Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 31
Floresta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558902/chapter/31

Sorte que nos tempos de Mina não existiam palavrões.

— AAAAAAAAH! Filho de uma meretriz! Vai dar sua traseira excretora!

— Calma, Anne! Ele já está morto, não pode te ouvir — tentei acalmá-la.

— Olha o que ele fez comigo! Ele arrancou minha mão!

A mão arrancada de Anne explodiu em pixels assim como o lobo, depois de morto. Se o que o Conde disse sobre a conexão entre esse jogo e a vida real for verdade, acho que não voltaríamos a vê-la com as duas mãos, se ela sobrevivesse.

Lucas abaixou-se e tirou uma camisa da mochila, enrolando-a no punho de Anne e ajudando a estancar o sangramento. Por fim, ele tirou a poção de vida do bolso dela e a fez beber. O sangramento parou quase imediatamente, mas a mão não voltou.

Os NPCs não pareciam dar a mínima para o que tinha acontecido, como se um lobo atacar alguém fosse algo normal ali. Não os culpo, eles não eram pessoas de verdade.

Hellen não disse nada, só analisou a situação cuidadosamente.

— Temos que seguir em frente.

Continuamos a andar, Anne apoiada em Lucas, ainda gemendo de dor.

Ao chegarmos na saída da cidade, vimos uma matilha de lobos por perto. Provavelmente aquele lobo agressivo tinha se perdido de sua matilha e entrado na cidade por engano. Mas, em todos os jogos que eu joguei, geralmente as cidades tinham alguma proteção contra “intrusos”, ou seja, monstros não podiam simplesmente entrar lá, apenas ficar na floresta, esperando por aventureiros desavisados. Acho que o Conde tinha que rever alguns aspectos disso aqui. Ou talvez ele só nos queira mortos mesmo.

Lucas eliminou todos silenciosamente, uma adaga para cada lobo, tiro certeiro no olho. Dois ainda tentaram fugir, mas ele os acertou mesmo em movimento.

— Quantas adagas você tem aí? — perguntei.

— Não sei. Sempre que coloco a mão no bolso direito, tem uma. Acho que não acabam.

Uma trilha de terra tomava destaque entre o mato e a grama que cobriam a parte de fora da cidade, levando para uma floresta de árvores altas e grossas.

Hellen, que mantinha o mapa, confirmou o caminho.

— É, essa trilha está desenhada aqui, assim como a floresta que vem depois. Parece que a caverna está em algum lugar dentro da floresta. É melhor estarmos preparados, certamente há outros animais ali.

Seguimos a trilha e entramos na caverna com armas em punho. Lucas segurava uma adaga em uma mão e o antebraço do membro lacerado de Anne com a outra, e esta erguia a chave de fenda de Mina com a mão intacta.

A floresta era feita de árvores aparentemente comuns, como aquelas que vemos nas estradas e na televisão. Algumas eram marrons, outras cinzas, mas a maioria era alta e tinha longas folhagens, bloqueando boa parte da luz solar, deixando tiras de luz que destacavam a poeira no ar, fazendo parecer o cenário de um filme de ação. Folhas secas e galhos podres estavam por todo o chão, fazendo parecer que estávamos tocando uma sinfonia de Beethoven a cada passo. Mas nenhum animal selvagem tinha aparecido até agora.

— Qual é a direção da caverna? — Anne perguntou.

Hellen olhou o mapa mais uma vez.

— Eu não sei. Não há qualquer tipo de marcação métrica aqui, então não faço ideia de quantos passos, metros ou quilômetros temos que percorrer. Mas que Conde imbecil. Ele acha que somos adivinhos? Acho que vamos ficar o dia todo aqui.

— Eu acho que não — disse Lucas, apontando para uma ossada fora da trilha. — Animais não deixam ossos aqui, deixam?

A ossada era humana. Um rastro de sangue tinha sido deixado por quem quer que tivesse estado ali antes. Nós aproveitamos a dica e o seguimos.

— Mas se não há animais na floresta, o que diabos matou aquele cara? — perguntei.

— Alguma coisa na caverna, com certeza — Lucas disse.

— Ah, claro, por que isso não é nada clichê. Ficamos o caminho todo livre para chegarmos na caverna e darmos de cara com algum tipo de gigante que nos esmaga, come nossa carne e depois joga a ossada na floresta. Típico — Anne bufou, entediada.

— Vocês subestimam demais o Conde — Hellen impôs.

— Eu, particularmente, prefiro o Teon. O cara até era mais bonitinho.

— Você nem viu a cara desse.

— Nem pretendo. Para fazer um RPG em vida real só pode ser gordo nerd.

— E é exatamente por isso que você não tem um namorado.

— E você tem, certo?

Hellen ficou com o rosto um pouco vermelho.

— Quem disse que eu preciso?

— Quem disse que eu preciso?

— Tem como as duas feminazis pararem com essa besteira? — Lucas interrompeu. — Acho que chegamos ao nosso destino.

— Preparem-se — Hellen disse. Todos agarram as armas com mais força.

Entramos na caverna aos poucos, cientes de que a qualquer momento alguma coisa iria sair dali e tentar nos devorar. Mas já estávamos no fundo da caverna e nada parecia viver ali.

— OK. Tudo limpo.

Passei a mão nas paredes e notei algumas partes mais fundas que outras.

— Acho que tem algo escrito na parede — comentei. — Não tem como iluminar aqui?

— Anne? — ele pediu.

Provavelmente Anne tinha revirado os olhos agora. Pena que estava tudo escuro.

Senti o chão encher de folhas secas que ela tinha feito. Lucas e eu juntamos todas em um lugar só, no meio da caverna. Hellen pegou duas pedras específicas e começou a fazer atrito entre elas. Pequenas faíscas saíam aqui e ali, até que uma pegou nas folhas e o fogo se espalhou rapidamente, iluminando tudo.

A mensagem na parede era bem clara.

NÃO HÁ CASTELO. NÃO HÁ JOGO. VOCÊS ESTÃO MORTOS.

— O quê? — perguntei. — Como assim?

Hellen largou as pedras e correu para a entrada. Ao chegar, ela voltou de costas com passos lentos.

— É uma armadilha. O Conde nos enganou.

No lado de fora, os NPCs andavam em nossa direção. Mas não eram NPCs, agora eles tinham vontade própria, e agora usavam saias gregas e algumas armas. Um tinha um tridente; outro, um raio. Eles estavam numerados em doze, e tinham crescido muito de tamanho.

Doze gigantes. Quatro semideuses.

Faça as contas.

Ψ


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele Que Venceu a Morte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.