriel parou de rir e ficou sério.

— Entendo — eu disse.

— Venha com a gente.

Eu os segui até o rio, onde Anastasius estava segurando…

— Latas de tinta? Vocês querem que eu ajude a pintar os botes? Nem pensar, tenho mais o que fazer.

Eu fui indo embora, mas Gabriel me puxou de volta.

— Qual é, Dylan. Relaxa aí. Vem, a gente tava precisando de mais um, e você é o candidato perfeito. Vai ser legal, a gente conversa enquanto pinta. Confia.

Eu bufei.

— Se vocês jogarem uma gota de tinta em mim…

Edward enfiou um pincel de rolo em uma mão minha e uma lata de tinta na outra.

— Você fica com os botes 4 a 8.

Ψ

Depois de algumas horas, terminamos de pintar, os botes secaram e a conversa acabou. Estávamos todos nos preparando para ir quando aconteceu de novo. O rosto encapuzado apareceu flutuando no rio.

— Uou! O que é isso? — exclamou Gabriel, levantando-se com um pulo, assim como o resto de nós.

— Está na hora, Dylan Fletcher.

Ele soltou o mesmo grito e sumiu. Um papel branco apareceu em cima do bote número 8.

— Quem era aquele? — perguntou Anastasius.

— Longa história.

— E o que é aquilo? — ele apontou para o papel branco.

— Outra carta.

Ψ


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