Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 7
Bonsai


Notas iniciais do capítulo

Yha! Depois dessas pequenas férias, nós voltamos.



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Lá no fundo, eu sabia que devia ser uma pegadinha de alguém, mas uma grande parte de mim queria acreditar que era real, que eu poderia trazer Louise e Mirina de volta.

O chalé de Apolo escolheu o dia 28 de janeiro para celebrar o luau dos deuses, uma espécie de festa divina ou algo assim. Mas o que importa é que era uma festa, e eu odeio festas. Então, naturalmente, eu e Hellen ficamos na biblioteca enquanto as outras pessoas pulavam e dançavam lá fora.

— Ainda bem que as paredes daqui abafam o som. — Ela disse.

— Eles poderiam ir festejar na floresta, pelo menos não incomodaria o resto dos campistas.

— Vai que algum monstro come o som…

— Não! Monstros já são ruins, imagina um monstro que te ataca ao som de David Guetta.

Ela soltou uma risadinha e voltou a ler.

Subitamente, eu ouvi um barulho à minha esquerda, meus reflexos fizeram eu virar a cabeça imediatamente, cedo o suficiente para ver um vulto negro correndo pelas prateleiras. Eu me levantei e fui na direção para qual o vulto tinha ido.

— O que foi? — Hellen perguntou, também se levantando.

— Eu vi alguém aqui.

— Mas não há nin…

Coloquei o dedo na boca, indicando para ela fazer silêncio. Ouvi passos indo em direção à escada, e sinalizei para Hellen vir comigo. Vi o vulto subindo a escada, e corri até lá.

— O que tem no primeiro andar? — perguntei para Hellen.

— Acho que só alguns livros velhos demais. Você tem certeza que viu alguém? Porque eu não vi nada.

— Como não viu? Ele estava bem ali, e acabou de subir a escada. Vamos.

Nós subimos a escada do segundo andar e ficamos parados em frente à porta. Quando eu a abri, quase caí para trás. Atrás de um monte de livros empilhados, lá estava ele, o mesmo rosto encapuzado que aparecera para mim no dia da Caça à Bandeira. Hellen parecia não entender nada.

— O que é isso? — Ela perguntou, se aproximando.

— Está na hora, Dylan Fletcher. — Ele repetiu a mesma fala de antes.

Dessa vez, eu não ficaria parado, eu tinha que descobrir de quem era o rosto, o que ele estava fazendo ali e o que queria de mim. Eu entrei na sala e encarei o rosto.

— Está na hora do quê? — Eu perguntei, mas não tive resposta. — Responda! Quem é você? O que você quer?

O rosto encapuzado soltou um grito de ensurdecer igual ao que tinha soltado antes, e depois sumiu, da mesma forma.

— É uma gravação holográfica.

— Uma o quê? — Eu perguntei, enquanto esfregava meus ouvidos, que estavam doendo.

— Gravação holográfica. É como se fosse um vídeo, só que em forma de holograma.

— Então aquilo não era uma pessoa?

— Não, só uma imagem.

— Uma distração.

— Exato.

— Droga.

A pessoa que estava lá embaixo pôs essa gravação para nos distrair, assim ela poderia escapar. Fui até onde o holograma estava, para ver se tinha deixado algo para trás, e o que eu achei não me surpreendeu muito.

— O que tem aí? — Hellen perguntou.

— Outra carta.

Ψ

— Lucas? — eu chamei por ele enquanto batia na porta do chalé de Nêmesis, na manhã seguinte.

Ele abriu a porta. Estava com uma cara horrível, cheio de olheiras e parecia estar de ressaca.

— Que é? — Ele respondeu, grosseiro.

— Não se preocupe, eu volto outra hora.

Eu já ia saindo quando ele me puxou para dentro do chalé. Ele sentou na cama e puxou uma cadeira para mim.

— Para de besteira, cara. O que foi?

— Eu quero saber mais sobre sua relação com a Mirina.

— Por quê?

— Lembra daquele rosto que apareceu no Natal?

— No dia que você perdeu o Caça à Bandeira?

Revirei os olhos.

— É, esse mesmo.

— O que tem ele?

— Apareceu de novo, ontem à noite. Para mim e Hellen.

— Você e Hellen, é? O que estavam fazendo juntos?

— Lendo.

— O Kama Sutra?

— Pode fazer o favor de calar essa boca? Ele apareceu, soltou outro grito, e quando saiu, tinha outra carta lá.

— E o que isso tem a ver com a Mirina?

Tirei a carta do bolso e entreguei a ele, que leu em voz alta.

— “Mirina, serena, o item da arena”.

Ele olhou para mim com um ar sério.

— Quem quer que fez isso não está de brincadeira.

— Então você acredita agora? Por quê?

— Porque eu e Mirina nos conhecemos em uma arena, aos dez anos.

— E o que duas crianças faziam em uma arena?

— Eu morava lá. Eu estava tentando roubar alguma comida, então me viu. Eu fugi quando a vi, e ela me seguiu, não sei por quê. Era uma réplica da arena de Sparta, só que ficou mal feita, os turistas não iam lá, então o governo simplesmente abandonou e deixou lá. Mas, onde eles acharam lixo, eu achei casa. Lá os monstros não me atacavam, sabe? Não sei por que também, acho que eles tinham medo de lá ou algo assim. Eu morava lá porque fugi de casa. Meu pai começou a beber depois de descobrir que Nêmesis não poderia ficar com ele, acho que ele se pagou demais. Mas ele sempre bebia muito, muito mesmo. Então ele começou a descontar a raiva dele mim, até que eu não aguentei mais e fugi. Eu até ia voltar, mas descobri que ele tinha morrido de overdose, então deixei pra lá. Quando Mirina me encontrou, ela insistiu em me levar pra casa dela. Como era de se esperar, a mãe dela quase pirou quando soube, mas Mirina ameaçou fugir comigo caso ela negasse. Nunca entendi o que ela tinha visto em mim. Mas até que a velha se acostumou comigo. Era quase como se eu fosse da família. Quando nós tínhamos uns 11 anos, a mãe dela morreu em um acidente ferroviário, e nós saímos de casa, porque ela não suportava mais. Mirina se esforçava para não ficar abalada na minha frente, mas eu podia ouvir ela chorando todo dia antes de dormir. Então a polícia nos encontrou e nos separou, a mandaram para um internato e me mandaram para um abrigo público. No fim, nos reencontramos de novo aqui.

Ficamos em silêncio por um tempo. Ele estava de cabeça baixa.

— Ela nunca mencionou você.

— Ainda bem, pelo deuses eu não conheci um idiota como você antes.

— Tá, tá. Mas qual é o lance do “item da arena”?

— Quando ela me seguiu até a arena, ela me deu um bonsai.

— Bom o quê?

— Bonsai.

— E o que seria isso?

— É tipo uma árvore, só que pequena.

— E onde está?

— No túmulo, com a Mirina.

Bufei.

— Tá de brincadeira.

— Pior que tô. Tá bem ali.

Ele apontou para uma árvore pequena em um vaso, em cima do criado-mudo.

— Isso é artificial? — eu perguntei, examinando o objeto.

— Depende.

— De quê?

— Tem a árvore natural e a artifical, dã.

— Explicou tudo, parabéns. Então, se é esse o item da arena, acho que a gente vai precisar dela.

— Hoje não.

— Por que não?

— Hoje é aniversário da Mirina.

Ele pegou o bonsai e saiu do chalé. Eu já sabia para onde ele iria.

Ψ


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