As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 7
Crônica 7 - The Rake, o Grupo dos Bons Meninos e Teratofobia


Notas iniciais do capítulo

Ficou muito grande, na minha opinião. Dividirei em 2 partes. (Mesmo assim, abordarão personagens/lendas diferentes)



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Era o começo de uma linda manhã. O sol mal havia saído, e Arthur desenhava na parede dos fundos. Entre os vários desenhos de crianças sem cabeça, pessoas gritando e alguns bichos humanoides, uma imagem se destacava das outras.

Era uma roda de crianças, que faziam caretas para outra, que estava no centro. Logo abaixo, Arthur havia escrito:

"O Grupo dos Bons Meninos"

Aquele nome causava um certo tipo de medo em Arthur. Trazia a ele lembranças horríveis de como havia sido seu tempo na escola. Do lado direito do desenho, uma representação de Jack, ao redor de vários adolescentes, e em cima de todos, um corvo, que parecia grasnar.

–Sinto pena dele. - disse Arthur, sozinho. - Não sabia que cegos eram tão menosprezados assim.

Deixou seus carvões de lado, voltando sua atenção para a floresta. Não havia nada desta vez. O silêncio não escondia nada, o que deixava Arthur tranquilo.

Enquanto voltava para dentro da casa, pensava em sua outra forma, que tinha assumido na última noite. Se sentia estranho depois daquilo. Mas enfim, teria muito tempo pra pensar no que fazer com suas novas habilidades. Não as usaria novamente tão cedo.

Logo esbarrou em Sarah. Ao redor dos olhos dela parecia que havia uma espécie de pó preto, que dava um charme a mais no rosto dela. Ela percebeu a curiosidade de Arthur, e logo explicou que ela tinha tido uns problemas com a chaminé. Ele deu uma risadinha e continuou seu trajeto, chegando até o seu pai, que estava arrumando o telhado.

–Por que estão arrumando a casa? - perguntou Arthur.

–A Morte já nos avisou sobre o inverno. Até deixou algumas coisas aqui antes de ir embora para continuar seu trabalho. Agora... comece a tampar aqueles buracos nas paredes.

Slender apontou para uma das várias paredes rachadas e com buracos, e logo em seguida para um montinho de tijolos e cimento, ainda fresco.

Arthur "arregaçou as mangas" e começou o trabalho. Era mais forte do que imaginava. Acabou uma parede, e depois outra, e outra, e ainda outra, e aquela última que ficou sobrando. No fim de tudo, toda a casa parecia ter sido reformada de certa forma.

–Aliás, por que fizemos isso esse ano? Nunca tínhamos nos preparado para o inverno. - cogitou Arthur.

–Sarah está entre nós agora. Ela não merece ficar dentro de uma toca.

Rapidamente, a noite chegou. Todos devoraram os pães-de-seda e cada um foi fazer o que queria. Sarah foi visitar a Loira, Slender foi caçar, e Arthur ficou sozinho em casa, como normalmente ficava.

A grande quantidade de espaço o deixava atônito. A escuridão era melindrosa para ele. Seus vários pesadelos o deixaram com medo do que se escondia na escuridão. Continuou o percurso até achar o canto da casa onde normalmente ele dormia. Quando finalmente o encontrou, deitou no chão rapidamente, esperando que o sono viesse.

Mas ele não veio. O sono estava com medo de atrapalhar a criatura.

Arthur sentiu um medo surreal. Sentia como se alguém estivesse sentado, bem perto de seus pés, e estava o observando. Ainda com os olhos fechados, tentou se acalmar. Lembrou que a máscara o ajudaria a não ver Deus-sabe-o-que que estivesse ali.

Mesmo assim, a criatura poderia arrancar aquela máscara se quisesse. Calafrios começaram a surgir em Arthur, e quanto mais ele desejava que o sono viesse, o sono não vinha.

Tentou criar algum tipo de proteção na sua mente, que impedisse a criatura de lhe matar. Mas todas elas tinham um fim trágico, fazendo a criatura ser mais poderosa e assustadora em sua mente. Em um ato louco, resolveu abrir os olhos e ver o que estava lhe atormentando.

Se impressionou ao perceber que era Sarah. Ela não tinha percebido que ele havia aberto os olhos, então ele aproveitou para admirá-la um pouco. Nunca parava para prestar atenção nos traços humanos, e por isso continuava com os desenhos simples, ou como dizia ele consigo: "infantis".

