As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 8
Crônica 8 - Reggie e Hemofobia.


Notas iniciais do capítulo

Não confunda hemo com homo. Agradeço.



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Arthur estava se preparando para dormir.

O outro dia lhe prometia muito trabalho por ter que proteger uma pessoa de qualquer tipo de problema.

A escuridão lhe abraçava, de uma maneira que ele não conseguia se soltar. Quando se virou para a parede, como sempre fazia, sentiu novamente aquela presença maligna perto do seus pés.

Virou os olhos lentamente, e dessa vez viu uma figura humanoide, muito diferente de qualquer uma que tenha visto. Parecia ressecada. Dois pequenos olhos brilhavam na escuridão, e Arthur logo fechou os olhos, temendo o pior.

Se sentia completamente desprotegido. Não só pelo fato de estar sozinho, mas também por não ter nada que o separasse daquela criatura, nem mesmo um simples cobertor. Seu pai estava longe, e a bailarina dançava em outro palco. Sua mãe?... Como saberia que ele existia?

O sono teve piedade de Arthur, e logo o deixou dormir. Na manhã seguinte, os céus começaram a ser encobertos de nuvens, e ficaram brancos, como um tapete para a chegada do inverno.

Aquilo tranquilizava um pouco mais Arthur, o deixando dar calmas caminhadas em volta da casa, porque boa parte da luz do sol era encoberta pelas nuvens.

Nada parecia estragar o dia. Tudo funcionava em perfeita harmonia, de um modo que você poderia ficar horas apenas admirando a complexidade harmoniosa em que a floresta estava, e não se cansar.

Sarah e Arthur continuavam fazendo seu trabalho, sem problemas. Aquele dia, diferente de outros, mal trazia problemas.

Até que um estranho rapaz apareceu. Ele parecia faminto. Tinha passado despercebido por Slender. Parecia que ia desmontar, e mal conseguia ficar em pé direito.

–Por favor! - dizia ele sozinho. - Alguém!...

Sarah estava aos arredores, em cima de uma árvore. Olhava para o rapaz, perguntando o que iria fazer com ele. Prestando um pouco a atenção, percebeu que ele não tinha uma das mãos, e que era substituída por uma prótese de ferro.

–Hum... - ela pôs um dos dedos nos lábios, como uma criança pensando. - Ele pode ser útil.

Ela desceu lentamente da árvore, com a ajuda indireta de Arthur, para não se machucar.

–Ei, você! - se começou a andar até o rapaz. - Qual é o seu nome?

O desespero do rapaz era palpável. Você estando morrendo de cansado, perdido em uma floresta, e do nada aparece uma garota toda de preto, com algo estranho parecido com barbatanas de peixe nas orelhas dá medo a qualquer um. Ele começou a tentar se mover mais rápido, mas caiu no chão. Tentou se arrastar, mas logo desistiu.

–Eu só quero saber seu nome. - disse Sarah. - Posso te ajudar se quiser.

O rapaz se virou para Sarah, que sorria sem mostrar os dentes. Depois de um longo suspiro, finalmente disse:

–Reggie.

–Meu nome é Sarah.

Subitamente, Arthur apareceu, assustando ainda mais Reggie.

–Ele não vai te machucar. - disse Sarah. - Este é Arthur.

–O que diabos...? - disse Reggie, mas não pôde completar a frase.

–Não se preocupe. Ele vai carregar você.

Reggie desmaiou, facilitando o trabalho de Arthur carregá-lo. Ele estava extremamente leve por não ter comido nada, então foi como carregar uma pena.

Chegando à casa abandonada, deixaram ele em uma parte do chão, e tentaram preparar alguma coisa. Era meio complicado, mas logo conseguiram. Quando Reggie acordou, o serviram e o deixaram dormindo. Os dois apenas olhavam para Reggie, esperando algum tipo de reação. Então o mesmo abriu os olhos.

–Hã? - disse ele. - Quem são vocês?

–Me lembro de já ter dito isso. Mas caso tenha se esquecido, meu nome é Sarah, e este é Arthur.

–Aquilo realmente aconteceu? - ele colocou a mão na cabeça. - Parecia um sonho.

–Um pesadelo, você quis dizer. - riu Sarah. - Mas por sorte, eu tive piedade de você.

–Não sei o porquê.

–Sua mão de ferro.

