Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 2
Brother




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Eu acordei na enfermaria do Acampamento. Primeiro, vi um monte de bolas amarelas com um palito meio rosado em baixo, como se fossem pirulitos amarelos, então minha visão foi ficando mais clara, e eu percebi que eram pessoas loiras. Então caiu a ficha: eram filhos de Apolo que trabalhavam na enfermaria. Eu tinha desmaiado de falta de sangue por aquela adaga que Lucas enfiara na minha coxa. Olhei para o lado. Pelo visto, ele também tinha desmaiado, pois estava na maca vizinha à minha, ainda dormindo.

Tentei levantar, mas minha coxa explodiu, me fazendo soltar um grito. Chamei a atenção de algumas pessoas.

— Qual é, Dylan. Até que enfim — disse Julieta, que se aproximou. Ela usava um avental de enfermeira, o que ficava muito bem nela, realçava muito os…

— Dylan! — chamou uma voz conhecida. Ou melhor, três vozes conhecidas. Edward, Gabriel e Anastasius postaram-se à frente da minha maca.

— Parece que você apanhou, Dylan — disse Edward, balançando a cabeça.

— Realmente muito engraçado. Minha coxa está morrendo de rir — falei, com uma cara feia.

Gabriel soltou um risinho, e Anastasius foi checar o estado de Lucas.

— Bem, parece que o Dylan não deixou mole para o carinha aqui não.

— Ei, vocês quatro, saiam daqui! Nada de estressar os pacientes. Xispem — exclamou Julieta, e, como se estivessem em transe, Edward, Gabriel, Anastasius e Colin saíram da enfermaria. Ela piscou para mim. — Bem, Dylan, acho que você terá que passar a noite aqui. Ele atingiu exatamente o seu nervo central, isso não é coisa fácil de se fazer. Ou ele é bem sortudo ou…

— Bem experiente — completei a frase. — É, eu sei.

Ela se aproximou e sorriu.

— Ei, qual é, não fique assim. Você se saiu bem na luta. Ela… — o sorriso dela vacilou, mas logo se reformou. — Ela não te chamaria de idiota dessa vez.

— Acredite, eu daria tudo para que ela chamasse.

— Eu também.

Ela não era um dos melhores asssuntos para Julieta. Até hoje ela ficava muito sensível quando nossas conversas se estendiam até isso.

— Eu tenho que… hum…

— Sim, claro, pode ir, ficarei bem.

Ela deu um último sorriso torto, e saiu meio sem jeito para outra maca.

Fiquei observando o teto até eu ter certeza que todos os curandeiros tinham saído, e que todos os pacientes estavam dormindo.

Levantei, tentando fazer o mínimo da barulho possível. Fiz uma careta de dor, mas, com o tempo, a dor foi embora. Tentei dar um passo. Dava para aguentar. Fui, devagar, de passo em passo, até a porta. Olhei em volta para ver se alguém estava olhando. Parei no ato. A maca de Lucas estava vazia. Provavelmente ele tivera a mesma ideia que eu. Esse cara já estava começando a me irritar.

Saí da enfermaria, tomando o cuidado de andar no lugar mais escuro possível, fazendo com que ninguém me visse. Bem, agora vou deixar vocês adivinharem para onde eu fui. Isso mesmo, o cemitério. Eu não tinha nenhum lugar para ir, se aparecesse no chalé de Poseidon, Percy me mandaria como raio de volta para a enfermaria. Só iria me aconchegar em uma árvore de lá e esperar o dia amanhecer.

Agora eu vou deixar vocês adivinharem quem eu encontrei lá. Isso mesmo, Lucas. Ele estava sentado de cabeça abaixada em frente a um túmulo. Dei um passo para frente, na tentativa de me aproximar, e um galho quebrou sob meus pés. Um segundo depois, Lucas estava com uma faca apontada para minha garganta.

— Ah, qual é, de novo não — exclamei, com as mãos para cima.

— Hum… Desculpe — ele abaixou a faca. — O que é que você está fazendo aqui?

— O mesmo que você. Saí daquele inferno branco com cheiro de produtos químicos e vim lamentar a morte de um ente querido, nada demais, sempre acontece.

— É mesmo? E quem você perdeu? — ele perguntou, virando-se novamente.

— Minha… quase namorada e uma amiga.

— Quase?

— Longa história. E não vou contá-la para você, não quero chorar na sua frente. Quem você perdeu?

— Minha irmã — ele falou, triste.

— Uh… Isso é pesado.

— Nah, nem tanto, já faz dois anos mesmo. Não me afeta tanto assim mais.

Sobre a parte do “Não me afeta tanto assim mais” eu sabia que era mentira, porque eu mesmo falava isso para as pessoas quando elas perguntavam o que eu sentia. Mas os dois anos? Não podia ser tanta coincidência assim.

Aproximei do túmulo onde ele estivera sentado alguns minutos atrás, e, quando vi o nome que tinha na lápide, meu queixo caiu tanto que quase senti ele chegar ao chão.