Cada traço de Sarah era perfeitamente desenhado, e dava a ela um ar imponente, como se ela fosse uma princesa. Uma princesa maligna. Arthur ligava cada traço como uma ponta de carvão. Algumas eram grossas, outras eram finas, e juntas, formavam a base. Cada linha seguia seu perfeito caminho, formando, em consequência, um desenho perfeito, no qual Arthur analisava naquele momento. Não saberia reproduzir uma imagem tão boa. Mas tentaria, se lembrando de cada detalhe.

Sarah saiu de perto dele, o deixando sozinho. Logo, a sensação de perigo novamente começou a dominá-lo. Por sorte, ele conseguiu dormir em meio a tanto pavor.

No outro dia, Slender avisou sobre um grupo de crianças ali perto, no qual desafiaram Sarah para jogar algum tipo de jogo mágico.

Como o jogo precisava ser jogado em dupla, ela carregou Arthur consigo. Ele ainda continuava com receio de qualquer coisa, por causa da noite mal dormida.

De longe, era possível saber o destino deles: uma enorme mansão abandonada. Ela seria horrivelmente assustadora para qualquer pessoa normal. Mas os dois não eram, então entraram lá sem nenhum tipo de temor.

Na entrada, se lia em letras enormes e cursivas "O Grupo dos Bons Meninos". Que nada mais era que um antigo orfanato. Em frente a ele, duas crianças com aspecto fantasmagórico esperavam os dois.

–Aprendiz? - disse uma das crianças.

Sarah apenas acenou com a cabeça um 'sim'.

–Eu sou o Quebra-Nozes. - a criança apontou para a outra - Esta aqui é a Bailarina.

A menina fez uma reverência, como uma real bailarina.

–Agora... quem são vocês? - disse ela

–Sarah e Arthur.

–Nããão! Estou falando quem é a bailarina e o quebra-nozes!

Sarah e Arthur se entreolharam, meio desconfiados.

–Somos um pouco cegos, entende? - explicou o Quebra-Nozes - Não conseguimos perceber quem está mais apto para ser os personagens, então vocês que se decidam.

–Eu sou a... - Sarah não se sentia muito confortável com aquilo, mas teve que dizer -... bailarina.

–E eu sou o... Quebra-nozes. - disse Arthur;

–Muito bem! - sorriu a menina. - Agora, entrem.

As duas crianças abriram as portas, e sumiram no grande corredor. Sarah e Arthur (agora sendo chamados de Bailarina e Quebra-nozes) o seguiram, e começaram a perceber que lá dentro da mansão era muito mais diferente do que aparentava lá fora.

Duas enormes árvores se estendiam para cima, dominando o teto com suas folhas e troncos. O chão era coberto de grama, e vários tipos de arbustos com flores e frutas se espalhavam por ele. Lindas luminárias amarelas estavam estrategicamente colocadas nos cantos. Mas elas eram apenas para os cantos, pois enormes janelas se abriam, deixando a luz do sol entrar.

Várias crianças brincavam e se divertiam comendo doces. Aquilo era simplesmente o contrário do que se pensaria de uma mansão mal assombrada, com espíritos de crianças.

A Bailarina apareceu para nossos personagens e os guiou pelo enorme jardim. No fim dele, havia uma sala que não se separava do harmonioso jardim. Lá, um enorme grupo de crianças bem vestidas esperavam Sarah e Arthur, sentadas educadamente em magníficos sofás brancos.

Eles se afastaram para dar lugar aos convidados, que se sentiam meramente constrangidos com tanta educação e beleza. Arthur nem tanto, pois se vestia de um modo bem parecido com as crianças.

–Creio que vocês sejam os convidados a participarem de nosso simples joguinho. - disse uma das crianças, que parecia a mais velha. - Ele requer tempo, então tenham cuidado ao afirmarem que irão o fazer.

–E não nos responsabilizamos por danos a seu corpo, mente, ou até mesmo sanidade. - completou outra criança, rindo.

–Pois bem. - ela começou a mexer em alguns papéis na mesa. - Nosso acordo se resume a: Vocês completam o desafio, e em troca ganham honra e respeito de fantasmas. Caso desistam ou percam, bom... não gostaria de lhes amedrontar tanto, mas todos os fantasmas perto de vocês irão lhes atacar, em conjunto.

–E é muito difícil acertar um fantasma! Por isso, nada de enrolar.

–O desafio consiste na mais magnífica das provas de comunhão, seja ela humana ou não. - ela fez uma pequena pausa - Rimou!

–Boa! - disse em coro as crianças.

–Enfim. O objetivo principal é nada mais do que proteger, de corpo, alma e espírito, seu acompanhante. Por isso "bailarina" e "quebra-nozes".