–Hã?

–A direita.

Ele olhou para onde deveria estar sua mão direita, e viu a prótese de ferro.

–Ah... entendo.

–Então... como a conseguiu?

–É uma longa história.

–Temos o tempo inteiro do mundo para ouvi-la.

–Para encurtá-la, apenas digo que perdi a mão numa briga por uma menina. A prótese, ganhei no médico.

–Interessante. Tem algum tipo de habilidade a mais?

–Hum. Sou bom em me esconder.

–Não parece.

–Isso não quer dizer que eu seja bom em me achar. Tenho facilidade em me perder. - ele sussurrou o mais baixo que pôde - em qualquer coisa.

–Infortúnio.

–Sarah, deixe-o descansar. Ele já teve trabalho demais por hoje. - disse Arthur, cruzando os braços. - Vai acabar sobrecarregando ele.

–Sim, quebra-nozes.

Reggie ficou com uma pontada de irritação, mas logo dormiu novamente, até a noite chegar. Quando o céu começou a ficar escuro, Arthur novamente foi se deitar, enquanto Sarah cuidava de Reggie.

Quando se deitou, Arthur sentiu como se alguma coisa fosse dar errado. Dessa vez, não teve o sentimento de alguma criatura estar perto dele. Era bom se sentir livre de novo. Mas, continuava com seus instintos atentos, a qualquer coisa que pudesse machucar a bailarina.

Acordou no meio da noite. Andou lentamente pela casa, estranhando o silêncio. Não achou Reggie, nem Sarah. Seus instintos estavam piores, e o faziam querer tomar sua forma de Slender.

–Não posso quebrar o desafio, se não uma legião de fantasmas vai vir pra cá. - disse Arthur consigo mesmo. - Tem que haver alguma solução lógica.

Vasculhou em sua mente. Nada.

Ele logo abriu os olhos, e achou Reggie, do lado de fora, perseguindo alguma coisa, que andava calmamente. Ele parecia estar tentando convencê-la de alguma coisa. Arthur saiu da casa rapidamente. Reggie cercava a bailarina, como se tentasse convencê-la de abandonar seu quebra-nozes por um novo. Reggie se virou para Arthur, com um brilho psicopático nos olhos.

–É falando que ele aparece. - ele sorriu maldosamente.

–O que você está tentando fazer? - disse Arthur, com um ar sério.

–Podemos dizer que estou tentando salvar ela de um otário como você.

Arthur cerrou os dentes. Reggie mostrou a mão de ferro.

–Eu esqueci de dizer uma coisa anteriormente. - ele sorriu, fechando os olhos. - Eu matei o namorado daquela menina. E logo depois, ela também. Aliás... eu adoro o gosto de sangue.

Arthur previu os movimentos de Reggie. Antes de ele quase cortar a cabeça de Sarah, Arthur usou seu teletransporte, o fazendo de uma maneira que Reggie acabou cortando a si mesmo.

–Maldito seja! - gritou Reggie, quando viu seu próprio sangue. - Vou fazer você pagar por isso!

Arthur apenas ignorou, em silêncio. Reggie correu em direção a ele, deixando um rastro de sangue. Sarah começou a correr atrás dele.

–Mudou de ideia? - disse Reggie, olhando pra ela.

–Não. - Sarah se aproximou mais dele, estendendo a mão esquerda. - Você já sabe minha resposta.

Ela deu um soco no rosto dele, que o fez cair no chão. O pó escuro estava espalhado em forma de mão pelo rosto de Reggie.

–Você acha que eu vou cair nessa? - ele riu, tirando o pó do rosto. - Sei dos seus truques, vadia.

"Por que não funciona com Reggie? Funcionou com Jack." - pensou Sarah.

Rapidamente, Arthur novamente surgiu e pegou a mão de ferro de Reggie, enfincando no pescoço do mesmo, assim, o matando.

Leigo. – disse Arthur, deixando Reggie de lado.

Arthur lentamente se aproximou de Sarah, para olhar o que tinha feito. Percebeu que a bailarina estava prestes a cair em fraqueza, e também em lembranças. Mas, antes que pudesse fazer alguma coisa, Sarah começou a chorar. Quando as lágrimas caíram na grama, um estranho som ecoou por toda a floresta.

Eles tinham perdido o desafio. Agora, teriam que conquistar a honra dos fantasmas através da força.

