Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 32
Gigantes




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— São os gigantes! — exclamei.

— Eu percebi, obrigada — Anne rebateu.

— O que diabos é isso? — perguntei, histérico.

— Isso não é um jogo. Não tem nada de Aquarium aqui. Isso é Lyandri — Lucas respondeu, calmo.

— Você fala como se eu soubesse o que é!

— É a cidade dos gigantes, Dylan. É onde eles cresceram e aprenderam a odiar seus respectivos deuses. Foi aqui que Gaia os manteve antes de enviá-los para destruir o Olimpo. Estamos no Tártaro. Fomos enganados. Cada um dos NPCs que nós vimos era um gigante fingindo. Estava tudo planejado para parecer que estávamos em um jogo. Mas, Dylan, isso é bem real. — Hellen completou.

— Tártaro? Mas…

— A porta pela qual o Conde nos fez passar… Era um portal para o Tártaro. Um dos únicos em todo o mundo.

— Mas se estamos no Tártaro… — Anne começou.

— Os deuses não podem nos ajudar — terminei.

— Se não podemos matar nem um gigante sem a ajuda de um deus, o que vamos fazer contra os doze mais fortes?

— Vamos correr — Lucas disse.

— Correr? Enlouqueceu? Se sairmos por ali eles vão nos pegar! — Anne falou.

— Bom, um cara conseguiu passar, não foi? — eu disse.

— Na verdade não, Dylan. Nós realmente fomos os primeiros a passar pelo Conde Teon. Aquilo é apenas uma dica. Convenção universal dos RPGs: deixe uma dica, mesmo que escondida, para que o jogador saiba o que fazer em seguida. O corpo estava ali para dizer que mesmo que não possamos sobreviver, podemos sair dessa caverna.

Hellen olhava para Lucas, analisando-o.

— E como você sabe disso? — ela perguntou.

— Você acha que eu só vivia no cemitério?

— Não, como você sabe que fomos os primeiros a passar por Teon?

— É…

Anne interrompeu a conversinha dos dois.

— Não sei se vocês se importam, MAS TEM UMA DÚZIA DE GIGANTES QUE PODEM NOS MATAR COM UM SÓ DEDO BEM NA ENTRADA DA CAVERNA!

Os doze já estavam reunidos na entrada.

— Finalmente… — falou um deles. Tinha algas e peixes mortos presos ao cabelo, e sua pele era verde. Segurava um tridente com os dentes virados para baixo. Era o anti-poseidon, Polibotes. Tecnicamente, meu arqui-inimigo vinte metros mais alto que eu. — Meus irmãos, hoje obteremos um pouco da glória! Quatro semideuses saudáveis, bem na nossa frente. Que outra melhor garantia Gaia poderia nos dar? Venham, contemplem a grande...

Lucas chutou minha canela. Quando eu me virei, ele apontou para uma abertura do tamanho de um anão de jardim na parede da caverna.

— Como diabos você achou isso? — sussurrei.

— Anne achou. Ela estava dando chutes, frustrada, quando essa parte da parede caiu. Ela já atravessou. Eu vou agora, você vai depois. Hellen vai distraí-los para não perceberem que está faltando semideuses. Não vai ser difícil, eles são burros de natureza.

— E como Hellen vai vir sem eles perceberem?

— Ela vai dar um jeito. Cale a boca e aja naturalmente.

Ouvi Lucas se afastar de mim e arrastar-se pelo pequena abertura. Hellen avançou e começou a falar com os gigantes.

— Seus covardes! — ela gritou.

— Hein?

— Como ousam nos enfrentar assim, em plena vantagem numérica, métrica e brutal? Vocês não são mais que galinhas!

— Cale-se, semideusa nojenta. Vocês são a escória desse mundo, e devem ser extintos junto com seus pais podres. Acha que ligamos se estamos em maior número? Apenas a vitória nos interessa!

Hellen olhou para mim e piscou duas vezes. Depois, voltou imediatamente sua atenção para os gigantes.