–Desculpe-me, mas isso não vai um pouco contra à minha "segunda natureza"? - disse Sarah. - Não estou me tornando um anjo.

–Pobre tola. - riu a criança. - Você não está se tornando o que acha que vai se tornar. Vai ser algo muito além, minha querida.

A criança falava com um ar tão adulto, que até mesmo Sarah achava estranho.

–Você, bailarina, terá que proteger o quebra-nozes. Não pode deixá-lo cair, nem se machucar, nem quebrar, nem chorar, nem rir demais, nem se irritar, sempre estando de uma maneira normal e calma. Aliás, precisa proteger o sono dele também. Não deixe que nada o atinja, nem mesmo uma simples pena.

A criança se virou para Arthur.

–Você, quebra-nozes, terá que proteger a bailarina. Não a deixe perder o ânimo, ser atingida por males físicos e mentais, nem a deixe chorar, nem enlouquecer, nem seu orgulho subir a cabeça, sempre estando simples. Proteja sua alma. Não deixe que ela sofra, nem mesmo de uma simples lembrança.

–Isso é um pouco... impossível. - disse Sarah. - Não há como proteger tudo de alguém.

–Sim, há. - a criança deu uma risada amigável. - Vocês terão que descobrir isso por si sós.

–Me lembro de terem utilizado a palavra 'jogo'. - disse Arthur. - Onde ela se encaixa?

–É um jogo de mentes. Pense em xadrez. Você precisa criar uma estratégia para se proteger e atacar ao mesmo tempo. Essa é a maneira que você deve pensar, neste caso. Mais alguma pergunta?

–Nenhuma.

–Então... aceitam?

–Não quero o ódio dos fantasmas. - disse Sarah - Aceitamos.

–Ótimo! - a criança sorriu, se levantando. - Começa desde amanhã. Boa sorte!

Os dois foram direcionados novamente pela Bailarina e o Quebra-nozes para fora da mansão. Arthur se sentia um pouco aflito, sabendo que teria que passar mais uma noite sozinho, com Deus-sabe-o-que.

Lá fora, Ângelo tocava uma flauta transversal, em cima de um carvalho. Parou ao ver Sarah e Arthur voltando sozinhos para a casa.

"Hey, you!" (Hey, você!) - disse ele

"What you want?" (O que você quer?) - disse Sarah.

"Just... what you doing?" (Apenas.. o que vocês estão fazendo?)

"Walking." (Andando.) - disse Arthur.

"Furthermore, I mean. I saw you coming out of the Good Boys mansion." (Além disso, quero dizer. Vi vocês saindo da mansão dos Bons Meninos.)

"Nothing more than business." (Nada além de negócios.) - disse Sarah. - "A deal." (Um trato.)

"Hum... good. Good luck with it." (Hum... bom. Boa sorte com isso.)

Ângelo voltou sua atenção novamente para a flauta. Um magnífico som saía dela, como uma canção de dormir, mas só que mais animada e mágica.

–Ele é estranho. - disse Arthur quando eles tomaram uma boa distância. - E uma das crianças parecia bastante com ele. Aliás, a faca de Jack estava na cintura dele.

–Não tinha percebido isso. - disse Sarah. - Mesmo observando.

–Sinceramente, você não observa direito.

–É que as pessoas vêem meus olhos. Você pode estar olhando pra qualquer lugar que não seja meu rosto agora mesmo e eu nem percebo.

–Está insinuando que eu sou um pervertido?

–Não disse nada, mas era minha intenção.

Continuaram andando por algum tempo, em silêncio.

–Desculpe. - disse Sarah - Esqueci por um momento que você é a pessoa mais inocente que já conheci.

–Sou? - ele deu uma risadinha. - Acho que eu sou uma das únicas pessoas que conseguiu te conhecer.

Ela empurrou ele pro lado, rindo.

–E olhe lá! - ela falou sorrindo - Você tem medo da luz do sol!

–Quando ela está muito brilhante! Oras.

–Não tenho relógio.

–Engraçadinha.

Logo eles voltaram a caminhar normalmente.

–Fique de olho em Ângelo. - disse Arthur. - Ainda acho que ele vai nos causar problemas.

–Não se preocupe com isso, quebra-nozes. Aquele lá é apenas mais um loiro no mundo, que tem o dom de conviver com criaturas más sem se corromper.

Arthur ficou quieto por um tempo, ainda pensando um pouco naquilo. Mas logo sorriu timidamente por trás da máscara e disse:

–Como quiser, bailarina.


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