— Mas o que… O que… Mas… Hã? Você é irmão da Mirina?

— Não é exatamente irmão, só fomos criados juntos, e ela é como uma irmã pra mim, então…

— Por que nunca veio falar comigo?

— Eu só não tinha nada para falar com você.

— Mas a sua irmã… Nossa amiga, morreu — balancei a cabeça, tentando me acalmar. — Tudo bem, tanto faz, já passou.

— Cara, qual é a de vocês? — falou uma voz conhecida. Primeiramente, não vi nada, mas logo um vermelho brilhante invadiu meu foco, e lá estava Mason, com cara de cansado, em pé na nossa frente.

— Odeio quando você faz isso — eu disse.

— Odeio quando me acordam. Eu estava sonhando com um BigMac maior que sua espada. E quem é esse aí? — ele apontou, preguiçoso, para Lucas.

Olhei para Lucas, que olhou para mim. Pisquei para ele. Ele entendeu a mensagem.

— Mason! — soltei um grito. — O que é aquilo?

Ele tirou a espada quase que imediatamente e abaixou a guarda para olhar na direção em que eu estava apontando. Um segundo depois, ele estava com uma faca no pescoço dele.

— Uou, isso foi rápido — ele disse, levantando as mãos.

— Você não viu nada, e olhe que estou com uma coxa meio… impedida. — Lucas disse, sorrindo.

— Nem você.

Lucas foi soltando o pescoço de Mason bem devagar, como em um transe, e ficou paralisado, com os olhos se mexendo de um lado para o outro. De repente, ele começou a dançar, como se estivesse na pista de um Dance Club sem ninguém olhando para ele. Logo depois, começou a bater em si mesmo.

— Por que está batendo em si mesmo? — disse Mason, se divertindo. Os olhos de Lucas agora se mexiam loucamente, sem saber o que estava acontecendo.

— Tá bom, Mason, já chega.

Agora eu vou saciar a curiosidade de vocês. Sim, Mason continuou no Acampamento, não fugiu ou coisa parecida, e, acredite ou não, ainda não sabemos qual seu parentesco olimpiano. Ele não recuperou nem um pouco de sua memória antiga, e nenhum deus o reconheceu como filho. Mas, como ele pode viajar nas sombras também, ele ficou no chalé de Hades com Nico e Anastasius — mas veja bem, ainda não sabemos se ele é filho de Hades, não podemos ter certeza absoluta, ainda mais porque ele controla pessoas. Sim, ele controla pessoas. Foi uma grande confusão no começo, quando ele descobriu que poderia fazer aquilo. Ele se divertiu muito no começo — obrigou pessoas a bater em si mesmas, comer coisas nojentas, esse tipo de coisa —, felizmente, ele cresceu, e sua mentalidade cresceu com ele — com a ajuda de algumas ameaças básicas, é claro. Mas, apesar de tudo, agora ele tem uma vida nova. Para falar a verdade, eu tenho medo que ele recupere a memória, e que ele seja uma pessoa diferente da que é agora, porque eu gosto dele, e não venho gostando de muitas pessoas ultimamente.

Lucas voltou ao normal, e olhou feio para Mason.

— Hm… Como que dizem? Peguei três coelhos com uma caixa d’água só.

Cajadada, senh…

Parei no meio da frase. Quíron estava lá, com um sorriso enorme no rosto.

— Hã… hm…

Ele riu.

— Não se preocupem, vocês não vão ser expulsos ou coisa assim. Só peço que voltam imediatamente para seus chalés. No caso de alguns aqui, alas hospitalares.

Eu, Lucas e Mason obedecemos, mas, quando íamos saindo do cemitério, Quíron nos chamou.

— Dylan, Lucas, podem ficar um instante? Mason, pode ir.

Eu e Lucas ficamos lá, esperando ele falar algo.

— Ah, sim. Sobre a luta mais cedo. Quero que saibam que vocês dois infringiram uma regra bem clara do Acampamento: não se pode machucar seriamente um oponente em um combate, e, como líder, é meu dever puni-los. Vocês terão que prestar serviços.

— Que… tipo de serviços? — perguntei.

— Bom, a biblioteca o Acampamento meio que está precisando de uma faxina, então…

— Não, de jeito nenhum — falei.

— Bem, Dylan, acho que você não tem o poder da escolha aqui, infelizmente. Vocês começam amanhã, às cinco.

— Mas às cinco tem pega-bandeira, senhor.

— Cinco da manhã, Dylan.

Minha boca abriu.

— M-mas… — mas ele já estava saindo. — Ótimo, realmente ótimo.

— Olhe pelo lado bom, pelo menos você vai ler um pouco para ver se melhora essa inteligência.

— Tão engraçado que poderia arrancar seu pescoço. Ei, você não me disse de quem é filho.

— Nêmesis, a deusa da vingança — ele falou, já andando.

— Ah, jura? Pensei que era a deusa do pão francês.

— Tão engraçado que poderia arrancar seu pescoço.

Voltamos juntos à enfermaria, em silêncio.

Ψ


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