O Grupo dos Bons Meninos surgiu em meio a um exército de incontáveis fantasmas. A criança mais velha sorriu debochando deles, fazendo um som como se dissesse "Fracassou". Os fantasmas começaram a fazer uma roda no meio deles, e começaram a girar, fazendo terríveis expressões no rosto, as quais fariam qualquer um ter pesadelos por pelo menos três dias. As risadas das crianças deixavam tudo aquilo mais assustador, parecendo um dos pesadelos de Arthur.

Falando nele... ele era o que mais sofria com aquilo, pois, lhe era familiar. Vamos ver suas lembranças.

Arthur andava tranquilamente pelos corredores da escola, acompanhado da professora. Ele usava as mesmas roupas, mas seu rosto não era coberto pela máscara. Deveria ter pouco mais de 6 anos.

Os brilhantes olhos cinzentos eram amigáveis, mas cobertos por uma camada de timidez.

A professora o direcionou até uma sala, onde várias crianças brincavam juntas. Era o primeiro dia de aula dele.

Logo quando a professora saiu, as crianças se aproximaram rapidamente de Arthur, o convidando para brincar. O jogo consistia em elas fazerem uma roda e caras feias para ele, até alguém sair da roda, ou ele desistir.

Arthur não se sentia bem, mas continuou. Aguentou firmemente ficar no meio. Mais rostos. Mais cantos estranhos. Mais comentários sobre como ele parecia medroso.

Aquilo invadiu a mente dele, e várias coisas ligadas a seu pai se misturaram, formando um verdadeiro terror dentro dele.

Foi a primeira vez que ele utilizou suas habilidades de slender.

No fim, Arthur se viu rodeado de crianças tremendo no chão, chorando. Quando ele tentou se aproximar de uma delas, ela se afastou, assustada. Outra, quando percebeu ele, saiu correndo da sala, gritando:

"Monstro de tentáculos!"

Arthur não queria ouvir aquilo de novo. Na verdade, não iria, porque fantasmas não sentem dor física, ou medo. Mas naquele momento, ele sabia exatamente como vencer todos aqueles fantasmas.

Seus braços, pernas e tronco cresceram, e ficaram do tamanho de um pinheiro médio. As crianças se assustaram um pouco com isso, mas continuaram a girar, tentando atingir Sarah.

Oito tentáculos saíram das costas de Arthur, e formaram um estranho símbolo, que impressionou todos os fantasmas. Arthur soltou uma espécie de rugido, que fez aquele símbolo criar vida.

Os fantasmas viram algo que se assemelhava a um rei, ao invés de Arthur. O que ele havia aprendido naquele dia com as outras crianças, era que: por mais que você não pudesse tocar em alguém fisicamente, você poderia derrotá-lo através sua autoridade, que atingiria a alma do indivíduo, que nesse caso, seria os propriamente dito, os fantasmas.

–Vão embora. - rugiu ele.

Todos os fantasmas rapidamente sumiram com a brisa noturna. Apenas o Grupo dos Bons Meninos ficou ali. Mas só foi Arthur dirigir o rosto para eles que os mesmos sumiram tão rápido quanto os outros.

Arthur voltou a sua forma normal, e agradeceu ao espírito do rei, que também sumiu, rindo de satisfação. Sarah estava caída no chão. Arthur se sentou do lado dela, acordando-a. Ela se sentou ao lado dele, e eles ficaram quietos no relento.

Quando ela ia começar a chorar de novo, quase caindo em lembranças, Arthur fez algo que a pegou de surpresa, livrando-a dos devaneios.

Um abraço.

Sarah não relutou contra, como na maioria das vezes que tinha feito antes de conhecer Slender. Aquele era reconfortante.

–Desculpe ter falhado. - disse Arthur - Se não fosse por mim, não teríamos que ter lutado contra aquela legião.

–Fui eu que chorei. Não se culpe por isso.

–Shhh. Você é auto piedosa demais. Se continuar assim, não vai conseguir o que deseja.

Sarah quis responder, mas no fim das contas ele estava certo. Por fim, apenas sussurrou:

–Como quiser, quebra-nozes.


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Notas finais do capítulo

Perceberam como as crônicas acabaram com a mesma frase? Haha.

(Eu estou muito carente esses dias ;u;)



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