Enquanto ela falava, eu deitei no chão e pus os braços para fora da caverna através da abertura. Lucas e Anne os seguraram e puxaram até que eu estivesse completamente fora de lá. Só faltava Hellen.

— Polibotes! — ouvi outro gigante gritar.

— O que foi, irmão?

— Você nos prometeu quatro semideuses! Mentiroso. Só há um.

— Um?

Eu agachei, pronto para pegar a mão de Hellen, que a essa altura já deveria estar atravessando.

— Eles estão fugindo, irmãos! Peguem a bastarda!

Polibotes destruiu a entrada da caverna com apenas um tapa.

— Hellen! — gritei.

Uma mão apareceu pela abertura, e eu a agarrei imediatamente, junto com Lucas, mas o corpo de Hellen não queria vir.

— Dylan! — ela gritou, do outro lado.

— O que foi, Hellen? Venha!

— Ele me pegou, Dylan.

— O quê? Hellen, venha, por favor!

— Corra, Dylan.

— Não!

— Corra!

Hellen foi puxada, e sua mão se separou da minha.

O resto dos gigantes tinham descoberto onde estávamos, e vinham em nossa direção.

— Vamos, Dylan — Lucas chamou, apressado.

Olhei para ele espantado.

— Não. Eu não vou deixá-la.

— Pense na Louise, Dylan. Hellen se sacrificou para que você pudesse salvá-la.

— O que você quer dizer com “se sacrificou”? Ela não morreu!

— Dylan…

— Não!

— Hipólito, Mimas, desejariam a honra? — perguntou Polibotes.

Os dois gigantes convocados avançaram às risadas em nossa direção. Eu não me mexi. Eu olhava paralisado para o corpo de Hellen na mão de Polibotes, sem qualquer sugestão de movimento. Outra pessoa tinha morrido por minha causa.

— O que foi, semideus? Esperando ajuda do seu pai? — Mimas gritava enquanto dava passos largos em nossa direção.

Cinco passos. Seis. Sete. Mais um e ele pisaria em mim. Mais um e tudo isso acabaria. Game over.

Anne passou uma perna entre as minhas duas e a forçou para o lado. Eu perdi o equilíbrio momentaneamente, mas suficiente para cair no chão. Logo depois, ela pegou meus braços e me arrastou para fora do alcance do pé do gigante, que agora tentava nos pegar com a mão.

— Lucas, uma ajudinha aqui! — Anne berrou.

Ele se abaixou e me pegou de um lado, enquanto Anne pegava do outro.

— Não! — eu gritava. — Me soltem! Eu não quero ir! Eu quero morrer! Por favor…

— Cara idiota… — Anne resmungou. — Parece até que nunca viu ninguém morrer.

— A Hellen não! — eu continuei gritando, enquanto Lucas e Anne me arrastavam para longe do gigante, que parecia brincar de pega-pega com a gente.

Anne me largou, e eu caí no chão. Soltei um grunhido pela dor que senti nas costas.

Ela se abaixou e deu um soco bem no meu nariz, torcendo-o. Eu gritei de dor.

— O que você tem na cabeça?!

— Para com isso. Se você desistir agora, tudo que fizemos terá sido em vão. A idiota terá morrido em vão. E acredite, eu não atravessei o país com um moleque tipo você só para desistir agora, quando estamos tão perto! Você é o mortal mais próximo que já existiu de descobrir o segredo da morte, e você quer desistir? Imbecil. Você é um completo imbecil. O que você vai fazer? Voltar para o Acampamento e viver o resto dos seus dias miseráveis se lamentando no cemitério por não dois, mas três túmulos? Fala sério, Dylan. Vê se cresce. A vida não é um conto de fadas para ninguém, mas ela não vai ficar melhor sozinha. Agora, vai parar de frescura ou quer levar outro soco? E acredite, eu vou quebrar seu nariz no próximo.

Ela se levantou e ofereceu a mão para mim.

Eu a segurei e me levantei.

Depois, corremos.

Ψ


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